------- V) - "O MEU POEMA ÉPICO" -------------------
================ APRESENTAÇÃO =================
- CANTO I - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO"..... ( 65 Estâncias) -
- CANTO II - "NO REINO DO CONGO".............................................. (171 Estâncias) -
- CANTO III - "NO REINO DE ANGOLA".......................................... (108 Estâncias) -
- CANTO IV - "O GOVERNO GERAL".................................................(113 Estâncias) -
- CANTO V - "A GRANDE GINGA"..................................................... ( 63 Estâncias) -
- CANTO VI - "O DRAMA DA ESCRAVATURA"............................... ( 75 Estâncias) -
-CANTO VII -"DOS ATAQUES HOLANDESES À RECONQUISTA"( 103 Estâncias) -
------------- TOTAL ..... (698 Estâncias) -
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....CANTO I - ) ...."DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" -(65 estâncias)-
(1)- Não pretendo cantar lutas gloriosas
Desses antigos Reis e outros senhores,
Já gabadas em versos e altas prosas
Por alguns de mais rápidos louvores,
Mas sim aquelas duras,perigosas,
As mais negras, sem fim e sem favores,
Desses aventureiros de espantar
Que venceram as terras e o alto mar !
(2)- Olhos ténues do céu azul e distante
Que sois luzes de estranhos universos,
Eis,bem erguida, minha lira sonante
P'ra relatar por estes pobres versos
Quanto labutou o luso navegante
Nestes ocidentais rincões imersos,
Bem longe, nas lonjuras tão profanas
Das seculares costas africanas !
(3)- Apenas p'ra os de triunfos merecidos
E que, de pó,seus feitos silenciosos
Estavam já cobertos ou sumidos
P'la pata de inimigos temerosos,
A eles, de tantas lutas esquecidos,
Louvo a Calíope, para que animosos
Vibrem os seus, em som alto e mais forte
Contrariando os caprichos doutra sorte!
(4)- E vós,Senhora de quantos navegam,
A coberto indo da vossa guarda,
Que confiados na sorte vos entregam
Outra maior Fortuna que não tarda,
Não os desprotegeis, pois são,como alegam,
Vossos filhos na dor que ali os aguarda;
Tal sofrestes antes da celebração
Em Celestial e Divina oração.
(5)- Nas águas tenebrosas,espumantes,
Cheias de ruínas, fome de vinganças
Contra as lusas naus, velas, navegantes,
Os valentes buscaram sempre heranças
Escondidas em anos incessantes
Por causa das desleais, negras matanças,
Em que outros antes tinham operado
Para lhes dificultar mais o fado.
(6)- Mas,muitos desses lúcidos heróis
Superaram em tudo a guerra odiosa,
Quer primeiro no mar,como depois,
Quando na terra estéril e enganosa,
Lutando com a enxada,sóis a sóis,
A conseguiram tornar mais rendosa.
Amassaram bem duro o pão das vidas
O que a muitos deixara as mãos feridas !
(7)- À natura venceram o segredo
Que matá-los aos poucos pretendia,
Rolando as esperanças sobre o medo
P´ra chegar onde mais lhes aprazia.
E bem cedo fraco era o luso feudo
P'la gente que dia e noite lhes morria,
Sem alcançar nunca os sonhos eternos
Duns,bem longe,entre Céus e tais Infernos !
(8)- Naquela caminhada para a vida
Sem abrigo nem cais de arribação,
Onde pudesse haver uma guarida
Que fosse ao menos de consolação,
Só para os que deixavam essa lida
Havia feia e silenciosa protecção,
Sob as temidas águas deste mar
Que no remanso a terra vinham beijar;
(9)- Nessa tristeza bem mais extremosa
Dos que logo se apartam para distante,
uma ânsia sempre doce e cobiçosa
Que ora tanto se afasta ou fica diante,
Sendo tão certo quanto duvidosa
Quer seja a sorte má ou como uma amante,
Esperando traiçoeira,infernal,
Cá,bem distante desse Portugal !
(10)-As faltas por que então passaram,
Fazia a todos mais crescer o desejo
D'alcançar as terras com que sonharam
Por nelas haver ouro de sobejo;
Normal seria,mas poucos o encontraram,
Tendo no seu regresso um fraco ensejo
Que tanto amargurá-los pretendia
Lançando-lhes no peito a nostalgia:
(11) - Éolo,que nas alturas mais perdidas
Os céus tem por divina moradia,
Os tormentos e as mágoas suas carpidas
Ainda deixar p´los ares pretendia,
Para lhes aumentar outras feridas
Que em todos o temor tanto crescia,
Trocando a heresia pela cristandade
Que a muitos bem fazia naquela idade !
(12)- Sendo tão verdade que o sofrer
Bem pode aos fracos muito encorajar,
Um certo medo o faz não aparecer
A todos que por tal têm de passar !
E de homens fortes havia carecer
Nessa grande esperança de ganhar,
Mesmo perdendo muitas santas vidas
Sendo tão nobres, quanto eram queridas !
(13)- Mas ,assim que embarcados seguiam todos
Nas velas para isso bem preparadas.
Logo viram que uns com fechados modos
Conversavam em vozes angustiadas,
por seus filhos,crescendo agora a rodos,
P´las mulheres,chorando desoladas,
Pensando nunca mais tornar a ver
O que melhor havia no seu viver !
(14)- Para seguir,os bordos iam à cunha,
Que pequenas e frágeis eram as naus,
E assim,boa precaução logo se impunha
P´los ventos fortes,mares sempre maus,
De víveres a mais,ninguém dispunha,
E as arcas,cargas várias e outros paus,
Grande lugar e só peso fariam
Pelo pouco valor que mereciam.
(15)- Deixando nas herdades mais distantes
Seus amores receosos e iludidos,
Com esperanças d´oiros e brilhantes
Em tesouros há muito prometidos,
(Seduzidos por crenças ofuscantes),
Só para si ficavam convencidos
De encontrarem riquezas escondidas
Em miragens sonhadas e queridas !
(16)- Iam uns no esplendor dum novo clarão
E outros na ambição de tristes vilezas,
Levando assim por diante essa expansão
Contra tão duras,sórdidas pobrezas !
Desse modo um chamado Preste João,
De quem Marco contara grandes proezas,
Originara em lábios vera sede
Como num moribundo que água pede.
(17)- Mas estaria mui longe esse objectivo
Tanto sonhado d´alcançar o Oriente
E esse tal Reino de cristão nativo
Que fazia mais cobiça a tanta gente !
Próximo estava o plano primitivo,
Pelo menos assim em cada mente,
Mal sabendo das duras realidades
Surgidas depois só noutras idades.
(18)- Tão grandioso era o dito poderio
Dominando dezenas de reinados
Que envia a Veneza por um velho rio
Ofertas e ouros nunca ali chegados,
Ficando um de Aragão num calafrio
Que logo com sua Joana os "via casados",
Ainda mais sendo um válido cristão
Portador das Tábuas de Salomão !
(19)-El-rei impulsor de tais descobrimentos
Nem viu o desejo logo realizado,
Mas seu filho manteve os pensamentos
Não fosse ele,Dom Duarte, p´la mãe armado !
Reis e outros cavaleiros,c´ os tormentos
Da missão que lhes tinham preparado,
Levariam mui longe de Portugal
Bem erguida a Bandeira Nacional;
(20)- E muitos outros,tantos vencedores,
Mais antigos no Reino ora crescente,
Se lançaram aos mares com ardores
De seguir cada dia ainda mais à frente:
Um veneziano,longe dos senhores,
E uns demais,natos nesse continente,
Desfraldavam por costas africanas
Na esperança de boas cargas humanas !
(21)- Da Pérsia milenária e misteriosa
Haviam p´lo agreste Hércules passado,
Ali buscando terra mais rendosa
Até alguns pigmeus terem encontrado.
Mas, Hanão,com armada poderosa,
Tivera muito mais longe chegado,
Contra este mar irado e o céu ventoso
Varrendo de bordo o mais audacioso !
(22)- Uns fenícios porém mais corajosos
A mando de Necau,doutro reinado,
Navegando ao contrário,pressurosos
Venciam o das "Tormentas" designado,
P´lo que ficaram ricos e famosos;
Em tendo toda a Líbia controlado
Voltaram p´las Colunas conhecidas
Até chegarem a águas protegidas.
(23)- Zarco e Cristão haviam depois parado
Num Santo Porto,já seu conhecido,
Com umas outras ilhas ali ao lado,
Que de herbívoros logo ficou enchido
Pela prenha que alguém havia levado,
Mas sem cuidar o tal do sucedido,
Chegando ao ponto que nada restava
E dali a pouca gente o abandonava !
(24)- Mas logo passam para adiante
Em busca de outra fácil atmosfera,
Para espanto vendo um sinal importante
Dum que por certo já antes ali houvera :
- Fora Machim,inglês,pobre errante,
Que com amores seus aí vivera
Refugiado de Arfet,senhor tirano,
Não cuidando dum belo amor humano !
(25)- Mas,Ana com pavor se despedira,
Ali ficando sob "madeira" dura
Junto ao amante que não resistira,
Repousando na mesma sepultura.
Seguiram os restantes,tendo em mira
Chegar a local de maior fartura,
Indo por desconsolo e tanto azar
A terras de Marrocos aportar.
(26)- Das Costas do Ouro,tórrido deserto,
Chegam ao cabo dito "Bojador"
Que "não" deixava alguém chegar mais perto,
Renitente e anormal,grande senhor !
Mais adiante nenhum,mesmo esperto,
O abordara sem ficar com pavor
De ser logo p´las águas engolido,
O que a uns outros já houvera sucedido.
(27)- Porém,Gil Eanes,mais esperançado,
Com coragem ao dito arremetia,
Logrando com valor tê-lo passado,
Não fosse marinheiro de valia,
Derrubando o temível avançado
(Não passando de certa fantasia);
Iam outros depois muito mais além
Em terras escuras de mais ninguém !
(28)- Nuno Tristão e outro luso companheiro
Adiante fazem uns negros cativos,
Ficando Adahu como mensageiro,
Seguindo outros por válidos motivos,
Não vendo senão solo mais soalheiro
Sem quaisquer sinais dalguns seres vivos
Até a esse Branco cabo ter chegado
E dali,pesaroso, havia voltado.
(29)- O prisioneiro dava pormenores
Das quantas terras lá desse sertão
E admirados os seus novos senhores
Mais queriam o caminho ao Preste João,
Onde o Nilo havia tantos esplendores
Descendo por montanhas de aluvião,
E,obtendo entre pagãos um grande crente,
A bastantes faria mudar sua mente !
(30)- O imenso Sahára era percorrido
Por caravanas em todos reinados
Sendo o ouro, o escravo, sempre pretendido
Para seguir aos mais novos mercados.
Por mares, terras,árabes metidos
Em tudo, eram porém mais compensados,
Mas deixando distante tanta aldeia
Que a cobiça e a ganância as incendeia.
(31)- Fugindo ao crescente e árido deserto
P'ra os verdejantes vales, grandes rios
Ou p'la Europa que estava ali mais perto,
Deixaram esses negros os poderios
Que calmas terras haviam descoberto
Sem tamanhos calores ou árduos frios;
Alicerçando rudes construções
Lançaram as raízes de novas nações,
(32)- Para mais tarde serem dali corridos
Por invasores muito poderosos,
Do Islão velhos amigos protegidos
E de uma outra fé crentes fervorosos.
Com fortes caravanas protegidos
E percorrendo os reinos mais famosos,
Eram em alguns negócios seus senhores
Ora chamando aos negros de inferiores.
*(33)- Desde o Vermelho às Índias dominavam
O comércio do escravo e especiarias,
Que com uns outros reinos concertavam
Parte dos lucros das suas feitorias.
Os chineses em breve em equipavam
De bons navios em vez das almadias,
Alcançando altas costas mais distantes
E explorando os povos ainda ignorantes.
(34)- Helena, real princesa muçulmana
Que se tinha da fé santa libertado,
Logo convida a gente transmontana
À corte do Denguel,vaidoso e inchado,
Por saber da pequenez lusitana
Comparada com seu grande reinado !
Mas ao luso pedia pronto socorro
Quando os turcos tomaram o seu morro.
(35)- Assaltantes atacam o baluarte
Que os cristãos possuíam há muito no Oriente,
Ficando a dominar por toda a parte
E sem deixar passar nenhuma gente;
Nem por terra ou mar valia qualquer arte
Contra o poderio forte e resistente,
Mais distante ficando o Preste João
Quando alguns o julgavam ter na mão !
(36)- Já tudo dominavam tais infiéis
Tendo terras em vários continentes,
Escravizando dentro dos quartéis
Sem respeitar as vidas de suas gentes
Fugidas de lugares bons, mais férteis,
P'ra os covis nos desertos de areias quentes,
Enquanto não pudessem ser apoiadas
Por outras que antes já eram baptizadas.
(37)- E mais em frente,um tal Bornelli havia,
Dono de todas as minas da região
Que o equino a um penedo áureo atrelaria
Que nem dez servos erguiam pela mão !
Outro aceitava o vinho que bebia
Em troca d´alguns de sua servidão,
Ou biscoitos por dentes de elefantes
Enchendo ventres pouco elegantes.
.(38)- Dos Mandingas,o grande Imperador,
Fizera de sua irmã uma meretriz
Junto ao rei Kanté,ilustre senhor,
Levando-o ao leito doce e bem feliz
Para trocar um segredo em curto amor,
Não sendo mais o dono do seu país;
Reino onde os nobres de branco trajavam
E as servas todas nuas por ali andavam.
(39) - Forte Império no Gana conhecia,
Dum povo que antes branco tinha sido;
Um rei de ricas jóias se cobria
Ao ter o ministério ali reunido.
Numa cadeira em marfim se sentaria
E os outros no chão de terra rebatido;
Cozinheiros,panelas,amarravam
Junto ao corpo doente que sepultavam.
(40)- De um menor reino em Cao sempre soubera
Mas onde Tombuctu mais imperava
Entre muita paz e ordem que tivera
Enquanto dela o abutre se acercava.
Dali um imenso tráfico nascera
Por troca com o sal que comerciava
Apoiado n´ouro,em branco e bom marfim
Que depois conduziam ao melhor fim.
(41)- Outro,chamado Etiópia,mais distante,
Que p´lo Vermelho egípcios alcançaram,
Era a "terra de Deus" nesse Levante
E onde povos negreiros encontraram.
Salomão,de Makeda era seu amante,
Tentado p´los tesouros que mostraram
Mas,com a água de que estava sequiosa,
Se servira ele p'rá corte amorosa.
(42)- Ali mais tarde o rei Sion surgiria
Todo em vigor e ardente juventude
Na herança fêmea ao pai que falecia,
Além de duas irmãs,porca atitude !
Quantos o condenavam desfazia
Ou os deixava com muito pouca saúde;
P´ra ser liberto das chamas do Inferno
Roga da Santa Sé o poder paterno.
(43)- Com os diversos chefes negoceiam
Imitações ou coisas naturais
Com qu ´os negros,contentes, sempre anseiam
Para não serem menos que os demais.
Lusos, de novos dados se rodeiam,
Em busca das passagens principais
E que,por certo, às Índias se encaminham
Mais longe do que afinal adivinham !
(44)-E outro tal de muita fantasia
Lá por Monomotapa havia imperando,
Divindade que sempre se escondia
E a qualquer servo se mostrando,
Quanto fizesse o séquito o seguia,
Os ridículos gestos imitando,
E só de rastos dele se chegava
Mas,doente,com veneno se matava !
(45)- Era rei dum a imensa e vil riqueza
C'os ouros e mulheres que possuía,
(Rodeadas de particular grandeza),
Debaixo dessas saias mais se escondia.
O filho,Matopé,deu mais largueza
E,aumentando esse Império,se estendia
Desde o seco Kalaári ocidental
Até às costas do Sofala oriental !
(46)- Assim se calara Adahu,cativo
E saudoso em voltar para sua terra,
Sendo aquela conversa um bom motivo
Com mais alguns escravos de sua esfera;
Liberto,se fizera fugitivo,
Ali ficando os lusos em vã espera,
Não fora o caso de outros valimentos
Com alguns desejosos de alimentos.
(47)- E numa outra ilha mais para distante
Novos cativos conseguem captar,
Os quais em canoas frágeis,num instante,
Com os pés as fazem desandar,
Mas não logrando à vela e ao navegante
Sabido dos segredos d´ alto-mar,
Com eles indo,todos mais mais tremendo
Do corpo nu e do medo de que iam tendo !
(48)- Essa divina,válida inconstância
Do Infante,verdadeiro observador,
Aumentava-lhe cada vez mais a ânsia
De alcançar novos mundos sem temor.
Surgiram no continente a ganância,
As ameaças e as lutas de terror,
Da mole turca,moira e castelhana,
Defronte a apertada hoste lusitana.
(49)- A luta fora muito prolongada
Lançando na miséria aquelas gentes,
Na fome pelo ouro ainda mais danada
E em busca duns mercados diferentes,
Que os preços dessa antiga canalhada
Cada dia eram mais inconvenientes,
Só restando encontrar novo caminho
Que às Índias levasse outro pergaminho.
(50)- Não usando apenas as armas soberanas
Mas servidos de mestres e da Cruz,
Tudo,indo por diante,ardia em chamas,
Que de longe resplandecia tanta luz !
E pelas costas negras,africanas,
Só por ventura e Fé assim se traduz
Quantas dores humanas superaram
As alegrias qu´outros depois ganharam !
(51)- Neto de Gonçalo,Diogo Cão chamado,
Deixara triste o Tejo, rio "Grandioso",
Por onde outrora o seu antepassado
Dera provas de ser bem valoroso,
Indo co'a gente e vela a seu mandado
E na satisfação do povo cioso
De vê-los partir fortes contra a morte
Que mais certa era qu´outra melhor sorte !
(52)- O Cabo Catarina já tinham passado
Conforme decisão do soberano,
Para que tudo por si apoderado
Não tivesse dos outros grave dano;
De licença papal autorizado
Para as terras africanas d´antanho
Ia a tripulação válida e moça
Vencendo os seus peitos grande força.
(53)- Muito além das riquezas escondidas
Que ofuscavam o juízo com fulgor,
Outras causas porém veriam surgidas
Que bastariam contra o seu destemor:
- As negras gentes logo transferidas
Iriam seguir em lotes,com terror,
Sendo de cada vez pior desterradas
E para novos ramos apreciadas !
(54)- Já umas quinze luas eram renovadas
Quando avistaram águas mui barrentas,
Sendo de "Poderosas" baptizadas,
Arrastando paus e aves fedorentas;
Com certo pasmo as gentes admiradas,
Vendo-os desembarcar entre as tormentas
Com uns gestos e falas esquisitas,
Se mostravam dóceis a tais visitas.
(55)- Foram a Nzinga,lá para o interior,
Tentando preparar boas relações
Enquanto seguia Diogo com fervor
Por novas águas,futuras nações !
Assim passou por Dande e seu arredor
Com caprinos e negros p´los montões,
Ficando a de "Duas Pontas" mais além
Regada pelo Paúl, rio de ninguém.
(56)- Indo a Maria das Neves noutro avanço
Viu-se chegado a um cabo rude e santo
Que de Lobo o chamou e teve descanso
Pondo de S. Agostinho um novo manto.
Por sua vontade iria nesse remanso
Tendo de voltar quase em doce pranto;
Consolado c´o ponto referido
Supunha o fim do mar ter atingido !
(57)- Desejoso de dar novas ao rei
Já regressara Cão a buscar os seus,
Que deixados em missão aquela grei
Tinham ficado,talvez entre ateus.
Caindo uns sonhadores na malha e lei
Seguiram como sendo alguns plebeus,
Mais se cuidando os que vivos sobrassem
Por razões que,quiçá,nem revelassem.
(58)- Dominando os padres no seu ninho
Os nativos à fé converteriam,
Levados por outro melhor caminho
A que antes eles tanto resistiam.
Melhorando o doméstico moinho
Dariam hóstia e vinho aos que a careciam,
Não sendo, afinal,tão mal protegidos
Quanto eram descontentes,oprimidos !
(59)- Em Lisboa,recolhidos ali estavam
Que o mal deles ninguém pretendia,
Sendo instruídos no que ignoravam
Para contar aos seus com fantasias;
Bem vestidos,cuidadosos andavam,
Que mui mais nobres a gente parecia;
Cumpriram as promessas que fizeram
Os senhores que assim o quiseram.
(60)- O tempo normal já tinha passado
De satisfazer à combinação
P´lo que foi Diogo Cão outra vez mandado
Com ricas coisas de compensação.
E seguiu um dos naturais,logo enviado,
Que chegada era toda a embarcação,
Pedindo os que haviam ficado detidos
Pelos seus de alegria melhor perdidos.
(61)- Estando Diogo algum tempo de espera
Partiu em busca de novos outros pontos;
Entretanto iam os negros p´ra sua esfera
Cheios de orgulho e de vaidade prontos.
Enorme massa humana ali acorrera
(Tanto admirados já estavam meio tontos),
Atribuindo uma grande,anormal fama,
Ao que logo de princípio assim o ama !
(62)- O arauto noutras águas continuara
Deixando num local terço padrão
A que de Negro logo lho chamara
Por ter ficado nessa feia região.
Em Angra de Aldeias já também fundeara
Não indo ao interior, com triste perdição,
Pelas imensas faltas que surgiam,
Voltando p'ra direcção que seguiam.
(63)- Mas ainda abaixo tinha ele chegado
Passando por um golfo, rumou à terra,
Onde o último padrão foi colocado,
Que já bastante pelos seus fizera !
P'ra frente nem podia ter continuado
Arriscando naquela Parda Serra,
Ponto extremo,onde ficou constrangido
Por não ir mais além quanto havia querido.
(64)- Vindo de volta, por seu grande feito,
Cansado estava o duro lusitano;
Em Yelala parou mais satisfeito
Visto que para a armada não havia dano;
E numas altas pedras,junto ao leito
Uns nomes lavrara em mais do que um plano :
- Dos mortos, com respeito os escrevia,
Em memórias que nunca se esquecia!
(65)- Estavam alcançados os objectivos
Que um Infante por Sagres estudara
Num alto,sobre o mar,lendo os motivos
E o que o horizonte distante ocultava :
- Outros Mundos e Povos primitivos
Que mais por diante tanto procurara,
Estando longe o sonho principal
De aumentar tanta glória a Portugal !
* ===========================================
--- CANTO II - NO REINO DO CONGO - (171 estâncias) ---
(1) - Os negros barulhentos, todos ledos
Na festa com que os lusos recebiam,
Por vencerem as lendas e alguns medos
Das tantas terras que, vendo, possuíam,
Entre si, com recato e alguns segredos,
Mais dobrados cuidados lhes faziam,
Sem esconderem seus tratos e modos
Dum apreço e respeito dados a todos.
(2) - Em tão gratas mercês deles ficavam
Que deixar sair ninguém desejaria,
Pretendendo aprender quanto ensinavam
Do seu muito saber, fé e valentia.
Por diversos locais tambores soavam
Convidando ao batuque a negraria,
Cada qual em seus trajos mui variados
E aos outros parecendo desusados.
(3) - Corpos cobertos só das baixas partes
Com troncos nus e braços musculosos,
Outros fêmeos, gentis, de finas artes
Dançavam e saltavam mui graciosos,
Fazendo certas coisas sem desastres
Com pulos, gestos, gritos estrondosos;
O visitante espantado ficava
E,de certo modo, isso não admirava!
(4)- Ali eram todos eles povos bantos
Oriundos das famosas Etiópias,
Desnudos, sem quaisquer naturais mantos,
Trazendo alguns vistosas cornucópias;
E nas disputas cruéis,nada eram santos,
Não poupando outras raças, que nas próprias
Terras antes deles tinham chegado,
Expulsando-os com fúria e grande brado.
(5)- Os fugidos vagueavam então, errantes,
Uns Bosquímanos outros Hotentotes,
Sem atinarem c'o caminho dantes
E optando andar nos matos aos magotes
Do que tombar nas mãos dalguns meliantes;
Bebendo das cacimbas por seu potes
Caçavam cobras,ratos e lagartos
Que com raízes e cactos fariam fartos.
*(6) - Manicongo contente assim ficou
P´las cousas ricas qu´ali recebeu
E tudo quanto Diogo lho contou
Das terras que alguém jamais percorreu !
As velas deixando ir,a benção tomou
Para ser dos cristãos que conheceu;
Dos lusos os melhores juízos fez
Como gente que vence toda a vez.
(7) - Juntos foram alguns dos seus mandados
P´ra levar ao respeitado soberano
Muitos produtos em suas terras nados
E que neles não houvera nenhum dano.
De volta,Caçutá e seus venerados,
Das novas daria parte mais ufano,
Porque só para isso fora o preferido,
(Não fosse outro falso plano surgido!)
(8) - Sendo a verdade ali justificada
Receberia umas boas mercês do Reino :
- Era uma missão bem necessitada
Para assim ceifar do trigo o mau feno !
Não mestres de profissão mal usada,
Estragando ainda mais o seu terreno,
Mas criadores de nova religião
Erguendo os que s´ arrastavam p´lo chão.
(9) - E chegados ao fim do aquoso abismo
Ainda em Beja o monarca os recebeu,
Com modo igual,sincero e sem egoísmo,
Que a todos preito sábio mereceu,
Pelo rei, Caçutá tomou baptismo
E um título honroso recebeu.
Sendo esmerado ensino ministrado
À gente que alegre se havia mostrado.
(10) - Do conguês,o rei,à terra o nome dera,
Marcando ao novo Reino o seu tamanho;
Logo submissos à banza envolve
Para assim evitar um qualquer estranho;
Diogo,que largos mares revolvera
Num alto somatório desde antanho,
Do que tanto amava era repelido
Perecendo em lugar desconhecido !
(11) - De esmerada e polida ilustração,
Diversos lóios,lúcidos e sábios,
Resolveram deixar a sua Nação
P'ra seguirem conforme os astrolábios.
Alguns,de creditada mareação,
Estudiosos de certos alfarrábios,
Foram escolhidos por seus preitos
Indo pelos caminhos mais direitos.
(12) - Por entre outros que vinham contratados
Para obterem das terras as condições
Os conguêses,então já baptizados,
Traziam em mente as suas realizações.
Foram com bons e reais modos apoiados
Não tendo de passar por privações,
Pois que dos calmos tratos recebidos
Outros mais ganhariam por merecidos.
(13) - Mas,longe,saídos já da lusa seara
E tendo algum caminho por andado,
Começo a surgir peste,coisa rara
Para aqueles que nunca haviam viajado,
A modos que sua força se gastara
Perdendo o valor tanto desejado,
E de que a amada Pátria bem devera
P´lo tudo que mais tarde s' obtivera.
(14) - Gonçalo pela morte foi vencido
E o seu lugar ficou logo tomado
Por certo Rui de Sousa,então escolhido,
Porque era d´ algum modo o indicado.
Na terra, Manisonho,divertido,
Grande pompa fizera com agrado,
Por ver que o acordo fora satisfeito
E respeitado pelos luso peito.
(15) - Viam-se por toda parte muitas gentes
Com seus estilos subtis,enganosos,
Que tão alegre de tal prazer,contentes,
Davam palmas e gritos sonorosos.
Soavam cornos,trombetas estridentes,
Com certos ruídos mais indecorosos,
Alguns por entre dentes assobiando,
Outros,feros latidos imitando !
(16)- Diversos, com as armas mais estranhas
Faziam rodas velozes,complicadas
Ressaltando duns suas formas tamanhas,
D' outros,pernas esbeltas e pintadas,
Ocultavam as faces pelas manhas
Já por antepassados respeitadas,
E o luso entusiasmado co´as danças
Quase andava metido nessas mudanças.
(17) -Chegados de desconhecido local
Vinham povos de aspecto misto,ufanos,
Só por ouvirem bem longe o sinal
Das novas soltas por ventos insanos,
E,grande admiração,respeito real,
Guardavam por tão bravos lusitanos,
Que sem temerem mares revoltados
Lhes pareciam uns loucos,desvairados !
(18) - Assim,estando já muitos reunidos,
Os altares aos santos levantaram,
Ali mostrando bem aos submetidos
O padrão com que mui alto sempre andaram.
Os que não estavam,foram convertidos
E a melhores normas se sujeitaram,
Crentes no valor forte demonstrado
Só vencido por Hércules irado.
(19) - Antes que o austral senhor se retirasse
Deitando aquele pascoal dia no escuro,
Mandara Rui que a missa se lavrasse
Saindo as dúvidas d´algum peito duro.
E,como se no caso não bastasse
Confiança nos cristãos e no futuro,
Aos natos lançariam sacra benção
Acalmando a cobiça a outra nação !
(20) - Depois dos três altares decorados,
Manisonho com toda a sua irmandade,
Na mesma água e pia foram baptizados
Com largas bodas de felicidade.
C´os títulos com que foram dotados,
Enchendo os fracos peitos de vaidade,
Aos lusos ficaram reconhecidos
Como sendo os mais fiéis e preferidos.
(21) -A conversão assim nada era custosa
E ambas partes restavam compensadas,
Quanto é certo que fora duvidosa
Até virem missões mais preparadas.
O embaixador porém,cara famosa,
Via das gentes as maneiras ousadas
E essas tantas riquezas deslumbrantes
Em sonhos seduzindo os navegantes !
(22) - Por outra ignota terra havia passado
Entre palmas e longas saudações,
E,em Embasse,ficou Sousa pasmado
No meio de comovidas vibrações.
Recebera marfim bem trabalhado
Seguindo em danças várias,procissões,
Levado por plebeus,sempre tocado
As bizarras canções que iam inventando.
(23) -Manicongo,sentado com vaidade,
Nos seus trajes de gala desusada,
Rodeava-se de tão vistosa plêiade
De certas cousas mal acostumada;
Pelas árvores de grande porte e idade
Espiava gente,talvez admirada;
Mantendo-se curiosos,satisfeitos,
Reservavam os válidos respeitos.
(24) - E mais se aumentou tanta admiração
Quando viram abrir grandiosas caixas
Donde os mestres da nova religião
Retiraram douradas,largas faixas !
Belas prendas tombavam para o chão
Ante o pasmo da plebe ali nas baixas :
- Quanto bastava para a sua cobiça
O que o luso,vaidoso,desperdiça ?!...
(25) - As mais variadas coisas pareciam
Com reflexos de luzes coloridas,
Que as vistas desejosas se faziam
Por isso sendo as gentes bem perdidas !
Brilhavam as baixelas que traziam
Entre cetins e rendas mui sortidas;
Contas vítreas que,quando se espalhavam,
Até junto a seus pés,calmas rolavam.
(26) - Estava vista tão grande riqueza
Em belo passatempo pouco usado,
Mas,a mais cara, por delicadeza
Para melhor remate havia ficado :
E causara uma maior estranheza
A cruz de metal bem trabalhado
Q´um padre ali ergueu com velho respeito;
Cada luso,ajoelhado,batia ao peito,
(27) - Enquanto Nzinga, a fronte foi baixando,
Co's do seu povo,aos novos imitava;
A multidão de joelho se prostando
Que cousa estranha a tal os obrigava :
- Um poder escondido controlando
Essa crença que dantes suspeitava,
Porque quanto na Terra se gerou
A uma lei certa sempre respeitou !
(28) - Não pudera ser maior essa alegria
Para quem sem maldade oferecia tanto :
Manicongo, com certa fidalguia
Tomava da sua terra,doce encanto,
Pelos peitos de Rui assim a escorria,
Fazendo-o aos seus,sem qualquer manto,
Graça de que só eram merecedores
Os que se mostravam veros senhores.
(29) - Largos dias de alegria reinou na corte
Do alto senhor do Congo agradecido,
Sendo recompensado em rara sorte
Pelas mercês que ao rei tinha pedido.
E antes que lhe pudesse dar a morte
Ou receoso nas lutas ser vencido,
Quis logo tomar a hóstia consagrada
Que de tal era a força já mostrada !
30) - E ainda não estando pronta a lusa igreja
Nos reais Paços a gente se reunia;
Com grata devoção e mais singeleza
O braço da amizade se estendia.
Cada um teve seu título e nobreza,
Coisa que até ali nunca se fazia,
E,usando um modo fácil,certo ardil,
Viriato antigo obtinha o metal vil.
(31) - Todavia os laços santos pior corriam
Porque os sobados nunca aceitavam
Dispensar as mulheres que possuíam
E que em certos aspectos ajudavam;
Os da Nova Ordem tal cousa puniam
Pelo que muitos logo os criticavam,
Em gestos demonstrando o pensamento
Que menos seguro era o fingimento.
(32) - Tanto se complicara essa questão
Que o herdeiro fora expulso,por abuso,
Das terras de Embasse p'ra o sertão
Pois do mesmo o acusaram fazer uso.
Que,do pai,segundo escura opinião,
Servia-se das submissas como intruso,
Não cumprindo afinal o que jurara
Porque no prazer mais valor achara !
(33) - Assim, entendeu o que ali era senhor
E em virtude do que à volta corria,
Punir os descontentes com rigor
Já que a boa Nova tanto os protegia.
Mas eles,que da vida haviam penhor,
Logo saíram que tarde se fazia,
E, guardando consigo as velhas crenças,
Que ficassem os outros co'as sentenças!
(34) - Para seu agrado Nzinga falecia
Deixando a Mbemba o lugar desejado;
Agora, sua doutrina impor podia
Contra os que antes o tinham por odiado.
Mas Aquitino o trono pretendia
Associando-se ao povo revoltado,
Sobre o irmão caindo com feroz violência
E em forças de vencer sua resistência.
(35) - Em Embasse se via Afonso cercado
Que muitos com temor tinham fugido,
Mas o Sonhador já havia manobrado
Com isso não se dando por vencido.
Pelo sublime fim argumentado
O dobro deles houvera batido,
Indo uns buscar a própria, rude morte,
Em fossas de enganar o vero norte.
(36) - Mas,perdoando aos contrários na derrota
- Em Santa Cruz a igreja levantou
Com pesados trabalhos de boa nota
E de sua companheira que o imitou.
De vero facto ou causa mais remota
U'a força maior por certo o ajudou,
Fugindo com temor os cobardosos
Como em Ourique já d' outros gloriosos !
(37) - Segundo rei no Congo assim surgia,
Na cultura e as leis elucidado,
Mas feroz perseguição procedia
Contra o que os povos tinham adorado.
E com tal convicção assim exercia,
Com vida soterrando a que o havia nado,
Que na idolatria antiga se mantinha
Em lucro que por certo lhe convinha.
(38) - Com mui fervor e fé sempre velava
Que às vezes por uns livros estudar
O seu olhar,não querendo,vacilava,
E o alimento ficava por tomar.
Às gentes combatia a cultura brava,
E a sua fazia aprender e praticar,
Mas julgava com real capacidade
E com juízos de esperta caridade.
(39) - Muito ganho houve para Portugal
Naquelas boas e ricas conversações
E com maneiras levadas sem igual
Morava a paz por todos orações;
Desse modo fugia o danoso mal
Que desfalcara muitas povoações;
Ora desciam os bravos até ás costas
Onde o luso lucrava grandes postas;
(40) - Entendido na Santa religião
Que os mestres mais antigos ensinaram,
Como eles,tornou-se um novato irmão
Dessa Ordem que por tanto tempo andaram.
Contra a fome da fé,outras então
Ressurgiam dos que alheios se demonstravam,
Pois só o roubo e comércio pretendiam
E de riquezas e maldição se enchiam.
(41) - Mas sobre ela a cobiça cavalgava
Para poder injectar as fraquezas,
A modos que a moral se rebaixava
Perante a força vil dessas riquezas.
Do alto a coordenação mais demorava
Desviada por novas terras e presas,
Que embora grande,mais se estenderia
Sem se poder contra tal vilania.
(42) - Mas,como essas ganâncias iam surgindo,
Viera outra religiosa comissão
Dedicada às matérias ou,bem agindo,
Melhor zelariam p'la sua profissão.
Mais tarde,novos loios estavam vindo
Que recebidos eram co' atenção,
E bem cuidados sendo p'lo que vinham,
Não fossem outros que p'ra trás caminham !
(43) - Todavia, alguns ao largo se faziam,
Com queixosas e reles desavenças,
Que da sua missão logo se esqueciam
Logrando de explorar novas pertenças.
P'ra sua terra outros já se recolhiam
Ocultando o pecado e as suas ofensas,
E o Frei Aleixo morrera de desgosto
Escondendo no solo o santo rosto.
(44) - Desses,os comerciantes se ficavam,
Só fazendo negócio condenado,
porque iam vendendo negros,que trocavam
Pela carga que o Rei tinha mandado.
Todos mais espantados se mostravam
Que um escravo nascera amulatado !
- Nem sendo cousa grave,as leis condenam
Aos que do santo código desdenham;
(45) - As novas mercadorias,despertando
Outros de longe,da ilha de Caminha,
Que andavam no processo manobrando
Em negociações que muito lhes convinha
E de tal modo bons lucros tirando
Que muitos,tendo a fé na mesma linha,
A essas coisas também deitavam mão,
Esquecendo cada um a sua missão.
(46) - Querendo certos males combater
Mandara Afonso seu filho a educar,
Pedindo a Melo e ao Rei o seu parecer
Noutros mestres e clérigos a enviar;
Ofertando lembranças com parecer
Em sabida homenagem a cuidar,
Melhores ganhos teriam por cobrados
E indo mais uns para serem educados.
(47) - Por outros que seguiam mandara novas
Ao Rei p'ra que depressa os compensasse,
Enviando algumas "peças" como provas
Antes que tudo em pior se transformasse.
Bem pudera ir fazendo alegres trovas
Se outras soluções não deliberasse,
Porque nunca mais vindo tais respostas
Arriscadas ficavam as suas costas !
(48) - Estevão Rocha ao Zaire ali chegou
Com ordens dadas pelo soberano
Para prender Rodrigues que,alegou,
Tinha causado já grave e vil dano.
Por entre coisas feias que praticou,
Matara crianças,fero desumano !
Deixara em São Tomé outros para trás,
Como foi co' Anes e o Gonçalo Vaz !
(49) - Mas depois aqueloutro regressava
Com os fidalgos negros e os presentes,
Para ofertar ao Rei, que respeitava,
Venerado no meio de muitas gentes.
Afinal, esse Estevão os enganava,
Pondo fora os incautos e mui crentes,
Pois que boa fortuna era a que seguia
Naqueles anos maus, de carestia.
(50) - E por isso Fernandes fora julgado,
sendo dele servil intermediário.
Que,antes de fugir,era apanhado,
Livrando-se porém dum modo vário.
Nestas e noutras andava preocupado
O pobre soberano solitário,
Mais podendo o tesouro e a vilania
Que a esse tempo por muito lado havia !
(51) -E por Melo então o Rei lhe respondia
Ás cousas de que já tanto esperava;
Tal modo satisfeito se fazia
Que como novos escravos presenteava.
Na volta o lauto prémio prosseguia
Ao dito que por certos esperava,
Mas não sendo aquel' outro acobardado
E com mais de metade havia ficado.
(52) - Nada contente,esse outro fazia pior,
Pois ficando-lhe com as roupas da arca
A mandava vazia,como penhor
De falso que detrás coloca a marca;
Assim,perdido o seu antigo valor
E a sua honra se tornando ainda mais parca,
Na dor e triste mágoa se afundava
Que,sendo grande,mais se lhe alargava.
(53) - E dos que de emissários se faziam
Dum igual modo falso continuavam
Ficando com as "peças",suas diziam,
Quando só ao luso rei se destinavam !
Obra no Reino pouca ali construíam
E os artífices logo se escapavam,
Andando mergulhados na cegueira
De obter ganhos com fácil trapaceira.
(54) - Depois de alertas feitas pelo conguês
El-Rei escolheu Simão para mandatário,
Embarcando com tropa e bom arnês
Para acabar c'o estado mais precário,
Que em caminhos de fraca solidez
Ia cada qual fugindo ao seu calvário;
Preparou com cautela a lotação,
Não sofresse ainda maior desilusão !
(55)- Assim, receoso contra ataques falsos
Que o reinado pudessem desfazer,
E ainda dos não cuidosos, com percalços
Trocando seu trabalho e bom viver,
Mais cuidava dos fracos e descalços
Já sendo nisso antigo o seu mister,
Levando como ofertas bem valiosas
Os sinetes e as armas belicosas;
(56)- Com uns mestres de letras embarcavam
Muitos outros artífices variados,
Que da usança dos cunhos ensinavam
C´os símbolos antigos respeitados.
Uns dos profissionais que lhes ofertavam
Para erguer uma igreja eram mandados,
Guardando-se os tesouros escolares,
Conforme seu desejo, em bons lugares.
(57)- Afonso melhor casa recebia
Para gozar saúde e seu sossego,
Folgando dos trabalhos que fazia
Entr' uns malvados sem qualquer apego;
E pelo bem das normas olharia
Sem os deixar sair do natural rego,
Não havendo mais dinheiros emprestados
A quem pedia p'ra não serem cobrados.
(58)- Voltavam os navios logo refeitos
Compensando despesas antes gastas :
- Ia o alvo marfim e tantos negros peitos
Com outras coisas,quais as mais nefastas !
Muitos estudos foram assim feitos
Em todas terras já por si mais bastas
Como outras sempre tanto apetecidas,
Supostas dum metal bem fornecidas.
(59)- Por Simão, el-rei mandara esclarecer
Dom Afonso bastante agradecido,
Que devia uma embaixada promover
Para em Roma ser mui bem acolhido.
Seu filho as bençãos iria receber
Que ao Sumo aconselhado tinha sido,
Porque lhe merecia tal distinção
Quem nas obras punha bom coração.
(60)- Contra todo o conhecido desejo
Em que o Reino pusera sua esperança
Toda essa armada nem chegara ao Tejo,
Não passando de pérfida bonança !
Tal, Silva não tivera por ensejo
Mas muito mais podia a negra vingança
Em que alguns começavam manobrando
P´ra lucrar abastanças noutro mando.
(61) - P'las mentiras por Rego propaladas
Foram mudados planos escolhidos,
Indo outros nessas coisas não faladas
Que melhor eram eles entendidos.
Com as cargas sempre cobiçadas
Em São Tomé ficaram lá detidos,
Em maneiras que nunca se adivinham
Mas que por recompensa lhes convinham.
(62) - Afonso pediu ajuda ao luso foro
Para castigo dos mal comportados
Que nas relações punham seu decoro
Estando muitos já bem governados.
Simão sofrera grave desaforo
E tendo alguns febrões muito danados,
Com tanta gravidade e tal agoiro,
Logo dali deles mesmo deu um estoiro !
(63) - Perdido o valoroso residente
Com pesar para o negro soberano,
Mais turvada ficava ainda sua mente
Ante o proceder muito desumano.
Logo aqueles das ilhas mais à frente
Começaram a causar grave dano,
Não satisfeitos com tanta pilhagem,
Que raios partam tamanha malandragem !
(64) - Os pretendentes logo apareceram,
E qual deles qual o mais intencionado
Nas artes do comércio que fizeram
Com as fazendas que tinham roubado !
No continente as causas se souberam
E por D. Manuel outro foi nomeado;
Ao mar com ele as naus foram descidas
Que eram p'lo Álvaro Lopes protegidas.
(65) - E vendo os outros tal lugar perdido
Suas feias intenções logo arquitectaram,
Mas um por altas febres foi tolhido
De que proveitos gratos resultaram.
Lopes,de mentiroso foi ofendido,
Pelos que por sua frente se passaram,
E porque um mau desfecho pretendiam
Que de outros cousas mais se entendiam.
(66) - Dois navios carregados tinham ido
Para o real irmão,em gesto respeitoso,
Que,recebendo-os,ficou agradecido
Porque deles estava desejoso.
Iam Dom Francisco nisso bem instruído
Pois,levando-lhe "peças",mais vaidoso
Ficava seu pai por ser o ofertante :
- O outro,de certo,alegre,mais confiante !
(67) - Surgiram nesta altura novas lutas
em que um príncipe estava enrodilhado
Por motivo das pérfidas condutas
De que Munza tivera provocado.
Tomou Lopes as rédeas absolutas
Seguindo Afonso contra o revoltado
Com muitos,ricos,nobres,tais senhores,
Assim brindando-o com seus favores !
(68) - Ficara o embaixador com os poderes
De que a real personagem lhe cedera,
Pronunciando-se com seus pareceres
No que por justo e digno se entendera.
Sendo certo que auxílios e uns haveres
Alguém de pronto lhos oferecera,
Buscando com saber as recompensas
Que da luta se colhe sem sentenças.
(69) - Logrando aquela ausência assim forçada
O Manuel Cão,bastante conhecido,
Armou com Diogo Belo uma cilada
Que há muito em pensamento houvera tido;
Com centena de escravos amarrada
Logo p'ra o litoral havia fugido,
Onde um barco por certo havia de estar
Por que nisso antes tinha de pensar.
(70) - Apressados por Gaio se refugiaram
Satisfeitos da sórdida traição;
Coitados,afinal nada lucraram,
Que se punha em revolta a lotação.
Os escravos depressa se vingaram
Matando o referido Manuel Cão;
E,ficando ferido o outro vigário,
Restava curta a vida e seu fadário.
(71) - E aqueles negros postos à vontade
Saltitavam de rápida alegria,
Queimando toda a casa e muita herdade
Que por entre os capinzais existia.
Justiça logo fez de boa vontade
A rainha,e castigá-los pretendia
Para exemplo de quantos abusavam
Em ocasiões que nunca lhes faltavam.
(72) - Chegara o soberano da peleja
Quando grave discórdia conhecera :
- Certo bacharel, roído por inveja,
A demissão de Lopes prometera.
D. Afonso com mais fina esperteza,
Manda-o por um navio que aparecera,
Ficando convencido e descansado
Que de tal importante era livrado;
(73) - Mas de escusas e trapaças se servia
Que puderam livrá-lo do mandado,
*E ficara contente quando via
Alguns do Reino vindo por seu lado.
*Nessas cousas o chefe interferia
Tendo certos fidalgos protestado
Contra o embaixador que havia proibido
Quem aqueles negócios ia metido.
(74) - Danados e subtis laços obraram
Envolvendo envolvendo D . Afonso e o embaixador,
Assinando umas leis que lhe ditaram
Que o dito Lopes punha noutro ardor.
Os de S. Tomé mais se alegraram
Ficando aos seus cuidados tal senhor,
E os que dos santos deviam ser amigos
Mais mereciam seus rápidos castigos;
(75) - E passou o residente a ser julgado
Por coisas que antes não pensava,
Todos fazendo um pacto descarado
Que nunca deles isso se esperava !
A extremo tal a afronta havia chegado
Que um frade se metera com sua escrava :
- Uma morada própria assim violara,
Maldade com que nem sequer sonhara !
(76) - Defronte o próprio rei, Diogo,ofendera
Álvaro Lopes,nobre residente,
Dizendo-lhe dos gastos que fizera,
Mandando deles moeda ao continente.
E vendo que esse Lopes não temera
Na presença real,mesmo de frente,
Grosseiro,em vias de facto se firmou,
Como quem a Justiça ali encarnou !
(77) - Álvaro, que era digno cavaleiro,
Com suas maneiras calmas desafiara :
- Que houvera de ainda nascer o primeiro
Que sem resposta da ofensa ficara !
E não restou em vão o ardil do conselheiro,
Que Lopes noutro dia logo o limpara:
Cravando-lhe um punhal no falso peito
A sua justiça assim a tinha feito !
(78) - Os santo-mistas feros reclamavam,
(Seus interesses tal perda ferira),
Do vencedor a morte desejavam
Mas o chefe conguês a repelira.
E faltando as razões logo o insultavam:
- Já esse Diogo,"de negro" lho cuspira,
Mas a questão por tal assim perdiam
E do embaixador ainda mais temeriam.
(79) - Numa outra desavença haviam andado
Mas regressara em paz o residente,
Que para isso cuidado havia tomado
Evitando a vingança de tal gente.
Porém no esquecimento foi deitado
Aquele que do rei fora bom crente,
Dispensando boa fé e justo favor
Nem se soube quem foi o seu sucessor !
(80) - Foram mais uma vez embaixadores
Protegidos do chefe congolês,
Que depois de pesados dissabores
Propunha novo acordo ao português.
E para que tivessem mais favores
Haviam de acabar c'os alheios de vez
Nem retirando ao Congo os bons produtos
P'ra rudes mãos daqueles ricos brutos.
(81) - Mas logo os mercadores reclamaram
Não querendo aceitar tal condição,
Pretendendo o que nem sempre ganharam
Com o sofri a pobre da Nação.
As lutas e discórdias se alastraram
Por grande e muito fera posição
Que a paz e vidas calmas ofendiam
Apenas porque o mal doutros queriam.
(82) - Com tais procedimentos e condutas
Resolveram nomear uma inquirição
Porque entre religiosos havia lutas
Perdendo-se o respeito e a vocação.
O conguês tinha em mente as boas labutas
Que sempre obrara pela santa mão,
E dessas muitas coisas que fizera
Alguma ajuda logo recebera.
(83) - Num outro tempo já p'ra trás passado
Buscara Afonso a ajuda Vaticana,
Porque a missão que houvera preparado
Se afundara com gente lusitana.
Outra ainda ao Papa Leão tinha mandado
Deixando parva a gente romana,
Que com gostos o dito recebia
A nobre gente e a régia fidalguia.
(84) - Em recompensa dada à corte real
Mais lucrou D. Henrique por seu lado,
Que ser bispo de Utica não havia mal
E nisso tinha o Papa bem pensado,
Vinha o prelado p'rà terra natal
Duma nova missão ainda mais apoiado,
Sem ter o que porém fora pedido
Junto de quem fizera-se distraído.
(85) - Fora o Zaire,primeiro descoberto,
Julgado de lendário e velho Nilo
Em onde Prestes João morava perto
E há muito desejado como asilo.
Noutros reinados nem era ainda certo
Ser aquele o caminho mais tranquilo
Às terras do abexim,pouco distante,
P'lo crer de D. Henrique,o Navegante.
(86) - Era de altos poderes o desejo
Pelas muitas riquezas que esperavam,
Se pudessem cobrir-lhes de sobejo
Todas despesas com que se arruinavam.
E por sua opinião só,ou seu real ensejo,
Mais novas artimanhas estudavam,
Que com boas oferendas e presentes
Podia lograr o acordo de tais gentes.
(87) - Se mais do que isso lhes interessava,
Como melhor aliado ajudaria
Nas tantas lutas feras em que andava
O luso contra quem tanto podia.
Ainda como passagem se prestava
Esse Reino de Sonho e de magia,
Que levaria aos extremos orientais
E às ambições de seus perdidos pais.
(88) - Mais longe chegava pressuroso
Quadra,como emissário designado,
Com mercê p'ra Afonso e o padre cioso
E d'el rei com escritos bem apoiado,
Reunindo-se o concílio mais famoso
P'los naturais e lusos reforçado,
Para julgar daquele que assim vinha
Com poderes que o trono dados tinha.
(89) - Viram existir só na pretensão
Ambicionado e esperto contrabando
Com as terras do sonhado João
Para o que se ordenara tanto mando;
E porque eles temessem o patrão,
Com desastres em suas cousas ficando,
Logo pensaram quanto diminuíam
Perante outros valores que surgiam.
(90) - Como se um vero Papa se tratasse
Outros Reis ante si se recurvavam,
Ou por ser o Ogané quem mais mandasse
Envolto em muitos véus qu'o camuflavam.
Poderoso,amigo de quem o amasse,
Suas palavras ao Genghis desafiavam
Negando a filha,por ser-lhe inferior,
E de quem não tivera algum temor.
(91) O Outro, Khan,de mais raiva ainda se punha
E bem armado afiava logo o seu dente;
Uma escura fronteira ali transpunha
Ante o Preste João um tanto descrente;
Ao sábio e a certos mágicos se impunha
Sobre a sorte da força ali presente,
Ciente tendo ficado da vitória
Que já antes a festeja p'ra sua glória.
(92) - Fera,tremenda,longa foi essa luta
Tantos os valores ali defrontados
P'los senhores de forma resoluta
E havendo muitos já feitos bocados.
Avança a gente tártara,mais bruta,
Fazendo mortos por diversos lados;
Bem tarde o vencedor perdia sua vida
Na ponta de uma seta dirigida.
(93) - E tamanho era o régio poderio
Que um tal Dario mandara prender
Deixando-o depois solto à beira-rio
Feito pastor,que não havia outro mister !
Mas ante a sua humildade e sangue frio
Manda-o de volta sem mal lhe fazer,
Todo vestido em sedas e brocados
Ficando amigos e bem mais confortados !
(94) - Assim, uns cuidadosos dessa herança
E das terras que há tanto defendiam,
Ali tecera rápida ardilança
Que contra todos,eles se mordiam !
E tendo Quadra bem na sua lembrança
As ordens que d'el-rei mais repetiam,
Buscava sem cessar o bom caminho
Qu'outros escondiam para tardio ninho;
(95) - Logo a dita passagem lha proibiram
Por haver nisso grande alteração,
E com tanta vontade lho impediram
Que depressa aceitou a limitação.
Assim faltava,porque mais feriram
Quem tivera respeito p'ra 'Nação,
Que sempre por boa conduta era tomado
E agora procedia em modo trocado.
(96) -Na verdade outras razões havia
Daqueles comerciantes de mau nome;
Cada um por seus negócios defendia
Roubando mesmo aos negros cheios de fome !
E ficavam-se assim em galhardia
um pacto com os outros de Santome;
Era acção vergonhosa e muito feia
Que operavam de pérfida e vil teia.
(97) - Quadra,triste a sua terra regressou
P'la dita missão não ter cumprido,
Como antes o outro rei lho encarregou
Julgando-o nessas coisas bem sabido.
Afonso pouco viu o que se passou
Tanto mais que p'ra tal fora impedido,
E depois as desculpas que escreveu
Nunca foram apenas a gosto seu.
(98) - Grandes somas p'las cargas lhe pediam
Dessas "peças" que ao Reino então mandava;
Com outros maiores lucros fugiriam
Deixando pobre quem neles confiava.
Assim,vendo que os cofres diminuíam,
Um navio p'ra si só solicitava,
Que bons ganhos teria com certos postos
Em não os gastando com ditos impostos !
(99) - Viera Pacheco,novo embaixador,
Com uma missão dura de cumprir
Contra tais represálias e o terror
Que os Santo-mistas faziam ressurgir.
O soberano,com sabido terror
E mais severo p'ra se fazer ouvir,
Reprimia os revoltosos sem piedade
Porque deviam ter juízo nessa idade !
(100) - E até para os dessas ilhas leis mandou
Qu' el-rei com um louvor o destacava.
Ele com mais respeito as publicou
O que logo bastantes espantava.
Então, com a nova ordem que implantou,
Os desleais comerciantes derrotava,
Que nunca dantes outro assim fizera
E nem tão grande paz ali impusera !
(101) - Piratas destemidos e estrangeiros
Seguiram para terra,cobiçosos
Dos imenso proveitos e dinheiros,
Fazendo alguns negócios audaciosos;
Mas,Pacheco,sabendo dos traiçoeiros,
Ledo mandava enviados temerosos,
Para prenderem logo os que adiantados
Ao Zaire se fizessem apressados;
(102) - E sendo superados na esperteza
Se botaram mais rápidos ao lado,
Contudo nem causara estranheza
Ficando ali esperados num montado;
Vinham alguns com muita subtileza
Julgando tudo já limpo e abafado,
Quando p'ra seu azar e desconsolo
Encontravam cercado todo o solo.
(103) - Bastantes desses tais haviam morrido
E outros tentado p'ra o sertão cavar,
Mas do grupo que logo fora apreendido
Bem pouco se pudera aproveitar,
Um obras porém era sabido
E outro podia gramática ensinar;
Só por isso de algo mais recompensara
Se outra como essa nau ali apanhara !
(104) - A economia melhor se equilibrava
Depois da conversão e da paz havida
Mas de umas outras normas se cuidava
Pois d' algo surgia nova e feia ferida:
-- O negociante por ali passava
Co' mercado de negros por sua vida,
Despovoando bastantes desses quimbos
Ao abandonar as gentes seus arimbos.
(105) - D. Afonso, el-rei negro de aquém-mar,
Em Concílio com lusos residentes
Novas lutas resolvera efectuar
Contra os que se mostravam dissidentes,
Mas João terceiro não o quis ajudar
Qu'isso aumentava os já muitos descrentes,
Porque melhores lucros podiam ter,
Razão de quem não tinha outro viver !
(106) - Indo contra a resolução ditada,
Formou uma comissão bem escolhida
Em quem tinha boa fé e melhor aguada
Contra a desfavorável e vencida,
Pôde dar protecção mais desejada
À gente que em sua casa era apreendida,
Depois marcada com o sangue e fogo
Para ser revendida p'ra outro jogo.
(107) - Muitos mais braços em terra ficavam
E melhores proveitos se colhiam :
- Enquanto alguns negócios acabavam
Por certo menos gentes se perdiam.
Favores confortáveis ali achavam
Com menores despesas que faziam
Porque,com os metais assim poupados,
Precisas obras surgiam noutros lados.
(108) - Afonso, com os enganos que sofrera
Resolveu enviar a Roma outra embaixada,
Para obter causa que há muito quisera
E que cada vez menos era achada.
Ao Papa, altas mercês logo logo tecera,
Após tantas canseiras e trabalhos
Por caminho direito ou por atalhos !
(109) - Pacheco viera com outras ideias,
Ordens do rei conguês,seu franco amigo,
Tentando derrubar as alcateias
Em risco desde tempo mais antigo.
E vinha Mendes com certas areias
Numa missão em que andava com perigo
P'ra que fosse explorada a sua riqueza
Com mecanismos doutra natureza.
(110) - Em Ambasse tardou tempo bastante
Co' as pretensões de que ia recomendado,
Por ser o seu rei o mandar como um errante
Em busca do lendário desejado.
Já outro primeiro,tal perdido amante,
O tentara sem cuidar no pecado
Para nesse reino achar melhor ninho.
(111) - Sobre esse plano nada mais constou
Nem havendo a certeza em ter seguido,
Pelo que pouco ou nada resultou
Perante as posições que haviam surgido.
E-rei,outro seu emissário despachou,
Que com o fundidor ia fornecido,
P'ra que,se descoberto fosse o cobre,
Logo ficasse limpo do que o encobre.
(112) - Assentara fornalhas elevadas
E demais construções,rudes,mineiras,
O que deixara as gentes desconfiadas
Supondo coisas nada lisongeiras.
As decisões,porém,eram tramadas
Pelo chefe das forças mais cimeiras
Com os apoios de certos portugueses
Para que não perdessem os fregueses !
(113) - E contra tantos danos,desavenças,
Sem lucro algum tiveram de por ali sair
Ficando um espanhol,fiel às suas crenças,
Que uns metais acabou por descobrir.
Coelho mandara novas das ofensas
Que,em tolo lado,estavam a surgir,
Pedindo alguns castigos e expulsões
Para quem cometesse transgressões.
(114) - Pelas antigas normas,procederes,
Resolveram mandar outra missão
Que teve de lutar contra os poderes
De inimigos da nova religião.
Não agradaram,contudo,os pareceres
Dos diversos que foram p'la reunião,
Desviando-se dos santos resultados
Como se vira já em anos passados.
(115) - Assim os Reinos não eram protegidos
Nem dominados com dura firmeza,
P'lo que muitos ficavam convencidos
Que seriam donos dessa vil riqueza :
-- Condenados negócios,repelidos,
Da revenda de negros feitos presa,
Para seguirem p'ra outros distantes
Aumentando a fraqueza dos restantes.
(116) - Prosseguia a luta feia e desfavorável
Lançando aos poucos a ruína eminente,
Colhendo cada o mais aconselhável
E metendo ambas partes frente a frente
Perante a situação danosa e instável
Pediam recursos a el-rei descontente
Vendo tantas culpas em ambos lados
E,pouco decente,entre homens barbados !
(117) - P'ra solução,perante a indiferença
E o grande mal que tanto lhes causava,
Sem poderem exercer sua avença
No negócio que sempre os animava,
Tiveram um acordo sem detença
Que o caduco rei logo eliminava,
Seguido de limpeza radical
A quem não concordasse com tal !
(118) - Assim combinada a resolução,
Em dia de missa pascoal se juntaram,
Colhendo com deslealdade a ocasião
De executar o plano que tramaram.
Algo porém,por santa protecção,
Dez desviar as setas que atiraram,
P'ra irem antes por justa vingança
Atingir quem,com dano, atirou a lança !
(119) - O fruto assim colhia naquela idade
Dando a certos senhores os lugares
Que afinal serviam só por sua maldade,
Lançando a desunião em diversos lares.
A tal ponto ia essa desonestidade
Por suas condutas bem singulares
Que o povo levantava alguns perigos
Não temendo dos crimes os castigos.
120)- Mas destas coisas tanto havia sofrido
Que sua vida ir mais longe se negara
E com ele o povo andava perdido
Com o quase nada que se aproveitara;
Leis do Reino e da Fé havia cumprido
Co' ardor e sofrimento que aceitara,
Sem justa recompensa receber
P'lo respeito que havia de merecer.
(121)- Não foi mais feliz o outro sucessor
Pois tudo cada vez mais se agravava,
Perante a sua fraqueza e o seu temor
Contra ele uma revolta rebentava.
Soaram gritos da luta com ardor
Que aos iberos e aliados preocupava;
Cruzaram-se as zagaias co'a gritaria
Que das turbas ferozes se fazia.
(122)- Em fugida, ganhando na escalada,
Vencedores em cima de vencidos,
Nada poupavam nessa debandada
Em que se safavam alguns atordoídos.
Nem rei,nem sua família foi poupada
Bem como os que lhes eram mais queridos,
Degolados p'las gentes esquecidas
De quantos lhes sanaram as feridas !
(123)- Seguiu-se outro incapaz nessa chefia
Desleixado dos costumes sagrados
P'ra que com tanto custo e garantia
Alguns lusos cristãos foram mandados.
Na política e fé não houve valia
Surgindo lutas de todos lados;
Com prejuízos para a população
Ficavam os problemas sem solução.
(124)- Só as riquezas, negócios, mais brilhavam
Atraindo os ociosos e aventureiros
Que nesses ramos já p'ra si ganhavam,
Enchendo sacos, baús, com tais dinheiros.
Outros, as terras férteis demarcavam
Em bens dados por el-rei a cavaleiros,
Por feitos que nem nunca os cometeram
Mas sempre de primeiros se disseram !
(125) - Dom João,crente nas válidas riquezas
Que se perdiam em tal solo bravio,
Nomeara uma missão p'ra olhar as presas
Não fossem retiradas num arrepio!
Seguira Pais lutando com surpresas
Talvez por certa culpa e um certo frio,
Levando de presentes algumas prendas
P' ra o soba que gostava de oferendas.
(126) - Logo descendo o Lomba uns exploradores
Acharam novas partes de Benguela,
Brilhando ainda mas altos esplendores
Que muitos novos se dirigiam pra ela.
Medravam os desejos dos senhores
Já de si muito largos e sem trela;
O novo rio deixava o rumo aberto
E para os jovens terras mais liberto.
(127) - Nascera esplendorosa a nova terra
Embalada p'los sonhos,fantasia
Duns antigos tesouros que ela encerra,
(Que muitos desde sempre seduzira)!
Futuro campo de ódio,luta e guerra
Com o outro monopólio que crescia,
Ali convergiam povos de outras partes,
Mulheres livres com homens sem artes.
(128) - A cobiça desviara a obrigação
De ter o Reino antigo respeitado,
Envolto ora em discórdia e discussão
Após fracasso e perda do finado.
Seguiu Diogo Pais dar parte à Nação
Do que se passava por todo o lado,
Requerendo que fossem substituídos
Alguns dos missionários remetidos.
(129) - El-rei João ouviu a petição
Sendo Simão,jesuíta,o escolhido
Para organizar selecta missão
E harmonizar o povo compelido.
Era bem precisa tal resolução
P'lo medo de ficar tudo perdido
Depois de largos anos de trabalho
Batendo em dura cepa o fraco malho !
(130) - Gonçalves recebeu em Coimbra o pedido
Pois que o rei tinha logo de o apressar
Por ser nessas matérias entendido,
Escolhendo os seus mestres a embarcar,
Havendo muitos,ficou resolvido
Tirar as sortes para os contentar,
Saindo em três sacerdotes e um menor,
Com pena dos que estavam ao redor.
(131) - Um destes,Leão Henriques baptizado,
Aos pés do douto reitor se ajoelhou,
Pois que queria também ser embarcado
Mas,sendo novo,nada conquistou !
Diogo Gomes pediu p'ra ser mandado
Com apoio da parte que o solicitou
E por possuir também certo valor
P'ra que o tomava como senhor.
(132) - Todos eles trilhando outros caminhos
De suas tarefas pelos tempos fora,
Tinham ganho dos povos pergaminhos
Nas terras do Brasil sem mais demora,
Ora altos,guiando fracos passarinhos,
Perseguidos no tempo e naquela hora,
Ora humildes,curvados p'la canseira
De todos conduzir em sua maneira.
(133) - Com destino traçado por sua mão
E um fim determinado de alcançar,
Surgiam os frutos como encantação
Donde nem se cuidava rebentar.
Chegados que foram com sua missão
Subiram até a Embasse chegar,
Sendo coma amizade recebidos
Na esperança dos resultados tidos.
(134) - D. Diogo com a cruz na mão,à entrada,
Esperava-os recatado e cuidadoso
Pelo que antes não tinha dado nada,
Deixando o Reino bem mais defeituoso;
Iam p'ra beijar a mão,logo voltada,
Que aos sacerdotes isso era gravoso,
Só lucrando tal dávida o escolar
Porque em letras ainda andava a estudar.
(135) - Do astuto plano régio iriam cuidar
Cada qual por seu modo conveniente,
P'ra na verdade nem se contestar
O que levavam já metido em mente,
E por mais que quisessem realizar
Não conseguiam converter tanta gente,
Que contra eles se iam todos levantando
Sem que pudesse haver outro seguro mando.
(136) - Os fins,que nas suas mentes reservavam,
Logo se dissiparam como vento,
Porque alguns maus exemplos ensinavam
Nas artimanhas de alcançar provento,
E,assim,os que crentes tanto armavam
Condenando o mal só com outro intento,
Já compravam também muitos escravos,
Que,afinal,no negócio não eram parvos !
(137) - El-rei recebeu o novo relatório
Enviado p'los daquela comissão
Porque entretanto andavam num velório
Castigado p'la lusa religião.
Cada um ia sempre muito mais finório
Menosprezando a santa profissão,
Por rendosos proveitos recebidos
Em troca de outros favores proibidos.
(138) - A escravatura dava que bradar
Ferindo os principais particulares,
Vendo-se os santo-mistas a afundar
No monopólio que obtinham nos mares.
Diogo impunha-se a tal desenrolar
Alegando a el-rei João muitos azares
Sobre alguns missionários sem vergonha
Mas de que a maior era a dita ronha !
(139) - E nenhuma vantagem s'obtivera
Na santa e desastrada formação;
Por fim,o poder régio resolvera
Providenciar uma outra solução:
- Novo embaixador real aparecera
A mando de quem queria tal missão;
Melhor fora que não houvesse acedido
Escusando de a bota ter batido.
(140) - Pelo rei não foram bem recebidos
Porque primeiro alguém os intrigara,
Acusando-os do que eram conhecidos
E que tal presença os incomodara.
Começaram daí a serem perseguidos
Pelos de uma outra Ordem que os lançara
No meio de escandalosas conivências
Que nem escondiam as as aparências.
(141) - Dum lado,umas discórdias mais profundas,
Doutro as rivalidades santo-mistas,
Lançavam o Reino em lutas imundas
E a precisar de bem severas vistas.
Estavam as feridas mais profundas
E as populações fracas,sem artistas,
Interferindo já as outras de fora
Que a mudança era bem mais sedutora;
(142) - E surgem renovadas aspirações
Que os interesses vários levantavam,
Agravando todas negociações
Que desde há muitos anos realizavam.
Os congoêses não queriam submissões
Às culturas e fé que os enfastiavam,
Vendo que nos mais válidos reinados
Eram uns contra os outros revoltados.
(143) - Nem das razões mais certas se sabia
Senão que uns padres eram causadores,
Vivendo em continuada rebeldia
Com resultados pouco animadores,
Quase que nem respeito algum havia
Tendo sido antes uns veros senhores,
Porque aos poucos conheciam as verdades,
De como alguns houveram suas herdades !
(144) - E para solução satisfatória
Valeram-se das armas verdadeiras,
Tendo ambos lados por certa a vitória
E acabando as intrigas e as asneiras.
Congos,angolas, sem qualquer memória,
Esquecendo que gerações inteiras
Guardavam tradições bastante honrosas,
Afundavam-se em lutas tenebrosas.
(145) - N'gola não se deixara amedrontar
Ali reunindo rápido suas gentes,
Bem confiantes na luta que iam travar
Contra os quantos perigos eminentes.
Perante tanta fé podia lutar
Dispersando de pronto os descontentes;
Mas muitos ao rio Dande se lançaram
Porque em salvação certa acreditaram !
(146) - Assim essa vitória animadora
Mudou o rumo dos novos elementos
Para uma outra era mais prometedora
Nessa gloriosa dos Descobrimentos.
O Reino desta Angola acolhedora
Com resultados certos e proventos
Tomaria posição mais desejada
E difícil seria ficar gorada !
(147) - Para tentar resolver a situação
Saía um embaixador bem reconhecido,
Que junto ao rei tivera intervenção
Mas,nessa altura,já era falecido.
Por coisas de difícil solução
Logo se via em sarilhos envolvido;
Não podendo dar rápidas medidas
Ficava em posições aborrecidas.
(148) - Resolve em S. Tomé e em paz esperar,
Ficando algum período de descanso
Segundo que mandava desculpar,
Escondendo o que mandava desculpar,
Escondendo talvez um certo lanço.
Noutro Reino melhor se iria instalar
Por causa dum escondido falhanço,
Mas,os padres ansiosos de seguir,
Desconfiavam daquele decidir.
(149) - Antes que resolvesse o que fazer
Deixava a vida,já muito cansada
De tantos anos, lutas e sofrer
E sem a recompensa desejada.
Depois de intrigas para resolver
E da questão a outro Diogo não agradada,
Sempre manteve o sábio pensamento
Defendendo com fé e o santo argumento.
(150) - Dom Afonso,seu bastardo, sucedera
Alguns anos após duras contendas,
Mas muito tempo não sobrevivera
Ao real chefe e dono das fazendas,
Que depressa do tal se desfizera
Quando em missa fazia suas oferendas,
Restando apenas corpos mutilados
Dalguns dos muitos servos espantados !
(151) - Depois surgiram as guerras anzicanas
Contra um outro rei,Mpanzu,designado,
Em vez de Mpundi,que em lutas mas danas
A morte certa o tinha sepultado.
Novo senhor de terras africanas
Reuniu os lusos de modo moderado,
Enviando umas lustrosas embaixadas
Que ao Desejado fossem apressados.
(152) - Como das experiências religiosas
Os fracos resultados não chegassem,
Deviam outras ser ainda mais penosas
Para que o valor sério assim mostrassem,
Pedindo algumas armas belicosas
Com o que dos rivais se acautelassem,
Que nas diversas guerras entre vizinhos
Vence o que encurta mais os seus caminhos.
(153) - Indo Álvaro primeiro para o trono
Ao rei Sebastião manda um emissário,
Pedindo-lhe mercês contra o abandono
Em que estava afundado seu santuário;
Em troca lhe cedia o ouro,que era dono,
Se quisesse tomar p'ra o relicário
Aquelas minas sempre desejadas,
Que por ele seriam bem mais cuidadas.
(154) - Desciam os jagas feros,revoltosos,
Espalhando terror por toda parte,
Mais por seus apetites sanguinosos
Que descendentes do guerreiro Marte.
Os naturais e uns lusos temerosos
Logo numa ilham encontram maior arte,
Ali aguardando por melhor agouro
Que os livrasse da testa de tal touro !
(155) - Do Reino prontamente os acudiam
Chegando Gouveia com as guarnições
Enquanto todos já ali se benziam
À espera de entrar em operações.
Com tanto ânimo e fé assim combatiam
Sem descanso e sofrendo privações
E muito mais de um ano pelejaram
Mas com êxito as guerras acabaram !
(156) - O rei tomou o comando natural
Só crente em realidades menos duras,
Mas que,com os apoios de Portugal
Continuaria por gerações futuras;
Protegendo seu posto dum rival
Ergueu largas e fortes estruturas,
Passando a cobrar válido tributo
Por igual,quer ao esperto como ao bruto !
(157) - Indo o real emissário sem atino,
Seguiria Duarte Lopes para Espanha,
Mas,tomando porém outro destino,
Sobrava de acidente,causa estranha !
Os restantes,cada um sempre mais fino
Na desconfiança e pérfida patranha,
Uns morrendo,outros sempre s'escapando
Por artes mágicas,lá iam todos "cavando".
(158) - E Duarte,salvo com dificuldade,
Não deixou de cumprir a sua promessa,
Lutando sem descanso,com verdade,
Até chegar à Eterna o mais depressa,
Recebido com boa solenidade
Mas sem conseguir nenhuma remessa
Foi parar às Etiópias,bem oculto,
Lá colhendo porém obras de vulto !
(159) - Dom Álvaro segundo envia p'ra Roma
Um tal marquês de Funta ou antes,Nigrita,
Que ali depressa entrou em danada coma
Depois de ter benção santa e bendita,
Mas sem obter do rei um certo diploma
Que desse ao Reino boa e melhor guarita
Contra um outro pretendente ao seu dono
Porque do mesmo queria ser o dono.
(160) - Mas este sem demora logo avança
Em busca do que já p'ra si queria,
Logo se armando em cauta segurança
Por troca d' oiro e jóias que oferecia.
Toma o luso porém a liderança
Na luta que de pronto ali surgia
E andando uns e outros sem saber por onde
Melhor fica na guerra quem se esconde !
(161) - A encontro pessoal chegam os irmãos
Retirando os intrusos para os lados,
Enquanto esse dito Álvaro, em duas mãos,
Desfaz o escudo adverso nuns bocados !
Fogem que nem uns galgos ou pagãos
Ao verem a fúria dos soldados,
Por certo a santas forças atribuída
Mas paga co'uma igreja ali construída.
(162)Por cedência papal em Salvador
Nascera um novo e sólido Bispado,
Deixando São Tomé de ser senhor
Que em Angola e no Congo havia mandado ;
Garantia outra medida de valor
Ditada em algum tempo ultrapassado,
Proibindo certos barcos estrangeiros
Dali negociar com seus vis dinheiros.
(163) - Missão dominicana havia surgido
Com Frei Lourenço por seu responsável,
Sem conseguir obter o apoio pedido
Porque o clima não lhe era favorável.
Uns novos tendo o pé desguarnecido
Procediam doutro modo mais afável,
Mas pouco mais haviam de conseguir
Porque o alicerce já se estava a ruir.
(164) - Andando Bento mais acutiloso
Com o outro Reino e c'os seus arredores,
Matava todo o soba pressuroso
Evitando vinganças das maiores.
Afasta do mar o inimigo ardiloso
Que ali andava com ares ameaçadores,
Reforçando-se no interior distante
P'ra chegar até Ambaca num instante.
(165) - Pedro Segundo então chegara ao trono
Contra o agrado dum novo governador
Que do Congo assim queria ser o dono,
Tendo na "ilha" um cofre de valor.
Residentes ficavam no abandono
E outros aniquilados sem temer,
Que se não fosse a sua real protecção
Não sobraria nenhuma p'ra colecção !
(166) - Demonstrando justiça e mais coragem
Todos protegia com certa cautela,
Não se deixando meter nessa miragem
Que a muitos colocava na panela.
E surgia para os padres nova imagem
Na esperança de obter santa capela,
Fugindo também ao governador
Que p'las grades não teria grande amor !
(167) - Alguns mais como esse Álvaro haveria
Sem merecerem válida atenção,
Enquanto noutro Reino surgiria
Grave luta incendiando essa Nação.
O acutiloso "Pé-de-Pau" viria
Crescendo cada vez mais sua pressão,
Mas com outros porém se concertavam
E bem depressa já o Reino tomavam.
(168)- Estava Kimkaku ali reinando
Quando abaixo Sebaste naufragava
Com os apoio dos reinos ajudando
O invasor que, distante,os comandava;
Dessa estreita ilha perdendo seu mando
Indo p´ra D. Ambrózio que o aceitava
E assim ao Salvador pedia a benção
Contra a Ginga que o punha em confusão !
(169)- Em breve chegam a um entendimento
Cada qual protegendo suas fronteiras,
Não deixando que um qualquer elemento
Lhes mostrasse escondidas maroteiras,
Ou tivessem negócio em pensamento
Levando as fêmeas para suas esteiras;
E p'ra em melhor descanso sua alma estar
Uns santos capuchinhos deixava entrar.
(170)- Ginga chega porém a novo pacto
Com o luso governo agradecido,
Ficando Dom Garcia assim estupefacto
E sem saber em que andava metido.
Seu sucessor causara forte impacto
Não tendo a dita trégua compreendido;
Bem contrariado e rápido avançando
A desafiar Sequeira e seu comando.
(171) - Em Ambuíla, a memória não esqueça,
Cantara cada qual bom resultado,
Mas o Congo perde sua cabeça
Logo andando cada um para seu lado!
Antes que nela o real sangue arrefeça
Com honra esse troféu era sepultado.
Uns lusos de ambas partes ali havia
Mas o Reino depressa sucumbia !
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----------- (--- VER ANOTAÇÕES NO FINAL DESTE CANTO :)
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* ----- CANTO III - NO REINO DE ANGOLA - (108 estâncias) -----
(1) - Do Congo ao Cabo o Reino estava
Em cada dia alargando a sua fronteira,
Engolindo outros sobados, andava
Juntando tributos d'outra maneira.
Desse,que antes de Ndoango se chamava,
A Angola dava a palavra primeira,
Assim sendo para sempre conhecido
E por aquele senhor protegido.
(2)- Uns antigos os quimbundos combateram
E em seu lugar ficaram instalados,
Depois, ainda os anzicos submeteram
E tomaram as rédeas desses lados.
Um, N'gola Inene, que antes conheceram,
Seria dos angolanos iniciados
O que mais terras depois conquistara
Formando um Reino que em grande tornara;
(3)- Um que de ferrador tinha alguns jeitos
E aos seus queria com muito coração
Teve cuidado com valiosos peitos
Livrando-os da mais rude privação.
Por todas essas coisas satisfeitos
O buscaram para a nova Nação,
Designando-o por N'GOLA, rei primeiro,
E mais Mussuri, nome verdadeiro,
(4)- Mas por um dos seus fora assassinado
O qual teve também curta bitola,
Sucedendo por seu antepassado
A jovem princesa Zunda Riangola.
Senhora de um pacífico reinado
Onde o mais rico ao pobre dava esmola,
Foi estimada por todos suas ameias
P'lo sangue real que lhe corria nas veias.
(5)- No limiar desse próspero reinado
Houve na corte grave rebeldia,
Tendo-se a guerra logo declarado
Contra um sobrinho e sua real valentia.
Com grande pesar,muito contestado
Pela morte de sua princesa e tia,
Chivalqui veria o trono prometido
Pelos seus pais, que o tinham preferido.
(6) - Um outro rei,Chivalqui se chamara,
Com grandes feitos e muitas conquistas
Mais o seu território dilatara
Até onde não pudera dar nas vistas.
O seu povo como a um Deus velara
Em altares e imagens imprevistas,
E sendo eternamente o preferido
Entre os crentes qu´o tinham elegido.
(7) - Alguns filhos das várias mulheres
Receberam boas terras e sobados,
Mas o Ndambi Ngola,por seus místeres,
Foi um dos que ficaram mais compensados.
Receando logo ver cair os poderes
Pela cobiça e inveja desejados,
Mandara fazer um baraço grosso
Pendurando os irmãos pelo pescoço !
(8) - O nono rei,que cruel houvera sido,
Vendo o reinado bem atrapalhado
Contra os jagas qu´o tinham invadido,
Foi pelos portugueses auxiliado.
Um chefe mui garboso e mais polido
A atenção da princesa havia lucrado,
Mas,em cuidando o pai de tal amor,
A morte desejava ao sonhador.
(9) - Sabendo disso por sua bela amada
O dito,conhecido e mui famoso,
Logo fugira em rápida escapada
P´lo rio Kuanza mui mais esperançoso.
Seguindo para a terra desejada
Reuniu um grupo bem grande e corajoso,
Voltando pra vingar o intrometido
Que a sua vida privada havia ofendido.
(10) - As terras cada vez mais iam alargando
Rendendo lucros muito mais razoáveis;
Certo rei algumas leis ia-lhes ditando
P´ra evitar outras rendas detestáveis:
- Logo tirara aos que estavam roubando
Os rendimentos próprios e prestáveis,
Ficando o Reino bem acautelado
Contra quanto se houvera ali desviado.
(11) - Satisfeito assim com o resultado
Brindara um criado co' uma feitoria
Que duma embaixada era acompanhado
E para certo fins se pretendia.
O rico solo devia ser buscado
P'lo que nele de bom existiria,
Que dantes nunca houvera tal proveito
E nem estava aberto a qualquer peito.
(12) - Com Lacerda e outros mestres da missão
Ia de Bartolomeu antigo um seu neto,
Chamado Paulo,chefe por acção,
De todos agradado no projecto.
Da Regente trazia uma decisão
Para os que não respeitassem esse tecto,
Aguardando Azevedo,prisioneiro,
E sem pressas de lá entrar em primeiro.
(13) - Que só ali seguiam,crentes,religiosos,
Salvar as almas das coisas terrenas,
Já tão caídas de podres venenosos
Se entretendo,mesquinhas e pequenas.
Nessas conversações iam esperançosos
Conseguindo entre algumas boas e amenas
De N'Gola Ndambi,soba-mor dos povos,
Mais alguns nobres em seus trajes novos !
(14) - Após muito esperar nada adiantaram
Subindo o Pina até ao chefe angolês
Que ansioso e com vaidade os aguardara
P'la missiva em que vinha o português.
Mas Paulo,por cautela,dois enviara,
Ficando com paciência e sensatez
Alguns dava dura morte
Devido às privações e pouca sorte.
(15) - Finalmente ao chegar Luís com as novas
Tinham ficado pouco satisfeitos
Com as fracas notícias e co' as provas
De que o chefe não estava de bons peitos.
Um luso lhes dissera de umas trovas
Que lhes garantia mui poucos direitos,
Sendo depois melhores os sinais
Que os do sobrinho do dito Novais.
(16) - Passados uns dias,Gongasis chegava
Para seguirem daí à sanzala real,
Mas por umas razões do que constava
Cuidaram esperar melhor sinal.
Subindo outros,que o rei os aguardava
Pois que não tinha em mente fazer mal,
Mas Paulo receoso ainda se manteve
Aguardando que o Sol fundisse a neve;
(17) - Decerto o que em mais dúvida o prendia
Era de os converter a essa fé,
Aceitando porém quanto ali ouvia
Contra o que sempre os lá mantinha em pé.
Na verdade a resposta tardaria
Ainda mais p'ra uns que,desde S. Tomé,
Logo sentiam o peso da demora
Tendo mais vontade em se irem embora !
(18) - O soberano aceita o seu pedido
Por ser d'el-rei,seu irmão,solicitado :
-- Quis recebe-lo como conhecido
Pelo que D. António havia contado.
Ainda Dias não ficou bem convencido
E pediu que descessem por seu lado,
No que por eles não foi satisfeito
Pois que não havia razão de tal efeito.
(19) - Por dizerem que nisso tinha medo
E para de algum modo os desmentir,
Rumou rio acima sem mais outro enredo
Porque o tempo se estava a escapulir,
O sensato Novais seguira ledo
Até ao forte Massangano atingir,
Levando por lealdade bons presentes,
Mais para os corações do que p'ra crentes.
(20) - Com dormida na embala de um sobeta
Saíra na madrugada do outro dia;
Mas ficou ainda hospedado em casa preta
Alongando mui tempo essa estadia.
E,quando Gouveia alcançou a dita meta,
Partira logo,já não mais dormia,
Tendo chegado à corte dos Angolas
Sem causas de outras maiores bitolas.
(21) - Uma massa disforme dalguns povos
Em bizarros sinais,longe se via;
Já pareciam contentes a esses novos
Talvez pelos fidalgos que acolhia.
Vieram súbditos com galinhas e ovos
Atrás dum feiticeiro que os chefia,
Com pouco agrado ao luso religioso
Punindo a santa fé o sinal doloso !
(22) - Com ele traziam alguns dos presentes
Colhidos nessa extensa e boa região,
O que não satisfaz aos santos crentes
Que os queriam postos já na religião.
Foi sonho dos primeiros descontentes
Que derramou no espírito a ilusão
Por ser costume p'ra com os estranhos
Ter lucros de mais válidos tamanhos.
(23) - Majestoso,Ndambi era ali sentado,
Envolto p'lo seu séquito submisso,
Cada um no seu melhor enfarpelado
E solene o motivo posto nisso;
Tinha o trono de palmas enfeitado,
Bem vestido,em tom vário e em ar roliço,
Numa cabaça o sumo divinal,
Na dextra,erguido,um corno sem igual !
(24) - Mas sobre o pacto não se pronunciara
Esperando em reserva a solução,
Que com indiferença se mostrara
Não se deixando ir com pouca porção;
No interesse e cobiça se cuidara
Vendo as ofertas postas no chão,
Pois com elas andara mais sonhando
Antes de se baixar ao novo mando.
(25) - E deixara-os fiar em sua esfera
Mantidos sob estreita vigilância,
Bem receoso do fim por que os trouxera,
Que estudada,longínqua era a distância !
Cedo contra eles logo se pusera,
(Feiticeiros de fácil importância),
E por semearem nova e feia discórdia
Misturando ainda mais a sua mixórdia.
(26) - Do costume privado não aboliam
Todos tenho mulheres sem limite,
sem dar satisfações do que faziam
Nem ao rei que melhor isso permite.
E como aos outros não se submetiam
Discordavam do seu santo apetite,
Roubando certas coisas mais valiosas
Sem deixar seguir rotas bem rendosas.
(27) - Os marujos a bordo,mui impacientes,
Desconfiando as razões que se passavam,
Largam ao mar alto,descontentes
Do êxito por que tanto desejavam,
E retidos os restantes,fracos,doentes,
Com fome e doenças com que não sonhavam,
Logo sabendo os outros bem distantes
Mais raivosos ficaram que uns tratantes !
(28) - E depois da partida dos navios
O vingativo rei deixara-os sair;
Mas,ficando porém com calafrios,
Que o perigo pudesse ressurgir,
Dias e Gouveia eram presos,sem ter fios,
Com mais alguns dos moços para os servir,
Sendo os restantes logo perseguidos
Mandados p'ra onde haviam sido paridos.
(29) - Todos cheios de doenças repetidas,
Metidos em cubatas controladas,
Passaram sede,fomes bem doridas
E receosas,por pouco desejadas.
As causas disso só eram admitidas
P'las vinganças e intrigas preparadas
Por congueses ou,antigas desavenças,
De alguns dos lusos com falsas sentenças.
(30) - Aí retido e sem livres movimentos
Não se esquecera Paulo de estudar
As terras,os costumes,provimentos,
Que por isso ali só viera parar.
Com boas escusas e outros argumentos
O rei não os queria nunca mais largar,
Temendo as intenções desconhecidas
Entre gentes estranhas,quais vencidas.
(31) - Na embala havia centenas de palhotas
Bem cercadas por sólida muralha
De naturais matérias,mas remotas,
Qu'a terra sempre cobre e mais espalha ;
Por descuídos ou causas bem ignotas
Muitas delas ardiam que nem palha,
Saltando assustada sua freguesia,
Pois logo na fogueira se cozia !
...................................
(32) - Andando as relacções nada amistosas
E já sendo altas horas,noite escura,
Surgiam as labaredas mui sinuosas
Devorando escondida cobertura.
Ventos soprando com forças danosas
Mais se lhes aumentava essa bravura,
Limpando logo as válidas cubatas
Quais archotes no meio de densas matas !
(33) - Grandes e feras chamas levantavam
Iluminando os negros arredores,
Co' o imenso barulho crepitavam
Botando em terra as árvores melhores;
Mesmo as mais verdes nem lhes escapavam
Sendo as de grandes ramos muito piores,
Que c'o vento p'ra cima de outras caíam
Lançando chamas em galhos que ardiam.
(34) - Morriam gentes assadas na fornalha
Que espavoridas nas fugas iam caindo;
Uns contra outros,cada um se atrapalha
Pois que nunca mais dá por onde ir saindo.
Alguns eram deitados como palha
Alimentando os fogos que iam surgindo,
Porque assim obedeciam às suas crenças
Para acalmar dos deuses suas ofensas !
(35) - Muitos animais,mansos ou ferozes,
Saltam entre o calor,espavoridos,
Ficando em assaduras bem atrozes
E logo prontos para serem comidos !
Os macacos e leões perdiam suas vozes
Estacando pasmados,atordoídos,
Uns,cobrindo co'as patas suas cabeças,
Outros fugindo sem cuidar de doenças.
(36) - Das forças naturais bem protegidos
E dessa fé que os guiava,respeitosos,
Lusos e padres não foram punidos
Pelos danados fogos impetuosos.
As chamas,sem efeitos conhecidos,
Morriam aos pés dos crentes fervorosos;
Uns a dormir porém tinham ficado
Tão seguros estavam do Adorado !
(37) - Mais espantadas as gentes se faziam
Sem achar provas do acontecimento;
Embasbacadas quase ali tremiam
Em vendo-os co'mor calma e sem tormento.
Por certo algo de forte e bom possuíam
Pois sequer se afectara seu alimento,
Ficando em casa tudo como dantes
Mesmo na cama até alguns co'as amantes !
(38) - Essa invulgar e estranha situação
Não foi esquecida pelo soberano,
Em vendo assim a lusa posição
Começou de lhes fazer menor dano;
E depois desses anos de prisão
Soltaram uns cativos e o fulano,
P'ra seguir ao continente distante
Com os presentes de bom praticante.
(39) - Cinco anos assim eles aguentaram
Sofrendo as mais variadas restrições,
E,das muitas pancadas que levaram,
Cresciam nas carnes más recordações.
Em tais estreitas faltas ali andaram
Que vendiam as camisas e os calções,
Por troca de alguns víveres surgidos
Às escondidas duns guardas distraídos !
(40) - Padre como refém tinha ficado
Para que uma promessa se cumprisse,
Tanto mais,senão,estaria desgraçado
Se outro inimigo em cima lhe surgisse.
Seguiria o capitão muito apressado
Para pedir ao rei que os acudisse,
Aproveitando agora que liberto
Porque sempre bem lucra o mais esperto.
(41) - Não esquecendo porém a apaixonada
E vencido o orgulhoso soberano,
Se frustrara rio abaixo sem mais nada
Por temer o outro pérfido fulano.
No soba Quimbundo havia morada
Donde punha em acção estudado plano,
Lucrando com os seus dali embarcar
E ido ao real amo novas relatar.
(42) - Mas isso não via Ndambi,mais distraído,
Por andar ocupado,com receio
Vendo Quiloanji forte e fornecido
Já metendo outros válidos no meio.
Voltaria Paulo Dias,sendo bem vindo,
Pra quem pusera nisso o anseio,
Mais depressa destruindo o atrevimento
Embora contra bastante armamento.
(43) - Regressado à sua Pátria o capitão
Deu parte do que cá verificara,
Procurando uma nova orientação
Para o problema que se complicara,
E,salvando a fraqueza da missão
Que com padres e mestres se afundara,
Resolveram enviar outra mais forte
Que,com palavras,pouca seria a sorte.
(44) - Continuava porém preso e retido
Aquele antigo Gouveia,desprezado,
Por alguns dos colegas esquecido
Da liberdade que tinha reclamado !
Mas o caso não estava resolvido
Surgindo repressões de todo lado.
Receando sem as armas não obter jeito
Contra quem botava altivez no peito.
(45) - E largos anos de rivalidades
Tinham Angola e Congo separados
Entre as duras e tristes realidades
Vindas a cada passo de ambos lados;
Mas em Ambuíla e nas proximidades
Os congueses ficavam dominados,
Lucrando Ndambi plena autonomia
Que uma nova promessa lhe sorria.
(46) - Duma doação com válidas vantagens
Tornando melhor várias condicções,
Surgiram de novo pérfidas miragens
Que um Conselho pusera em suas acções.
Com certas leis e novas vassalagens
Se respeitariam outras povoações,
Mas fazendo cumprir o prometido
Não fosse apenas em letras conhecido !
(47) - Setenta e cinco,mês de Fevereiro,
Paulo Dias aportava à ilha de Loanda,
Com boa viagem num já antigo roteiro
Que mais não faz quem tanto sabe e manda.
Entrou a armada por um lado dianteiro
Onde vigiavam alguns doutra banda,
Que primeiro ali tinham ancorado
Por certo num negócio combinado.
(48) - Descem Novais e os seus da embarcação
Aguardando-os uns nobres visitantes,
Por entre uns alaridos e emoção
Das animadas gentes bem vibrantes :
- Aquel'outro,do rei trazia a missão
Com tantas e boas prendas,importantes,
Ficando todos em grande alegria
Que mais proveito,por certo,haveria.
(49) - Logo ali dava parte donde vinha
E,servindo-o conforme sua vontade,
Em tudo o que dizia amizade tinha,
Rejubilando todos com vaidade.
À mesa estava com boa companhia
Havendo alguns sinais dessa irmandade,
Pondo nas relacções finas maneiras
Que convinha por serem as primeiras !
(50) - Pisando aquela língua,chão arenoso,
Entre a alegria de pronto demonstrada,
Logo se formou um préstito vistoso
Seguindo p'ra a capela alevantada,
Com mil virgens por séquito gostoso
E fazendo um jesuíta a santa entrada:
- Sendo um símbolo tão caro e sagrado
Não devia por qualquer ser profanado !
(51) - Mudaram-se p'ra casas soerguidas
P'los naturais deixadas desprezadas,
E aos que estavam em partes conhecidas
Mandava que lhes fossem dispensadas.
Lentos,com armas ou cousas pesadas,
O corpo quase todo descoberto,
Só em farrapos,de quem não vem de perto !
(52) - Graves suspeitas já se alevantavam
Em vendo chegar homens,guarnições,
Que com certa reserva sempre andavam
Mais temendo maus tratos,violações;
Moviam intrigas que se propalavam
Entre os sobas das maiores povoações,
Complicando-se os fins bem desejados
Que houveram tido quando ali chegados.
(53) - Um velho padre que preso retinham
Via-se em privações,doenças e castigos,
E ainda com as mazelas que lhe adivinham,
Aumentam-se os males mais antigos.
De o soltar,tentativas nunca vinham
E por fim acabaram seus perigos,
Sendo muitos que por ele choraram.
Porém,depressa as lágrimas secaram !
(54) - O potentado negro que o estimara
Mandou sacrificar os feiticeiros
Por não haverem curado quem finara
Tendo sido em bondade um dos primeiros.
Salema,obedecendo,não os poupara
Ordenando fim rápido aos parceiros,
Mondando frutos ruins que haviam semeado
E em suas mentes há muito preparado.
(55) - Duns que vieram das terras do interior
Chegou o mogungo de Clounanga Coanda
Trazendo bons presentes,seu penhor,
Com escravos e gados de outra banda.
Fizeram recepção com esplendor
Estando bem vestidos,como manda
Os que gostam de ser bem agradados,
Recolhendo melhores resultados :
(56) - A cabeça, de palha era coberta,
E envolto em rica capa,bem cuidado,
Mas com o tronco nu,de face aberta,
Sem ter o grande pé bem resguardado !
Os seus tangiam cabaças,olho alerta,
Com palmas rodopiando em doce agrado,
Numa alegria e tamanha confusão
Que não havia quem pudesse pôr a mão !
(57) - Decorrido algum tempo conveniente
Passaram para terra,mais segura,
Construindo moradias p'ra toda gente
Que do mato fugia à pior amargura.
Assentaram num morro,bem defronte,
De que Manicabunga havia a postura;
A todos ali maior respeito impunham,
Rendendo preitos,mais fortes se punham.
(58) - Aos poucos com reserva se instalavam
Tendo cautela com os arredores,
Onde as gentes porém se rebelavam
Pondo em acção seus modos comedores.
Aos lusos,brandos já se sujeitavam,
Aceitando-os por seus novos senhores,
Assim o demonstrando com presentes
Que,mandando-os julgavam-se mais crentes.
(59) - Nascia ali a capital da nova terra
Por Reinos de Sebaste designada,
Pelo rei que num plano logo a encerra
Antes que doutrem fosse cobiçada,
E donde se planeava a Paz e a Guerra
Contra quem se desviasse da manada,
Buscando para tudo as soluções
E dando alegria a todos corações.
(60) - Com calmos modos ou sensatos feitos
Que as palavras ainda mais suavizavam,
Conseguiram lugares e proveitos
Para os ditos de que se aproximavam,
Por que com lentidão e pensados preitos
Até os jesuítas não se conformavam,
Desejando outros meios mais eficazes
Que,só assim,sempre foram bem capazes.
(61) - O capitão, com calo e c'o argumento,
Não se deixa levar pelo entusiasmo,
Por ter pesado com seu entendimento
O perigo que daí surgia sem pasmo.
Há muito desconfiava desse intento
Porque alguns eram mortos no marasmo,
Em tantas acções pérfidas,fingidas,
Que a cada passo ali eram cometidas !
(62) - Uns lusos espalhados p'lo sertão
Em perigosas lutas se metiam
Tendo por si ambos Reinos dado a mão
Tentando uma mais forte posição
No mando dos negócios que faziam,
Não vendo quanto tal prejudicava
Esta Nação que a todos englobava.
(63) - E assim,restando então uns quantos reunidos
Depois de ouvirem missa nesse dia,
c'os estudos que estavam escondidos
Se ergueram contra a calma negraria.
Sendo apenas uns poucos,mas temidos,
Contra uma mole infinda que surgia,
Não recearam sequer tal diferença
Porque mais alta e forte era a sua crença.
(64) - Convindo novos postos alcançar
Pois que já andavam fora do comando,
Uma guarnição teve de avançar
Utilizando o férreo e bruto mando.
Logo um fortim tiveram de elevar,
Nada valendo andar sempre bufando;
Mas,achados nas praias em distracção
Massacrados ficaram sem perdão.-
(65)- Nascia Calumbo,nova povoação,
Assentando mais bases para a luta,
Fazendo com disfarce a infiltração
Às terras da prata ainda escura e bruta.
Outro Branco tomava a direcção
Adonde o Negro Cabo se desfruta;
Ali maior decepção havia de sofrer
Por nada encontrar para se colher.
(66)- Era tudo de areias,dunas sem fim,
Terras do Namibe, árido deserto,
Que só raro animal,cacto ou capim
Ali podia viver a descoberto.
As verduras que viam, num interím,
Deles logo fugiam, ao chegar perto !
- Era a sede e o calor que davam vidas
Aos sonhos e miragens repetidas !
(67)- Uma traição, das muitas conhecidas,
Quebrou as boas relações dos soberanos :
- Punindo o capitão normas proibidas
Ordenara prender uns desumanos,
Os quais,com razões falsas,escondidas,
Não ficaram à espera d'outros anos,
Antes seguindo, pérfidos,fugidos,
Ao Ngola ofertando uns planos sabidos.
(68)- Alguns lusos indo à real presença
Não lucram desisti-lo dessa acção
Mas, antes que surja trágica sentença,
Prepara com astúcia a solução :
- Simulando uma guerra mais intensa,
Só existindo na sua imaginação,
Pede-lhes de bons modos breve ajuda
(Atendida p´ra que o mal não se iluda).
(69) - Apanhados sem qualquer segurança,
Confiados nas palavras de umas gentes,
Viram-se, sem cuidar,em nova andança
Sendo mortos por modos diferentes.
Não satisfeitos com tanta matança
Ainda o fizeram a outros residentes,
Havendo conivência,falsidade,
Não só sua,como de uma outra irmandade.
(70) - Contudo o autor da pérfida denúncia
Não lucrou restar com vida também,
Que não deve viver quem na renúncia
Das terras dos antigos se mantém.
Maior vingança foi,com douta pronúncia,
Que o capitão em Anzele mais sustem,
Ponto toda essa tropa daí a cavar,
Até indo uns contr'as rochas s'estampar !
(71) - Perseguindo o inimigo em tal fugida
Feriram e mataram quantos houveram,
Que pagando bem cara a curta vida
Obra tal obra cedo não quiseram.
Logo o bem e a paz foi assim pretendida
Que,se antes havia,nem a mantiveram,
Sendo co'a morte tantos castigados
Por não serem na fé bem creditados.
(72) - A coluna marchava p'lo interior
Pondo em fugida tonta os temerosos,
Mas que num ponto de outro alheio valor
Se ocultavam,calados,cautelosos ;
Dando lutas sem tréguas,com ardor,
Incendiando os cobertos mais valiosos,
Arribam estoirados a Macunde,
Terra alta,onde a serra co' céu se funde.
(73) - Ali ficam muitos,protegidos,
Curando grandes chagas,infectados,
Mas outros por desgraça,mais feridos,
Finavam sem poderem ser tratados.
Um,chamado João,co' uns destemidos
Ao subirem a Catala, bem cuidosos,
Mas por falsos caminhos,enganosos,
Morriam de joelhos caídos,valorosos !
(74) - E com estas derrotas e promessas
Iam perdendo o prestígio e valentia,
Fugindo grande número com pressas
Que outro perigo maior logo surgia.
Frei Barreira, por rezas e conversas
Uns menos animosos convencia :
- Dando salvas de peças e canhões
Tentava enganar veras situações.
(75) - Reforçados com armas e mais braços
Ganhando umas guerrilhas de permeio,
Andavam com uns sobas aos abraços
Segurando as embalas do seu meio;
Recebiam dos jesuítas santos laços
mas com muita conversa e galanteio,
Ficando o luso por tal compensado
E do justo receio mais aliviado.
(76) - Logo as restantes forças,bem armadas,
Que tinham escapado à mortandade,
Seguiram para Cambambe apressuradas,
Buscando as minas com tal ansiedade
Que espantavam as gentes derrotadas :
-- Donde passavam,com velocidade,
Refugiam-se essas sem saber para onde
(Tal o medo de quem escapa e esconde !).
(77) - O de Cabaça só em andar pensou
Por ouvir alguns tiros,bem distante,
Com os seus a libata abandonou
Que,certo,era livrar-se nesse instante!
Uma terra ali logo se chamou
De Nova Gaza,como outra importante,
Fiando perto das minas sonhadas
E em muitas tentativas frustradas.
(78) - Quiloanji,safo em tal fuga apressada,
Reúne muitos dos seus melhor armados,
Para se irem vingar da gente ousada
Que estava nas suas terras e povoados.
Montes,vales,a terra era coalhada
Tomando a negra cor dos revoltados !
Naquele lugar nada mais se via
Não havendo quem,querendo, os contaria !
(79) - Penas,peles e as vestes bem garridas
De tintas e com máscaras bizarras,
Confundiam-se com as armas coloridas,
U'as conhecidas já,mas outras raras.
Dando gritos selvagens e corridas,
Gestos largos,alegres em suas caras,
Iam tomando por fácil a vitória
Pelos poucos valores,sem história.
(80)- Alguns sobas aliados, temerosos,
Perante tantas gentes esfomeadas,
Deram para trás logo, pressurosos,
Fugindo assim de costas redobradas.
Só um ficou entre elementos valorosos
Dando muito ânimo às forças cansadas,
Que melhor vendo a manha do inimigo
O punha com surpresa em maior perigo !
(81)- Obtida foi p'los lusos a vitória
Chamada de Candeias pelo dia que era,
Ficando muitos anos na memória
Pois a fugida gente não a esquecera.
Cortaram os narizes pela glória
Em triunfo que ninguém assim prevera,
Restando pelos campos,estirados,
Muitos corpos em tal forma truncados !
(82)- A luta fora trágica,danada,
Que nunca mais viria a ser esquecida,
Folgando depois em terra tomada
(Por Massangano seria conhecida).
Com a ajuda por vários ali dada,
Levando os inimigos de vencida,
Instalara-se a paz nessas regiões
Obtida com a força e sem sermões !
(83)- O capitão instalado sem mais dano
Pedia socorro ao novo monarca,
Mandando Velez e outro todo ufano
Que prestes,temeroso,logo embarca.
Queria auxílio,mas como a guerra do ano
Contra os danados mouros deixou marca,
Teria de renovar noutra ocasião
Que nessa não lhe podiam dar a mão.
(84)- Passaram por apertos e ansiedades,
Sempre a contar que novas lhes chegassem
Com as armas e outras mais necessidades
Antes que de vil fome ali finassem;
Jesuítas, avançados nas idades,
Teimosos, sem que tais os contrariassem,
Continuavam lutando sem cessar
Que só a morte os pudera derrubar.
(85) - Os pedidos de ajuda ao Continente
Continuavam escusos,sem resposta,
P'lo que seguira Afonso muito urgente
Alcançando transporte junto à costa.
Com meio caminho andado,de repente,
Grande nau,como se ali fora posta
Por estranhas ou gigantescas mãos,
Surgira com as armas e uns irmãos !
(86) - Mal chegados,seguiram para o forte
Onde os sitiados contentes ficavam;
Mas,esquisita doença dera morte
E poucos eram já os que sobejavam.
Resolveram tentar então a sua sorte
Tomando as minas que pouco distavam,
Mesmo perante o tempo feio e chuvouso
Que ali naquela altura era teimoso.
(87) - Assim pagavam bem cara a vida
Nas lutas ambiciosas das riquezas
E que levara em marcha desmedida
Contra estranhas e tão grandes durezas.
Nem a mina havia sido conhecida
Nem obtidas sequer simples certezas,
Que uma falsa e cuidada informação
Era posta com sábia prevenção.
(88) - E aquelas grandes serras,desejadas,
Que diziam ser de prata luzidia,
Lá continuavam ainda inexploradas
Aguardando por outra valentia.
O alto poder herdou amostras achadas
(E delas grande número haveria),
Que logo,em as cuidando verdadeiras,
As desejava todas,mas inteiras !
(89) - Continuando em infiltração constante
Seguiam para local mais desejado,
Parecendo objectivo dominante
O daquele plano há tanto sonhado !
Uns iam-se repartindo mais adiante
Com dividida luta em todo o lado
Mas disfarçando forças que não tinham
Que,quando não se vê,não se adivinham !
(90) - As artimanhas que os lusos obravam
Deitaram em cuidados uns sobados,
Que receosos das cousas que passavam
Já teciam outros planos reservados.
Quiloanji, sabedor do que falavam,
Com agrado aceitava tantos dados,
Mais temendo as forças todas unidas
Do que guerrilhas,suas mais preferidas.
(91) - As hostes negras,contra os inimigos
E sem mais preparar se encaminhavam,
Que,sabendo dos segredos por amigos,
Com ânimo e de pronto se enfrentavam,
Dispondo-se,evitando outros perigos,
Venciam as avalanches que chegavam,
Uns atrás de outros sempre aparecendo
Sem lograr a lição que estavam tendo !
(92) - Foi milagre em Casícola,famosa,
Onde um grupo de bravos,contra os planos,
Mostrara duma forma vigorosa,
Quanto podiam co'a fé dos lusitanos.
Dalgum modo vitória mais espantosa
Por,contra tantos,tão poucos fulanos,
Como noutras terras do seu passado
Outros mais poderiam ter derrubado !
(93) - E,finda a luta,a calma ressurgia,
Que a força assim por vezes determina;
Das riquezas a febre renascia
Indo Velez em busca da tal mina.
Chegavam com mais fome,qual fobia,
Dos gados que um tal Calunga ali domina;
A este,os sossos submissos se apresentam
Que de alegria nem só eles se alimentam.
(94) - Disso Castanho não se apercebera
E,juntando-se em lauta refeição
Sem da guarda cuidar,que sempre houvera,
(Atento devia estar,por precaução)!
(95) - Dia do Senhor,a nova se espalhou
Daquele triste e tão feio desenlance
Que uns dobrados cuidados despertou
Indo co' outros bem para fora de alcance.
Metade p'los caminhos lá ficou
Sendo poucos quem dali não se lance !
O restante ia fazendo as suas promessas
Não podendo seguir o corpo às pressas.
* (96) - Vingança,não havia muito de tardar,
Pois que a Justiça nem sempre demora !
Todos lucangos iriam apanhar,
Nem Cacobassa havia de ficar de fora,
Que um outro teriam de ali colocar
De acordo com a gente que o namora,
Aumentando o respeito e admiração
De quem,afinal,não havia má intenção.
(97) - Voltado que foi,com um maior ensejo
Resolveu o capitão a luta seguir,
Mantendo as posições que eram sobejo
Naquela terra fácil de dormir.
Mau grado sua ambição e grande desejo
Todo aquele plano havia de falir,
Por a morte cedo o ter superado
Naquele nono dia e ano malfadado :
(98) - Paulo Dias,Angola assim o perdia,
Sem que tornasse válido o seu plano
Nesta terra que quase lhe pertencia,
Mas com prudência,saem provocar dano.
Seu corpo para a pedra santa iria
Mas suas cinzas perpetuadas noutro ano,
Pelos quantos trabalhos que deixou
Em obra que jamais outro o igualou !
(99) - E conforme desejo antes havido
Sucedeu Simão,amigo dedicado,
Ocupando o lugar desprotegido
Mas na fé do servir com todo o agrado.
Faria cumprir o que era dirigido :
- Não haver na ilha o comércio condenado
Pelos fugidos à malha da lei,
E nem prejudicar no resto a Grei.
* (100) - A cuidada e mais hábil ambição
Era sobre o que em Cambambe existia,
Passando haver melhor orientação
Com a ajuda que Godoy ali trazia;
Relatando o metal com atenção,
Sendo isso o que o Rei mais desejaria,
Contente estava pelos resultados
Com alguma base agora apurados.
(101) - Os furtos e negócios contra o gado
Pediam medidas rápidas e mais fortes
Que,se um enriquecia,outro era roubado,
Sendo logo contrárias ambas sortes.
E vinha Brito,jovem licenciado,
Que com fracos sermões contra maus portes
Quase nada melhor conseguiria
Entre uma grave e fácil rebeldia.
(102) - O novo chefe põe em paz os guerreiros
E,para outra segurança e mais respeito
Cria um município,sendo um dos primeiros,
Aonde o fortim austero fazia efeito.
Meteu em ordem as leis e os justiceiros
Olhando pelas causas de direito,
Pra que não houvessem outros descaminhos
Nem dinheiros movendo cordelinhos !
(103) - Resolveu Serrão seguir co´a guerra
Que em suspenso ficou p´lo antecessor;
Logo marcou o tamanho e uso da terra
Mas incluindo outras ainda em seu redor;
Outra ambição porém mais ali o encerra :
- De vencer o Quiloanji, grã senhor,
Que há tanto tempo sempre os contrariava
E ao mais forte domínio atrapalhava.
(104)- Mas, caminhando para o rio Lucala,
Mandava um emissário à distante ilha,
Mais reforços pedindo em armas e bala
Que outra melhor solução não perfilha.
Muitas gentes naquela grande embala
Juntaram-se arquitectando a armadilha;
Contra tanto era muito curta a lança
Que o resultado fácil nunca alcança.
(105) - E sabendo que as forças aguerridas
Faziam mais de um milhão de negra gente,
Logo reuniam os chefes de suas lidas
Que receios havia de lhes fazer frente.
Antes que as decisões fossem colhidas
Surgia o adverso já,imenso,temente,
Sufocando veloz e sem piedade
Quantos ousavam tomar a sua herdade.
(106)- Numa penosa marcha,em retirada
P'ra Massangano, forte salvador,
Logo se apressou a tropa ali sobrada,
Rosto em sangue, gemendo tanta dor !
Antes pedem p'ra Loanda melhor guarda
De que Luiz Serrão nem lhe vira a cor,
Findando a donatária recebida
E surgindo uma outra medida.
(107)- Ainda assim o entendera um licenciado
Que do Brasil irmão ali tinha vindo,
E de fortes medidas do seu agrado
(As brandas nem estavam mais surtindo):
- Seria de escravos e ouros bem saldado
Para co' real erário, quase caindo,
Compensando os metidos em panelas
Que nas guerras tomavam parte delas.
(108)- Outras havia,porém,suaves,humanas,
Terminando atitudes gananciosas,
Trocando uns padres causas mais tiranas
Por lei justa e medidas proveitosas,
Porque era sua missão todas semanas
Alimentar as almas duvidosas
E ainda seus corpos fracos,muito doentes,
Forçados p'los senhores insolentes.
===================================================
* ----- CANTO IV - O GOVERNO GERAL - (113 estâncias) -----
(1) - No ano noventa e dois, sendo Janeiro,
Foi nomeado p´ra Angola outro gestor;
Vinha c'o ilusões e homens,bem lampeiro,
Sendo um ilustre e mui rico senhor.
Teve boa recepção, sendo o primeiro,
Nem se sabendo qual o seu valor
Porque às gentes surgia como um estranho,
Vindo que era das terras doutro amanho.
(2) - Mas o modo de sua governação
Causou protestos dalguns contrafeitos,
Feridos no interesse e na feição
E pelos quais houvera bons proveitos.
Surgia deles um padre, com acção
Alegando os haveres e direitos
Ganhos em anos de muitas canseiras
E para outros o fim das suas asneiras!
(3) - Duvidando por onde a razão andava
E sendo tantos falsos, intriguistas,
Deixou tudo ficar como ali estava
Aguardando a sentença dos legistas.
Cada soba uma nova causa dava
Sendo apoiado com largas, santas vistas,
Por certos padres que ali comandaram
E quase por si também governaram.
(4) - Para além dos transportes que diziam
Os soldos não lhes eram sempre dados,
E, sem saber até onde os recebiam,
Ficavam às mercês d´alguns letrados.
Cada dia mais as dúvidas surgiam
Andando todos por diversos lados;
E recolhendo o esperto o melhor fruto
Que o mais verde ficasse para o bruto !
(5)- Com arrogância alguém lhe respondia
Alegando por coisas que constavam
E dos dinheiros que a cada um cabia
Mas que só muito depois lho entregavam !
Dos dois lados razões certas havia
Por isso a acordo nunca mais chegavam
E apenas ao rei haviam de obedecer
Que tal justificara o seu poder.
(6) - Primeiro tentou um pacto conveniente
Fácil de fazer e a ambos contentar,
Deixando o resto dum modo paciente
Até que maior razão viesse a apurar.
Tinha uma proibição bem mais prudente
Em troca duma excomunhão a perdoar :
- Cada um com tal ficava satisfeito
Em cuidando o pior não ter sido feito.
(7) - Nesse tempo inconstante percorrido
Outras mais lutas foram enfrentadas,
Sendo o luso porém logo vencido
Para alegria das massas alertadas :
- Aproveitando o facto acontecido
Tomaram as decisões inesperadas,
Deixando o comandante de ser dono
E indo pra outra terra por abandono.
(8) - Saído assim o governador-geral
P´las razões vistas,já muito sabidas,
Foi chamado seu irmão pra cargo igual
Pelas forças na Câmara reunidas.
Urgente passo e talvez principal
Foi tomar as mais rápidas medidas
Seguindo o que sentenciara Barreira,
Em sendo,das cabeças a primeira.
(9) - Dali em diante,durante muitos anos,
Povoaram largas terras co´as conquistas
Causando a escravatura maiores danos
Em valores e causas nunca vistas.
Metidos nos negócios uns fulanos
Deixavam todos reinos sem artistas;
Piores eram as faltas que se viam
Sem saber como tais acabariam !
(10) - Estando revoltado algum gentio
Juntara o novo chefe todas forças;
Seguiu a dar luta com êxito e brio
Fazendo dos mais velhos gentes moças.
Nascia assim Ndemba,outro calafrio,
Ocupando umas minas,novas bolsas,
Reduzindo o caminho p'ra prateadas
Em Cambambe,de há tanto cobiçadas.
(11) - Tiveram de travar bem mais lutas
Mandando nisso um dos seus comandantes,
Contra as forças que p´las matas incultas
Causavam muitas baixas importantes.
Morreram gentes fortes,resolutas,
Valorosas,como havia tempos antes,
Sendo enormes as hostes adversárias
Contra quebras constantes,quase diárias.
(12) - E com o auxílio de alguns fiéis amigos,
Logo vindo em socorro mui apressado,
Mantiveram a custo os inimigos
Lá fora do presídio conquistado.
O forte, que custou tantos castigos,
Foi depois pelos próprios incendiado,
Mas morrendo diversos na fogueira
Que não foi possível doutra maneira.
(13) - Tinha chegado então o governador
Furtado de Mendonça e a guarnição,
Diversas raças,alguns de valor,
Para iniciar melhor ocupação.
Foi recebido com muito calor
Seguindo logo p'ra sua posição
Porque se fazia urgente o procedido,
Havendo algumas falhas cometido.
(14) - Mercê das chuvas fortes,tempestuosas,
E das febres com isso levantadas,
Surgiram umas doenças perigosas
Matando muitas gentes enfezadas.
As mulas,nos transportes bem valiosas,
Mortas de peste e causas mais variadas,
Eram comidas em grandes bocados
Que,com fome, não se olha para os lados !
(15) - E voltando Mendonça melhorado
Reuniu as forças em médias condicções,
Batendo os sobas em seu desagrado
Julgando-o a ocupar suas posições.
Uns negros,presos tinham ficado,
Foram logo amarrados aos canhões,
Indo p'los ares com brado e alarido
Assustando o que mais fosse atrevido !
(16) - E dali partiu para outras batidas
Conquistando Muxima e Massangano,
Que,com as fortalezas reconstruídas,
Reforçava o poder nesse novo ano.
Protegeu todas costas conhecidas
E,erguendo fortes com maior ganho,
Acertava umas contas do passado
Travando o ânimo ao mais encorajado.
(17) - Dirigida para o sul ia uma missão
Comerciar com a pálida Benguela,
Levando um destemido inglês â mão
Que,de tudo,daria relato dela.
Fundearam numa baía,boa posição,
Cedendo prendas que o nativo atrela;
Indo mais longe,em Vacas parariam,
(Se outras delas houvera as montariam "!)
(18) - Viam sinais de tesouros escondidos
Nos metais que alguns negros enfeitavam,
E convidados por jagas sabidos
Certos dos modos ou hábitos mostravam;
Ajudando,depressa eram batidos
Os Benguelas que por ali habitavam,
Matando muitos logo num instante
Para regalo do canibal radiante.
(19) - Eram duns apetites repelentes
Que nem sobravam os ali tombados,
Manjando mesmo os filhos e suas gentes
Que não fossem p'ra guerras dotados;
Estes preferiam peso nas correntes
Que na fogueira jaga cozinhados,
Ficando quase pálidos p'los gritos
Dos que em grandes panelas eram fritos !
(20) - Voltando p'ra luta, há anos começada,
Viram numa libata um chefe tal
Que a coberto de aliança combinada
Dos lusos recebia auxílio infernal.
Uma traição porém fora estudada,
Não deixando partir senão por mal :
-- Ficava pois o inglês em garantia
(Não fora ele pirata de valia!).
(21) - Mas o prazo entendido havia passado
Sem que qualquer resgate se fizesse,
Tendo sido o seu abate preparado
Se contra tal um outro não opusesse.
Ali andara entre os jagas escapado,
Porque tinha quem bem o conhecesse,
Indo com sorte ao fim da caminhada
Que só em Langere ficou terminada.
(22) - Por régia nomeação do continente
Viera Coutinho com largos poderes,
Trazendo acordo feito sobre a gente,
Os muitos compromissos e afazeres.
Em troca de mão d'obra mais potente.
Tinha garantia dos plenos haveres
Sobre a tão cobiçada e vera prata,
Principal razão dessa negociata !
(23) - As tropas iam subindo p'ra o interior
Na intenção de vencer outro sobado,
Aguardando reforço de valor
Sem que nunca tivesse ali chegado.
Vítima do mau clima,tal senhor,
Com uns seis dias de febre era finado,
Mas deixara porém quem sucedesse
Fugindo a que outro mal aparecesse.
(24) - Não evitara que houvesse falsidades
Ou ridígula dívida à Fazenda
Por alguns vindos já doutras herdades
E sem que a tudo se pusesse emenda.
Outros tais,nos seus postos com vaidades,
Também iam caindo nessa mesma tenda,
Deixando suas tarefas por cumprir
Porque afinal andavam ora a trair !
(25) - Continuando com os desejos anteriores
E que ninguém houvera conseguido,
Foram contra Cafuge,com clamores
P'las suas forças e tribos mui temido.
Naquele local,antes de terrores,
Bateram com bravura tal vencido,
Deixando ficar em paz os restantes
Contra desejo dalguns maltratantes.
(26) - Indo p'los sonhos mais maravilhosos
Que já vinham dos seus antepassados,
Encaminhando à sorte uns pressurosos
Das riquezas bem cegos, enibriados,
Muitos venciam obstáculos custosos
Pela Natura e gentes levantados,
Julgando-os uns intangíveis senhores
(Dos tesouros pouco eram sabedores !)
(27) - Vencendo outra guerrilha naquele ano
Fundaram um presídio,bem erguido,
Pró que,com boa fé e grandioso plano,
Alguns deles muito haviam contribuído.
Depois disso e de modo mais ufano
Lançaram-se buscando o prometido,
Brilhando sonho de tempos passados
De que,tristes,se veriam acordados !
(28) - Só havia umas pedras densas e vulgares
Que se achavam por quase toda parte,
Desde estas a outras costas dos mares
Talvez até no estranho e fero Marte !
E com bastante mágoa e mais pesares
Se desfaziam as lendas de certa arte
Ou teimosia duns mais do que iludidos,
Nem agora se dando por vencidos !
(29) - Não tendo outro valor a dita terra
Mais que o secular sonho destroçado
De serem as mais ricas que ela encerra
(Para alguns não ficara bem provado),
Logo mandara então quem mais emperra
Colher por ali tudo o revelado,
E mesmo em gentes prò duro trabalho
Ou cabeças enfeitadas pra talho.
(30) - Tantos quantos pudessem negociar
Deitavam as mãos ávidas, sedentas,
Pondo em perigo,pouco a desejar,
As fêmeas calmas,com ideias nojentas.
Com fala e modos fáceis de captar
As moldavam com certas oferendas,
Que mesmo o mel,por ser doce,não pica
Mas,que assim o faz,morre e não o fabrica.
(31) - E,transformado em breu o sonho prateado,
Doce,restava só a consolação :
-- Pior sendo que ficava o ventre inchado
Depois de certo tempo em gestação !
Mas,com o sangue assim bem enxertado,
Dalgum modo vencia cada nação,
Amenizando os climas entre as gentes
Que duns e doutros ora eram parentes !
(32) - Novos sobados bem mais temerosos
Rendiam logo perante as investidas,
Tornando-se dos lusos respeitosos
E esquecendo atitudes conhecidas.
Contra relacções,pactos proveitosos,
Uns senhores de falas prometidas
Desejavam voltar p'ra rebeldia,
O que bem melhor seus planos servia.
(33) - Acusado de várias,vis fraquezas,
De lutas que deixara de operar,
Negócios fracos e outras incertezas,
Cerveira foi obrigado a retirar
Deixando a nova terra e suas grandezas
Para una anos mais tarde regressar
Como padrão alto contra as vilanias,
Recordado por muitas dinastias !
(34) - Com outras novas leis para cumprir
Chegara Forjaz,há pouco nomeado,
Que vinha as anteriores substituir
Conforme fora do alto preparado:
- Os sobados teria de reduzir
Revogando doações que haviam restado,
E co'as buscas das minas suspendendo
Que muito tempo se andava perdendo.
(35) - O novo chefe agora preferido
Fazia um bom e mais válido contrato
Com um mui velho e já bem conhecido,
Argomedo,temido, fino trato;
Mesmo as gentes que tinham sabido
De ser preciso escravos pelo mato,
Em escuros negócios se metiam
Que trocas gostosas lhes prometiam.
(36) - Realizando um seu sonho mais antigo
Recomendara alguém para outros ninhos
Em guarda do metal dum novo amigo,
Salvando-o dos desejos mais daninhos.
Aos seus,punidos por crime e castigo,
Mandara-os para públicos caminhos,
Correndo riscos e as contrariedades
Que viessem a ter pelas suas idades.
(37) - Mas enquanto ele próprio procurara
Ávido e sem descanso tais tesouros,
O outro que ledo ao Reino regressara
Gabara sem reserva certos louros.
O ministro porém disso informara
Com alguns dados sobre os novos "ouros"
Ao sabido Forjaz que,obedecendo,
Melhor lucro haveria em se protegendo !
(38) - Pelo interior dos reinos angolanos
Toda rebeldia mais se alevantava,
E acercando-se com cuidados planos
Desse novo presídio,o atacava.
Vindo assim Bento Banha e outros fulanos
As mais variadas tropas preparava,
Logo fazendo frente à multidão
Que toda estava já mesmo ali à mão.
(39) - Com mestres bem sabidos dessa guerra
A venceram com rápida euforia,
Logo ocupando toda aquela terra
Que só ao Reino de Angola pertencia;
E,nada ocupando,ali logo encerra
Vidas caras da vária fidalguia,
Como Quia Ndambi,por si derrubado,
Andando desde há muito procurado.
(40) - Com aquela batalha resolvida,
Pelas extensas terras escarpadas
Lançavam-se com fúria desabrida
Sobre ruínas por outros mais sonhadas;
Ali se defendera a hoste retida
Com bravura e façanhas redobradas,
Enquanto mais reforço não surgiam,
Coisas que sempre assim aconteciam !
(41) - O atacante depressa retirara
Debaixo de feroz perseguição,
Que o dito Banha Cardoso comandara
E assim ficando em tal recordação.
Mas ele nessa luta se magoara
Perdendo alguns dos dedos duma mão,
E uma das vistas logo se esvaziou
O que em meia claridade o colocou.
(42) - De modos destemidos, mas pensados,
Submetera sobados poderosos
Perante seus esforços desenfreados,
Mas tornara-os então mais cautelosos,
Usando de prudência em seus lados
Contra esses inimigos perigosos,
E ainda para mais vendo,barra ao largo,
Que estranhos cobiçavam-lhe o seu cargo.
(43) - Nessa altura um antigo regressara
Pois que havia governado a mesma esfera,
Já sem a punição que o castigara
Por coisas que nem sempre cometera.
Assim chegado,logo se apressara
P'ra busca do que nunca se esquecera,
E,reunindo uns escravos,ali armou
Para a luta contra quem o tramou.
(44) - Do segredo Cerveira se valia
Pelo cobre riquíssimo encontrado,
Que da prata lendária mais não havia
Que pagasse as misérias do passado.
E ao rei com esperteza convencia
Num mapa por si mesmo preparado,
Pois que sendo faltoso outro metal
Lhe desse para o cúprico o seu aval.
45) - Os mandos elevados não aceitavam
Conquistas do governo em nova terra,
Porque graves problemas levantavam
Com perigos de entrar em fraca guerra.
Chegado às zonas que se rebelavam
Seguiu mais para o sul e aí tudo encerra,
Sem que ajudas de Espanha ali chegassem
Embora umas promessas lhe mandassem !
(46) - Com tantas faltas p'la gente fugida
E andando muitos dias desorientados,
Chegaram a uma baía desprotegida
Sendo,por um sinal,desembarcados.
São Filipe chamou à terra querida
Ali seduzindo os sobas revoltados,
Para depois lhes dar grande tareia
Ao ver-se instalado em segura ameia !
(47) - Era Cerveira cruel e corajoso,
Que os calmos lusos com medo ficavam;
P'lo poder e domínio tão vaidoso
Qu' os muito cautos logo se afastavam.
Em patacho fugiu um aventuroso
Pelos maus tratos que sempre lhe davam;
Outros tais,tendo ventos por traiçoeiros,
Foram mortos,depois de prisioneiros.
(48) - E todos contra si se revoltaram
Mui danados por seu rude poder,
Que ia diminuindo forças que restaram
Sendo precisas para ali vencer.
Um metal cobiçado mais buscaram
Sendo as amostras bem dignas de ver,
Que das pernas de negras recolhiam
Em argolas enormes que traziam.
(49) - Faltando-lhe recursos prometidos
E o acolhimento real antes sonhado,
Pelos mais extremistas pretendidos,
Do governador há pouco chegado,
Moviam-se novos planos escondidos
Intrigando-o de haver sido roubado
O cobre que a Benguela era atribuído,
Mas que doutro reino fora trazido.
(50) - E com o local logo se acertava
Da posse das riquezas aguardadas,
Que delas,a bem jamais se apartava
Senão em lutas quiçá desesperadas.
O aliado contra si se rebelava
Desejando regalias elevadas
Mas,sendo derrotado,havia fugido
Mal deixando o seu exército vencido !
(51) - E dava auxílio aos sobas submetidos
Contra alguns poderosos atacantes,
Sempre ganhando as presas dos fugidos
Em benefícios bem significantes.
Mas os desejos mais seus preferidos
Voltavam-se p'ra os cobres como dantes;
Desde há muito por todos esperados
Mais não eram que sonhos acordados !
(52) - De um religioso à morte condenado,
Em estando acabado e muito doente,
Reclamara o castigo assim ditado
Porque não poderia ir mais p'ra frente;
Sendo de tal pedido derrotado
Foi por outros astutos,falsamente,
Amarrado num bote envelhecido
E p'ra ondas ao largo compelido.
(53) - Pelo alto mar à toa,em derivação,
Sem nada que servisse de alimento,
A um ponto chegou sem animação
Onde o cuidaram com bom tratamento.
Dessa malvada ofensa ou danação
E do traria já no pensamento,
Com Filipe acertavam novo porto
Voltando depois bem vivo e mais torto.
(54) - No governo as discórdias ressurgiam
E,não tendo embarcado a seu mandato,
Os jesuítas com custo o convenciam
Acalmando uma parte em desacato.
Muitos carregadores lhes morriam
Doentes e fracos,sem apoio nem trato,
Seguindo outros restantes,contrariados,
Em sua fé e modo não muito confiados.
(55) - Com imensos esforços arribava
As minas,como há tanto pretendera;
Novos montes e terras conquistava
E,tão sôfrego,nada mais quisera !
C'oa figura de quem muito aliviara,
Da canseira que tanto o envelhecera,
De joelhos aos santos e aos deuses rezou
Tão agradado do cobre ali ficou !
(56) - Sem o auxílio que tanto precisara
A velho soba fora dar socorro,
Porque se dizia haver o que buscara;
-(O bom cobre de tão invejado aforro)!
Em boa verdade afinal aí o encontrara
Depois de muito susto e desaforo:
- Lá estava o grande sonho de Cerveira,
Que noutro lado tanto ano perdera !
(57) - No entanto nunca foi muito ajudado
Lutando contra graves falsidades,
Com povo descontente,revoltado,
Para não sofrer mais necessidades.
Novo trabalho já haviam preparado
Enfrentando as escuras realidades,
Lucrando menos em compensação
Que o feito noutra anterior ocasião.
(58) - Voltara com cautela ao velho feudo
Onde alguns sem demora se finaram,
Mas ele,com desejo e nenhum medo
Fira a custo com os que restaram;
E,no escuro das noites,em segredo,
Derretendo umas pedras constataram
Duns fracos fios do metal desejado
Entre certos que já haviam procurado.
(59) - Mas tal informação desiludira
Os altos postos pouco preocupados,
Mais cuidando de pérfida mentira
Pelos bastantes casos registados.
Doutro reino a traição logo surgira
Desviando e seduzindo-lhe os enviados,
Que com tais recursos iam ficando
E mais seu fraco estado se agravando.
(60) - Valor da conquista se avisara
Porque nisso havia já o saber antigo,
P'lo que novas medidas se cuidara
Na defesa da costa ante o inimigo;
Para que,se a tal parte ali chegara,
Não havia de oferecer grande perigo
Encontrando as paredes demolidas,
Fugindo eles p'ra sólidas guaridas.
(61) - Nesse tempo tristemente passado
Viera Fernão tomar novo poder
Que por direito fora outro nomeado
Mas fazendo o melhor por se entender.
Porém,Cerveira não ficando fiado
De tudo o que estava a proceder,
Para maiores ajudas recorria
Só que nenhuma delas o atendia.
(62) - O Conselho porém nem o apoiara
Cortando todas bases do contrato,
Que da verdade já se constatara
Tornando real a dúvida do pacto.
Ruído o castelo com que inibriara
Durante tanto sonho sobre o facto,
O trabalho da vida esmorecia
E aos poucos,cada vez mais se perdia.
(63) - E por causas que então se constataram
Com umas certas naus vindas de fora,
Dois traidores nas grades se botaram
Correndo riscos de se irem embora.
Uns outros,com sobrinhas suas andaram,
Sem o pudor que a certos logo cora,
E elas,estando nisso metidas,
Se viram expulsas,por atrevidas.
(64) - Desprezado p'los ódios insurgidos
Do que se preparava por todo o lado,
Perdia Cerveira os velhos conhecidos
E assim muito mais triste lhe era o fado.
Destronado por planos escondidos,
Gasto, se via da vida separado;
Mui poucos os sacrifícios lhe valeram
Porque sem recompensa o envelheceram.
(65) - Com ele morriam todos grandes planos
Daquela sua Benguela bem querida,
Cobiçada por vários soberanos
Numa amarga visão,desiludida !
Lá se foram velhacos e os humanos
Nas lutas e na doença mal sabida,
Sem encontrarem qualquer recompensa
Em tanto ano de válida presença !
(66) - Uns por ali ficaram descuidados,
Definhando-se aos pouco no desprezo
Que os interesses de outros novos lados
Faziam sentir seu cruel e falso peso.
Surgira sem espantos desusados
Um novo chefe com auxílio acesso,
Por ser do alto poder bem protegido
E mais convir a quem o havia escolhido !
(67) - Instalado e sabido das fraquezas
Que Cerveira deixara por herança,
Preparou Lasso rápidas empresas
Vencendo muito soba sem poupança.
Com ardor enfrentou muitas durezas
Ficando sem u'a vista nessa andança,
Mas valiosas prisões havia efectuado
E diversas perdendo por seu lado.
(68) - Pelo interior distante,muitas muitas marcas
Por Pereira e outros mais foram deixando,
Depois,com Soares não mexendo nas arcas,
Tiveram novas terras conquistadas;
Passaram por Caconda e suas escarpas
Até ao Cunene,com margens povoadas,
Onde suas rudes vidas pagariam
O preço da ousadia em que se metiam.
(69) - Pelas doenças e mortes mais frequentes
Cada dia menor era o poderio,
Sempre havendo os fugidos e uns ausentes
Sendo entre eles bem grande o calafrio,
Além d'alguns perigos permanentes
Poisa nas barrentas águas desse rio
Abundava o terrível jacaré
Logo pronto a cortar mão,braço ou pé.
(70) - Já tinham derrubado o Ngola Anzinho
Em terras enganosas,muito quentes,
E quando rebuscaram todo o ninho
Foram logo rodeados de umas gentes;
Uns presos, outros cautos p'lo caminho,
Alguns mortos de modos diferentes,
Que o poder dividido não valia
Andando cada um em sua pradaria !
(71) - Fora Landim no Reino colocado
Para salvar o pouco que restava,
Andando as gentes e o poder falhado
Que ao comando ninguém respeitava;
Era o escuro sertão mais desejado
E para ele quem podia caminhava,
Mais certo que naquele antigo feudo
Nada mais havia que um rude penedo !
(72)- "Havia chegado a boa nova do Oriente
Sobre Xavier, que a Santo era elevado,
Pelas causas obradas,sempre crente
E sem nenhuma sombra de pecado.
Surgia,como por mola,muita gente
Reunida pelos lados do Bispado,
Ali largando fogo bem vistoso
Que nisso fora o povo generoso.
(73)- Os clarões majestosos pelos ares
E formados de vários,belos tons,
Iluminaram rápidos os olhares
Enchendo os arredores de fortes sons.
Haviam construído os mais ricos altares
Cheios de metais caros,alguns bons,
Onde,com certos ares de vaidade,
Se instalavam os grandes da cidade.
(74)- Nas fortalezas,rudes,os engenhos,
Apoiavam o governo autorizado,
Troando com calorosos sons rufenhos
E abafando o outro fogo em tom variado.
Ao largo, conhecidos,velhos lenhos
Que à manifestação se haviam juntado,
Lançavam uns petardos coloridos
Que os povos botavam estarrecidos !
(75)- Outros festejos mais iam preparando
Por ser ainda nas vésperas do dia,
Mas prestes tudo estava caminhando
Com as faltas que nesse tempo havia.
Da Figura do Santo ali cuidando
Com expressão que real mais parecia
E com discurso bem esclarecido
O ateu ficaria logo comovido.
(76)- Surgiam poetas de vários arredores
Para glosar o mote preparado,
Havendo ricos prémios p'ra os melhores
Que o cantassem c´o mais santo agrado.
Outros diriam de seus milagres maiores
Que pelas Índias havia realizado,
Ansiosos de conquistar emoções
Para terem do Santo as atenções.
(77) - Saíra pela manhã o beato cortejo
De grandes aparatos revestido,
Sendo mais importante tal desejo
Para alcançar o clamor pretendido.
Encheram-se as calçadas pelo ensejo
De que as gentes do Santo tinham tido;
Bom presságio era vê-lo engalanado
Para de certos males ser curado !
(78) - Foram embandeiradas as moradias,
Com as mais ricas colchas enfeitadas,
Que era costume antigo nesses dias
Ter as frontarias bem ornamentadas.
Mas,para além de tudo,havia quantias
P'rás que fossem melhor apresentadas,
Mostrando assim as maiores atenções
E pondo boa alegria nos corações.
(79) - Os pisos de tapetes vegetais
Armados com engenho e com cuidado
Mais protegiam os passos senhoriais
Não lhes gastando o válido calçado !
Grandes sombras,não sendo naturais,
Dispostas com espaço calculado,
Resguardavam dos fortes raios as testas
Ao fazerem-se bem-vindos p'ras festas.
(80)- Desfilavam na frente feios gigantes
Em suas arrogantes estaturas,
Deixando alguns indígenas errantes
Mais temerosos com as tais figuras.
Outros, de dimensões pouco importantes,
Eram os filhos,plenos de farturas,
Todos alçados, bem-postos,vestidos
Com diversos e válidos tecidos.
(81)- Depois, as santo-mistas bem ligeiras,
Ganhando admiração e fortes aplausos,
Passavam orgulhosas, altaneiras,
Inchadas de valor ou de outros casos !
Diante o cortejo, as danças verdadeiras
Com tecidos brilhantes,sem atrasos,
Iam fazendo com graça voltas,rodas,
Exibindo cada uma com suas modas.
(82)- A grande nau que o Santo transportara
Noutros tempos às partes orientais,
-(Por estranhos milagres o salvara
De se finar nas águas co's demais) -,
Uns estrondosos tiros dispersara
Assustando os medrosos naturais,
Que por misteriosa e fera a fazia
Não sabendo das causas que a movia !
(83)- Na cauda vinha a dança das espadas
Seguida pelos rápidos pastores,
Manobrando mudanças combinadas
Com o agrado dos amos e senhores.
E seguiam outras bem mais preparadas
Representando válidos valores,
Fazendo-se por serem tão vistosas
Para ganharem moedas mui valiosas.
(84)- Chegaram ainda os carros orientais
Com figuras estranhas,esquisitas,
Ressaltando das vistas as principais
Vestidas com as modas mais bonitas.
E,levado ao alto duns degraus finais,
Ia o Santo, olhos e mãos juntas com fitas,
Erguidas aos astros, p'ra muitos divinos,
Espalhando sua luz aos peregrinos.
(85)- Junto aos peitos, a sua loba dourada,
Com pedrarias de brilhos fascinantes,
Mais se fazia subida e desejada
Deixando os ambiciosos delirantes;
Ia Ele cercado por uma grade pintada
Com os arcos das mais belas variantes,
Onde um anjo de face sorridente
Controlava alguns astros na sua frente.
(86)- E mais abaixo, os músicos instruídos,
Em belos trajes de veludo e sedas,
Tangiam hinos divinais conhecidos
P'ra retribuir as dignas oferendas.
Alguns dos Reis mais ricos e sabidos
Ali estavam, figuras muito ledas,
Vestidos de cetins, finos, brilhantes,
Em ordem ao valor de suas amantes !
(87)- À frente, a Europa, tão formosa e bela,
De pérolas coberta a cabeleira,
Trazia por de sobre elas u'a capela
Toda em flores de dourada maneira;
E dos ombros marmóreos,fina estrela,
Desnudos um pedaço na dianteira,
Viam-se seus seios,forma bem perfeita,
Numa sedução mais insatisfeita !
(88)- Adiante,os mantos divinais pendentes,
E com graça senhoril segurados,
Caindo p'los braços belos,mais atraentes,
Roçavam finos pés bem afagados.
E na esbelta cintura,indiferentes,
Lindos colares,ricos e apertados,
Salientavam seus dotes bem perfeitos
Só pela Natura sábia mais eleitos.
(89)- As outras damas bem ornamentadas
Entoando loas e músicas sabidas,
Vinham em cores ricas e variadas
Por elas a seu gosto preferidas;
E as virtudes ao Santo consagradas
Iam no mesmo carro ali reunidas,
Com simples vestes bem menos ligeiras
Mas a seu livre gosto e boas maneiras;
(90)- Puxando o dito as belas e gostosas.
(Digna guarda,honrada e protegida),
Vinham pelas Nações,as mais valiosas
Esforçando-se pela doce vida,
Além das naires,lindas e formosas,
Todas contentes por terem guarida,
Tratando dolorosos ferimentos
Em cautelas e certos fingimentos.
(91)- Com as tranças de pérolas brilhando
Por dentro da mantilha em escarlate,
Seguia Malaca em passos,desfilando
Com estilo estudado e sabida arte;
Os cabelos p'las costas adejando,
Ou tapando na frente bela parte,
Eram cobertos de esmeraldas finas
E rematados entre serpentinas !
(92)- Sua vasquinha esvoaçando, rematada
Com os mais finos ouros e outras prendas,
Descobria bela perna, bem moldada,
Graciosa,mas detrás de ricas rendas !
U´a cadeia em ouro muito enrodilhada
Num relicário e várias oferendas,
Umas safiras sobre linda marta,
Logravam a natureza doce e farta !
(93)-As Índias das riquezas orientais
Cobertas das mais finas pedrarias,
Traziam belos diamantes, especiais,
E um pelicano em ricas fantasias;
Depois, assente com grandes caudais,
Estava uma baleia em suas honrarias:
Neptuno com as rédeas libertadas
Ia p´lo mar de ondas fantasiadas.
(94) - Um,das partes antigas conhecido,
P´los piscosos nipónicos habitado,
Seguia com ares,muito convencido
Pelas diversas jóias que ia enfeitado;
Co ´os diamantes em círculo comprido
E um crucifixo d'ouro,esmaltado,
Ia vestido de sedas e cetins
Que os raios austrais lhes eram afins !
(95) - Vinha de modo pouco diferente
A China,com rúbis,relicários,
Umas pêras e anéis,mas reverente,
Em concertos também certos e vários;
E,como todas outras que iam à frente,
Compostas com suas danças e santuários,
Em modos calmos,próprios de fina arte,
Com bichos e peixes de toda a parte !
(96) - Contente p´los milagres nunca falhos
Sobre o mar Poseidon ia cavalgando
A baleia,entre cristas e os atalhos,
Como em ondas bravias se encapelando;
Era uma coisa feita em bons trabalhos
Por dedicação ao apóstolo,pagando
O que tinha p´la Terra dispensado
Como fora por sua vontade achado;
(97) - E de cores marítimas ornada
Com passamanes soltos pela frente,
Ia misteriosa e bela,disfarçada
Entre grandiosos arcos,ramos,gente !
A cauda era por vezes agitada
Junto ao dito Divino bem contente,
Que trajando roupão semi-esverdeado
Levava na mão o tridente doirado.
(98) - E as sereias belas pelo mar cantavam
Dançando o Celestial com primazia;
Os peixes bailarinos se escapavam
P´la boca da baleia que ele movia;
Nessas e noutras danças se aguentavam
No descanso que Neptuno fazia,
As doces naires junto a si iam voltando
Com deleite e sem superior comando.
(99) - Cantava então suas glosas amorosas
Ofertando o que mais belo tivera,
Desde as ninfas e servas cautelosas
Às riquezas que no mar escondera,
Porque tudo via com calmas bondosas
Sem razões de que tanto se temera
Naquelas suas longínquas solidões
Lucrando agora doces posições.
(100) - Depois dos triunfos que ali desfilara
Vinham as causas feras e danadas
Que o Santo Xavier sempre derrubara
Em permanente lutas dedicadas.
Eram causas conforme tanto achara
Nessas batalhas,duras,conquistadas
Contra a Idolatria,o Mundo em fogo aceso,
A Serpente Infernal,Carnal desejo !
(101) - A idólatra senhora se mostrava
Como bicha de sete subtilezas
Que os pecados humanos figurava
Por animais fiéis às ditas fraquezas.
E, de mais uns diabretes se rodeava,
Chorosos por perderem as suas presas
que o ibero Santo tinha libertado,
(por seu espírito forte executado).
(102) - O cortejo em caminho prosseguia
Co´ admiração da gente ali amontoada,
Que p´la Santa Figura se benzia
Ao passar junto,em grade alevantada.
Dos lados,por divina cortesia,
A vinda multidão estava ajoelhada,
E os versos religiosos ia dizendo
Co a música p´las naires se fazendo.
(103) - Vaidosas personagens se encontravam
De certo em certo espaço ali paradas,
Com as pompas que por direito armavam
Pelos Reinos e terras comandadas :
- As de Angola em primeiro colocavam
Com cobiçadas vestes bem trajadas,
Em coloridos,brilhantes veludos,
Parecendo doutores em fins de estudos !
(104) - Ainda mais avante outros se veriam
Natos no Congo e partes mais vizinhas,
Que seus versos também recitariam
Ofertando as riquezas de suas vinhas;
Todos melhores ditos cantariam
Renegando vaidades comezinhas,
Pelas suas santidades tudo dando
E só em seus principais modos restando.
(105) - A Etiópia vinha em trajes naturais
Das partes baixas só estando coberta,
Porque a natura a todos não deu mais
Que uma inocente mas,preciosa oferta.
Rica, com panos lindos, orientais,
Espalhava,entre o povo,boca aberta,
O dinheiro que não queria pra enfado,
Despertando a atenção de todo o lado.
(106) - Chegados foram à igreja gloriada
Dali surgindo Inácio,tal patriarca
Coberto de riqueza demasiada,
Seguindo p´ro palácio em sua bela arca.
P´los anjos era a música tocada
Logo entrando d' Angola o fiel monarca;
Do lado de fora ainda se via o Santo
Mas uns saudosos já estavam em pranto !
(107) - Assim chegou o cortejo principal
Às portas do colégio distinguido;
Enfeite verdadeiro ou natural,
Nunca se vira nada parecido !
De limpo o céu tornara-se infernal
Por fogos que com força haviam subido
E em estrondos iam caindo assustadores
Pondo em fugida os povos e senhores.
(108)- Nos subidos altares enfeitados
A Figura ficou em contemplação
Pelos crentes nos baixos ajoelhados
Em respeitosa e santa posição.
Vários arcos metálicos,armados
Com frutos de natural formação,
Circundavam os quadros dos eleitos
Só visíveis em tão grandes respeitos.
(109)- Um enorme castelo a meio situado
Já repleto de bombas,buscapés,
Deitava lindas luzes com mui agrado
Pelas bordas que estavam de revés.
Tinham os estudiosos ajudado
Largando muito fogo e dando aos pés;
E pela oitava ao Santo concedida
Deitaram todo o resto de fugida !
(110)- Não bastando porém as ígneas feras
Que alegria e medo punham ao sujeito,
Outras coisas mais calmas e sinceras
Suavizavam com doce e melhor jeito.
Belas canções e glosas mais austeras
Entoavam para alcançar melhor preito,
Desejando ficar co'as primazias
E receber de Mendes honrarias;
(111)- Que decerto o melhor fizera
Em trabalhos que aos outros agradara;
Pelo seu bolso u'a parte compusera
E de ver representar mui gostara.
Mas em outras oitavas mais houvera,
Correndo touros, que muito espantara,
Com músicas e danças divertidas
Em largos gestos d' arte dirigidas.
(112)- E Mendes filho atrás não lhes ficara
Com uma peça muito bem ensaiada,
A quando Xavier aos lusos salvara
Numa fera luta em Archens travada.
Aplausos no Colégio conquistara
De gente numerosa e regalada,
E de bom modo a festa se acabou
Com a ordem e paz com que começou.
(113)- Tudo o Santo lhes pagaria por certo
Em bençãos que antes já eram pretendidas,
Sendo incauto premiar o mais esperto
Deixando para os outros só as feridas.
Pelos antigos reinos, em céu aberto,
Todas suas pregações foram ouvidas,
Razão dos muitos gastos que operaram
Em despesas que não se limitaram !
--------- (VER AS RESPECTIVAS ANOTAÇÕES NA PARTE FINAL )---------------------
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* ----- CANTO V - A GRANDE GINGA - (63 estâncias) -----
(1)- Vasconcelos, p'ra Angola fora eleito
E logo toma posse de sua herdade,
Só seguindo mais tarde ao duro leito
Quer fosse p'lo receio ou pouca vontade.
Evitando um perigo ou algum mau jeito
Com holandeses sem qualquer piedade,
Tivera de fazer um melhor plano
Dispondo armas e homens com menor dano.
(2)- Os tributos ao reino destinados
P'los diversos caminhos se sumiam,
Por uns padres e chefes controlados
E que entre si essas coisas discutiam;
Despertados de sonhos, enganados,
Que com promessas vãs os iludiam,
Passaram a explorar as novas fontes
(Que andavam as cabeças ali as montes!)
(3)- Entre eles as discórdias aumentavam
Repondo em lutas pérfidos rivais,
Pois que dos mesmos meios todos usavam
Esquecendo de pronto tudo o mais.
A paz com alguns sobas negociavam
Para alcançar daqueles naturais
Auxílios necessários nas suas guerras
Com as quais se ganhavam as boas terras.
(4)- E já esse mesmo Mendes destemido
Sabendo da revolta que surgira,
O sobado de Ndambi havia invadido
Posto que este depressa daí fugira.
Lá se instalara bem mais protegido
Onde outrora Cardoso residira,
Sendo lugar seguro, bem situado,
Com vistas largas para todo o lado.
(5)- Ngola, apesar de ter sido deposto
Ressurgira com forças e valias
Contrário ao novo rei que tinham posto
Por entre seus domínios noutras vias.
Conseguira ainda factos de mais gosto
Junto das hostes de suas serranias,
Tornando-se de novo ameaçador
Com foros de respeitado senhor !
..................................................
(6) - Por tantos procederes mal havidos
Da parte alta de quem governa,
Com coisas feitas,planos concebidos
Com o proveito próprio p'ra sua perna,
Foram os responsáveis reprimidos
Pois entre o trigo sempre joio se interna,
Não se sabendo qual foi seu castigo,
Talvez discreto,por mão de amigo.
(7) - Alevantada ´já uma nova acção
c'o prejuízo p'ra todo reino e gentes
Notara Sousa com preocupação
Regressar os negócios bem indecentes.
Por cada falta mais perdia a nação
Que inimigos em várias,novas frentes,
Atrasavam seu avanço p ró interior
E que na costa estava um perigo pior !
(8) - Depois desse problema complica
Defronte tanto povo a protestar
Mas sendo fiel ao seu rei destronado
E que outro não pretendia respeitar,
Viu Correia que o momento era chegado
Para mandar um padre a negociar,
Ambos buscando por Ndambi,escondido,
Porque ali seria por bem acolhido.
(9) - Com extrema cautela e singeleza
Havia de a causa ser bem meditada,
Porque o êxito dependia da esperteza
Com que operasse toda essa embaixada.
Mas,além das promessas de riqueza
Com que ofusca a cobiça desenfreada,
Chegavam a concerto as rivais partes
Aplicando cada uma melhor suas artes.
(10) - Assim voltava Dias em companhia
Daquelas três reais,altivas senhoras,
Impressionantes em sua fidalguia
E no valor das pazes promissoras.
Entre as distintas negras uma havia
Com as maneiras tão desafiadoras
Que o povo respeitoso perfilava
E disso mais credora se mostrava.
(11)- Com grandes recepções, bem preparadas,
Reposto mais cuidado em certo trato,
Foram com um agrado encaminhadas
A quem não lhe faltava certo tacto.
E de um vistoso séquito amparadas
Em finos trajes, com rude recato,
Causavam no meio muita admiração
Não sendo vulgar tal ponderação.
(12) - Altiva,Ginga logo que notara
A falta do seu assento reservado,
Uma jovem escrava ali prostrara,
Joelhos no solo,dorso bem dobrado,
E sobre a dita então logo sentara
Ficando todo o tempo ali passado
E deixando-a estar quando levantou
Que ao mesmo banco nunca regressou !
13) - E já depois de ser obtida a paz
Por entre todas partes aí reunidas,
A conversão ali se tornou capaz
Entre preces solenes e subidas.
E pela benção santa mais vivaz
Titulares funções foram cedidas,
Porque enganar é fácil a vaidade
Quando se cuida não haver falsidade.
(14) - Para o distante Ngola agradecido
Levam elas diversos,bons presentes :
- Sistema velho, mas sempre sabido,
De subornar as mais escuras gentes !
E, de quanto ficou ali esclarecido,
Mandaram parte aos seus dois dirigentes,
Sendo que um em Castela residia
Vendo de longe quanto se fazia.
(15)- Entretanto ainda mais o ar se turvava
Pelas normas surgidas de outros ventos,
Porque o soba de Ensaca protestava
Avançando com uns certos intentos.
Nisso, de pronto alguém o subjugava
Com auxílio duns novos valimentos,
Já fugindo aquel' outro p'ra distante
Onde fosse lugar mais confortante.
(16)- Seguidos com temor e algum perigo
Ao longo dumas terras ainda estranhas
Pelos iberos com auxílio antigo,
Fugiam sofrendo perdas bem tamanhas
Que não esqueceram tão duro castigo,
Deitando alguns de fora suas entranhas
Mas havendo doutro lado nobres baixas
Porque a morte nem olha para as faixas.
(17) - Danado,o chefe,com um comerciante
Que por entre os jesuítas se acoitara,
Mandava prender estes e o tratante,
Que outro por pouco menos embarca !
Logrou fugir porém esse meliante
Partindo num transporte que arranjara;
Chegando antes,se justificaria
Do modo que melhor lhe parecia.
(18) - Arribando,se viu logo apanhado
P' las muitas faltas loucas que fizera,
Além duns escravos que havia reservado
Como pela traição que cometera :
- Aos temidos nassaus tinha ajudado
E para o reino do Congo se mexera,
No que por certo auxílio conseguiu
Sendo dos que a ambas partes já serviu !
(19) - Livrando-se do pérfido fugido
O jesuíta lavrara o testamento
Das obras que tivera conseguido
E outras causas de muito valimento.
Mas Filipe,sagaz e destemido,
A isso se opunha com algum intento,
E não obtendo o apoio que era desejável
Teve dos padres trato pouco afável.
(20) - Os do Reino de Angola davam parte
Ao apavorado Bispo recém-vindo,
Porque se viam sem forças e sem arte
Defronte do Cassanji desavindo.
Mas o sabido Sousa,por enfarte
De estar do governo logo saindo,
Deixara um outro chefe mais tristonho
P'ra cair "empeçonhado" em fatal sono.
(21) - Com Ngola Ndambi fora de combate
Pelas grandes tristezas e vergonha
Ou mesmo pela Ginga posto em mate,
Simulando um desgosto ou uma peçonha,
Começou ela com tão grande debate
Ao Frei Simão contrário,cheio de ronha,
Exigindo o que tinha sido escrito
Antes que isso ficasse por não dito.
(22) - Entre variadas causas pretendia
ver-se livre dos jagas destemidos,
Recebendo um sobado em demasia
Por retirar de Ambaca os protegidos.
Mais exigente em sua soberania
Afogara logo alguns perseguidos :
- Deles,um,seu sobrinho se dissera,
E outro, que de sua mesma mãe nascera !
(23) - Para astuta acção se preparava
Agindo com escravos de valia;
Punha terror em tudo que planeava
Mas,antes,Frei Dionízio lhe fugia !
O medo cada dia mais aumentava
Entre gente que já falta fazia;
Exigiram a entrega dos quimbares
Senão turvos demais seriam os ares.
(24)- E logo a esperta rainha pedia uns padres
A Vaz que, pelo rei fora mandado,
Indo fiados e cientes das verdades
O pobre do Pacónio e outro,Vogado.
Porém,em vendo as tristes realidades,
Pretenderam logo outro combinado,
Devendo antes escravos entregar
Com o que a dita não havia de aprovar.
(25) - Então, fingindo enviá-los a uma feira
Que algum sobeta aliado promovia,
Outra coisa escondia dessa maneira
Que só escravos guerreiros ali havia.
Defronte a soberana mais matreira
Novo grupo em socorro aparecia,
Assim caindo Leitão e outros na cilada
Com esperteza e astúcia preparada.
(26) - Ganhando Ginga a luta ali travada
Ocupou umas ilhotas do rio Quanza,
Sendo p'la enorme corte real rodeada
Cada vez reforçando mais sua banza.
Desejava porém ser desculpada
Pelas razões daquela feia vingança,
Mas,como se informara Landroal,
Preparava de novo certo mal.
(27)- Fernão aplicava rápidas medidas
Escutando o Conselho em conferência;
Seguiam as lusas tropas aguerridas
Enfrentando algum povo com urgência.
Juntaram muitas gentes escolhidas
Das qu' andavam p'lo interior em falência,
Sendo melhor haver boa precaução
Que,enorme,devia ser a multidão !
(28)- Reuniram-se diversas povoações
Com as reservas de alguns alimentos,
Mas seguindo rio acima as munições
Porque ainda eram escassos os elementos.
O Bento e o Bruto iam com as suas missões
Bem certos do valor e dos tormentos,
Que cada um com seu plano bem traçado
Já sabia não ser fácil o mandado.
(29)- E chegado estava o ano vinte seis
Quando saíram no mês de Fevereiro,
Formados como mandam todas leis
Que devem orientar o bom guerreiro.
Muitos curiosos olhando os batéis
Apoiavam os que andavam em primeiro;
Alguns, tristes por não os acompanhar
E outros, alegres por ali ficar !
(30) - Soavam uns estrondosos alaridos
Dos muitos povos,ágeis,delirantes,
Que talvez sem temer serem feridos
Já da certa vitória iam bem confiantes !
Com os bravos,os menos destemidos
Se presumiam agora de importantes,
Não cuidando de quanto os esperava
Em força que melhor armada estava !
(31) - Iam homens com cavalos misturados,
As trombetas e os pífaros ruidosos,
E,como outrora contra os revoltados
Em Ourique,sairiam mais vitoriosos.
O capitão,na frente e pelos lados,
Dava calor aos menos animosos;
Na melhor forma iam sempre seguindo
E mantendo o moral,cantando e rindo.
(32) - Tão certos da vitória já partiam
Que levavam escrito o regimento !
Dariam Dongo,lugar dos que fugiam,
Aos Airi,com quem havia entendimento.
Para isso normais funções se escolhiam
Ordenando seguir sem detrimento,
Que muitos costumavam esquecer
Governando antes ao belo prazer.
(33) - Passaram pelo heróico Massangano
Símbolo do poder naquelas partes,
Onde outrora o quente sangue angolano
Já banhara o verde dos estandartes !
Em Ambaca chegara Dias Tiçano
Muito sabido nessas e outras artes,
Aí juntando-se os que livres havia
Pois bem dura a refrega se previa.
(34) - Famílias dum sobeta,protegidas
No Pungo pelas Pedras elevadas,
À nova foram logo convertidas
E,por isso,ainda menos ariscadas.
Outras pelo sertão desprevenidas
E fugindo da rainha,amedrontadas,
Seguiam para o quilombo mais em frente,
Nas ilhotas fluviais,plenas de gente.
(35) - Bem cedo ela soubera da invasão
O que no entanto não a atormentara,
Pois mesmo sem melhor causa ou razão
De Bento com desprezo ali troçara :
- Que desejoso estava dum quinhão
Para contas antigas que juntara;
De gala se vestia para a chegada
Dessa vistosa e tão importante armada.
(36) - Que tivera demora não contada
Ao chegar perto das ilhas subidas;
Mas,atacando pela despovoada,
Prenderam gentes por ali escondidas.
Seguindo numa fácil arrancada,
Pensando noutras tais desprevenidas,
Encontraram as terras escaldantes
Que,fugindo,elas tinham queimado antes.
(37) - Resolveu Bento Banha espairecer
Aproveitando as presas e colheitas,
Quando lhe seria fácil as vencer
Seguindo aquelas hostes já desfeitas.
Novo acordo tentou estabelecer
Buscando relações fortes,perfeitas;
Cortava males que a guerra fizera
Mas Ginga nuca mais obedecera !
(38) - Nem mesmo pela força intimidada
Cedia e,com arrogância,inteligente,
Ia mantendo os quimbares sob sua alçada
E ao luso baralhava mais a mente;
Assim a seguia a tropa descansada
Sem ver a volta da fugida gente,
Que não indo pela rota principal
Os punha com a vida muito mal !
(39) - Então sem resultado regressara
Depois daquela vã perseguição,
Enquanto um outro soba se nomeara
Sendo aliado novo p'ra Nação;
Esse mesmo sobrinho que a guerreara
Numa outra mais antiga situação,
Dela se havia de novo separado
Enfraquecendo logo o real mandado.
(40) - E com uns outros homens e armamentos
Seguira Bento em nova remetida
Para consolidar velhos intentos
E derrubar a força da vencida.
Mau grado a luta contra os elementos
Foi tolhido p'la febre desabrida,
Que depressa o levara ao fatal leito
E com dor se quedava o bravo peito!
(41) - Seu sucessor nas rédeas do poder
Marchara sem demora pelo rio;
P'ra tropa não havia mais tempo a perder
Que já muito fraco era o poderio.
Levava ordens de como proceder
P'ra não ter perda doutro mais valio,
Pouco restando da que comandava
Pois todo dia havia gente que baqueava.
(42) - Então,numa passagem apertada,
Custosa e de difícil travessia,
Ficaram co'a traseira bem fechada
P'lo soba que em Matamba residia.
E ainda noutro dia,sendo madrugada,
Nova força cercá-los pretendia,
Que logo derrotada desertava
Mas um outro mais forte se tornava.
(43) - A rainha fugitiva se escapava
Com os auxílios dados noutras frentes,
Mas a perseguição mais continuava
Com furor de ranger os calmos dentes;
E se outras velhas tribos desprezava,
Desafiando perigos eminentes,
Ainda mais se agravara a situação
Estando muitos contra tal acção.
(44) - Presa alguma da régia comitiva
Da qual as irmãs também faziam parte,
Já cuidavam da linha primitiva
Que logo surgia a fúria doutro Marte !
Mais vantagem ganhava a fugitiva
Escapando com sábia e mais fina arte:
- Por entre altos penedos em descida
Deixava-os para trás em tal corrida.
(45) - Para essa "Grande Quina" se encaminha,
Serra agreste,escarpada,mui comprida,
Onde,estando em perigos tais,a rainha
Logo a entregar-se estava resolvida;
Sempre fugindo a Paio,no rasto vinha;
Pelos songos foi então bem protegida,
Estacando os ferozes perseguidores
(Em terra estranha os passos são menores!)
(46) - E nesse mesmo tempo mal passado
Foram as duas irmãs ali trazidas,
Onde o governador então acordado
Recebi-as como ilustres conhecidas,
Mas,dentro do palácio ornamentado,
As chegadas senhoras,reais,garridas,
Semblante carregado e estarrecido,
Caso bem raro tinham parecido !
(47) - Assentaram-se em cómodas cadeiras
Que para esse fim foram preparadas,
Mui recatadas em rudes maneiras
E como finas damas respeitadas.
Mas,delas,e das muitas companheiras,
Ficavam as aragens bem turvadas
com suor das peles húmidas,oleosas,
Pingando das infusões mal cheirosas.
(48) - Fernão,alegre porém as recebia,
Com respeito talvez bem simulado,
Que com certa e medida cortesia
As hospedava do melhor agrado.
Algum plano em sussuros se fazia
Sobre um caso às escuras preparado,
Enquanto qu' outra longe,mais andava !
(49) - E ainda mais uma vez se rebelara
Aliada com o válido inimigo
Que já as suas garras rápidas cravara
Para aplicar ao Reino outro castigo.
Porém,como ele, logo rebaixara
A fronte altiva,espírito seu antigo,
Que dos abismos algo ali se ergueu
E por suas próprias mãos tal sucedeu.
(50) - Bem antiga mas sempre muito astuta
Há tanto ano terrível e valente,
Ataca poderosa em rija luta
Tudo defendendo à sua negra gente !
E,cada vez mais firme e resoluta
Em suas melhores bases resistente,
Com a nova,danada e jaga força
Arrastara à vitória a tropa moça !
(51) - Souto Maior de longe surgiria
Com quantas forças já dantes dispunha;
Madureira em bravura se batia,
Depressa em Dona Bárbara metia a unha;
Com elas alguns nassaus ali havia
Sendo detidos como a lei se impunha,
Quebrando-se de vez a resistência
Que fizera perder tanta paciência.
(52) - Mas Ginga sempre altiva se mostrava
Sem na luta se dar como vencida
E de ser tributária se negava
Achando disso não ser merecida.
Mais o falso invasor ali avançava
Vendo essa força aliada sem guarida;
Souto Maior porém tinha "marchado"
Sem haver quem cuidasse do seu mandado.
(53) - Retomadas de novo as posições
E destronada parte do invasor
Restava melhorar as relações
Havidas antes num outro sector,
Cessando as lutas com tantas traições
Que p'ra tal ali estava o Salvador,
Não havendo mais escravos p'ros engenhos
Que sempre era a razão desses empenhos.
(54) - Assim,com cartas várias e oferendas
Seguia p'ra Matamba um emissário,
Porque de longe vieram essas prendas
Sendo el-rei D. João Quarto o mandatário.
Não lucrara porém co' as encomendas
De quem estava fiel a outro usurário
E ainda tendo também pelo seu lado
Um Garcia, no Congo há tanto empossado.
55) - Isso mesmo com outros o tentara
Buscando a paz e dócil harmonia,
Sem a influência que tanto molestara
A quem só melhor vida pretendia.
Do antigo pedestal não se baixara
Que nem a idade mesmo a amolecia,
Pedindo por fim lusa protecção
E o amparo da esquecida religião.
(56) - E a sua irmã há tantos anos reprimida
Nessa altura ganhava a liberdade;
A velha e Grande Ginga agradecida
Logo mandava,com certa vaidade,
A cabeça,em bandeja oferecida,
Dum jaga que fazia tanta maldade,
Assim cessando a luta desenfreada
Com que ninguém ganhara mesmo nada !
(57) - Esse triunfo ainda mais a envaidecera
Em tamanha altivez e admiração,
De novo a sagrada hóstia recebera
Com fidalgo de sua predilecção.
A capela de Santa Ana se erguera
Onde rezava angélica oração,
De todos seus pecados se livrando
E dos lusos em bom agrado estando.
(58)- De uma selecta corte se rodeava
Recolhendo vitais ensinamentos.
Com doce calma tudo ficava
Afastado dos piores elementos.
Cavazzi sempre o apoio lhe dispensava
Até nos bentos e santos sacramentos :
- Ao fim de triste e longa desventura
O frágil corpo baixara à sepultura !
59)- Para respeito e real veneração
Ali restava para sempre a Rainha
Que possuíra com vera abnegação
O poder conquistado que detinha;
E do Papa tivera a admiração
Porque na santa fé ainda se mantinha,
Até abdicando de certos privilégios
Que na morte haviam os poderes régios.
60)- A figura que a História não emudece
Na sua bela Matamba ali restava,
Mas o tempo depressa se fenece
E a pacífica calma transformava :
- Logo entre chamas, ódio, o solo aquece,
Devastado p´la vil fogueira brava,
Que o renegado jaga conhecido
Havia ancestrais processos preferido !
61)- Em muitas represálias e vinganças
Esse glorioso Reino se extinguia
Depois de tantas e alvas esperanças
Que vidas inocentes consumia.
Assim resultou nessas vãs heranças
Em fracas mãos de quem não competia,
Desejoso das fáceis pretensões
Que não bastam para cuidar das nações !
62)- Mas Amona tentara envenenar
Cavazzi, dedicado dessa rainha;
As damas da corte dava p´ra trocar
Por vinhos e alimentos que não tinha.
Surgira Diogo para governar
Mas sua cabeça nem ali sustinha
Perante o cutiloso e cruel jaga
Que nem o tempo um ódio tal apaga.
63)- Nem D. Luís consegue sobreviver
Tal o poder do válido guerreiro
Apossado de novo do poder
Que em Matamba tivera, desordeiro!
Foi Gutteres depressa a combater
Cercando-o numa igreja, prisioneiro;
Dali saindo p'lo escuro,assustado,
Sem nada lucrar, sendo degolado !
--------.. (VER AS RESPECTIVAS ANOTAÇÕES) ------....................
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* --- CANTO VI - O DRAMA DA ESCRAVATURA - (75 estâncias) ---
1) - Muitos escravos foram retomados
Que eram vendidos em boa quantidade,
Sendo para novas terras embarcados
Que deles havia lá necessidade.
Mas os poderes régios contrariados
Logo os mandavam de volta à sua herdade,
Sendo caso de má e desleal conduta,
Não fosse obra feia, de filhos de puta!
2) - Não era por Dom Henrique ou sua alegria
Que em escuros negócios se metessem,
Sendo antes para Cristo e a Santa Pia
Todos quantos a Nova ali quisessem;
Amolecendo as mentes pretendia
Evitar que outros piores ali viessem
Colher frutos em tão enorme fartura,
Que uma vida fácil nem sempre dura!
3) - Em tendo aquele campo bem semeado
Seria farta e válida a colheita
E,próximo do tal reino ali buscado,
Uma outra melhor já havia de estar feita.
Pra tanto era o caminho procurado
Em naus que o Índico rápido rejeita,
Se outra solução não fora a escolhida
Que era a vela,mais fácil,submetida.
4)- Mas não cuidara o sábio Navegante
Do malvado desejo ou pensamento
De quantos lhe surgiriam mais adiante
Só interessados em melhor provento;
Perdida a santa missa, num instante
Logo jogavam com outro elemento,
Na procura cativa mais odiosa
Sendo para eles boa e bem proveitosa.
5)- E dos santos caminhos se esqueciam
Sem cuidar de uma certa contrariedade
E que sem eles muito pouco conseguiam
Para alcançar o reino da verdade
Por onde águas Vermelhas existiam
Ou p'lo Nilo sonhado noutra idade
Passar mais além não era permitido,
Estando o sultão disso decidido.
.... (em actualização).....
(6) - Tal o receio daquele de ser mudado
indo dali banhar outras areias,
Tão grande era o poder do potentado
Nem que fosse na altura dumas cheias !
Novo plano havia sido preparado
Do alto doutras mais válidas ameias,
Procurando uma nova via ou monções
Pelo mar ou entre outras nações.
(7) - A bons e novos se iam chegando
Cada dia mais além,por esses mares,
O sonho em verdadeiro se tornando
E bem mais quentes sendo os novos ares.
Com tudo isso porém não lhes bastando
Uns outros mais cuidavam dos bazares,
No regresso levando negras gentes
Por serem das suas algo diferentes;
(8) - Logo vendo melhores e bons ganhos
(Satisfazendo real necessidade),
Começam de captar povos estranhos
Que na defesa nem tinham vontade :
- Uns,por curiosidade ou seus tamanhos,
Mas outros destinados a uma herdade,
Já sendo alto luxo entre a fidalguia
Quem mais negros escravos seus possuía.
(9) - E os lusos no negócio escuro estavam
Desde que Tristão ao áureo rio seguira,
Alcançando alguns tristes,nus estavam
Com calor e e em secura que alguém vira
Ao continente bárbaros levavam,
Testemunho do ponto que atingira,
Mas chegando entre pasmo e orações
Como estranhos seres ou aparições.
(10) - Grande mal assim nem sempre cuidavam
Por ser costume habitual muito antigo
Que entre si mesmo todos operavam
Sem haver nisso crime ou algum castigo.
Nas guerras comuns logo ali os captavam
E de servos punham tão fraco inimigo,
Ficando alegre se à morte poupado,
Não sendo pelos canhões atirado !
(11) - Lançarote e Eanes muitos mais caçariam
Desde Lagos até chegar a Arguim,
E que isso só por Cristo assim faziam
Embora por detrás fosse outro o fim :
- Lotes a olho de pronto distribuíam
Entre os senhores p'ra casa ou jardim,
Sendo alguns bem cuidados,enfartados,
E ficando outros mesmo rebentados !
(12) - Eram os Reis porém sempre os primeiros
A negociar os seus próprios residentes
E entre tais,Budomel,um dos pioneiros,
Trocou uns cavalos por cem de suas gentes !
À Verde ilha arribavam os sendeiros
Desviando braços,para terras luzentes
Onde se buscava o doce melaço
Que na Europa preenchia um melhor espaço.
(13) - Possuía muitos equinos e mulheres
Detrás de sete páteos levantados,
Onde recebia entre seus afazeres
As visitas de troncos desnudados.
Todos curvados apesar de altos místeres,
Co'a cabeça a tocar solos sagrados
Cheia dum pó que pra cima iam deitando
Até aos seus pés chegarem rastejando !
(14) - Os chefes e senhores protegidos
De bastantes escravos se serviam,
Ficando com reservas fornecidos
Pelos que dumas más doenças morriam.
De Jena e Tombuctu mais conhecidos
Seus lotes para as costas prosseguiam
Ficando a aguardar bem amontoados
Em barracões de pestes infectados.
(15) - A tanto era o negócio rendoso
Que até os cativos outros permutavam
Com objectos de aspecto duvidoso
Ou pelo vinho com que se embriagavam.
Antes havia um controle cuidadoso
E os menos sadios ao lado ficavam,
Sendo às vezes trocados como saldo
Por alguns que sobrassem do rescaldo.
(16) - Mulheres,crianças,velhos,nem valiam,
Sendo dos seus familiares separados,
Num exame em que todas partes viam
Não ficassem por alguns atraiçoados.
Os fortes,"peças da Índia" se diziam,
Valendo dois ou três dos enfezados,
Sendo marcados com o fogo e o ferro
Entre gemidos e terrível berro !
(17) - Alguns desses antigos,reais senhores,
Possuíam belas mulheres à vontade,
Sempre prontas a pérfidos favores
Com rapazes de boa virilidade,
Sem saberem que ao fim desses amores
Perdiam o seu direito à liberdade
P'la ofensa que aos maridos cometiam
Sendo eles afinal quem lá as metiam.
(18) - Eram os de Maomé os principais
Que iam por terra a mares pelejando,
De cativos se enchendo sempre mais
Para muito lugar logo os mandando :
- Casas burguesas,como serviçais,
Em castelos,soldados ou vigiando, -
Depois de haverem sido capados
Para nenhuns mais serem ali nados !
(19) - Todos eram de novo escolhidos
Ao serem embarcados no negreiro
Para evitar que houvesse falecidos
Estando pagos pelo vil dinheiro.
Vencidos,ao deixar entes queridos,
Uns lançavam-se ao mar bravio,traiçoeiro,
Ou apertavam seu próprio pescoço
Finando-se sem qualquer alvoroço.
(20) - Grilhetados a Lagos aportavam
Por entre a gente aflita e boquiaberta,
Sendo tamanhos os gritos e ais que usavam
Quando os donos lançavam alta oferta !
Fartos de dor e raiva se esmurravam
Ou se deitam a terra quando ela aperta,
Tal o receio p'los tratos que temiam
Mas para alguns as penas cessariam.
(21) - Mães e filhos iam cada um por seu lado
Em sendo diferentes os patrões,
Sem cuidarem do laço mais sagrado
Nem de humanas,vitais satisfações !
Muitos dos que ali estavam no mercado
Não ocultavam suas emoções
Chorando tanto como os infelizes
E escondendo o pingar dos seus narizes.
(22) - Num belo cavalo,o Infante os observava,
Não mostrando o que estava ali sentindo,
E escolhendo o quinto que lhe calhava
O fez p'ra Santa Igreja ir prosseguindo.
Outro grupo melhor tratado estava
Que em vez de chorar já ficava rindo,
Sendo dum igual modo bem cuidados
Sem ver as cores com que foram nados.
(23) - Mas,muitos outros,os negros negociavam
Mandando-os para as novas descobertas,
Nisso grande proveito retiravam
Maior sendo a procura que as ofertas.
Com loucura a tal todos se entregavam
De manhas e outras causas encobertas,
Pondo em tudo o seu pérfido disfarce
Sendo mais forte quem melhor roubasse !
(24) - E.com licença nova e outros impostos,
Ainda mais a coroa se governava,
Sempre surgindo os habituais encostos
Que a todos tal receita bem pagava !
E nas guerras sem tréguas a seus gostos,
Ganhando terras,mais gente aumentava;
E para não terem preocupações
Logo a vendiam,lucrando bons tostões !
(25) - Condenados, reclusos perigosos,
Em troca de suas parcas liberdades,
Vinham nas naus altivos,pressurosos,
Mais certos de suas próprias falsidades.
Uns deles continuavam criminosos
Fazendo toda a sorte de maldades,
Tendo bons resultados no negócio
Sobreposto ao seu antigo e normal ócio.
(26) - Muitos em fera luta se metiam
Sem cuidar dos lugares e dos danos,
Entretanto a si próprios se corroíam
Pela falta de tais braços humanos.
A essas razões e males não atendiam,
Só cientes de dinheiros mais profanos,
Mola de interesses inconfessados
Por detrás de sentimentos renegados.
(27) - Não havia nisso maior dificuldade
Porque pelos dois lados se acertavam,
Alguns vendendo os filhos de alva idade
E os fidalgos a quem não suportavam,
Ou trocando-os por qualquer veleidade
Com a que, para gáudio,se enfeitavam;
Até os pais ou irmãos eram negociados
Jurando que antes foram cativados.
( 28) - Algumas guerras eram inventadas
Entre sobados rivais ou vizinhos,
Havendo gentes sempre aprisionadas
P'ra trocar por colares ou acres vinhos;
De outro modo eram umas cativadas
Nas delícias de certos e alheios ninhos,
Ficando os machos logo ali retidos
Em paga dos prazeres auferidos !
.................................................
(29) - E dos pais para os filhos,como herança,
Iam passando seus servos mais prestáveis,
Sendo os velhos e os doentes p'ra matança
Por já não serem "peças" negociáveis.
Nem era fácil ter a santa aliança
Não sendo por lei depois separáveis:
- Iam os homens p'ra fora despachados
Restando as moças para os enfatuados.
(30) - E com guardas marítimos atentos
Se defendiam de seus "legais" poderes,
Que ficara o contrato em bons assentos
E altos mandos cuidando seus haveres.
Os castelhanos,cientes dos proventos,
Não se ficaram sem seus afazeres,
Precisando de gente numerosa
Para as terras de sua posse rendosa.
(31) - Cegos p'las ilusões sempre sonhadas
Dessas riquezas por Colombo vistas,
Iam uns em grandes,válidas armadas,
Bem cheios de cobiça,maus artista !
Estando as ricas fontes encontradas
Faltava obrar medidas já previstas,
Que mesmo sendo dura tal missão
Bem valia sofrer tanta privação !
(32) - Os residentes logo desejavam
Do poder real urgente e amplo castigo,
Detendo povos que ali vegetavam
Para serem vendidos como artigo,
Que por certo baratos lhes ficavam
Sem despesas de cargo mais antigo,
Quase nada gastando em alimentos
E ainda menos nos parcos vestimentos.
(33) - Porém,as gentes índias ignorantes
Dessas tarefas,nunca dantes feitas,
P'lo mato dentro fugiam dos tratantes
Mais lhes valendo suas pobres colheitas :
-- Perna tolhida ou castigos gritantes
Não os sujeitavam a essas novas seitas;
Esse caminho sempre retomavam
P'ra junto dos filhos qu'os aguardavam.
(34) - Os patrões se fartavam da disputa
Porque fracos eram para o trabalho,
Mais valendo um da gente negra e astuta
Que quatro índios daquele novo novo atalho :
- Preferiam cuidar de sua pobre gruta
Do que servir ou segurar o malho;
E Las Casas assim os defendia
Mas d'África uns melhores pretendia !
(35) - Não possuindo nenhumas feitorias
Por onde os servos fossem capturados,
Os castelhanos,sem mais arrelias,
Aos lusos pediam p'ra os serem enviados.
E seguiam muitos às capitanias
Nesses novos negócios aumentados,
Enchendo os bolsos dos que lhes vendiam
E esses,depois,os frutos recolhiam.
(36) - Já Colombo trouxera uma remessa
Que nas ocidentais Índias teria,
Talvez fiado nalguma vã promessa
Que afinal da Católica não havia;
Tendo de os soltar todos mais à pressa
Que nunca viram tão grande alegria !
Cada qual tomou novo amo ou rumo
Mas com comida certa e bom aprumo.
(37) - Mas outros espanhóis nem se curvavam
Para as canseiras árduas,convencidos
Que só do lucro rápido engordavam,
Em quantos sonhos já por si possuídos !...
Certos,novas licenças arranjavam,
Transportando os escravos apreendidos
Em mui pequenas naus,abarrotadas,
Morrendo tantos com febres danadas !
(38)- O trato caminho só interessava
P'ra que deles chegassem muitos vivos,
Que boas moedas cada um representava,
Como estava nalguns falsos arquivos;
Tal a causa que a tantos se ligava,
Em supremacia vã,bastante activos,
Mas,apenas a força não servia,
Para quem mal os mares conhecia !
(39) - Nisso os lusos vizinhos bem sabidos
Davam ajuda válida no escuro,
Sendo nesses negócios protegidos
Em paga do saber,trabalho duro,
De pronto os frutos eram conhecidos
Sugando o melhor néctar,mais seguro,
Por terras de sua vassalagem.
(40) - Duras punições não os amedrontavam
Contra fortes rivais das outras partes;
Os nobres entre si se concertavam
Recuperando vários dos distrates.
Nos barcos carregados se apartavam
Pelos mares,em lutas,com feias artes,
Que melhores negócios iam buscando
Sem trabalho e mais fácil sendo o mando.
(41) - Já aquele Manuel,pelos seus coroado,
Vendo falsas razões,muitos abusos,
E sem qualquer vergonha em todo o lado,
Punha logo o respeito aos ditos lusos.
Mas outros,com "assiento" negociado
E sem direitos sobre natos lusos,
P'las costas carregavam os porões
Porque mais não sabiam,grandes poltrões !
(42) - Por certo modo pouco conveniente
Faziam o monopólio costumeiro,
Metendo nos negócios a sua gente
Visto que isso era muito mais certeiro.
O luso,atento e hábil,afia o dente
E seguia nas entranhas bem ligeiro,
Surgindo cauto e subtil no alto mar,
Desafronto de tanto os espantar !
(43)- Nem sabendo seguir o vero fumo
Se curvavam p'las tristes realidades
Aceitando os vizinhos para o rumo
Conhecido seu já noutras idades.
Porém,tendo por pérfido seu aprumo
Logo iam desviando o curso das herdades,
Pois,iludindo o incauto castelhano,
Obtinham ainda um muito melhor ano.
(44) - As guerras,pela Europa ensanguentada,
(Povos contra si todos revoltados),
Afastavam do mar a força ,irada
Na defesa dos montes ocupados.
E mais lucrava a malta interessada
Em escuros negócios,desejados,
Mandando negros p'ra onde eram escassos,
Havendo nesses Reinos tantos braços !
(45) - Por isso o Desejado,mui prudente,
Regulara com lei sua,bem medida,
O modo legal p'ra cativar gente
Que nas guerras ficasse aqui apreendida.
Antes, a outro ordenara na sua frente
O que fazer na terra concedida,
Deixando aos santos mestres boa vantagem
E impondo a muitos sobas vassalagem.
46) - Paulo Dias, com poderes concedidos,
Acordava contratos mui rendosos,
Em "assientos" por si estabelecidos
Com os Filipes,também cobiçosos.
E muitos outros já nisso iam metidos
Esquecendo os terrenos trabalhosos,
Preferindo repousado viver
Que lhes desse mais válido prazer.
47) - Primeiro desprezavam uns metais
Que só valor limitado antes possuíam,
Mas, os escuros povos e os demais,
Para não serem vistos,os encobriam;
A tais pontos os câmbios ainda mais
Do que o falado máximo subiam
C'o espanto de causar perturbação,
Colhendo o inquiridor nova lição.
48)- E tanto aquele ramo era crescido
Que Lopes tendo ao Congo regressado,
Logo tinha um negócio pretendido
Em exclusivo só para si dado !
Danados povos que haviam conseguido
Vender outros a seu livre mandado
Feitos peças de máquinas ou animais,
Não fossem eles gentes a si iguais !
(49) - Em celas apertadas,muito escuras,
Mas que de barcos assim se tratavam,
Morriam cheios de fome e de securas
Ou das muitas pancadas que apanhavam.
Para mais tristes sortes,desventuras
Eram vendidos por ouros que odiavam,
Caindo p'la terra quente,afastados
Das suas mulheres,fracas,noutros lados.
...................................
50)- Quantos, cantando, fartos de tristeza,
Trocando-a por alegria enganadora,
Não suspeitavam da grande rudeza
De certa gente, pérfida e traidora !
Havia quem, consolável esperteza,
Com os dedos "roía" a tábua salvadora,
Sendo melhor descer para Neptuno
Que seguir outro malfadado rumo !
(51)- Iam todos num ardil bem enganados
À força, por ser pouca a sua vontade,
Seguindo muito tristes,recordados
De sua remota paz, felicidade.
Mesa e cama serviam os mesmos lados
Por ser escassa e má a comodidade,
Assim mais preferindo o mar profundo
Antes do que leis férreas de tal mundo !
52)- Duras restrições sempre lhes faziam
Já receosos dos roubos habituais,
E mais ganhavam do que mereciam
Com feias desilusões, que eram demais;
Uns poucos nos trabalhos ficariam
Com fugas se escondendo, entre sinais,
Porém com alguns ouros se escapavam
Às garras dos gulosos, que sonhavam.
(53) - E mais defronte,os lusos insistentes
Com medidos esforços e canseiras,
Obtinham resultados sorridentes
Em causas de de outras válidas maneiras.
Com eles iam sabidos e alguns crentes
Que noutros lados,com razões ou asneiras,
Tinham obtido paz e condicções
Em lucros de melhores divisões.
(54) - Mas alguns religiosos que chegavam
E que por muita terra haviam andado,
Cheios d'astúcia logo a si chamavam
A atenção do índio bruto e desgraçado.
Não lembrados do que antes condenavam
Uns entregavam-se ao rumo vedado,
Que só para si os lucros revertiam
Com modos velhos,sábios,que faziam.
(55) - Com certas leis filipinas surgidas
Reforçavam domínio os libertinos
Por sobre todos índios e mais vidas,
Cuidando de sua fé e justos ensinos.
Só estes mestres as dariam por cumpridas
Com trabalhos e salários bem franzinos
E castigando sempre os transgressores
Que se fustrassem aos ditos labores.
(56) - Se por antigas terras já batidas
Tal procuraram não concretizar,
Nessa nova conquista,em novas lidas,
Mais rendoso produto haviam de dar.
Subiam as vendas feias e mal punidas
Que as povoações famintas iam pagar
Durante anos de roubos e discórdias
Sendo tantos metidos nas mixórdias.
(57) - Lusos ousados já se preparavam
Retomando nas mãos o ramo odioso,
Que os íberos vizinhos protestavam
Por lhes ser muito mau e desvantajoso.
As cargas acordadas nem levavam
Que o navio para tal não era espaçoso,
Mas largos lucros eram sempre ganhos
Nessas viagens de fins muitos estranhos.
(58) - Iam em lotes dobrados,por cuidado
Prevendo as mortes talvez habituais,
O que em cada nau tinha-se elevado
Forçando a carregar braços a mais.
De tal forma era o número aumentado
Que,com fomes e apertos sem iguais,
Ao mar encapelado se lançavam
E da bruta força humana escapavam !
(59) - Homens,mulheres,eram amarrados,
Corpos rapados,nus,ali estendidos
Uns contra os outros postos,alternados,
P'ra aproveitar espaços já vendidos.
Os naturais alívios ali obrados
Entre os líquidos,gazes expelidos,
Mais parecendo fétida estrumeira
Duravam assim a viagem inteira !
(60) - No mar alto alguma aragem retomavam
Mas presos na amurada que os sustinha
Porque,se soltos,para ele se lançavam
Pondo fim à vida,o que não convinha !
Se uma greve de fome preparavam
O chefe p'ró cutelo se encaminha,
Sendo em pedaços todo ali cortado
E servido como carne de gado !
(61) - Outros são repicados mesmo,aos poucos,
E as feridas com pólvora tratadas,
Mais gemendo e gritando como loucos,
Sem nada lhes fazer,de mãos atadas.
Os condenados fazem-se de moucos
Vendo nisso suas almas libertadas,
Despedem-se em risadas e uns abraços
Até um dia,no santuário dos espaços !
62) - De volta traziam válidas riquezas
Escondidas no interior procurado,
Logrando as filipinas subtilezas
Qu'os não deixavam entrar p'lo seu lado.
Com fingido desastre e falsas proezas
Outro bem maior negócio haviam achado,
Sendo encobertos nas dificuldades
Que tivessem com as autoridades.
(63) - Dos reinos com reservas se propunham
As leis restritas,novas e apertadas,
P'lo que para si só logo supunham
Umas alheias terras logo conquistadas.
Temerosos da perda a que se expunham
E por estranhas mãos arquitectadas,
Aplicavam ao lusos uma pena
Não os deixando aportar a Cartagena.
(64) - Depois um novo acordo combinaram
Que permitia maior venda de gentes;
Em porões carregados os embarcavam
P'ra certos "assientistas" exigentes.
Uns outros ali rápido chegavam
Da fortuna mais fácil muito crentes,
Ficando os castelhanos c'o fracasso
Porque primeiro alguém passara o laço.
(65) - Com planos sempre vistos,conhecidos,
Entravam p'lo interior bem mais adiante,
Fugindo aos fiscais,sempre perseguidos,
Sendo nisso sabido o traficante !
Então os altos poderes precavidos
Lhes caíram por de cima num instante,
Ficando os lusos muito infelizes
Mas pouco perdiam nesses tais deslizes.
(66) - O feio ramo da lei assim reprovado
Por todos lados mais fomentava,
Sendo bem grande o lucro resguardado
Com o pouco que cada um lhes pagava.
À corte o fumo já tinha chegado
De quem do triste modo negociava,
Enfraquecendo os fundos de sua coroa
Que em dinheiros andava mesmo à toa.
(67) - E um,de Angola bem alto mandatário,
Sem vergonha ao negócio se metia;
Na volta seria preso esse usurário
Enquanto contra um outro se procedia;
outras questões com Álvaro,o falsário
A sua culpa aumentada mais veria,
De tal modo que a vida ia fugindo
Não obtendo o plano que andara curtindo !
(68) - Esses chefes sentados no poder
Eram em muitas coisas os primeiros,
Que outros perante si haviam de perder
Ficando as terras sem nenhuns rendeiros.
E pelo sertão doentio os seus iam ser
Tanto como eles,muito interesseiros :
- Bons e fáceis negócios fechariam
De escravos e fazendas que vendiam !
(69) - Fernando, filho d'algo, de Toledo,
Conseguia uma licença p'ra uns milhares
Enquanto a rainha doutra fé e sem medo,
Sendo aliada, tomava rudes ares
Ao formar sem reservas e bem cedo
A Companhia de certos dos seus pares
Que, em exclusivo, logo negociavam
E n'alguns anos seus cofres inchavam !
(70) - E superaram logo os holandeses
Dominando o negócio em tais oceanos;
Ultrapassando os próprios portugueses
Abateram seus barcos tais fulanos!
Armados em corsários,muitas vezes
Retomavam as cargas dos "hermanos";
Mesmo o açúcar que em Nantes negociavam
Era a troco de escravos que levavam !
(71) - Até um rei negro e sua corte vendiam
Depois de seduzidos em cilada,
Que as palavras assim nada valiam
Entre gentes de má fé demonstrada.
Nova Companhia logo formariam
Apoiados p'lo cardeal nessa jogada;
A Colbert noutra até mais ajudaria
Com certo monopólio que fazia.
.................................................
(72) - Nos quimbos e nas feiras levantadas
Surgiam povos e muitas personagens
Comprando escravos com moedas douradas
Ali chagadas por cegas vantagens;
E assim fizeram incursões ousadas
Com base nos presídios, fins de viagens,
Nascendo muitas terras e mais gentes
Pioneiros do sertão, rudes, tementes !
73)- Com os zimbos e búzios escolhidos
Por gentios em negócios satisfeitos,
Ignorando os escândalos,perdidos,
Que depressa dariam maiores proveitos,
Voltavam os danados convencidos,
Cheios de lucros ganhos sem direitos,
Obtidos com feios modos,comerciantes,
Mais deixando alguns negros bem radiantes!
74) - Outros, Campo e um Martel, bem preparados,
Com enormes riquezas se abotoavam,
Pelos muitos escravos transportados
Das costas Índias, em que os esperavam
De volta c'o ouro e prata carregados,
Que os mais antigos mestres facultavam
Sendo tratados de modo especial
Porque o sonante abafa todo o mal !
75) - E sentado num Cabo pedregoso
Estava o negro ancião se recordando,
Cos olhos no horizonte,bem receoso :
- Quantos filhos seus foram transportando
Certos negreiros pra um fim duvidoso,
Sob controle de pérfido comando,
Sem esperanças de os voltar a ver
Em seu mais triste e trágico viver ?!...
................................................
* -- CANTO VII - DOS ATAQUES HOLANDESES À RECONQUISTA - (103 estâncias)-
1) - Os mares muito turvo se tornavam
Por algumas escuras, feias razões,
Doutros que o rico Reino desejavam
Cheios de cobiça e ódio de ladrões;
Para o interior as tropas não marchavam
Poupando as fracas forças e os canhões,
E,deslocando-os antes para as costas
Protegiam-se das naus ao largo expostas.
2) - Da outra banda dos mares oceânicos
Chegava triste nova de espantar,
Que plebes calmas já punha em pânicos
Das coisas que por certo se iam passar:
- Velas grandes, tamanhos titânicos,
Preparavam-se para os atacar !
Sendo fraca a defesa residente,
Temerosa se punha toda a gente,
3) - Mas, suspendendo um pouco essa eminência
Os reservados, cautos holandeses,
Sabidos da possível resistência
Comum em muitas lutas e revezes,
Prosseguiam com mais pérfida violência
Sobre alguns desses pobres camponeses,
Sondando talvez aos poucos os caminhos
Pra ver que haveria entre esses ninhos.
4)- Do Reino viera Sousa acelerado
Pelas andanças velhas e sabidas,
Deparando co adverso regressado,
Já esquecido das lutas fraticidas;
Os outros reinos tinham explorado
Mas com alguns auxílios e feias vidas,
Pelo que cada um teve o julgamento
E recebeu seu justo punimento.
5)- Ao regressar obteve a informação
Da presença das forças estrangeiras
Na baía lançando fogo e perdição
Nas suas bem conhecidas maroteiras.
Em Corimba se pôs em prevenção
Frustrando-se assim às unhas traiçoeiras,
Enquanto o Bispo, com sua fraca tenda,
As primeiras derrota sem emenda.
................................................
(6) - Teve no entanto muita mortandade
Sendo o seu pelotão logo vendido,
Alguns fugindo rápidos p'ra herdade
Já que o resto queimado tinha sido.
Indo um outro tomar a autoridade
Que,disso,por Simão fora incumbido,
Bem melhor preparara a sua defesa
Com gente mais nova e de certo tesa !
(7) - Mas um trombeta esperto e fugitivo
Que antes ali estivera degredado,
Logo descobria o plano primitivo
Informando o inimigo desconfiado,
Que por essas razões bem aflitivo
Mudava o cerco para um outro lado,
Onde antes Ferrão ficara ardiloso
Mas a custo fugira pressurouso.
(8) - Após muito cansaço e sofrimentos
Tidos com Manisonho e uns descontentes,
Esse Bispo obtivera os elementos
P'ra expulsar dali nuns breves instantes
Holandeses de pérfidos intentos
Porque nesses comércios inconstantes
Arruinavam o luso e seu trabalho
Como batendo ferro frio c'o malho !
(9) - Sob fogos danados iam fugindo
Os tais nassaus, da baía bem apressados,
E,enquanto uns outros foram ali caindo,
Ficavam seus estragos aumentados;
Uns lusos,junto às costas,não dormindo
Perante indiferentes refugiados,
Armavam alguns pouco vulneráveis
Que á causa se mantinham bem prestáveis.
(10) - E as partes ocidentais distantes
Onde a custo Cabral desembarcara
Naqueles seus esforços incessantes
Com o que a justa glória conquistara,
Tomadas por luteros navegantes
Como se a terra lusa não a guardara,
Caíam em perigos,riscos sem alentos.
Por perder suas riquezas e proventos.
(11) - Os portos,aos intrusos interditos,
Eram na mesma sempre utilizados
P'los inimigos novos e malditos
Sem chegar os esforços precisados.
Com alguns comerciantes mais aflitos
Aqueles nassaus ainda tão danados,
Andavam para os reinos do interior
E obtinham lucros de muito valor.
(12) - Grandes riquezas eram transferidas
Doutras partes lendárias,orientais,
Sendo com grandes margens bem vendidas
A troco de produtos naturais,
Em concertos das plebes convencidas
Sem agrado,e sem cobiças desiguais,
Com as que todos bem comprometiam
Em fartas luvas mútuas que auferiam.
(13) - Mas um Forjado e esperto lusitano
Em vendo nisso causas detestáveis,
Evitara alargar depressa o dano
Porque as reservas não eram infindáveis;
Hesitante no Congo,o soberano
Cedia com atitudes mais maleáveis,
Deixando prolongar-se a situação
E perdendo por tal a boa ocasião.
(14) - O forte nesse Pinda já precisado
Não ergueram,como já se pretendia,
Porque a nenhum acordo haviam chegado
Pela razão que então mais se escondia.
Mas os naturais tinham constatado
Outras vantagens de melhor valia :
- Dobrando com ardor as suas cobiças
Mais lucravam as gentes metediças !
(15) - Pelas costas os fortes levantavam
Já prevendo surpresas perigosas,
Mas outras coisas feras preparavam
P'ra pelejas,de certo bem danosas;
Donde c'o metal práteo mais sonhavam
Logo traziam matérias belicosas
Fazendo densas bolas que escondiam
Co'as redes com que depois pescariam.
(16) - Os que fugiam da luta,temerosos,
Eram presos,mandados de regresso,
Pela razão de serem bem faltosos
E havendo nisso pátrio e novo apreço.
Com pedidos ou factos rigorosos
Mantinham sempre o rápido processo,
Logo aguardando alegres e confiantes
De mostrar o valor que vinha dantes!
(17) - Passava o tempo sem contrariedade
Deixando num descanso a lusa gente,
Onde alguns duma avançada idade
Mas sem temor se expunham bem de frente.
E não seria com pouca raridade
Que surgia alguma mulher mui contente
Ajudando sem medo o seu marido,
Mal fora a dor de ter parido !
(18) - Quando ao longe surgiram inimigos
A perseguir um barco sevilhano
Que deu num baixios de muitos perigos
E nas garras do dito desumano,
Soaram rudes canhões,talvez antigos,
Tremendo com o ruído lusitano
Que assim justo castigo mais se impunha
A quem pretendia ali meter a sua unha !
(19) - E no dia seguinte,ainda bem teimosos,
Vinham descendo em lanchas apressadas,
Com gestos,rumos vários,enganosos,
Do seu falso papel elucidados !
Porém dos fogos calmos,rigorosos,
Não sendo por cautela à toa dados,
Fugiam,para detrás de pressa andando,
(P'ra tal nem precisavam de comando!)
(20) - Mas com tiros ao largo continuavam
Ainda descrentes desse resultado;
E as suas perdas e danos superavam
Numas outras que tinham resgatado;
E com novos desastres se gastavam
Em pequenos ataques dum só lado,
Que o bem astuto Sousa ali os mantinha
Mas defronte,porém,mais se encaminha.
(21) - Confiados em acordos existentes
Com soberano já morto e esquecido,
Viam cheios de pena que eram diferentes
Nem compensando o tanto prometido;
Desculpavam-se aquelas ledas gentes
Que,por cobardia não tinham fugido,
Mas por inesperados,feios tormentos,
Superiores aos fracos valimentos.
(22) - Depois subiram rápidos ao Pinda
Fazendo alguns negócios vantajosos:
- Panos de estimação surgiram ainda
Para os negros em tal não descuidosos.
Assim,de novo a guerra foi ali finda
Com o Sonhador,mais seus respeitosos,
Acordando em fazerem a expulsão
Dos nassaus para a sua vera nação.
(23) - Mas,outros interesses ressurgiram
Que as pazes lançariam no esquecimento;
Mais roubos e negócios se faziam
Com escondido e falso valimento,
Muitos dos lusos neles se metiam
Buscando melhor paga por seu intento,
Deixando que mais tarde retornassem
E deste assento as rédeas conquistassem.
(24) - Em aventura heróica e destemida
Alguém das feras vistas se fustrou,
Indo ledo a Coutinho,de fugida,
Comunicar-lhe quanto se passou.
Este logo planeara a repelida
E duas fortes naus com tropas armou,
Tal que em chegando perto do inimigo
Depressa o venceu sem maior perigo.
(25) - Mas com isso a fraqueza renascia
P'las perdas de alguns válidos valores;
Tudo com mágoa se perdia
Estando o resto caído e sem favores;
E não caíra com falsa cobardia
Como os amantes em falsos amores,
Mas provando bravura,peito em frente,
Defendendo-se com feridas,doente !
(26) - Essa mole de gente degradada
Que os crimes atirara no castigo,
Defendeu com valentia denodada
Sem receio d'enfrentar novo perigo.
Também Landim,com fé de si esperada,
Naquela taipa fraca sem postigo,
Ofertara danada resistência
Até cair em completa decadência.
(27) - Mas concordaram com boas condicções
Ficando dominados noutra calma,
Renascendo nos nobres corações
O despertar de nova e maior alma;
Tendo lucro e melhores relacções
Porque no bem o mal sempre se espalma.
Logo surgira o bom entendimento
E a luta se transformou em casamento !
28) - O peso estranho já os incomodava
Pressentindo-se certas realidades,
Que toda gente séria murmurava
Noutras maiores e vãs dificuldades.
Do reino principal então chegava
Socorro e tropas de boas qualidades,
Mas,contrariando alguém tal atitude,
Talvez por ver nos outros mais virtude !
29) - E de Benguela, rápido um enviado
Para saber das novas escolhia,
Que foi p'la hoste porém logo apanhado
Seguindo o rumo que ela levaria.
Nesse Quicombo,já em versos cantado,
Ao desembarque então procederia,
Indo para o presídio protector
Onde resistiam com muito valor.
30) - Contudo a sorte foi-lhes contrariada
Nas lutas frente aos Jagas conhecidos
E de força guerreira bem formada
Sendo disso desde há tempos sabidos.
O destino da vida atormentada
Desviara um natural desses fugidos :
- Nem se sabendo ao certo as suas razões
Seguira a dar parte aos novos patrões.
31) - Concluídas essas guerras se instalavam
Superando as obrigações impostas,
E as raízes de uma nova classe armavam
Vergando com o peso velhas costas;
As povoações melhor assim ficavam
Ocupando com paz ricas encostas;
Procedendo ao contrário,se dizia,
Que o gentio ledo a todos mataria !
32)- Cézar Meneses,sendo indigitado
Pro governo d' Angola nesses eventos,
Soube por Landim, noutro colocado,
Das desgraças e graves argumentos.
Tiveram um apoio logo chegado
Ficando muitos alegres p'los bons ventos,
Passadas que eram tantas privações
E outras feias ou apertadas aflições !
33)- Esse outro Reino fora combatido
P´lo ataque de inimigos bem teimosos
Que tanto dano já haviam infligido
Com os seus ideais feios e cobiçosos.
Algumas naus porém tinham vencido
Dominando as entradas, mas ansiosos
Por avisarem Loanda com urgência,
A quem na defesa havia competência.
...................................
(34) - E mais insistia o régio e douto termo
Acordar c'o do Congo retirado,
Não satisfeito com o estado enfermo
Em que o poder andava mergulhado.
Mas, não perdendo tempo em qualquer ermo,
no Penedo outro forte fora obrado,
Guardando a entrada,qual bom vigilante
Da morte lenta já pouco distante.
(35) - Mas,farto desse peso desumano
E com um amor pátrio nunca tido,
Valoroso se erguia o fervor insano
Contra tal jugo alheio e bem conhecido,
Obrando pela sombra,mas ufano,
Que bom é,por cautela, ser temido.
O brigantino fiel ao antigo valor
se vingaria do incómodo invasor.
(36) - Tudo a postos,em válida cautela
Numa invernal manhã se preparavam:
- Uns,ocultos p'las sombras duma viela,
Outros,entre os incautos que passavam,
Avançam co'a esperteza mais singela
Logrando alguns amantes que gozavam,
Em sonhados prazeres esperneando,
Nesses modos ingénuos se enganando !
(37) - Ocupado o palácio de improviso
Perante o povo parvo de admirado,
Que bem alegre já subira ao piso
Ajudando com fé o assaltante ousado;
Com vingança e sarcástico sorriso
Um fora p'la janela atirado,
Sendo seu peito aberto com perigo
E acabando assim com esse inimigo !
(38) - As nova voaram ao outro lado oceânico
Pelas terras da Baía e dalguns comandos,
Sujeitos ao mesmo peso titânico
E certos de tornar livres os mandos.
Com festejos grandiosos,já sem pânico,
Ficaram satisfeitos e mais brandos,
Gozando com delícias a vitória
E pondo em franco peito nova glória.
(39) - Mas,el-rei Quarto,sábio e prevenido,
Tomara normas firmas e seguras
Ficando todo o Reino protegido
Porque tinha custado vidas duras.
Co'o poder calvinista submetido
De não faltar a santas escrituras,
Melhor velara as terras doutras bandas
E os valores outrora em feia demanda.
(40) - No Reino perdido,aqui distante,
Entre diverso sangue derramado,
Se acolhera com frémito vibrante
A nova do Portugal Restaurado.
Pelas ruas de calor bem sufocante
Com alarido e mui fogo variado
Renascera assim,longe,naquela hora
O alto e adormecido valor de outrora !
(41) - Desde os sertões à costa mais extrema
Era louco o geral contentamento;
Que pode melhor tal chama suprema
Em tão reconhecido valimento ?
No entanto,bem dentro,arde seu sistema
Sem descuidos p´lo chefe mais atento
Numas naus de comandos inimigos
Passando ao largo com certos perigo.
(42) - Em Haia,o tratado já assinado tinham
Dispondo em paz os ovos desunidos,
Mas nem todos respeito mantinham
Que uns capazes disso eram conhecidos,
E,se outros males muito lhes convinham,
Alguns maiores estavam ressurgindo :
- A rainha Ginga e um rei e concertavam
E co'os nassaus acordo confirmavam !
(43) - Nem havia forças,nem boas munições
Na segurança dos erguidos fortes
Onde se recolhiam populações,
Para ali sofrerem menos mortes.
Fechados nos presídios aos montões
Os restantes,receosos de suas sortes,
Lutavam contra a imensa hostilidade
Nem sendo respeitada cada idade.
(44) Pelo horizonte roxo e ameaçador
Espelhado no mar calmo e traiçoeiro,
Num dia bem triste,já quase ao Sol pôr,
Surgia novo sinal do desordeiro !
Eram tamanhas naus,de mui terror,
Repletas do ambicioso garimpeiro,
Sem respeito p'lo acordo que fizera
Optando mais ganhar assim quisera !
(45) - Ordenadas pelos falso mauricianos
E por um "pé-de-pau" sendo chefiadas,
Limitavam com malfadados planos
As águas lusas já de si apertadas.
Muitos eram os tais índios fulanos
E várias gentes longe recrutadas;
Na cegueira de nova investidas
Deixavam suas terras desprotegidas.
(46) - Mas o prudente César ia ao Penedo
Estando noutro lado seu adversário,
Logo descendo rápido e sem medo
Sendo grande entre os povos seu fadário
Por perder o reduto,como um feudo,
Outrora erguido em fé p'lo visionário,
Crente dos seus altíssimos valores
Não sonhando com tantos invasores!
(47) - Relembravam-se daí acordos antigos
E combinados c'os Membros Gerais,
De não serem dos lusos inimigos
Nem se portarem feitos uns rivais.
Afinal não ficaram bons amigos
E tendo o alto poder mandado mais,
Logo enganam o chefe descuidado
Supondo estar o mal quase acabado.
(48) - Numa defesa heróica se meteram
Aceitando com mágoa essa derrota
Porque os alheios valores combateram
Como nem se vira em Aljubarrota,
Qu'outros milagres tais sempre fizeram
Sendo a sorte no entanto mais remota,
Ali tombando vários dos perdidos
E perecendo os peitos mais feridos.
(49) - Palmo a palmo era a terra acometida
Recuando o luso com justa cautela,
Sendo melhor poupar nessa hora a vida,
Para depois gastar noutra parcela.
Vendo ainda a solução mais preferida
Não quisera Menezes sair da viela,
Que com o peito em mágoa se perdia
E nada deste mundo lhe valia !
(50) - Fugira algum do povo espavorido
Buscando protecção bem mais segura
C'o umas parcas reservas fornecido
Contra a fome apressada,fera e escura,
Porque aquele sertão ora adormecido
Era mais firme que outra desventura.
Temendo antes,além da natureza,
Os danados efeitos da vileza!
(51) - Levava cada qual o mais que podia
Entre coisas suas e outras da defesa,
E o que em terra por contra ficaria
Inutilizava com fina esperteza.
Um que da antiga fé mui conhecia
Entre o povo ordenava com firmeza,
Naquela fuga dando orientação
O que evitava muita perdição.
(52) - A altas horas daquele longo dia
O povo p'los muceques refugiado
Metia-se em fuga com o que possuía
De mais estimação e melhor agrado,
Passando a que de Bem se chamaria
Para consolação e mais triste fado
Que punha em todo peito a fé perdida.
(53) - E já aos velhos e doentes mais antigos
Os pés se recusavam ir por diante,
Assim sofrendo a vida tais castigos
Como frente à donzela o fraco amante !
Nos descansos cautelosos,com perigos,
Recolhiam do caminho fatigante :
- Em Sequeli tiveram protecção
Com duvidosa água e alguma ração.
(54) - P'los carreiros do Bengo,cuidadosos,
Alguns mestres ajudas ali prestaram,
Assim logo tornando bem grandiosos
Aqueles que uma fé sempre portaram.
O chefe,tendo junto a si uns valiosos
Que sempre a amada Pátria respeitaram,
Manda-os para irem rápidos ao Reino
Dando novas,pedindo melhor treino.
(55) - Um padre e um capitão dos mais sabidos
Em muitos feitos de armas elevados,
Nalguns patachos mal abastecidos
Logo se apartam sem serem notados;
Indo as hostes por fortes conhecidos
Co'o outras vindas de pontos afastados,
p'los caminhos travaram duras lutas
Tornando ainda as tarefas mais brutas.
(56) - Como p'la força pouco resultava
Entraram ambos chefes em contacto
Sem que a nada de jeito se acordava
Co'a recusa em afirmarem novo pacto.
Cada um ao seu feudo próprio regressava
Mas,vendo o nassau seu poder intacto,
Outros novos escravos seduzia
Por ser o que mais ali pretendia.
(57) - Ainda recuando,os povos em fugida,
Lutavam com bravura p'lo caminho
Contra tanta hoste negra convertida
Ao agrado do mais pérfido vizinho,
Porque cada qual toma da medida
Em que encontrar melhor casa e carinho,
Mesmo que depois só,fique sem nada,
E outro a rir,de barriga bem inchada !
(58) - A fortaleza antiga e venerada
Se mostrava risonha e protectora,
À gente velha,tão desesperada
Nessa perdida,feia e tenebrosa hora,
Em batéis de fraqueza demonstrada
Logo subiam alguns pelo rio fora,
Não suportando mais essa canseira
Em região com morte em tanta maneira !
(59) - Mas os malvados,falsos calvinistas,
Nem fracos ou mulheres respeitavam,
Efectuando abordagens imprevistas
Aos barcos que com custo se raspavam;
No rio afogaram leis,contas não vistas,
Que com tanto trabalho preparavam,
Fazendo fitas bem estranhas,falsas,
Nem parecendo de homens tendo calças !
60) - Pelo imenso sertão,quase escaldante,
Lá seguiam com tristezas e enfermados,
Expondo-se ao perigo ali constante
Dos animais ferozes,esfomeados;
Passam Lucala,grande rio,arrepiante,
Sendo alguns pelas águas arrastados
Com as pedras e paus,forte corrente,
P'ra Neptuno levando aquela gente.
(61) - Penosa foi essa fuga salvadora
Pró forte que com suor fora ali erguido,
Gigante dominando naquela hora
Que andava o povo um contra o outro metido,
Mas,além da matéria construtora,
Entre pedras e barro e barro constituído,
Ali restava a Fé que iluminara
E a tanto sacrifício os transportara !...
(62) - Sentinela e vigília no descanso
De que merecia o povo fatigado,
Espiasse com astúcia o ledo avanço
Do inimigo raivoso e mais zangado !
AS terras amparaste no remanso
Alongando por todo alto povoado,
Que,calmo,no teu braço descansava
Certo que esse valor não acabava !
(63) - Com o tempo em tristeza decorrido
Mais estendia o nassau seu poderio
Por terras do passado conhecido
E onde houvera pacífico gentio;
Vingança do destino espavorido
Tornara um solo calmo em doentio,
Morrendo certos de muita valia
Que mesmo o "coxo"jamais mancaria !
(64) - Prosseguindo porém os insolentes
Ganhava noutro Reino sem detença,
Nada valendo aos poucos resistentes
O sacrifício heróico e a velha crença,
Os menos designados e os valentes
Preferiram arriscar do sertão a doença
Antes que se entregar a um inimigo
Que nem mesmo o irmão tinha por amigo.
(65) - Ao Reino ,vindo dum outro distante,
Chegara o mensageiro pressuroso,
Suplicando ao "Conselhos" hesitante
Pelo acordo de há muito faltoso;
Sem obter resultado edificante
Indeciso ficava e desgostoso,
Vendo que tudo se estava então perdido
(Tanto suor e vida havia consumido)!
(66) - Duns,a morte se tinha apoderado
Ficando a pouco o mando reduzido,
E até o povo faminto e empeçonhado
Poderia ser,bem fácil,submetido
Ante o perseguidor mais arrojado
Que prestes pelo rio já tinha subido,
Ambicioso em tomar novas esferas
Pois há muito afiara suas garras feras.
(67) - Cada dia as privações mais aumentavam
Pondo as vidas em rápido perigo;
Não crentes no socorro desandavam
Sendo a fome bem pior do que o inimigo!
Negros p'los arredores capturavam,
Alguns deles com um valor antigo;
Derrotando também certos sobados
Ia Bruto com uns tais dos seus soldados.
(68) - Aos poucos,esses desleais invasores
Logo perdiam terreno mui valioso
E,de submissos,agora vencedores,
Constituíam um facto poderoso.
Na América,válidos senhores,
Dominando de modo indecoroso,
Um por um,todos já se iam sucumbindo,
Muito mais forte o povo se sentindo !
(69) - E voltando cansado da jornada
Que com grande valor interferira,
Chegava com a paz assegurada
Dornelas,que no Reino a conseguira.
Ficara a gente logo transtornada
Assim que tal acordo ali se ouvira,
Mais a salvo restando todas vidas
De tantos males bem secas,curtidas.
(70) - Outros estavam pelo alto interior
Fugidos do seu feudo sem defesa,
Acampados num ponto superior
Que era Caconda,bem segura mesa;
Lá tivera seu fim bastante pior
Landim que nele houvera singeleza
E onde fora valente e destemido
Mas ao clima não tinha resistido.
(71) - Diogo Gomes estando ainda a lutar
Contra uma desenfreada rebeldia
Que os nassaus começavam a instigar,
Viu que sua liberdade arriscaria.
Mas a paz continuava a negociar
Sem nunca restar muita garantia,
Mantendo os povos em certos apuros
Sem que cada qual saísse dos seus muros !
....................................................
........ (em actualização) .............
(72) - E assim,ficando o caso resolvido.
Acampavam num lugar de boa aguada
Entre o Bengo e Golungo protegido
Mas ainda melhor p'ra certa pousada.
Cada qual a sua cubata havia construído,
Uns deles quase nem gastaram nada,
Crentes que ali nascesse um seguro horto
Sem medo de acordar c'o corpo morto.
(73) - Outros, vindos do exílio voluntário
Lá pelo sertão inóspito e ferino,
Encontrariam no Gango bom fadário
Com repouso e consolo feminino.
Velava cada parte o sono diário
E as sortes do pacífico destino,
Enquanto o malfadado pensamento
Já punha o usurpador em movimento !
(74) - Assim,estando a lusa gente adormecida
Em religiosa e boa,doce esperança,
Logo surge traiçoeira,escondida,
A rude,mesquinhosa e vil vingança !
Ao Universo dos sonhos transferida
Em subida e invejável liderança,
Estava uma mulher se confortando
E entre doces carícias saboreando :
(75) - Eis que Morfeu muito assustado,
Coberto de sangue,em feia compostura,
Ferido o peito forte,alto,manchado,
Espanta e terrível sua figura !
Algo de estranho por certo se havia dado
Vindo desvendar de sua cobertura:
- Sendo o povo enganado desde há muito
Não seria talvez por caso furtuito!
(76) - E tais coisas medonhas lhes contava
Em confidência muito generosa,
Da rude traição que se aproximava
Com sua garra terrível e danosa !
Essa gente tranquila descansava
Dos maus gestos e modos não cuidadosa;
Cada dia bem mais caro iriam pagar
Porque outros nisso só haviam de andar!
(77) - E tudo que de mais valioso tinham
Com certas coisas de menor amor
No meio dum alvoroço desencaminham
O falso e o mais esperto usurpador.
Mas entre tantos presos que detinham
Por estava César de penhor
Que era a presa maior e conveniente
Por ser muito temida entre sua gente.
(78) - Numa condenação logo aplicada
Seguiam uns para partes mais distantes
Em uma fraca nau,desmantelada,
E de sua triste sorte ainda ignorantes;
P'ra alguns outros a morte foi julgada,
Extinguindo valores relevantes
Em já bastantes lutas vencedores
Mas agora nas mãos de infiéis traidores !
(79) - Com certa sorte,boa e favorecida,
Fugiram os restantes apresados,
Que tinham no sertão melhor guarida
Nos restantes presídios conservados.
Aí o seu valor e a fé fortalecida
Por entre sacrifícios elevados
Alimentavam doces esperanças
De vingar algum dia aquelas matanças.
(80) - E disso sempre então ali desejosos,
Erguendo-se da suja e porca lama
Não deixaram de ser bem valorosos
Quando no peito a mor justiça clama;
Puxando p'los escudos defeituosos
Porque mais valorosa seria a chama;
Em urgentes e válidos rompantes
Pois assim sempre foram todos dantes!
(81) - Então,duma prudência bem medida,
O falso nassau rápido se enchera
Demonstrando-se sua hoste arrependida
Do que em tanta perfídia cometera.
Um natural,de força conhecida,
Logo aos mares por mando se metera,
Porque as obras de sério e bom conceito
Só devem ser para os de duro peito.
(82) -Mas por tudo isso alguns mais desejavam
Com antigas e pérfidas cobiças,
Porque só feias paixões lhes despertavam
Em sendo fraca a força das Justiças.
E com nova traição assim se vingavam
Dessas lutas e posses metediças,
Quando final o mesmo pretendiam
Dumas ilhas que à vista quase se viam!
(83) - E retido entre tais castigadores
Lá continuava César descontente,
Pensando noutros mais altos valores,
Esquecido em presídio diferente.
Seus amigos porém,animadores
E cuidadosos no bem de toda a gente,
Buscavam com reserva o caminho
Para o tirar daquele infernal ninho.
(84) - Dali saíam muitos negros carregados
P'ra escuros negócios,bem valiosos,
Sem que para tal fossem revistados
Com falsos intrusos ou enganosos;
Dos factos por alguém comunicados,
Sendo os lusos sabidos e manhosos,
Logo,entre eles Menezes se passava
Tão ligeiro,que quase sem asas voava !
(85) - Esperam-no suas hostes satisfeitas
Preparadas p'ra rápidas fugidas,
Porque,por certo as outras o'as desfeitas,
Com êxitos nas fugas mais perfeitas
Chegam às fortalezas conhecidas,
Onde ficaram todos bem contentes
Porque mais na derrota estavam crentes.
(86) - E o seu velho valor logo mostravam
Já que de novo surgiam adversários
Que também noutras terras atacavam
Sem saber do local caminhos vários.
O capitão e outros ágeis manobravam
Expulsando-os daqueles seus santuários
Por certo outra sua fé lhes dava ardor
Com mistérios subindo o seu valor.
(87) - Com Sequeira e Mendonça,conhecidos,
Que antes haviam ido à nova conquista,
Regressam elementos mais distraídos
Defronte os jagas,coisa pouco vista!
Mas,em Cambambe,os corpos dos vencidos
Serviam de refeição nunca prevista,
Dali fugindo poucos dos restantes
Para junto os novos navegantes.
(88) - Reforços de algum reino recebiam
Com um novo comando e novas gentes,
Que era Souto Maior e o mandariam
A salvar dos perigos eminentes.
Sem serem vistos,rápidos subiam
O grande Catumbela p'las duas frentes,
Onde acordavam largas relacções
Pondo em mais esperanças os corações.
(89) - Repousara na praia bem deliciosa
Donde Quicombo pouco distanciava,
Com vigilância e guarda numerosa
Que a defesa melhor ora cuidava.
Porém,outra reserva cautelosa
Desviara-o do que muito manobrava,
Sendo a ordem por si logo respeitada
E cumprida como lhe fora mandada.
(90) - Pela combinação que assim fizera
Deixou o Reino indo para aquela via,
Reforçando-a com tropas que escolhera
Por entre os degredados que ali havia.
Mas cousa triste e má,menos sincera,
Fazia o que estava nessa moradia,
Logo botando fora toda gente
E mudando-a p'ra parte diferente.
(91) - E desse modo tão desesperados,
Passando negra fome e privações
E vendo seus esforços mais fustrados,
Tomaram rumo para outras posições.
Era a paga por serem dedicados
Perdendo ainda suas ricas provisões,
Ganhas com suor dos físicos feridos
Nas lutas e acidentes sempre havidos.
(92) - Surgiria essa Caconda acolhedora
Qual qual oásis em desértica região
Entre gente que não quis ser traidora
Recebendo em alegre comoção.
Nisso um negro servo,naquela má hora
Chegara longe com dedicação,
Dando-lhes parte do que havia colhido,
Sendo logo p'los outros compreendido.
(93) - Tinham passado os limites antigos
Doados em donatária singular,
Alcançando sobados inimigos
Num derradeiro esforço e sem vergar.
Arrastados por sonhos e perigos
Entre decepções duras de aceitar
Iam comprando os escravos precisados
Para ainda mais além serem chegados.
(94) - Para trás iam ficando as outras eiras
Andando sem temor,sem arrepio;
Muitos faziam fortunas verdadeiras
Mas explorando à toa o triste gentio :
- Tirados das libatas costumeiras
Fugiam p'los matos de clima doentio,
Mesmo com novas ou velhas idades,
Desalojados das suas propriedades.
(95) - E nisto Souto Maior ali ficava
Sem alcançar quanto houve pretendido;
Tudo depressa já desmoronava
Mas sendo outro o governo constituído,
Que desta feita com três se formava
Aguardando o reforço prometido,
Desviado por uns novos territórios
Crescendo os holandeses seus empórios;
(96) - Os governantes nunca se entendiam
Nem nas disputas podo orientação,
Quando em Cavala os nassaus mais venciam
Com o apoio duns milhares da região;
Mas depois em Muxima os vingariam
Pondo-os em desordeira deserção,
Ficando pelos montes estripados
ou de medo no Cuanza encurralados.
(97) - Um certo capitão nado na terra
Os apertava com outras lições,
O invasor vendo quanto ali encerra
Começa de se acoitar nos porões;
Mas,dentro do Presídio, a fome impera
Agravando ainda mais todas questões,
Ficando apenas um a governar
Com apoio dos que não acedem ficar.
(98) - Na altura chega a Loanda o SALVADOR
Comandando uma esquadra poderosa,
Vindo por ordens d'el-rei,seu senhor,
P'ra acabar com aquela luta odiosa
De quantos queriam só como penhor
Os escravos e a tal pasta melosa,
Alterando o que os lusos mantiveram
Nesta terra em que tantos lhes nasceram.
(99) - Depois de muita gente no mar caída
Ali estava o poder do lusitano
Para cuidar com mais honra a ferida
Que lhes fizera o infiel e o luterano.
Defronte a inesperada arremetida
Nem sabia como agir o tal fulano;
Tentando com astúcia ganhar dias
Juntava os de outras almadias.
100)- Como Correia de Sá não concordasse
Procuram os ditos um outro amanho
Mas sem cuidar que o luso com disfarce
Mostrava um poderio de mais tamanho :
Bem antes que o inimigo se adiantasse
Finge o general seu valor de antanho,
Descendo a terra todos seus soldados
Tendo a bordo espantalhos espetados !
101)- Logo alcança o fronteiriço e alto Penedo
Levando quanto surgia p'la frente,
Os forte toma e ocupa de arremedo
Que a coragem fazia aumentar a gente!
Em fuga alguns se botam bem mais cedo
Cuidando noutra forma diferente,
Com os fogos danados incendiando
Tudo o que por ali iam abandonando.
102)- Restava por refúgio a fortaleza
Que o encorajado luso ali arremete,
Defendendo-se então a cercada presa
Mas que sem forças já pouco acomete.
De novo Salvador com mais firmeza
Se prepara para honrar seu galhardete,
Quando nota no alto mastro a bandeira
Agora branca, em vez da desordeira !
103)- "Abre-se a porta" dessa "cidadela"
Saindo os vencidos bem envergonhados,
Em número maior e em vária farpela
Entre alas dos vencedores formados.
Metidos depois numa caravela
Dali são p'ra sua terra despachados,
Enquanto por toda a costa angolana
Ardia de novo a chama lusitana !
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..............
...... (FINAL DO VOLUME I ) : "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO").......
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====== --- OBS : - Muitas destas estâncias de : "O MEU POEMA ÉPICO" :
- (Volume I) ---- ("DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" --- estão reproduzidas (com destaque)nos blogues a seguir mencionados, com a inclusão de bastantes fotos de interessantes motivos indígenas, por iniciativa e gentileza (que agradeço)dos seus autores(?),o que bastante valoriza a sua apresentação e que muito me sensibiliza (clicar para obter uma ligação directa) :
-----------------------------------------------------------------------------
---- NOTA IMPORTANTE ---- Não sendo viável nem possível de momento publicar uma outra reedição deste -- "MEU POEMA ÉPICO" (Volume I e de uma outra anterior com as respectivas "ANOTAÇÕES") - e encontrando-se "ESGOTADAS", já estou "colocando na INTERNET" (uma grande parte ao dispor dos interessados) ---- (Também se encontra disponível em muitas BIBLIOTECAS OFICIAIS ---
< DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO >
---- ("sentires sentidos") :
sentirsentidos,blogspot.com/2008/01/do-tejo-grandioso-ao-zaire-poderoso.html
---- (A " ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL") :
afromix.org/html/blogosphere/pays/benin/index.pt.html
---- ("angola do outro lado tempo") :
tudosobreangola.blogspot.com/2008/11/governadores-gerais-de-angola_15.html
===============================================
----- (e muitos outros que indicaremos a seguir ) :
Amadeu Mata2
http://afmata-tropicalia.blogspot.com
https://alph.sib.u.c.pt/?q=note/3250/25/cit
https://um.youtube.com/feed/history
http://observador.pt/especiais/a_em_destaque/
angola.do.sapo.pt/press/htm
angola-brasil-portugal.pt/...ipac.jsp?
angola-brasil-portugal...blogspot.com/VI
angola-brasil-portugal.blogspot.com/2007_0201_.active/html
angola-brasil-portugal.blogspot./2011/06/iii-escravatura-uma-tragedia-universal.html
angola-brasil-portugal.squisabmc-coimbra.pt/plinkres.asp?
Alma Viva - Do Tejo Grandioso ao Zaire Poderoso...Roberto Correia
ISSU.com/sbdflno/docs/bbjan 2011/72
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======== VOLUME II -- "DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO" ========
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------------------------------- PROLEGÓMENO ------------------------------
......."Roberto Correia surpreende. Roberto Correia revela uma estatura que só a proverbial modéstia que o exorna tem mantido oculta.
Os volumes editados de "Angola -- datas e factos",constituindo embora reflexo de um ingente esforço de investigação,não pressupõem os dotes que revela no poema épico de que ora se publica o II Volume.
Ao "Do Tejo Grandioso ao Zaire Poderoso" - o I volume dos novos Lusíadas a que o novo Vate imprime os sinais do seu génio - se segue o volume que ora vem a lume.
Roberto Correia preenche, com as suas estâncias esparsas por XV cantos,a História de Angola de 1482 a 1854, período que encerra um ciclo, a saber, da descoberta do Zaire à do curso do Cunene, que constitui até à última das datas enigma difícil de decifrar,como o Autor revela no poema em que apõe os marcos da epopeia dessa pleiâde de homens que movidos por nobres ideais ( enão se trata de mera figura de retórica) dilataram a fé e expandiram o Império, em concepções que terão de ser perspectivadas pelos quadros da época, por muito que os críticos de pacotilha com os olhos nas "playstations" reverberem a gesta dos nossos maiores.
O talento que Roberto Correia,em gesto jamais registado, alerta aos que elegem a língua portuguesa como Pátria de Pátrias,espelha-se nas oitavas que preenchem páginas e páginas da História de Angola no período em que as lusas gentes se arrogaram a administração de distintos territórios congregados sob o denominador comum da flâmula que era símbolo da Nação que no século XII estabilizara as mais remotas fronteiras no concerto das nações do Atlântico aos Urales.
E com a modéstia de que se traja, Roberto Correia não desfruta em Portugal da aura de que outros bem menos dotados ostentam.
Afinal,as sucessivas edições de "Angola - datas e factos" servem, afinal,de base à epopeia, situada, fundada em factos históricos documentados e, nessa medida, as tábuas cronológicas que em cinco volumes condensou têm inconcussa valia" :
"Não pretendo cantar lutas gloriosas
Desses antigos reis e outros senhores.
Já gabadas em versos e altas prosas
Por alguns de mais rápidos louvores,
Mas sim aquelas duras,perigosas,
As mais negras,sem fim e sem favores,
Desses aventureiros de espantar
Que venceram as terras e o alto mar !"
"Se em Portugal se premiasse o mérito,Roberto Correia seria decerto guindado às mais altas honrarias.
"Porém, a História de Angola que com inspiração narra em estâncias sublimes em que suplanta o Poeta da Raça, conotações estranhas à parte,não interessa ao statu quo português nem às coordenadas de que o regime se vale".
"Só à mole imensa de deserdados da fortuna que houvera de debandar de Angola,em trágicas circunstâncias, revela ainda insuspeita predilecção por quanto os transporte à Pátria que com denodo edificaram,deduzidos os que "se vão desta vida libertando" a uma distância que remonta já a três décadas. Nem sequer interessará o registo às camadas que,assente relativamente a poeira,revisitam a História da Expansão Ultramarina e não renegam o passado,antes se não revêm no miserando abandono que António José Saraiva, na sua independência e honestidade intelectuais, qualificou como "a mais negra página da História de Portugal". Que os velhos próceres do novo poder crismaram,branqueando de "exemplar descolonização",nos desacertos provocados,nas vidas imoladas,na integração jamais concretizada, a despeito das aparências,e no enxovalho maior maior que é a consagração de uma ignomínia com um labeu infamante -- o de retornado -- ,prenunciador de uma capitis diminutio que se colou sempre à figura dos colonos e sua descendência de gerações,nas implicações de toda a ordem que o facto demanda."
"E quando se ouve responsáveis pela tragédia maior, que foi o mais execrável dos abandonos , afirmar em entrevistas, no pequeno ecrã, que (os que ali mourejavam) supunham que viriam de férias pagas na Metrópole com regresso aprazado,conceber se não pode injúria maior...
O facto é que "fizeram o mal e a caramunha" e manteve-se a impunidade que lhes dourou o estatuto em uma trintena de anos.
O facto é que afirmam que houve uma plena integração por nem sequer terem tido - os das naus do precipitado retorno - a veleidade de seguirem pari passu os exemplos dos pieds noirs que aportaram a França após a outorga da independência da Argélia.
"Ofensas agravadas que nem sequer têm paralelo na ignomínia que era o estatuto do indigenato ou a subalternidade conferida aos euro-africanos descendentes de portugueses nascidos em Angola, para as classificações da época.
"Roberto Correia,deserdado da fortuna, amparado nos seus dotes, preenche as horas de todos os dias com o seu poema épico, que narra os que abriram as veredas do sertão,os que "por perigos e por guerras esforçados se superaram e superaram o pendão da Pátria idolatrada".
"Outro fora o enquadramento e Roberto Correia projectar-se-ia,com o seu poema épico,no panorama das letras nacionais.
"Mas a Angola que a História regista é já miniatural caricatura da terra que os nossos olhos floria quotidianamente, qual cadinho em que se fundiram,sem se romancearem factos,dente de distintas pátrias,na pluralidade que era constante, a despeito do regime autoritário sob cujos fundamentos vivemos.
A Angola que ora se perfila condena irracional e destemperadamente qualquer dos feitos que se narram - e os que narram são expoentes de um colonialismo que importa, na sua óptica, execrar veementemente.
"Como registámos,com a alma desfeita, em Angola - datas e factos (5º Volume)- 1961/1975, editado o ano transacto, no seu preâmbulo : ..."Na contramão da História, a terra úbere cujo inventário de riquezas seria sempre passível de rectificação, porque incontáveis os recursos, permanece pobre, paupérrima, condenando às galés as gerações futuras,vergando-se à caridade internacional e escondendo chagas e misérias de mais de três milhões de seres que vagueiam por um espaço sem lei nem ordem nem vislumbre de um simples raio,prenúncio de luz,rasto de esperança,trajectória luminosa rumo ao futuro".
"Um País que teve o direito de colonizar, seguindo o direito internacional da época, tinha o estrito dever de descolonizar. E não o fez.
"E é, afinal,essa a pecha de afectou a vida de milhões de seres que se imputa à mediocridade triunfante do golpe militar e da revolução que se lhe seguiu e se verbera com veemência. Tanta que não há energia que baste para o exprimir. Tamanha que não há veemência que o reflicta.
"Podem,num academismo que choca pela crueza dos termos,os descolonizadores que passeiam o seu ensandecimento serôdio entre nós,louvar-se na meritória obra que legaram, "limpar-se à borrada que fizeram e que é orgulho da senectude delirante em que se dissolvem."
...........
........... Paris,Maio de 2003 .......
--------------- (Transcrição integral do Prolegómeno de MÁRIO FROTA na obra "DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO" (Poema Épico - vol. II - de ROBERTO CORREIA) ---
------ NOTA PRÉVIA de apresentação da referida obra :
------ 1) - Esta obra é a sequência de uma outra intitulada "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - (vol. I - 1 edição em 1990 e 2ª em 1994 -- : um Poema Épico com 7 Cantos e 698 Estâncias, abrangendo o período decorrido desde o início dos Descobrimentos Portugueses até aos meados do Século XVII ).
--- 2) - Este segundo volume do Poema Épico contém 8 Cantos e 670 Estâncias referentes ao período posterior ao final do primeiro volume, até à "descoberta oficial " da foz do "misterioso" rio CUNENE (em 8/11/1854), pelo governador de MOÇÂMEDES, capitão FERNANDO DA COSTAL LEAL, ou seja, cerca de dois séculos de ter sido localizada a sua nascente em CANDUMBO - BOAS ÁGUAS - HUAMBO) - por LOPO SOARES LASSO (-1637 ?) .
Teve por base de elaboração os 2º e o 3º volumes da série "ANGOLA-DATAS E FACTOS".
-- Inclui ainda um completo "Índice Onomástico" ( I - Personalidades e II - Locais).
--- 3) - Encontrando-se esgotadas essas edições de "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - Vol. I - recordo a conveniência de serem consultadas,neste Vol. II, as "ANOTAÇÕES" respeitantes à quase totalidade das suas estâncias, no sentido dum mais completo esclarecimento dos "Factos" nelas descritos.
--- 4) - Além da numeração normal das presentes estâncias em cada Canto, estão as mesmas ainda numeradas em relacção à sua totalidade, sendo esta a utilizada na consulta das referidas "Anotações", o que,por certo, terá mais vantagens e facilidades para o estimado leitor."----- (COIMBRA - 23 de Abril de 2003) ----
- CANTO VIII - "A RESTAURAÇÃO DOS REINOS" - (1/71)-- (1648 a 12/1657) ... 71 Estâncias -
- CANTO IX - "A INFLUÊNCIA BRASILEIRA".(72/143)-(18/04/1658 a 26/08/1669)- 72 "
- CANTO X - "A INEVITÁVEL EVOLUÇÃO"...............(06/08/1669) a (11/09/1680) - 72 "
- CANTO XI - "NOS REINOS DO SERTÃO"-216 - 274 -(11/09/1680)a(03/10/1709)- 59 "
- CANTO XII -"A COBIÇA INTERNACIONAL"-275-368 -(04/10/1709)a 06/1764) 94 "
- CANTO XIII - "OS CAMINHOS DA LIBERTAÇÃO"-369-440-06/1764 a 01/1785) 72 "
- CANTO XIV - "OS MISTÉRIOS DO CUNENE..." -441-568)- 04/1785(08/1837)- 128 "
- CANTO XV -"..ATÉ À DESCOBERTA DA SUA FOZ"-569-670-(08/1837-11/854 102 "
---------------------------------------------------TOTAL ..... 670 Estâncias -
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--- CANTO VIII - A RESTAURAÇÃO DOS REINOS - (71 estâncias) ---
(1) (104)* --- Para esse mesmo Reino de Benguela
Foi então nomeado Gomes de Gouveia
Enquanto outros de sua douta tutela
Fugiram da terrível alcateia.
Muita gente, com boa e melhor farpela
Seguia a santa, de flores toda cheia,
Sendo o colégio antigo recompensado
Porque junto ao palácio era situado.
(2) - (105 )-- Assim caminham para a fortaleza
Com uns santos e santas resguardados,
Sendo sua fé mostrada com firmeza
Entre tantos fiéis e alguns soldados.
Não causara nenhuma outra estranheza
O que logo surgira noutros lados
Já festejando com muita alegria
O fim do sofrimento e vilania.
(3) - (106)* - Outros, enviados à Vila Vitória,
Informavam da nova situação,
Retirando da lusa e boa memória
Tanta desgraça e total desolação.
Mandara recolher, sem mais história,
Todos que se mantinham p'lo sertão
Sendo bem mais segura a capital
Antes que lhes surgisse novo mal.
(4)- 107)*- Novas bases tomaria o Salvador
Já nos seus altos cargos empossado,
Enquanto Vasconcelos, o anterior,
De regresso seria logo embarcado
Sem ter havido qualquer dissabor
E estando sempre o povo ali assustado.
Assim, dois navios seguem p´ra Benguela
Onde muitos andavam sem a trela !
(5)-108)- E ainda o tentaram noutra velha posse
Onde antes havia bom entendimento
Carecendo de um novo e mais precoce
Para completar o seu Regimento.
A grande rainha sem qualquer endosse
Não deveria ficar no esquecimento,
Sendo valiosos seus povos e terras
Desejadas em muitas dessas guerras.
(6)- 109)- Segue lesto Pegado da Ponte
Com carta e muito, bons,caros presentes,
Porque era sempre sábia a melhor fronte
Que adoçava mais bocas de suas gentes.
Regressando os que andavam pelo monte ,
Reforçaram as velhas,fracas frentes,
Cuidando de possíveis investidas
Com origens quiçá desconhecidas.
(7) -110)- P'ra Benguela seguira Frei Barrriga
E para o Reino do Uando os capuchinhos;
Inocêncio compensa essa fadiga
Aos religiosos dos santos caminhos
E,nem havendo queixa sem intriga,
Concede-lhe medalhas,pergaminhos,
Sempre bem recebidos na labuta
Tanto em calma paz ou depois da luta.
( * )
.........................(em actualização) ..................
(8) - 111)- Bulhão passa a dirigir o castelo
Recuperado aos saídos luteranos,
De Benguela resolveram mantê-lo
Enviando dois ilustres lusitanos
Para combater malvado flagelo
Duns tantos,sempre pérfidos fulanos;
Os naturais ajudam essa gente
Porque parecia ser o mais prudente !
(09 - 112) - Diversos sobas foram perseguidos
Fugindo p'ra umas ilhas protectoras
Onde julgam estar bem protegidos
Por entre umas espécies flutuadoras;
O artifício não salvou esses vencidos
Atacados durante algumas horas;
Estavam só com junco alimentados
Sem mais nenhuns produtos ali nados.
(10) - 113) - Novo capitão-mor chega à Muxima
Na intenção da defesa do povoado
Sendo elemento de uma grande estima
E dessas causas já muito habituado.
O de S.Tomé igualmente se anima
E logo o Salvador o havia salvado,
Fazendo o mesmo ao Reino de Benguela,
Protegido p'lo rio de Catumbela.
-(11) - (114) - Falecera ali D. Manuel Pereira,
Depressa substituído por Gouveia
Já antes nomeado para aquela feira
Sempre dita de baía,bem farta e cheia;
Parecia ser a sólida maneira
De impedir o regresso da alcateia
Sendo seus frutos tanto desejados
Por quem não quer trabalhos redobrados.
-(12) - 115)- São Paulo,o município,sem sua cimeira,
Altera a moeda fácil e corrente
Esquecendo a razão real e primeira
De manter a que estava ainda vigente;
Assim continua a folha de palmeira,
Ou de "palha",para a sua nobre gente,
Como outra dos libongos,sendo ditos,
Mais as "macutas" p'ros mais pequenitos.
-(13) - 116)- Em Cahenha surge uma outra missão,
Que Salvador mandara reinstalar
Cuidando da rival navegação
Mas,que pelo Cuanza havia de passar.
Do Congo veio pomposa comissão
Para uma nova paz entabular,
Sendo mesmo obrigado a conceder
O ouro das minas que havia de perder.
(14)- 117)- Para ali segue Paiva Severim
Com uma aparatosa,alta embaixada,
Não sendo capitão-mor até ao fim
Porque sua vida caíra destroçada;
Gutteres seria o novo alvo,o delfim,
P'ra comandar aquela sua empreitada,
Mas nem sempre o desejo vence e alcança
O que parece ter mais segurança !
-(15)- 118)- Salvador nomeia um certo familiar
Para lugar de toda a sua certeza
Pois mais vale antes bem calcular
Do que remediar tarde, sem firmeza;
Mas o governo apresta-se p'ra enviar
Alguma gente,de alta e boa presteza,
Chefiada por um sábio, almirante,
Com a figura e o nome bem sonante!
(16)- 119)- Salvador desejava uma mudança
(a Sé do velho Congo sem demanda),
No entanto não foi aceite a dita andança
Por quem muito mais pode e melhor manda!
Os Índios alcançavam segurança
Mais se livrando por sagrada banda
Da feia e triste,pesada servidão,
Que ainda afectava os de tanta região!
(17)-120)- E Gomes Gouveia fora substituído
Por Nandim no governo de Benguela,
Nem o dito lugar havia aquecido
Nessa tão desejada cidadela!
Regressa o povo,no interior fugido,
Vendo ao lume uma válida panela,
Amparada por tantos militares
Que tornavam pacíficos seus ares.
(18)- 121)-A sua mudança fora então proposta
P'ra Catumbela,como melhor aguada,
Onde a população era bem disposta
E na sua segurança mais confiada.
O Alto-Conselho devia dar resposta
À melindrosa causa, tão complicada
Em questão mais difícil de solver,
Havendo quem tivesse outro entender.
(19)- 122)-Para capital mudam-se os capuchinhos,
Transferidos dum feudo no interior,
Preferindo também novos caminhos
Sem tantas faltas,tanto dissabor!
Instalaram-se,tendo por vizinhos
As personagens altas e o Senhor;
Outros estavam numa igreja e ermida
Talvez com um bom tecto e boa comida.
(20)- 123)- Pelo seu lado tinham mais amigos
Satisfeitos com tão nova presença,
Já bem fartos de tantos inimigos
E doutros sempre prontos à sentença.
Era bom ter a influência dos antigos
Dispostos a uma pronta bem-querença
No meio de alguns perigos,confusões,
Que bastante atormentam corações.
..............................(em actualização ) ......
21)- 124)- A alguns senhores foram desculpados
Os pesados impostos ou tributos,
Já lhes bastando os mal encaminhados
Por vezes desumanos,talvez brutos !
Mas,no seu caso,haviam sido vigiados
Por homens preparados,bem astutos,
Como João Morais,um sargento-mor,
Nomeado com confiança dum mentor.
22)- 125)- Renitente,o inimigo volta ao Pinda,
Para tentar negócios com suas gentes,
Sem se dar por contente,mas porque ainda
Havia tantas manobras em suas mentes!
Não ficando a missão completa e finda
Seguem dois navios logo diligentes
E,comandados por Aguiar Osório,
Coloca-os em silencioso velório.
23)- 126)- Mas,tempos depois foram libertados,
Regressando aos seus mais velhos negócios;
Sem vergonha por serem castigados
Preferiram cuidar dos ditos ócios.
Os vícios e os maus hábitos firmados
Superaram as duas forças e dos sócios
Não deixando vencer tais inimigos
Quando seus males eram muito antigos.
24)- 127)- Para capitão-mor dessa Benguela
Foi nomeado Gregório,altaneiro;
Mas,entretanto em São Paulo,a tal tutela
Era assumida por outro Ribeiro.
Salvador teve válida parcela
Por ser em muitas causas o primeiro:
- A parte da Quilanda mais Pequena
Sendo muito melhor e mais serena.
25)- 128)- P'ra esse outro Reino veio Lemos Landim
Que era na altura o seu governador;
Njimbo espreitava atento entre o capim,
Não estando ainda bem certo do valor.
Depois chegava Aguiar p'ra lhes dar fim
Estando reforçado e sem temor;
Pouco valia tamanha fé e bravura
Porque a vida mais fácil pouco dura.
26)- 129)- Avançara Gusmão bem destemido
E,com valiosas forças compensado,
Teria bastantes mais tropas vencido
Se não houvessem saído p'outro lado
Em busca dum Presídio conhecido.
Cadornega,a seguir fora nomeado
Para vigiar o rio muito caudaloso,
Sendo nessa região mais perigoso.
27)- (130)- Um novo chefe teria de embarcar
Para o controle desses territórios
Numa boa altura p'ra desanuviar
De alguns oportunistas e finórios,
Que bastantes prejuízos iam causar
Não pagando nem sisa nem sucessório.
O Conselho não cede a protecções
E anula familiares nomeações.
28)- 131)- Tendo surgido a dúvida em Benguela
Sobre aquela pretendida mudança,
Porque outros preferiam mais Catumbela,
Pede opinião da central liderança.
Abreu Salema veste sua farpela
E emenda,com rigor e boa confiança,
As faltas da anterior lusa presença
Sem qualquer receio nem fraca sentença.
29)- 132) - Morales conseguira controlar
As tropas aguerridas,desenfreadas,
Nunca temendo tudo ali incendiar
E furtando-se a alheias,grandes manadas!
Foi então Moura p'ra seu lugar
Mas sem lucrar melhorias ou jogadas,
Regressando ao seu ponto de partida
Com pouca gente morta ou mais ferida.
30)- 133)- Reduzindo as hipóteses locais
Nem podiam umas éguas arrear,
Assim restando aos pobres naturais
Suas enfezadas pernas p'ra lutar
E,dirigindo os negros e os demais,
Outro Bartolomeu estava a chegar;
Restava uma nova igreja erigir
Mas sem ter nenhum padre p'ra a suprir.
31)- 134) - As tropas avançam p'ra Massangano
Com alguns capitães e seus sargentos
Apoiados por um ilustre fulano
E agentes dos presídios sem proventos.
Ambuíla, seria o objectivo desse ano,
Com os muitos feridos e sangrentos
Nem escapando o chefe resoluto
Num certo morro muito alto,feio e bruto.
32)- 135)- Outro sargento-mor ali o cercara
Aguardando p'la pronta rendição,
Certas baixas,porém,logo somara
Pois em Ambuíla já faltava o pão.
Uma ordem superior o libertara
Dessa bem apertada situação
Contra a vontade dalguns seus sobados
Que por ali mantinham uns soldados.
33)- 136)- Mais livres desse aperto tão danado
Regressa libertado o à confusão,
Não deixando passar para o outro lado
Um qualquer comerciante da região.
Morais chega de Ambaca,apressado,
Tentando estancar essa rebelião
E,atingindo o rio Dande num instante,
Afugentara Ambuíla p'ra distante!
34)- 137)- Mas,aceitando então preciosa paz,
Regressara com toda a boa vontade;
Trazia bastantes chefes vindo atrás
Acreditando em vã,santa lealdade!
Na verdade essa nem sempre se faz;
Todas as promessas perdem validade
Sendo muito mais fácil apagar
Os que pretendem outros perturbar.
35)- 138)- Uns estranhos ao Cabo chegaram
Duma forma bastante duvidosa,
Local que antes os lusos baptizaram
Na "Esperança" da vida vantajosa!
Nisso melhores trânsitos tomaram
Em situação segura,mais rendosa,
Assim vindo das partes orientais
Produtos diferentes dos locais.
36)- 139)- Bastante mais,porém,todos queriam,
Avançando melhor para o interior
A caminho dos rios(nem os conheciam)
Na esperança dum lucro ainda maior!
Fonte comum, a vários atribuíam
E,mesmo sem saber com pormenor,
O destino das largas,turvas águas,
Aumentavam bem mais suas ristes mágoas.
37)- 140)- Então Garcia Segundo agradecera
O trato com o chefe luso feito,
Concedendo a paz que merecera
Com o apoio de alguns padres sem defeito.
Uma recente igreja ali nascera
De que muitos tiravam seu proveito,
Mas para os santos ainda havia bastantes
Contrariando direitos dos funantes.
38)- 141)- O Salvador derrota alguns no Pinda
Vindos em perigosas,fortes naus,
Porque muitos desejos tinham ainda
Sem respeitar,que fossem bons ou maus,
Avançam ,com ganância nunca finda,
P'ra recuperar com armas e paus
Nas mão dos locais que eles manobravam
Entre as promessas com que os enganavam.
39)-142)-Nas sombras dessa noite se esconderam
A caminho do Reino de Benguela
Onde outros desacatos cometeram
Chegando às bandas dessa Catumbela.
Ali os lusos depressa os combateram
Escapando uns apenas co'a farpela!
Nessa luta João Duque falecia
Enquanto a lusa calma renascia.
40)- 143)- Ndongo,chefe,visita a capital
Em homenagem ao governador,
Tendo como objectivo principal
Obter santo remédio para a dor
Sem esquecer o material
Que lhe faltava para ser senhor
Tendo também seus próprios inimigos,
Porque nem sempre todos eram amigos.
..........................(em actualização ) .......................
(41)- 144)- Massangano recebe outro sargento
P´lo poder muito bem apadrinhado,
Oferta concedida em casamento
Que pouco antes se tinha realizado.
Mas Salvador termina o seu momento
No alto cargo em que havia sido nomeado
E regressa ao que com amor fizera;
Miranda assume o que lhe pertencera :
42)- 145)- Com duas naus e uns navios,chega em demanda,
Recheados de umas armas,munições,
Manobrados por quem sabe e comanda
Como o fizera já noutras regiões
Não obstante a viagem pô-lo de certa banda,
Baralhando mesmo algumas acções !
André Gomes seguira p´ra Benguela
Apoiando os sobas dessa cidade.
43)- 146)- Segue um oficial p´ra Massangano
Fundando uma missão e o seu dormitório;
Completam outras obras durante o ano,
Apesar da epidemia e alto velório,
E no Reino de um outro soberano
Velhas igrejas tinham fim notório.
Vetralla chega até São Salvador
Sendo com honras várias recebido.
.........................(em actualização) .............
44)- 147)- Holandeses voltavam a atacar
Mas Araújo,enérgico acudia,
Pondo-os dali depressa a debandar
Vendo tanta coragem,valentia,
A capital mandou fortificar
P'ra qualquer oura guerra que surgia
Sem esquecer as terras do interior
Onde uns sobas impunham seu terror.
45)- 148)- Roboredo,mestiço,foi ordenado
(recebeu o nome dessa capital
E era do soberano aparentado)
Talvez fosse uma forma acidental!
Massangano acolhera o indigitado
P'ra vaga de Rebelo,seu rival,
Que não aquecera muito esse lugar
Onde nem todos sabem agradar!
46)- 149)- Miranda,muito estonteado,se apagava
Enquanto Henrique,válido sobrinho
Em gostosos negócios se arranjava,
Com ranchos,que levavam descaminho
À sombra de Saldanha que os apoiava
Dando tachos a todo bom vizinho,
Trocando alguns escravos por jumentos
Ou dinheiros de ibéricos sedentos.
47)- 150)- E Bartolomeu foi a seguir nomeado
Em vez de Bento, o velho transgressor,
Que noutro tempo estava aprisionado
Com Menezes,servindo de fiador!
Sucedia ao familiar que havia finado
Entre muita tortura e muita dor.
Songos alinham como lhes convinha
Preferindo entretanto a velha rainha.
48)- 151)- Seguira Moraes com nova intenção
De averiguar o que se preparara;
Convocando alguns sobas à reunião.
Lembrava quanta ajuda dispensara
O governo da lusa fiel Nação,
Enquanto outro,porém,os enganara;
Calandula prefere não cumprir
E,todo lesto,tratou de fugir.
49)- 152)- O capitão não perde essa vantagem
Pr' atacar o quilombo utilizado;
Prendeu o soba Cabuco e sua linhagem
Qu'estava p'la mulher bem representado!
Mas,precisando de uma nova aragem,
Fora para o Brasil logo embarcado;
Chichorro,novo chefe,foi o escolhido,
Por alguma razão o havia merecido.
50)- 153)- João Sexto decidira libertar
Os escravos no Dondo aprisionados,
Nem havendo motivos que alegar
P'ra os cativos estarem amarrados.
Assim,melhor política havia a dar
Sendo os lusos também os mais humanos;
Já bastava de tantas injustiças,
De tantas gentes sempre metediças!
51)- 154)- Azevedo chegara até Benguela
Seguindo Vasconcelos p´ro interior
Para manter melhor a cidadela,
Sem o considerar um seu inferior.
O Conselho condena u'a tal mistela
Utilizando escravos de favor,
Fazendo-o terminar conforme a lei
Que devia beneficiar toda a grei.
52)- 155)- Mas Vieira fora já o mais preferido
Para suceder num cargo ocupado
Depois de outro,também mais protegido,
Esperando ambos por esse legado.
Outro melhor negócio fora obtido,
Depois da escrita dum novo Tratado,
P'ra que em paz os ingleses negociassem
Pelos distantes mares,que ocupassem.
53)- 156)- Chegavam outras duas naus espanholas
Carregadas de ricas mercadorias
E,trocando os escravos por pistolas,
sobravam cada vez mais terras bravias!
Outros, preferiam dar a bebedolas
Uns vinhos de Sevilha e fantasias,
Trocando-os por seus corpos enfezados
Como outrora fizeram noutros lados.
............................(em actualização ..............
54)- 157)- Mas,no entanto,o Conselho,por sua banda,
Concordava com novas soluções
Impondo como lei de quem comanda
Um renovado tráfico sem nações
E,Chichoro,chegado,logo manda
Tentar ampliar antigas posições.
Ginga,interessada,deixou ofertas
Para Bárbara ter portas abertas.
55)- 158)- Co'a centena de escravos que entregara
Buscava compensar o prometido
Há muito,mas que sempre lhe falhara,
E desse modo o tinha conseguido
Deste alto mandatário que aceitara
P'os dois proveitos tinha recebido:
- Pretendia instalar forças militares
Onde fosse mais útil observar.
56)- 159)- Regressara guardada essa princesa
Na busca de melhores provimentos
Sendo todos tratados com firmeza
Porque bastava já de sofrimentos;
Tudo ficara com grande certeza
Eliminando os piores elementos:
- Com os fortes,presídios,arranjados,
Ficavam desse modo melhorados.
57)- 160)- Nova escolha premiava então Negreiros
conforme lista há muito assinada;
Aguardaria,nem sendo um dos primeiros,
E estando um outro tal sem fazer nada !
Mais capuchinhos com novos parceiros
Duma missão bastante retardada,
Para a velha Matamba se encaminham
Onde regalias por certo não tinham.
58)- 161)- A Vetralla sucedeu Serafim
Que por si a missão nova chefiara
Com aquele sem ter chegado ao fim,
O que em diversos casos sucedia.
Bárbara voltara nesse interím
Sendo acolhida com muita alegria ;
Por certo tanta fé iria suscitar
Nesse distante e bem triste lugar!
59)- 162)- O Senado da Câmara quisera
A mudança da Sé p'ra capital
E tal pedido, ao Reino se fizera
Mas estando escolhido um seu lugar,
Não se esquecendo até as novas culturas
E com as necessárias coberturas.
60)- 163)- Pegado foi escolhido para a guerra
Contra o chefe da Quissama revoltado,
Marchando bem depressa nessa terra
E com bastante tropa acompanhado;
Nem sempre um poder só todos encerra
Buscando ajuda dum outro reinado;
Fogem logo os vencidos p'ra floresta
Onde um outro perigo ainda ali infesta.
61)- 164)- Muitos barcos dos lusos os apoiavam
Pelo rio Cuanza já todos subindo,
Depressa as suas cubatas incendiavam
E nelas muitas gentes sucumbindo.
Assim,sobas diversos terminavam
Mas entre mortos os vivos iam fugindo
Sem cuidar de algum sólido destino
Que findasse co'aquele desatino.
62)- 165)- Um novo capitão tinha surgido
Contra Langi que,rápido,escapara.
Noutro Reino Lucena havia morrido
E o presídio destruído ali ficara.
Muitos soldados tinha protegido
E muita gente sempre se salvara,
Andando alguns distantes,sem caminho,
Buscando em luta vã o seu triste desatino.
63)- 166)- Cambari não descansa,poderoso
Enfrenta o grande exército reunido
Mas cada qual estava desejoso
De ocupar as cacimbas e o líquido
P'ra diverso animal muito sequioso,
Tanto homem quase já morto ou ferido !
Como o ar pairava tórrido,queimando,
Ambas forças se estavam esgotando !
64)- 167)- Morais ordenava a retirada
Para Aquitumba,mais recompensados,
Fazendo por Quiambala uma sua aguada
E aproveitava bens dos retirados.
Seguem para Catala sem mais nada
Onde o soba,assustado co'os soldados
Pronta ajuda oferece em segurança
Que recebia com essa forte aliança........
65)- 168)- Com o apoio dos novos companheiros
Vão vencendo diversos inimigos;
Ficando,uns e outros desses,mais primeiros
Lucrava Ndongo com esses amigos.
Em Casalla,porém pouco certeiros,
Sofreram muitas baixas duns antigos
Causadas pela doença e muita idade,
Sobrando os de melhor fé e mocidade.
66)- 169)- Benguela recebera um capitão
No lugar de Gouveia governador,
Ainda sem a mudança de região
Pendente desde um outro antecessor;
Nesse e em diverso caso a solução
Dependia mais de um novo e alto valor
Nada valendo já os muitos pedidos
Sendo os valores bem reconhecidos.
67)- 170)- Cambambe recebera Sotto maior
Já nomeado também noutra função
Que exercia como grande pagador
Sem colocar seus cargos em questão.
Era assim respeitado com temor
E sendo essa a melhor compensação.
Entre amigos mais forte ficaria
Resolvendo com fácil primazia.
68)- 171)- Logo regressa à base principal
Estando no horizonte outras ameaças
Dalgum antigo e pérfido rival
Que,decerto,não estava para graças,
Causando grandes males sem igual;
Servindo-se de rápidas trapaças
Destruíram alguns fortes e presídios
Sem deixar ao inimigo uns subsídios.
+ 69)- 172)- O Congo estava a cair com desagradados
Desafiando os poderes constituídos
Que reunira diversos potentados
Reformando os exércitos unidos.
Voltam a Massangano reforçados
Onde os congueses bem arrependidos
Prometem boa política fazer
E aos noviços impor o seu mister.
70)- 173)- No reino da Matamba a rainha aceita
Negociar ampla paz com portugueses,
Não lucrando continuar mais sujeita
Aos seus problemas e aos dos congoleses,
Ficando com sua fé mais satisfeita
Como fora também diversas vezes.
Outro Novais em sua capitania
Renovara a que a Paulo pertencia.
71)- 174)- Afonso sexto nada governava
Passando o seu poder para a regência,
Assumida com fé sempre agradava
Usando demonstrada e real sapiência.
Diversas penitentes destinava,
Para em Angola darem assistência,
Mesmo, com uns colonos se casando
E que estavam até necessitando.
......................................................
--- CANTO IX - A INFLUÊNCIA BRASILEIRA - (72 estâncias) --
? - 1) (72)-* (175)-- Para Vieira chegara a ocasião
... De assumir o comando desejado
... Tendo tido outra boa governação
... Em terras do Brasil com muito agrado.
... Aos jesuítas não alegra a nomeação
... Pelo que logo fora excomungado;
... Julgando-se em Angola superiores
... Manobravam sem ter opositores.
2) (73)- Massangano recebeu benefícios
... Passando a vila por merecimento,
... Depois de tanto azar e sacrifícios
... Da população em fácil crescimento.
... Os ingleses cometem artifícios
... Numa grave traição sem fundamento,
... Quando Chichorro,calmo,regressava
... E em Paraíba porém preso ficava!
3)(74)- Doente e com fome tinha falecido
... Nem lhe valendo o farto e bom marisco
... Pois,pelo mesmo,foi depois comido
... Sendo assim muito pior que um outro risco!
... Ao sobrado esqueleto,ali esquecido,
... De nada servia já o poder ou o fisco
... E,nem mesmo o salvando,o Salvador,
... Só restando entregar a alma ao Criador!
...........................................
4) (75) - Chegado à capital, Bartolomeu,
... Com muitos outros civis e oficiais,
... P´lo interior doutras terras irrompeu
... Para punir Acayata e outros que tais,
... Com forças que o governo forneceu
... Mas estando, entre tantos, uns naturais
... Guardados pelos próprios servidores
... Com suas antigas armas e tambores.
5) (76) - Airi logo decide aproveitar
... O combate ao difícil adversário
... Que surge com vontade p´ra esmagar
... O seu inimigo bem mais temerário.
... Mas teve de se pôr logo a cavar
... Tudo destruindo, num triste cenário !
... Numas ilhas se vão então esconder
... Perseguidos porém, sempre a correr.
........................................
... 06 - 77)-Tovar,capitão-mor,fora nomeado
...Para salvar o Reino de Benguela
Onde Araújo também era forçado
A expulsar os ingleses e a mistela
Com quem andavam por diverso lado
Traficando os negreiros de Castela;
Alguns foram até logo detidos
Por tantos primos graves,repetidos.
... 07 - 78) - Civis e religiosos decidiram
Atacar locais sem qualquer piedade
Porque os Dembos ali se repartiram
Como sempre fizeram noutra idade.
Azevedo e mais outros se prosseguiram
Derrotando alguns chefes numa herdade;
Muitos estavam fracos,quase mortos,
Sem mais nada de comer,magros e tortos.
... 08) - 79) - Tovar passara a ser governador
Naquele mesmo sítio,sem mudança,
Deixando o seu lugar a outro senhor
Que sempre merecera boa confiança.
Caconda pedia ajuda com temor
Doutros sobas, maldosa vizinhança ,
Preferindo a melhor alternativa
Que lhe garantia tanta gente viva.
... 09) - 80) - O governador, rápido,valente,
Avança p'ra Quicombo derrotando
Tudo quando lhe surgia pela frente,
Limpando mesmo,sem nada restando!
Mas para sustentar a melhor gente
Logo foram o válido guardando
E assim ficaram com as provisões
Resolvendo suas próprias situações.
... 10) - 81) - Porém uns chefes tinham falecido,
O mesmo acontecendo aos seus contrários,
Porque foi muito crime cometido
E sendo ambos amigos e adversários;
Outros com Bengo e Dange mais vencido
Prosseguem o combate em locais vários;
A coberto da noite se acoitavam
E,voltando às suas bases,comerciavam.
11 - 82) - Alguns,fartos da guerra,protestaram
....Dirigindo-se então à nobre Regente
Para,daquelas lutas em que andaram,
Serem logo afastados com sua gente.
O capitão Delgado e outros voltaram
Por Embaca,embora,na sua frente
Encontrasse a prisão para a sua ofensa
Mas que ele a retomava em recompensa.
12) - 83) - Protegidos p'la rainha vêm "descalços"
Instalando-se logo num convento
Para lançarem santos,,belos laços,
Que melhorassem tão duro momento.
Mas alguns logo criaram embaraços
Sem mostrarem qualquer qualquer constrangimento,
Evitando que abrissem uma Casa
Antes que outro inimigo lhe corte a asa.
........................ (em actualização .....................
13 - 84) - O Reino do Bailundo foi atacado
Sendo há muito bastante conhecido
Quando Forjas houvera governado
E pelos lusos fora percorrido;
Para Ambaca Barreto havia chegado
Sendo a capitão-mor bem promovido.
Noutro Reino Kapango comandava
Tropas suas e de Ginga,que o ajudava.
14 - 85 - No Libolo intervinha "Sapatão"
Contra alguns que assaltavam caravanas,
Mas, com os Sumbes ,pior foi essa questão
Porque o limparam em poucas semanas!
Morta a montada,foi parar ao chão,
E virando-se logo de pantanas
Por ser muito pesado,corpulento,
Tornando-se fatal esse momento.
15 - 86 - Em diversas naus chegam holandeses
Ao conhecido Reino de Benguela,
De repente "mudados" em ingleses,
Trajando aqueles pérfida farpela.
Levaram roubos como doutras vezes
Mas incluindo alguns bens de Catumbela.
A fortaleza foi vandalizada
Estando antes bastante degradada.
16 - 87 - Ginga,tinha mandado como ofertas
Alguns ossos dos seus antepassados
Numas caixas prateadas,logo abertas,
Sendo os metais na igreja aproveitados
E dando-lhes outras luzes ,santas,certas.
Em diferentes fins foram usados.
Suas "milungas" também foram mandadas
E as peças com fedor sendo queimadas !
17 - 88 - Obras novas ali em Vila Vitória
Foram logo iniciadas com fervor
Tornando em inegável a sua glória
Depois de muitos anos com labor.
Carmelitas de válida memória
Aceitam bens do seu governador
Para melhor servirem seu Convento,
Desejo principal nesse momento.
18)- 89) - O Conselho resolve finalmente
Isentar doutras guerras moradores
Porque mantinham tropa suficiente
Para conseguir serem vencedores.
Havendo em Massangano pouca gente
Fazia jeito descansar os senhores,
Cumprindo sábio e velho Regimento
Que acabava com tanto sofrimento.
19 - 90 - Angola solicita apoio da rainha
Para conceder rápida atenção,
Com a vinda de tropas que não tinha
Resolveria essa triste situação.
Mas há muito que,lá,ainda se mantinha
A nefasta presença da nação
Que sempre desejara benefícios
Ficando outros com mais sacrifícios.
20)- 91) - Garcia Segundo ,rei daquele Congo,
Deixa Nevita Nkanga no lugar
Ao terminar seu tempo,pouco longo,
Não conseguindo a todos agradar.
Mais liberto ficava Ngola Ndongo
Enquanto Dom António ia governar;
Tratou de "limpar" seu irmão,D. Afonso,
Com outros mais,pois era muito sonso.
21 - 92 - O controlo das "moedas" pretendia
Prescindindo a presença de Sequeira
Por não ser branco como gostaria
E agindo,assim, de pérfida maneira.
Prestando vassalagem,mordomia,
Ganhava posição bem mais cimeira
Agradando a Curado,novo deão,
Embora assim ficando na sua mão.
22 - 93- Mas a Misericórdia de Massangano
Nem a todos estava a compensar
Devendo ser fechada naquele ano
Pelo que continuava a suscitar.
Logo o governador,feito tirano,
A nova vila tinha de acabar,
Mantendo-se ali apenas militares
E os outros que mudassem p'ra bons ares 1
23 - 94 - P'ro Reino de Benguela colocado
Seguira Jorge Góes,governador,
Enquanto Sotomaior era tirado
De Cambambe com grande dissabor,
Nada valendo o régio poder dado,
Considerado nulo e sem valor;
Soares,havia chegado em sucessão,
Tomando o novo cargo,sem reacção.
( 24) - (95) - O Cabido e o governo,com questões,
Não se entendiam em vários disparates
Mantendo-se em estranhas situações
Sem nenhuma cedência das suas partes.
Os Barbados também tinham missões
Buscando melhorar suas missas e artes;
Satisfaziam o antigo rei conguês
E o da Matamba,duma única vez !
( 25 - 96) - Para tudo faltava algum dinheiro
Que nos impostos podia ser colhido
Estando a venda dos servos primeiro
Pelas tantas cabeças que haviam saído
A favor do negócio brasileiro ,
Já de todos bastante conhecido;
Os africanos já não bastariam
Restando índios,que nem satisfaziam.
26 - 97 - Afonso Sexto sobe ao luso trono
Muito antes ocupado p'la regência;
Vasconcelos prefere o seu real dono
Achando necessária certa urgência
Com receio de surgir outro abandono
Ou nova indesejável interferência;
Ficava assim Castelo Melhor
Com o poder em mãos do seu senhor !
27 - 98 - Para Lisboa seguira Salvador
Onde seria sujeito a julgamento;
Depois de ter vivido com amor
Só restava da glória o pensamento.
O Congo reclamava pr'Ouvidor,
Antes que caísse em novo esquecimento,
A posse da ilha com a sua colheita
Dos nzimbos que ninguém ali reclama.
28 - 99 - Nova provisão régia concedera
Direito citadino aos residentes
Em S. Paulo, que rápido crescera,
Com os apoios de muitos novos crentes.
Em Lisboa Salvador emudecera
Sendo sujeito a males diferentes;
Fora para um degredo condenado
Nas terras que tanto tinha amado !
29 - 100- Uma outra armada,forte,poderosa,
De Espanha avança rápida,temente,
Sobre Angola,danada,desastrosa,
Nada surgindo para fazer frente.
Um capitão porém,com fé manhosa,
Reunira sua melhor e forte gente
Preparando-a com válida instrução
Ao ponto de lhe deitar a sua mão.
30 - 101 - Desaparecem logo os atacantes
Preferindo os escravos doutro lado;
Já não seria um negócio como dantes
Quando tivera tudo controlado.
O inimigo (da terra de Cervantes),
Voltam outros ao ataque renovado
Pretendendo tomar principais portos
Donde depressa saíram quase mortos!
31 - 102 - Cahenda apela por melhor ajuda
Contra o soba Francisco e uns revoltados
Que o pretendiam libertar de forma muda,
Contra outros tenebrosos coligados
Depois de,por velhice ou doença aguda,
Se finar a rainha Ginga,noutros lados,
Em companhia de vários capuchinhos
Que acompanharam em santos caminhos.
32 - 103 - Minas de cobre em Canda reencontradas
Entraram nessa altura em conversão
Protegidas p'lo forte,bem guardadas,
Não agradando aos do Congo a solução.
Com numerosas tropas preparadas
Atacam sem qualquer hesitação,
Mas o Reino de Angola combatiam
Pelas muitas discórdias que cresciam.
33 - 104 - Luís Sequeira subia a capitão-mor
De todo território conturbado
Enquanto falecia o chefe maior
Que no Ndongo tivera superado.
Sucedera Dom João,filho menor,
Tendo uma desleal guerra declarado,
Sem respeitar o acordo que fizera
Com o governo,que isso pretendera.
34 - 105 - Morales e Macedo apoiam Cahenda
Com bastantes homens,armas,munições,
Constituindo uma força bem tremenda.
Resolveram findar essas questões.
Canzele foi a primeira e melhor tenda
Seguindo por Cambambe e outras regiões
Onde recebem mais equipamentos
Com homens,bois-cavalos e jumentos!
35 - 106 - E,noutro Reino,Bárbara foi eleita
Sendo Amona marido bem violento
Capaz de aplicar uma boa maleita
A Dom Zobbotes sem restringimento.
Ficando de cabeça bem desfeita
Em companhia do seu outro regimento,
Amora,por Carrasco foi sabido,
Tantos os crimes em que havia interferido!
36 - 107 - Trocara damas por armas,bebidas,
Para compensar gastos funerários
Da rainha e doutras servas falecidas,
Pagos pelos seus próprios honorários.
Tentara pelas formas conhecidas
Eliminar Cavavzzi e funcionários
Usando os sumos bentos e outros tais
Sendo apenas pecados naturais.
37 - 108 - Morales atravessara alguns rios
Arrasando cubatas despovoadas
Contra vontade e sem seus compadrios
Enquanto os sobas com grandes manadas
Se consertavam nuns tantos desvarios
Deixando as tropas muito baralhadas:
Alguns outros se foram afogando
E sem eterno esquecimento ficando !
38 - 109 - Dom António,olvidando suas promessas,
Preferia conservar minas de prata;
Ataca o seu vassalo com as peças
Logo fugindo a caminho duma mata
Em busca de socorro,em muitas pressas
E escolhe o luso nessa negociata.
Segue Sequeira p'ra sua protecção
Recebendo por troca um bom quinhão.
39 - 110 - No entanto rei de Ambuíla reclamava ,
Pedindo vassalagem apressado,
Contra o do Congo pelo que o maçava
Estando com alguns outros aliado.
Uma entidade régia publicava
Disposições que o povo havia sonhado
Podendo atingir cargos proibitivos
Quer p'los europeus,quer pelos nativos.
................. (em actualização ) ...................
40) (111)- Rosa,capitão,fora em nova viagem
... P´ra terras do Cunene misterioso,
... Tentando descobrir a sua paragem
... Escondida por vezes no arenoso
... Solo do Namib,terra de miragem,
... Tormento do viajante mais sequioso,
... Desafiando diversos caminhantes
... Em antigas jornadas escaldantes !
41) (112)- E outros rios pretendiam encaminhar,
... Enviando dali p´ra sua capital,
... Poisa o antigo não estava a resultar
... Nem sendo achado como o principal.
... O Senado outra acção havia de tomar
... Proibindo ao comerciante o habitual
... E nefasto negócio com escravos
... Como se tratando uns animais bravos !
42) (113)- A ermida Nazaré, ali se demanda,
... Completava a promessa antes tomada
... Com coragem de quem dirige e manda,
... Em vez duma anterior, fortificada,
... Ficando com melhor segura banda.
... Colbert forma uma nova,forte armada,
... Mais alargando o tráfico e a ousadia
... Baseada numa falsa Companhia.
43) (114)- Rosa regressa ao sul tentando achar
... O que diversos há tanto buscavam :
... Onde se iriam tais águas repousar
... Escondidas em areias que escaldavam ?!
... Continuava um mistério a decifrar
... Entre miragens que os maravilhavam
... Chegando ao Negro Cabo, num caminho,
... Quando buscavam outro melhor ninho.
...................... (em actualização) ................
44)- (115 ) - Ali descobrem velhas inscrições
Que Menezes da Cunha então deixara,
Lidas por Cadornega em suas lições,
O que mesmo alguns sábios espantara!
Talvez tivessem outras ligações
Ou um destino que a muitos intrigara,
Podendo mesmo serem a passagem
Que ligasse ao Zambeze em curta viagem.
---...............(em actualização) .......
45)- (116) - Decidira a reunião dos militares
Luta do rei d' Angola com o Congo
Saída duma questão entre familiares;
Sem esquecer o cobre,sonho longo,
Turvara logo seus límpidos ares
Atingindo ainda terras desse Songo.
Neste modo prolongam a disputa
Que os mantinha em constante e triste luta.
46)- (117) - Regressa Soutomaior inocentado
Com o capitão-mor,Fiel Pagador,
Nas terras de Cambambe colocado
Para quando vagasse tal labor.
Sequeira,pouco cobre havia encontrado
Em vez da prata,grande dissabor;
Prossegue,com desgosto dos reinantes,
Solicitando o acesso dos funantes.
47) - (118) - Dom António,juntava tropas leais,
Declarando sua guerra no Calvário
Enquanto um capitão com os demais
Continuaram para Oando,qual santuário,
Sem completar as acções nesses locais;
Terminava assim seu triste fadário
Enquanto Luís Sequeira ressurgia
Pleno das forças que precisaria:
48) - (119)- - Subindo o Quanza chega a Massangano
Onde colheram muitas das desgraças;
Em Quicequili então,sem tanto dano,
Recebem "guerra preta",santas graças,
Com sobas reforçando o anterior plano
Enquanto o poder régio,sem ameaças,
Tentava alcançar paz entre reinantes
E restaurar o ambiente que havia dantes.
49) - (120) - Para um novo governo,Tristão Cunha
Fora o nomeado como solução
E o Senado da Câmara propunha
Melhorias p'ra S. Paulo de Assunção:
- Ver reduzido o encargo que se opunha
Ao cumprimento duma obrigação
Que dum custoso dote resultara
Sendo a Holanda quem mais beneficiara!
50) - (121 ) - Sequeira, sobe o Zenza cauteloso,
Sendo informado quanto aos adversários
Reunidos num exército grandioso,
Composto de inimigos temerários
E ocupa as minas dum metal valioso
Cortando as pretensões dalguns e vários,
Conforme um combinado noutra altura
Sem possuir a devida compostura.
51) - (122) - Atravessam os rios ali vizinhos
Observando no Loge os movimentos
E tomam posições e os bons caminhos
Contra os inevitáveis elementos!
E nas terras de Ambuíla,bem sozinhos,
Travam lutas danadas,sempre atentos
Às manobras das partes em conflito
Sem saber qual seria o mais expedito.
52) - 123) - Dum alto,Dom António,sobranceiro,
Menos presava os poucos oponentes,
Enviando fracas forças em primeiro
Cuidando serem mais que suficientes.
Não resultando tal plano altaneiro,
Avança destemido com mais gentes
Com cortadeira em punho,corajoso,
Sem evitar ser o alvo apetitoso !
53)- 124 ) - Foi uma luta tremenda,temerária,
Não obstante os efectivos em confronto,
Mudando o resultado em forma vária
Sem se adivinhar quem ficaria pronto.
Mas,um quilamba em forma bem primária,
Com u'a forte golpada,como um tonto,
Esse valioso chefe havia abatido
Ficando o corpo real no chão estendido !
54)- 125) - Todavia foi a seguir recuperado
Por diversos soldados cuidadosos,
Apesar de se achar decapitado,
Que essas eram as ordens dos idosos.
Sua cabeça tratada com cuidado
E a coroa de diamantes mui valiosos,
Foram,como troféus,bem protegidos
E enviados com veludo envolvidos.
55 )- 126) - Recebidos com pompa ,honras e banda,
Foram p'ra Nazaré na procissão
Com o governador,que em tudo manda,
Por estar ali entre a fé e em adoração
Com a gente serena e veneranda,
Como sendo pertença da nação;
Ficava ainda lembrado um papa antigo
Pela coroa que usou sempre consigo.
56) - 127) - Não fora nenhum santo em toda a vida
Eliminando a própria mulher,rainha,
Sendo pelo rio abaixo remetida
Numa arca bem fechada como pinha!
Na batalha a família foi detida
Ou eliminada como mais convinha,
O mesmo aconteceu com seus ministros
Uns com nomes pomposos ou sinistros.
57) - 128)- Sucedeu Álvaro Sétimo,guerreiro,
Entrando logo nessa actividade
Onde antes Dom António foi o primeiro
Sem o apoio do Sonho a essa mortandade.
Botelho reprime um acto traiçoeiro,
Contra alguns fugitivos sem piedade,
Que Aquigengo tivera cometido
E do que recebera esse castigo!
58)- 129)- Kibinda,rei primeiro,chega à Lunda,
Uma terra antes muito abandonada;
Naquela zona inóspita,profunda,
Sua nova geração surgia do nada,
Mas sendo a actividade mais fecunda
O abate de portentosa manada.
Cazembe era o seu chefe,imperador
Do imenso Reino e o único senhor!
59)- (130)- A rainha D. Bárbara morrera
Deixando Ginga Amona no poder,
Sendo "Carrasco",tudo estremecera,
Com receio doutro mal acontecer!
A uns falantes depressa emudecera
Mas o mesmo lhe podia suceder.
Deseja em todo Reino em velha paz
Que a tanta guerra só desgraças faz!
60)- (131)- Para Benguela chega Gomes Raia
Com Almeida,capitão-mor de Angola;
Funda a vila de Dande,junto à praia,
Onde Santa Ana teria a justa escola.
Couto,mestiço,doente,perde a saia
Na marcha funesta e em trágica padiola.
Superior no Colégio foi sagrado
E o Cabido também mais respeitado.
61)- (132)- Na altura de Tristão vir governar,
Passara por Benguela constrangido,
Ali encontrando o chão desolador
Por um ataque que havia acontecido.
Tinha planos a cumprir com rigor
Terminando com o abuso conhecido
De utilizar trabalho obrigatório
Sem respeitar costume migratório.
62)- (133)- Nem esquecendo os fortes degradados
Mandou construir uns outros,resistentes,
Guarnecidos de válidos soldados,
Sem ter com que os pagar nem a outras gentes.
Amotinam-se vários revoltados
Contra o governador,mais descontentes
Pela falta dos soldos e outros males
Sem direitos a créditos por vales.
63)- (134)- Recolheram os tropas,concentrados
Com a população na fortaleza,
Seguindo depois bem mais apressados
Fr. Santo Amaro,tendo ali a certeza
De escaparem da fúria dos danados,
Ganhando uma melhor acção e firmeza
Entre os mais altos cargos escondidos
E estando seus lugares bem tremidos.
64)- (135)- Mas Tristão,com diversos responsáveis,
Mudam para uma nau que os aguardava
Com rumo a outras paragens agradáveis,
Que de tristeza tinham que bastava !
Sotomaior,com perdão de alguns notáveis,
O cobiçado cargo retomava
Até que do Senado decidissem
E por outro,porém,o substituíssem.
65)- (136)- Os soldados então ditam a sorte
Pensando ser a que melhor julgavam;
Decidem não lhes dar sofrida morte
Desembarcando os que menos pecavam.
Assim seus Pares tomam outro norte,
Todos aguardando entre os que ficavam,
Com oficiais e civis se juntando
Por acharem mais forte o seu comando :
66)-(137)- Capitão-general se dignara,
Que nunca sucedeu noutra ocasião,
E assim esse Senado governava
Enquanto amotinados em evasão
Escapavam da tropa que os cercara.
Mas no Brasil tiveram pouca acção
Sendo todos detidos de imediato
Para não perturbarem outro facto.
67)- (138)- Decidem negociar com os holandeses
Os encargos da paz e o dote real
Por ser muito difícil certas vezes
Satisfazer ao dito cabedal.
Com uns "baculamentos" portugueses
Se reunia o necessário capital
Para manter a tropa a funcionar,
Como alguns faziam antes sem custar.
68)- (139)- No Congo deu-se grande divisão
Surgindo novos reinos concorrentes,
Complicando ainda mais a confusão
Entre os diversos chefes oponentes,
Aos quais Álvaro Oitavo dava a mão
Com o acesso de minas suficientes
Aos diversos fidalgos instalados
Com suas cortes em vários povoados.
69)- (140)- O capitão-mor Soares,avançava
Contra Ambaca,sobado rebelado,
Com Cabanga,fugido,que o aguardava
Preferindo ficar daquele lado !
Macedo,embaixador,ali chegava
Sendo acolhido com bastante agrado,
Numa solene sala decorada
Com sedas,ouro e bem alcatifada.
................(em actualização) ................
70)(141)- Távora,recebera sua patente
... Prometendo em Angola governar
... Quando não tivesse algum na sua frente;
... Mas Furtado tomava outro lugar
... No Reino de Benguela,diferente,
... E sem ter tido tempo p'ra aguardar.
... O Senado da Câmara mudava
... E um novo chefe já ali governava.
(71)(142)Na Matamba Guterres sucedera
... Ao Amona,por Carrasco conhecido,
... E que,depois do que lhe acontecera,
... P'ra salvadora mata havia fugido.
... O outro capitão-mor permanecera
... Com uns oficiais, tendo preferido
... Manterem a ordem entre os comerciantes
... E os que ali residiam todos muito antes !
(72)-(143) - Mas,no Congo,o Colégio foi assaltado
... Sendo depois daí logo transferido
... Deixado p'lo jesuíta abandonado,
... Terminando o seu tempo ali perdido.
... Com tanto assunto assim mal orientado
... Fugira todo o povo espavorido.
... Rafael chegara ao trono em abandono
... De que o do Sonho queria ser o dono!
.....................................................................
---- CANTO X - A INEVITÁVEL EVOLUÇÃO - (72 estâncias) ---
(01) (144)- Távora chega a Luanda com atraso,
... Em plena juventude da sua vida,
... Entre grande alegria,sem qualquer prazo,
... Com espanto da gente embevecida.
... Não perdendo mais tempo e, sem dar azo
... A avanços de adversários nessa lida,
... Mandara reforçar fortes, fortins,
... E outras bases de mais seguros fins.
(02) (145)- Chegam à capital embaixadores
... Do novo rei conguês com cumprimentos
... Ao governador jovem e uns senhores
... Que davam apoio aos doutos elementos.
... Solicitam vencer usurpadores
... Estranhos, sem humanos sentimentos,
... Que mantinham negócios dos escravos
... Recordando outros tempos dos eslavos.
(03)(146)- Dom Rafael concedera outro condado
... Que junto ao Pinda estava protegido,
... Muitos seguiam o destino desgraçado,
... Não cumprindo o tratado antes havido.
... Os jesuítas também haviam falhado
... Com o escuro negócio, repelido,
... Sendo expulsos p'ra tais bandas,distantes,
... Em companhia de certos traficantes!
... 04) (147)- Do Zaire saíram povos mais antigos,
... Pretendentes ao Reino congolês,
... Julgando-se também mais preferidos
... Sendo alheios ao governo português
... Que decidira apoiar os escolhidos
... Enviando umas centenas de boa rês
... Para cercarem Sonho e os circundantes
... Que manobravam nzimbos como dantes.
-- 05) (148) - O Conselho proibira umas bebidas
... Feitas da sacarina colonial
... Que suplantava as lusas, meio falidas,
... (No continente ou noutro litoral);
... Não completando as cargas pretendidas
... Afastava a receita nacional
... E nem autorizara umas remessas
... De éguas em troca por algumas "peças".
--06) - (149) - ...Nem mesmo permitia as deslocações
Com ofertas dos sobas avassalados
Para governadores ou "chefões"
Que pudessem estar interessados,
Sendo receita pública em leilões
P'lo Feitor das Fazendas apregoados;
Assim acabavam certos,feios subornos,
Que mais enchiam carteiras dos seus donos!
07) - (150) --Soares passara várias lagoas,rios,
Para chegar até ao Ambriz impetuoso,
Construindo pontes com cordas e fios
E as jangadas com árvores,custoso;
Mas,para evitar outros calafrios,
Logo as destruíram,sendo perigoso
Se os inimigos as utilizassem
E,pelas costas,todos massacrassem.
8) - ( 151) - Avança o Conde sem qualquer demora,
Sonhando ser o grande vencedor
Com ajuda holandesa naquela hora
Como o fizeram sempre sem temor
P'ra na altura final ,compensadora,
Recolher frutos como triunfador !
Mas nem sempre esse "Sonho" se realiza
Ficando uns sem cabeça e sem camisa!
09) - (152)- Os Sumbi pretenderam vassalagem
Para uma ajuda real contra Quicombo
Que sempre atrapalhava a sua passagem
Causando nos negócios um arrombo !
O capitão-mor Gaspar segue viagem
Antes que surgisse um valente tombo,
Não temendo porém duma cilada
Perdera sua cabeça descuidada !
10) - (153) -- A Gutterres,Dom Luís sucederia
No trono da Matamba cobiçado
Descendente de certa fidalguia
Que no Congo sempre havia governado.
Amona bem depressa o perseguia
Fugindo tal monarca p'ra outro lado!
E grande razia foi ali executada
Com muita lusa gente degolada.
11-) - (154) - O mesmo acontecera ao Rei D. Luís,
A quem Carrasco desde sempre odiara,
Mas sendo p'los próprios,o infeliz,
Pela fraqueza que ali demonstrara !
Padre Vaz escapara por um triz,
Talvez fosse um milagre que o safara.
Entretanto,algum Távora expulsava
E o Papa,Dom Farinha confirmava.
12) -(155) - Mas,no entanto,o Rei Ngola se levanta
Ordenando assaltar as caravanas,
O que ao luso governo muito espanta
Essa mudança em tão poucas semanas !
Bem depressa Sequeira se agiganta
Metendo todos à volta em pantanas,
Porque esperar reforço do Brasil
Seria meter o gelo num funil!
13) - (156) -- Segue pelo Calumbo e por outro rio
Até alcançar a velha Massangano
E vence muito soba e o poderio
Sendo "invicto e famoso" tal fulano.
Em Ambaca recebeu um calafrio
Da "guerra preta" desse adiantado ano
Dando ajuda em Matamba e seu vizinho
Que ficava num rápido caminho.
14) - (157) - Chegam ao Lungi com mais uns soldados
Da Ilamba e Lumbo aliados a Cambanda
E os do Brasil então desembarcados,
Entretanto Carrasco e os de sua banda
Que no Maupungo estavam instalados
Com o estudado plano que os comanda.
Era um forte refúgio,natural,
Precisando dum outro,sendo igual.
15) - (158 ) -- Ngola Airi Primeiro logo avança
Crente da sua valiosa posição
Mas,Sequeira porém,dali os alcança
A todos colocando sem protecção.
Chega Carneiro com muita arma e lança
E vindo ainda mais outros para a acção,
Cada vez mais o cerco iam apertando
E os gados começavam escasseando.
16) - (159 ) - O Cabanga tentara uma investida
Encontrando danada resistência
E,resolvendo trocar essa lida,
Solicita uma paz e não a violência,
Oferendo "peças" p'la sua vida
Mas Sequeira recusa essa sapiência
Por notar uma nítida manobra
De conseguirem mais tempo de sobra !
17) - (160 ) - Treparam o alto morro bem escuro
Mais parecendo gatos num telhado,
Indo Nunes Cortês muito seguro
Com tanta "guerra preta" que ia ao seu lado.
Pungo Andongo alcançava outro futuro
Estando num local bem colocado
Mas com bastantes corpos estendidos
Por entre vencedores e vencidos !
18) - (161) -- Muitos outros porém se escapuliram
Com seus chefes buscando protecção
Nos reinos dos amigos que os cobriram
Com os mantos da fé ou do seu perdão.
Contra o desejo dos que os perseguiram
De os mandarem p'ra trágica prisão!
Mas Dom João um pior fim receberia
Dum irritado guarda que o trazia.
19) - (162) - Os outros fugitivos não escapavam,
Sendo p'los seus parentes denunciados,
Porque em tais situações beneficiavam
Contra dos favores contra alguns dos danados.
Muitos deles porém ainda poupavam
Seguindo dali p'ra serem vigiados
Mais perto dos senhores da cidade
E gozando o prazer da pouca idade!
20) - (163) - Em Ndulu novo Reino havia surgido
Com Katekulu,chefe doutro povo,
Que da linhagem Ndongo era nascido
Mas sendo, ali,ainda como um outro novo.
Seria o de Angola mais fortalecido
Com a queda do antigo como estorvo;
A Matamba também se degradava
E da realeza já pouco restava !
(21) - (164) -- Esses detidos foram p'ra Lisboa
Sendo apoiados por Castro, o Ouvidor,
Para que não seguissem mais à toa
E contasse as jornadas de valor,
Tal como as de Maupungo e da sua proa,
Sem falar num vizinho,seu inferior,
Mas ainda p'ra mais longe seguiriam
Evitando revoltas que temiam;
22) -( 165) -- E regressam ao luso acolhimento
Mas Diogo com bexigas falecera.
A alguns novos jesuítas no momento
Outro rumo o destino oferecera
Em terras congulesas e ao relento
Distribuindo a benta água a quem quisera,
Passando todos à nova missão
Pelo estômago,fé e dedicação !
23) --(166) -- Receberam perdão todos os fugidos
Podendo regressar para as suas cubatas
Sem as necessidades dos perdidos,
Nem de viverem nas fechadas matas
Co'os animais ferozes e atrevidos,
Para recuperarem suas "bicuatas"
Mas devendo cultivar novas terras
Com produtos da paz e não das guerras.
(24) - (167) - O Conselho tomara a decisão
Sobre algum condenado de S. Tomé,
Devendo seguir para essa região
Apenas por degredo ou pouca fé
Mas com mais de cinco anos de prisão
Em cultura ou plantações do café.
Sendo assim a mão d'obra ainda mais barata
Tornam aquela terra ainda mais farta !
(25) - (168) -- Frei António,novo bispo,iria chegar
P'ra diocese do Congo e a de Angola
Com alguns missionários a viajar
Por terras de Conquembo e sem escola
Para novos alunos ensinar.
Mas um outro em Matamba pede esmola
Sem ter nenhuns meios para os acudir
Tantos os que estavam já ali a ressurgir !
(026-- (169) - O governador com as entidades
Suspendem umas guerras em Caconda,
A pedido de alguns de mais idades,
Tendo Furtado nessa comum onda
Noutro forte,no Bongo e outras herdades;
Chegara depois Couto p'ra essa ronda
Com diversos soldados e os apoiantes
Contra outros sobas que protegera antes.
(027--( 170) - E Sequeira,no Reino capitão,
Devia assumir então seu grande cargo
Para assegurar rápida reacção
Contra inimigos,todos bem ao largo !
Mas na Matamba houvera alteração
Subindo Dom Francisco sem encargo,
com os apoios do Kuango e outros sobados
Menos o da Quissama noutros lados.
(028-- (171) - Em Loanda surgia a igreja do Rosário
Sendo apenas p'ra os "Pretos" dedicada
Que dela faziam seu único santuário
E em todas as nações sendo venerada
Como para refúgio dum fadário;
A todos eles fora consagrada
Com respeito dos vários governantes
Pelos quantos escravos sem apoiantes !
(029-- (172) - Menezes embarcara com coragem
Na Companhia do bispo Dom Frei Santo
Com alguns respeitáveis e em vantagem
Contra diversos sobas doutro canto,
Mas Couto não termina sua passagem
Causando a todos seus um triste pranto ;
Por medidas cuidadas e cautela
Decidem regressar para Benguela.
(030-- (173) - Quando Simões recebe Massangano
Lacerda comandava o velho Bongo;
Fidalgos deportados num outro ano
(Por confusões com o antigo Rei do Congo,
Regressaram a Lisboa sem engano
Recebendo um salário como em Ndongo
Com muito desagrado militar
Porque menos estavam a ganhar!
(031)--(174) - Mas não havendo,porém,certos dinheiros
Como simples domésticos ficaram
Em casas e Conventos dos cimeiros
Como peças de adornos que ostentavam !
Em S. Paulo os arranjos verdadeiros
Nas igrejas e em sítios que adoravam
Eram feitos por conta duns locais
Mantendo,assim,vantagens principais.
(032)--( 175 - Menezes naufragara na chegada
Ao Negro Cabo sem ter salvamento
E a sua missão ficava ali acabada
Com diversos de muito valimento.
As naus em competição desenfreada
Bateram nuns rochedos com mau vento
Ficando todas feitas em pedaços
Sobrando uns despidos e descalços!
(33)-- (176) - O Bispo e mais uns padres se salvaram
Em mau bote,furado e carcomido,
Com uma vela e anzol que improvisaram
(Navegando sem rumo em mar perdido;
Sem outros alimentos ali andaram
Apenas com o peixe recolhido
Por manhas e artes duns dos capuchinhos
Mais habituados aos tristes caminhos.
(034)-- (177 - Tiveram agradável decepção,
Todos bem instalados no Convento
Com o povo em total satisfação
Que desde muito não havia esse elemento.
Távora obtinha nova comissão
Sem que fosse do seu contentamento
P'lo desgosto que então havia recebido
Co'a notícia do irmão ter falecido.
(035)-- (178) - Mas ainda antes desse ano terminar
Se realizou u'a vistosa cerimónia
Tendo S. Borja por canonizar
(E a cargo do jesuíta a parcimónia.
Em cavalos estavam a passar
As figuras mais reais com cachimónia,
Pintadas d'ouro e prata com fartura
Como fora visto só numa outra altura!
(036)--( 179) - Angola estava bem representada
Com governantes,muitos governados,
Comerciantes com dama bem guardada,
Tendo escravos até paramentados
Com as mais ricas vestes e,uns,sem nada!
Muitos foguetes foram rebentados
Quando o carro triunfal aparecera:
- A sua eterna visão nem se esquecera.
................. (em actualização) ..........
(037) --(180) - O novo bispo tinha ali chegado
Trocando a alegria por uma tristeza
Co' a nova de Menezes naufragado
Findando a festa com pouca beleza.
No entanto,uma outra logo dava brado,
Tendo surgido então toda a certeza
De transferir a Sé p'ra capital
Depois de muitos anos sem rival.
038 -- 181 - Mas pouco tempo haveria de durar
SEndo assim sepultado na capela
Do Convento que nem pôde gozar
E com o agrado dalguns com farpela
Duma cor diferente do lugar
Sem gostarem da Sé na cidadel.
Távora teve mesmo de intervir
Para esse caso melhor decidir!
(039 --(182) - Cortês viajava pelo Cuanza acima
A caminho da antiga povoação
Onde Amucambo Ngungo se reanima
Atrapalhando até a navegação.
A ajuda de Massangano reafirma
Aquela necessária ligação
Estando a "guerra preta" ali presente
Em defesa das bases da sua gente.
(040) --( 183) - Ainda teve uma nova interferência
Em diversos sobas sem sentido
Com Casonga pedindo a preferência
E o outro queria também ser o escolhido !
Gutteres obtivera enorme anuência
Da parte do governo prevenido
E contra Ginga Amona,o perdedor,
Que outra vez se retira pró-interior.
(041) --( 184) - Mas não alcançando a mata protectora
Recolheu-se na igreja ,respeitada
Noutros tempos da rainha vencedora.
Porque ali tinha a vida conservada
A coberto do "coito",em salvadora
Lei que era para todos mui sagrada;
As suas faltas porém iam aumentando
Enquanto o cerco o estava apertando!
(42 --(185) -Dessa maneira o tempo não perdoara
Obrigando-o a uma saída temerária;
Dom Francisco a detenção lha ordenara
Seguida duma morte bem primária;
E,entretanto,suas costas lhe virara !
Mandando-lhe aplicar pena sumária
Tornava-se mais forte no comando
Do seu Quilombo sem estranho mando.
(043 )--( 186) - O Nambo Angongo escolhera seu destino
Voltado p'ro poder da capital
Evitando ter algum desatino
Que o colocasse num outro pior mal
Com valiosa embaixada e muito tino,
Entre uns adornos,jóias,plumas,metal,
Bem calçado,capote de veludo
Com dourados,marfim...quase tudo !...
044 -- (l87) - Mas Amuquiama,outro chefe maior,
Não querendo ficar menosprezado,
Outra embaixada nada sem valor,
Havia também logo organizado.
Seguia para Benguela outro senhor
E p'Muxima um já fora nomeado
Enquanto p'ro governo principal
Saldanha recebera novo aval.
045 -- 188 - No Recife u'a vistosa coroação
Na igreja do Rosário aconteceu
De dois fidalgos ,bela distinção,
E assim o antigo Congo recebeu
Novos reis para a sua governação
Que por tantas desgraças mereceu.
A distância porém os impedia
De gozarem de tanta fidalguia!
046 -- 189 - O Governo e o Conselho decretaram
A instalação dum luso povoamento
Com alguns presos que antes condenaram,
Por troca com serviço em juramento
De soldados .
Decidem ainda enfrentarem corsários
Que nas costas traficam povos vários.
De soldados conforme concordaram,
Livrando-se no fim do cumprimento,
-------==============0========================047 -- 190 -
---------------------------------048 -- 191 -
049 -- 192 -
050 -- 193 -
051 -- 194 -
052 -- 195 -
053 -- 196 -
054 -- 197 -
055 -- 198 -
056 -- 199 -
057 -- 200 -
-----------------------------------------------------058 -- 201 -
059 -- 202 -
060 -- 203 -
061 -- 204 -
062 -- 205 -
063 -- 206 -
064 -- 207 -
065 -- 208 -
066 -- 209 -
067 -- 210 -
068 -- 211 -
069 -- 212 -
070 -- 213 -
071 -- 214 -
072 -- 215 -
073 (( 01)) -- 216 - -- ( 01 -- 216 ) -- ??
074 -- 217 -
075 -- 218 -
076 -- 219 -
077 -- 220 -
078 -- 221 -
079 -- 222
080 -- 223 -
081 -- 224-
082 -- 225 -
083 -- 226 -
084 -- 227 -
085 -- 228 -
086 -- 229 -
---------------------???? ------- (em actualização )-----
............................. ?? -
087 -- 230
-- (( 44 - - 187 -))
.....................................
((45 - (188)) - No Recife u´a vistosa coroação
... ... Na igreja do Rosário aconteceu
... De dois fidalgos, bela distinção,
... E assim o antigo Congo recebeu
... Novos Reis para a sua governação
... Que por tantas desgraças mereceu.
... A distância porém os impedia
... De gozarem de tanta fidalguia !
46)(189)- O governo e o Conselho decretaram
... A instalação dum luso povoamento
... Com alguns presos que antes condenaram,
... Por troca com serviço em juramento
... De soldados conforme concordaram,
... Livrando-se no fim do cumprimento.
... Decidem ainda enfrentarem corsários
... Que nas costas traficam povos vários.
47)(190)- Um Távora seguira p´ra Benguela
... Sendo nomeado seu capitão-mor
... E Castro Sousa assim noutra tutela
... Como mestre de campo, bem melhor
... Na mesa e traje, válida farpela,
... Compensando um passado muito pior.
... Outro. Sampaio, comprava esse lugar
... Para em Cambambe poder governar !
48)(191)- Começam distribuindo muitas terras
... A diversos colonos em serviço
... Estendendo-se até umas altas serras
... Ou às vezes em terreno movediço.
... Ficavam reguladas todas guerras
... Sem atrapalhar padre nem noviço.
... Massangano enfrentava a capital
... Com a Misericórdia a dar sinal.
.......................................
.................. ??? ...........
70)(213) - O capitão-mor Sousa complicava
... As vidas dalguns povos da região
... Onde o jaga Cassanji manobrava
... Derrotando Quiguanga na questão
... Que seu padrinho,"Pai do Sol",apoiava
... P'ra não complicar essa ligação;
... No funeral de Dom Pascoal matavam
... Alguns jovens também, que ali enterravam!
71)(214)- Afonso Terceiro, um seu sucessor,
... Encontrara diversas confusões
... Com as fugas dum Reino de pavor
... Sem conseguir segurar os cordões.
... Daniel nem se pudera recompor
... Porque Pedro Segundo,com bastiões,
... Tornara todas rédeas em fraqueza
... Suprida por Manuel com subtileza,
72(215) - Que,como falsa noiva, disfarçado,
... Elimina seu irmão com u'a pistola
... Mas não ganhando num outro atentado
... Que o atingira certeiro na sua tola,
... Porque Garcia Terceiro,mais cuidado,
... Lucra dos capuchinhos essa esmola !
... Sem deixar arrefecer tal vantagem
... Solicitara a régia vassalagem.
.................................................
--- CANTO XI - NOS REINOS DO SERTÃO - (59 estâncias) ---
1) (216)- Silva e Sousa chegado finalmente
... P'ra comandar o Reino principal
... Não tempo de aguçar o dente
... Contra Dala e o Cassanje, seu rival,
... Que nem aproveitou a ajuda presente
... E o livrou de sofrer um grande mal;
... Perdera assim aquele seu comando
... Ficando tudo a saque d'outro mando.
2) (217)- Não consegue,porém,ali aguentar
... Preferindo regressar à origem,
... Sendo logo preenchido seu lugar
... Com apoio renovado e vassalagem.
... Em Catole, Sequeira iria acampar
... Com um certo descuido,mas coragem;
... Acabava com trágica surpresa
... Perdendo terreno e alguma firmeza.
3) (218)- Explodiam as barracas num instante
... Repletas de armas, muitas munições,
... Mais parecendo festa delirante
... Apavorando suas populações.
... E Sequeira, o "invencível" e triunfante,
... Foi abatido com setas nos pulmões
... Sem desânimo dos seus companheiros,
... Conseguindo vencer, foram primeiros.
....................................................
4) (219)- Brito, no seu lugar,fez marcha atrás
... Preferindo chegar a outro local
... Com muito menos guerra e melhor paz
... Mas ganhando a prisão na capital;
... Surgindo então Rebelo, mais capaz,
... Sendo capitão-mor de bom cabedal,
... Vencera Dom Francisco,soberano,
... A favor de Vitória, de igual ramo.
5) (220)- Nas terras da Oilla os lusos ficariam
... Durante muito tempo conhecidos;
... Com os diversos povos contactariam,
... Refugiados estando,perseguidos
... Por bandos que do norte os ameaçariam,
... Havendo mesmo muitos falecidos.
... Mas outros por Caconda haviam ficado
... Onde um presídio fora então fundado.
.............................
06 - 221 - Diversos capitães foram nomeados
Para os fortes,presídios,fortalezas,
Mudando duns para outros,controlados
P'lo governo geral,sem estranhezas,
Quando Dona Vitória em em seus reinados
Aceitava a passagem das riquezas,
Sem a sua natural interferência,
Em troca duma nova convivência.
07 - 222 - A disposição régia determina
U'a geral igualdade dos direitos
De todos residentes nessa sina,
Sem reserva de raças nem defeitos
Entre eles,como a tal lei determina:
Sem uns prejudicar,não sendo eleitos
Com as mesmas regalias,promoções,
Gozando todos povos suas acções.
08) - 223 - Mas não deixa ficar no esquecimento
O desastrado tráfico de escravos
Reduzindo-lhes cada sofrimento
Nas suas labutas diárias,que nem bravos;
Terminava com falso tratamento,
Amontoados como abelhas em favos,
Sob pena dumas multas aplicadas
Aos que tinham carteiras bem recheadas.
09)- 224 - Chegaram ordens para o Seminário
Se poder instalar na capital,
Quando Lobo começa o seu fadário
outro novo comando principal;
Pedira o apoio militar necessário
Com a calma e cautela ante o normal,
Que lhe valera um nome muito maior
De ser "Restaurador e Redentor"!
10) - 225) - Em Cahenda,um hospício foi montado,
Pelo padre Francisco,"o Romano",
Enquanto para Quilengues era criado
O sonhado Presídio mais humano.
Um patacho havia sido comerciado
Pela Santa Irmandade naquele ano
P'ra transporte de escravos,seu negócio,
E remediar uma obra e o sacerdócio.
11) - 226 - Natividade,bispo,falecera
Deixando a Igreja numa confusão,
Com desgosto dum povo que cedera
Diante fraco governo sem razão,
Porque em tristes negócios se metera
Desfalcando valores da Nação;
Com o parceiro Bento negociara
E,alguns padres detidos,desprezara.
12) - 227 - O referido sócio fora aviado
Com desgosto de Lobo,enfurecido,
Aumentara sua trama,bem danado,
Vendo o seu grande lucro reduzido.
Impedira em Benguela um novo dado
E,não sendo Nojosa promovido,
Ficava o amigo Góis com preferência
Embora o Provedor não desse anuência!
13) - 228 - Um orgão religioso superior
Não permitia uma certa ordenação
De mestiços,mulatos,por sua cor
Presumir duvidosa filiação;
Carmelitas defendem com ardor
Sem permitirem sua santa admissão,
Talvez porque com seu ar escurecessem
E tais divinos corpos fenecessem !
14) - 229) - Novos fortes,presídios iam surgindo
Na Guia e no alto Penedo,vigilantes,
Enquanto o de Benguela havia cedido
Ficando Rocha e os seus sob os sitiantes;
Aceita acordo em paz reconhecido,
Saindo com outros ,crédulo como antes.
Sem cuidar duma falsa palração
Perdera sua cabeça na traição.
......................................................................
15) - 230 - Foram depois saqueados com violência
Nem escapando os tristes moradores
Vendo-se assim na dura contingência
De fugirem p'ra matas e arredores
Com os povos da mesma procedência
Mas dependentes d'outros instrutores.
E, do Bongo,Lacerda se retira
P'ro litoral com gado que reunira.
16) - 231) - Aguardava-o uma morte repentina
Vindo de novo Góis,seu sucessor,
Contra os sobas locais e assim termina
A luta sem saliente vencedor.
Não conseguindo mais segura sina
O antigo Ngola tenta com vigor
Obter durante a luta o que em paz perdeu
Mas bem pior seria o que lhe aconteceu !
17) - 232 - Salvador Benevides falecera
Tendo permanecido num degredo
P'los males que no Brasil cometera
Mas que tinham fiado em segredo,
Sem obter a missão que oferecera
Numa travessia sem demonstrar medo.
No entanto sua memória resguardara
Lembrando o velho tempo em que brilhara !
18)- 233 - A douta carta régia decidira
Disciplinar consumo de bebidas
Assim como a assistência que incidira
Onde os escravos tinham as suas vidas.
O Conselho renova o que havia em mira
Sobre as antigas moedas conhecidas,
Ficando para sempre resolvido
Pelo muito transtorno aparecido.
19)- 234 -- No Congo,João Segundo,ali reinava
Após Pedro Terceiro ser finado;
No entanto,seu poder nem se afirmava
Não tendo uma coroa real colocado,
Pois pertencera a António, que "marchara".
E foi na sua cabeça p'ra outro lado
Donde logo,porém,havia sumido
E o ceptro com o qual tinha perdido.
20) - 235 - E,chegara Lencastre ao seu comando
Vindo com novo Bispo em companhia
Mas encontrando tudo num desmando
Que talvez nem dum "lobo" se temia !
Do Bongo,o novo soba reclamando,
A lusa cobertura pretendia
Mas,afinal,perdera a liberdade
Seguindo preso p´ra velha cidade.
21)- 236 - O bispo renovara a pretensão
De ter outros alunos diferentes,
Pondo mestiços nessa profissão
Estando deles há muito carentes.
Depois de muita dúvida e inacção
O Conselho resolve alguns pendentes
Sobre os libongos tanto repudiados
E porque,há muito,não eram negociados.
22) - 237 - Depois dessa demora o rei decide,
Com apoio do Conselho e da Fazenda,
Que a "palha" com o cobre não colide
E que este fazia já falta tremenda.
Mas outra questão sobre o Sonho incide
E fora necessária nova emenda
P'ra ainda um certo Quimpanzo governar
Nesse Congo,que andava a navegar !
23) 238 - Mas o Conde sonhava com negócios
Efectuados por tráfico de ingleses,
Não desejando os lusos para sócios,
Como antes faziam com os holandeses!
Padres,quebrando os seus escuros ócios,
Se governam também bastantes vezes,
Com imenso prejuízo para as gentes
Levadas p'ra lugares diferentes.
24) - 239 - Certas igrejas,fortes,reparavam
Para uma mais valiosa posição
Em que alguns dos seus válidos finavam,
Como era Cadornega,em douta acção.
Pedro Segundo,rei,e outros armavam
Pedro Quarto,para outra solução
Naquele antigo trono congolês
Mantendo-se a linhagem dessa vez.
25) -240 - Menezes houvera há pouco chegado
Encontrando diversas confusões
Em Ambuíla e com um outro sobado
Contra os padres em várias situações,
Destruindo,nada tendo ali restado
Que salvasse as melhores intenções;
Mesmo as igrejas foram incendiadas
Sem cuidarem das gentes albergadas.
26) -241- Figueiredo,porém,capitão-mor,
E muita "guerra preta" protegida,
Decidem aguardar pelo melhor
Estando em Cambambe uma boa guarida.
Não tencionando daí sair,com temor
De perder a boa casa e sã comida,
Sofrera ali o seu rápido final
Bem longe do saudoso Portugal.
27) - 242- Um cabo,Pascoal,toma o seu lugar
Derrotando diversos p´lo caminho
Sem que nada deixasse p´ra o provar
Nessas terras e nem do seu vizinho
Naquele seu tremendo caminhar;
Não escapava nenhum pequeno ninho
E,mesmo as mães,até com tenras crianças,
Sofreram rudes prisões ou matanças!
28)- 243 - Estava o Congo numa derrocada
Nem podendo nomear o seu mandante
Que passa ao cargo doutra maior alçada
Sendo em tudo supremo comandante.
Ao outro dava também nova morada
Não tolerando nenhum delirante.
Combatentes de Ambuíla regressados
Foram na capital pouco amparados.
29 - 244) - Novas moedas de cobre surgiriam
Mudando as outras formas de pagar;
Assim,melhor os povos compreendiam
Sem recear quem gostava de enganar.
As lutas de Pascoal não se esqueciam
P´luso senhor,que o manda louvar
Nem permitindo ofensas descabidas
Às damas na Matamba protegidas.
30 - 245 - Magalhães era então governador
Ao fim da demorada,longa viagem;
Com alguma tragédia e muita dor
Meia centena acabara sua miragem.
Trouxera nova moeda com valor
Há muito desejada,boa cunhagem,
Com redução dos soldos a pagar
E um certo desagrado a registar.
31) -246 - Novo Bispo porém havia aguardado
Tendo pouca vontade p'ra acudir
A tanto falhanço há muito julgado
E havendo apenas poucos a servir;
Mantinham os escravos ao seu lado
Nos tantos casos que haviam de intervir,
Sem as punições dessa Companhia
Que muitas vezes deles usufruía !
32) -247 - Por todo o lado a acção mais se agravava
Com alguns duvidosos missionários,
Cada qual em primeiro se abastava
Porque nem sempre tinham honorários.
No Congo a situação desagradava
Talvez sem haver padres,funcionários,
Civis ou militares que aguentassem
Antes que as feras soltas os matassem!
33) - 248 - Por ali circulavam comerciantes
De estranhos e diversos,grandes países :
Buscando outros motivos mais sonantes
Pois andavam metendo seus narizes!
Para Espanha seguiam os meios flutuantes
Carregados de escravos sem suas raízes,
Entretanto nos reinos se parava
E a complicada vida se gerava.
34) - 249 - Militares estavam descontentes
Com baixos soldos do novo dinheiro,
Sendo a mandioca e o cobre os componentes
Nesse sistema ardil e sorrateiro.
Entram em acção com seus descendentes
Assaltando armazéns e o forte armeiro;
Saíra para a rua a dita rebelião
Co' degredado Guerra,seu "chefão".
35) - 250 - Muitos eram os dessa qualidade
Ali cumprindo suas antigas penas,
Metendo em pavor toda uma cidade
E não,o governante ou os chefes,apenas !
Atingia assim tamanha gravidade
Que Magalhães retira essas empenas
Decidindo ceder,dando razão
A quem reclama co'as armas na mão!
36) - 251 - Nem meios termos decidem aceitar
Vendo-se p'lo Senado bem apoiados,
Tão pronto decidiram protestar
Que exigiram a morte de uns culpados;
Na armadilha acabaram por tombar
Sendo presos e alguns executados!
Vencem soldos,farinhas e vestuários
Para não parecerem presidiários.
37) (252)- Andavam alguns já quase despidos
... Sem se saber dos postos ocupados,
... Embora assim do calor protegidos,
... Mas pelos maus insectos bem picados;
... Perante esses desleixos desmedidos
... Mais estranhos negreiros infiltrados
... Assaltavam nas costas co´ alguns navios
... E subindo, manhosos, pelos rios.
38) (253)- Num outro Reino Dom João governava
... Em paralelo com seu concorrente
... O que ainda mais ao Congo perturbava
... Com desentendimento entre sua gente.
... Por terras da Catola o povo andava
... Contra o Songo com luta permanente.
... Magalhães intervinha e vencera ambos
... Lucrando obter escravos dos seus "sambos".
39) (254)- Eram usados ainda nos trabalhos,
... Nos lugares das éguas não chegadas
... Depois de tantas leis, ou por atalhos,,
... Andando as naus de escravos carregadas;
... Mas de bebidas não ficaram falhos
... Pois que no Brasil eram fabricadas,
... Resultando em benéfica receita
... Para a despesa com a tropa feita !
.......................................................
............. em actualização ---------
- 40) - (255) -
- 41 - 256 -
- 42 - 257 -
- 43 - 258 -
-44 - 259 -
-45 - 260 -
-46 - 261 -
-47 - 262
-48 - 263 -
-49 - 264 -
-50 - 265 -
-51 - 266 -
-52 - 267 -
-53 - 268 -
-54 - 269 -
55 - 270 -
............... (em actualização) ............
56)(271) - Beatriz Kimpa,chamada Dona Santa
... Por reencarnar António celestial,
... Esquiva,a todos pintava sua manta
... Com visitas ao Senhor Principal,
... Sendo sua convidada, o que encanta,
... Por ser de São Salvador natural !
... Uma ressurreição teria imitado
... E aquela Terra Santa havia salvado.
57)(272) - De muito longe os fiéis ali acudiam
...Para ajudarem nessa Salvação;
...Pedro Quarto e outros não se convenciam
...Pondo um fim nessa tal encenação,
...Terminada nuns troncos que sumiam
...Com os corpos, ardendo sem cremação !
...Mas perdeu a mais antiga e sua linhagem
...Sem outro descendente ou vassalagem.
58)(273) - Do Brasil mais escravos pretendiam
... P'ra salvar os "engenhos" desfalcados
... Mas pelo interior lutas ressurgiam
... Em terras de Caconda e seus sobados.
... Dom Pedro Quarto e os seus se recolhiam
... P'ra Lelunda, enviando o outro com aliados;
... Constantino, porém,mais desejava
... E ficar nesse trono se esforçava.
59)(274) - Esse Pedro não aceita tal mudança
... Mandando-o prender pelo seu pescoço
... E,cortado a cutelo, com pujança,
... Perante alegria e num grande alvoroço
... Acabara de vez com tanta andança
... E pretensões de mais algum rei moço!
... Os "Quibango" reassumem a realeza
... Dando aos "Quipanzo" os restos da sua mesa.
.....................................................
--- CANTO XII - A COBIÇA INTERNACIONAL - (94 estâncias) ---
1)(275)- Ribafria sucedera ao nobre Almada
... Que foi governar para outro reinado
... E para onde não houvera mais jornada,
... Que o governo acabara co' "el-dourado";
... Mesmo p'ra degredado era vedada
... Sendo Angola o destino sobejado,
... Como acontecera antes a diversos
... Embora fossem santos não perversos.
2) (276)- A revoltada gente da Quiçama
... Fora vencida por sobas reunidos.
... Ribafria nunca teve santa cama
... Actuando com processos mal sabidos:
... Pouco valera alguma justa fama
... Nem resolveu problemas conhecidos.
... No seu regresso teve de aquecer
... Quando seu barco estava a fenecer.
3) (277)- Entretanto, chegara Dom Noronha,
... Havendo situações bem complicadas,
... Com casos muito doentes,qual peçonha,
... Para o que devia ter as mãos pesadas.
... Mesmo o Senado, com bastante ronha,
... Desviava nomeações menos cotadas
... E, por não serem da alta sociedade,
... Apenas dos musseques da cidade!
4) (278)-Pelos diversos países negociavam
... Os Tratados de Paz e de Amizade
... Mas, entre uns e outros, todos manobravam
... P´ra ficarem lucrando nessa herdade :
... Ingleses mais escravos contratavam
... Obtendo um monopólio de verdade
... Durante uns anos bem compensadores
... Para encherem os bolsos dos senhores !
5) (279)- O Trem Real,para as armas, munições,
... Surgira ali no Largo da Feira,
... Estando um mais antigo sem acções
... Nem garantias de válida maneira.
... A carta real impunha decisões
... P´ra maior saída de escravos, uma asneira,
... A favor do Brasil, causa habitual,
... Com bênção do governo em Portugal.
.....................................................
44) (318)- Mas,Angola, essa Mãe, pouco lucrava,
... Perdendo os filhos que a terra parira;
... A cultura (e a colheita) mais rareava
... E em favor de quem nada contribuíra !
... A gente lusa que se dedicava,
... Era tão pouca, mal se distinguira:
... Sofriam fomes, mazelas pertinentes,
... Para os naturais ainda diferentes.
45)(319)- O bispo impunha trágicas medidas
... Dando facilidades sem opção,
... Coloca criadas sem lições sabidas
... Em exames com júri sem acção
... E,Teixeira, mestiço, em santas lidas,
... Contra o agrado de certa ligação,
,,, Ao ponto de meter o Tesoureiro,
... Idoso,preso num seu galinheiro !
46)(320)- O padre foi depressa despachado
... Para terras do sonho brasileiro,
... Onde um acesso lhe era ainda vedado
... Não tendo o luso sangue verdadeiro.
... O Ouvidor,Avelar,havia chegado
... Para um entendimento mais certeiro,
... Sem que bastasse a santa intervenção
... Com esse bispo quase num caixão.!
47)(321)- João Quinto destronava a dita lei
... Que reduzia direitos aos mestiços
... Em cargos responsáveis do seu rei,
... Mesmo ao branco casado em bons ofícios
... Com u´a negra ou mulata dessa grei,
,,, Alegando que, os pardos bem castiços,
... Nem eram inferiores nos misteres
... Tanto dos homens como das mulheres.
......................................
92(366) - Nalgumas Feiras foi determinado
... Manter certo negócio mais habitual
... Com escravos de diverso sobado
... Ali vendidos, por bem ou por mal,
... Com estranhas influências dalgum lado
... Onde estava o danado capital,
... Não podendo os capitães intervir
... Nas vendas que pudessem ressurgir.
93(367) - A macuta fazia sua aparição
... Em Angola, com válidos valores.
... No Reino de Benguela houve a criação
... Duma Irmandade com alguns andores
... E,num Reino do Congo, u'a vocação
... Sucedera a Dom Pedro com clamores;
... Mas este, regressando, os sossegara
... Com protecção do bispo que o coroara.
94(368) - Degredados tentaram atacar
... O governador e os seus oficiais
... Praticando assassínios sem parar,
... Com assalto a Conventos e demais,
... Querendo algumas pratas arrebanhar,
... Porque os jesuítas tinham-nas a mais.
... Uns deles foram logo silenciados
... Ficando Álvares com ossos quebrados !
..............................................
--- CANTO XIII - OS CAMINHOS DA LIBERTAÇÃO - (72 estâncias) ---
1)(369)- Tomara posse Dom Sousa Coutinho
... Reunindo os comerciantes da cidade,
... Devendo cessar logo de caminho
... Com os que nunca obtinham liberdade,
... Nem havendo um imposto mais daninho
... Prejudicando toda lusa herdade,
... Mesmo tendo suas dívidas somadas
... Com as diversas, tão mal disfarçadas.
2)(370)- Sendo o Terreiro Público ali criado
... Para a recolha dos bons alimentos,
... Assim ficando tudo armazenado
....Para distribuir com mais fundamentos,
....Sem que algum fosse mais beneficiado
....Ficando outros com menos suprimentos;
....Assim evitam feios, fracos negócios
....Ou trocas de trabalhos pelos ócios.
3) (371)- A Geometria, porém, e a Construção,
... Em "aulas",antes já sendo existentes,
... Tiveram uma nova pretensão
... Havendo muitas obras dependentes,
... Porque nem encontravam solução
... Para resolver casos das suas gentes
... Em casas mais antigas,mal situadas,
... Sem posses para serem reparadas.
4) (372)- O mesmo seria com as fortalezas,
... Sujeitas aos ataques estrangeiros
... Sempre prontos a explorar as fraquezas,
... Levando cargas, sem deixar dinheiros.
... Sousa Coutinho vence umas torpezas
... Contra alguns traficantes, garimpeiros,
... Sempre prontos a pérfidas andanças
... Sem respeitarem válidas mudanças.
5) (373)- O "Grande Plano" Rosa renascera
... Para atingir Moçambique e o seu Oceano,
... Visando os rios que o luso percorrera
... Sem usar os processos de tirano.
... No interior, com recato procedera,
... Com as terras não usadas durante o ano,
... Devendo passar aos trabalhadores
... Sem lutas entre servos e senhores.
....................................................
48)(416)- Colonos holandeses e alguns mais
... Rondavam as fronteiras angolanas
... Depois de terem dado maus sinais
... Noutras estranhas zonas africanas.
... Tantos abusos,já eram demais,
... Cessando essas companhias desumanas,
... Tendo muitos escravos negociado
... Sem seus direitos ter considerado.
49)(417)- Para Salvador segue uma missão
... Com o Geral Vigário e o Superior,
... Conservando no Reino a tradição
... Que recebe dum seu membro anterior;
... P´lo Dande e Bamba passa em progressão,
... Depois Mucondo,mais para o interior,
... Chegando mesmo ao Congo, seu destino,
... Sem terem de entrar nalgum desatino.
50)(418)- Mas, depressa o Vigário se fartara
... Da antiga Diocese, há tanto esquecida,
... E porque mais dum século passara
... Sem que,um outro, tivesse ali guarida.
... Uma congestão rápida o atacara
... Separando-o de sua cansada vida
... E ficou, para sempre sepultado,
... Na igreja do Santíssimo Adorado.
51)(419)- Assim o Triunvirato ali surgira
... Com o Bispo,Ouvidor e um coronel,
... Tendo um Cabido, que pouco se vira,
... Não obstante ter uns padres a granel.
... Num Convento outros tinham a sua mira
... Nos juros dos dinheiros em tropel,
... Dos diversos empréstimos cobrados
... Que cresciam nos negócios dos seus gados !
.......................................
70(438)- Alguns mestres no ensino e,certa ciência,
...Tinham ali acabado de chegar
...Pra fornecer aos jovens a sapiência
...Suficiente no saber governar.
...Nas igrejas mudara Sua Eminência
...Por uma outra que estava a começar
...Para remediar má, triste conduta,
...Que não aceitava mudança absoluta.
71(439) - Albergaria deseja mais colonos,
... Uns bons milhares para o povoamento,
... Antes que ali surgissem outros donos
... Prontos a colher frutos sem tormento.
... Foram gastos uns válidos abonos
... Para o "Naturalista", com talento,
... Estudar no rio Cuanza suas vantagens
... Com apoio de Donatti nas pastagens.
72(440) - Visita o Bispo o Sonho e o seu condado
... Que nunca recebera essa excepção;
... Com muito casamento e baptizado
... Ficava mais católica a Nação.
... Do forte militar ali iniciado
... Decidem completar a construção
... E que fora atacado p'los franceses
... Metidos em negócios tantas vezes !
...........................................
---- CANTO XIV - OS MISTÉRIOS DO CUNENE - (128 estâncias) ----
1)(441)- Decide a Junta fixar em Benguela
... Os dirigentes das expedições,
... Como se fosse uma imensa janela
... Aberta p'ra desvendar os sertões;
... Com Furtado e Valente em curta trela
... Tinha em Silva e Lacerda uns bons peões,
... Buscando o estranho final do Cunene :
... Rio estreito,largo,rápido ou perene !?
2) (442)- Uns chegam a Angra do Negro p'lo mar
... Encontrando emissários dum sobeta,
... Curiosos de conhecer,"conversar",
... Como sendo "homens" dum outro planeta!
... Mais não pretendiam do que desvendar
... A ligação do rio com a sua meta,
... Julgada estar situada num maior
... Que os levasse ao longínquo interior.
3) (443)- Caminhara Gregório para o sul,
... Indo pelo Quilengues e mais terras
... Para alcançar em Angra o mar azul,
... Depois de atravessar deserto e serras;
... Com uma caravana passa um paul,
... Chegando a Banda(Angra) sem mais guerras
... E conseguira algumas vassalagens
... Desde Quinzamba ao Negro,fim das viagens.
4) (444)- Mas,no Bumbo, defrontam uns nativos
... Tendo havido diversos massacrados,
... Onde estivera Rosa co´uns motivos.
... Local de antigos factos registados
... Por uns exploradores mais activos,
... Pela muita importância relatados
... Como u´a Torre do Tombo misteriosa
... Nessa viagem perdida, mas valiosa.
5) (445)- Continuava, porém,por desvendar,
... Esse antigo mistério do Cunene
... Sem alguma razão a considerar
... O motivo de ser assim perene
... E andado há tanto tempo a procurar !
... Nem havendo um assunto mais solene
... Desistem dessa busca tentadora,
... Como no "Rio dos Mortos", em triste hora.
......................................................
34) (474)- Numa expedição saída de Benguela
... Com Assunção e Teixeira, haviam passado
... Em terras do Lovale e dos Ambuela,
... Seguindo p´ro Zambeze desejado.
... Aí seria o bom caminho, boa janela,
... Para atingir o ponto manobrado,
... Por onde os "Rios de Sena" os aguardavam
... Em planos com que muitos mais sonhavam.
35)(475)- Com uns diversos pontos no programa
... Os lusos executam suas missões,
... Não apenas p´lo poder ou falsa fama,
... Mas para alargar santas religiões.
... A vizinhança incrédula reclama,
... Vendo em perigo as fracas posições
... Que ali pretendiam logo assegurar
... E para maiores lucros embolsar.
36)(476)- A nova tentativa de ligar
... As duas valiosas costas portuguesas
... Sem ter de dar a volta pelo mar
... Despertava umas rápidas empresas.
... Do Zambeze ao Cunene iriam chegar
... Navegando seus cursos sem despesas
... E se acabariam dúvidas antigas
... Bem como suas histórias e cantigas.
37) (477)- Dom Miguel Melo,novo governante,
... Chega a Luanda com Bispo bem antigo,
... Depois de muitos anos hesitante,
... Talvez com receio de achar um perigo,
... Sem ser de algum macaco ou um elefante,
... Que nessa capital fora escondido !
... Ou, talvez estivesse bem por Lisboa,
... Com uma vida calma e gente boa !
........................................
126(566) - As tentativas contra a escravatura
... Foram renegociadas com ingleses,
... Evitando mais saídas nessa altura
... Prejudicadas já, por tantas vezes.
... Muitos interessados, gente dura,
... Nada gostando doutros portugueses,
... Discordavam de tantas transacções
... Feitas com traficantes ou ladrões !
127(567) - Carta Orgânica fora publicada
... Criando em Angola um governo-geral;
... Nos dois Reinos ficava completada
... Com distritos, presídios sem igual.
... A gestão militar fora trocada
... Pela forma civil, menos formal.
... Suas leis teriam um próprio difusor
... Para nem haver nenhum difamador.
128(568) - A ansiada Abolição foi resolvida
... Duma forma geral,definitiva,
... Para que no mar não acabasse a vida,
... Nem havendo mais pena punitiva.
... Terminava o negócio e a fé ferida
... Em que tantos, na triste comitiva,
... Sempre perderam, não só a Liberdade,
... Como, talvez, sua própria Dignidade !
.................................................
--- CANTO XV - ATÉ À DESCOBERTA DA SUA FOZ - (102 estâncias) ---
1)(569)- Vidal fora o primeiro governante
... Segundo a nova Carta Nacional,
... Que orientaria os destinos doravante
... Co'a justiça p'ra todos sendo igual.
... Em Benguela ninguém seria ignorante
... Da lei aplicada por ali em geral,
... P'ra matarem mosquitos com metralha
... Ou,queimando umas ervas sem ter falha!
1)(570)- Ngola Quiassama,soba numa serra,
... Não concordando com a instalação
... Dum Presídio dos lusos em sua terra,
... Avança contra Ambaca,no sertão,
... Mas,a tropa depressa mais o encerra,
... Algemando-lhe com vontade a mão.
... Garcia,regente na Oylla,nem sabia
... Como dominar outra rebeldia.
2) (571)- O distrito "Bragança" surgiria
... Na zona em que Quiassama dominava;
... Andrade,coronel,melhor fazia
... E a ordem ali de novo se instalava.
... Benguela no local se manteria
... E,Catumbela,na mesma ficava,
... Enquanto Luanda obtinha provimentos
... Com as diversas obras e uns eventos.
3)(572)- Navios estrangeiros,que andavam ao largo,
... Faziam ladroagem com lusa bandeira
... Mas, trocando-a na altura, como o cargo
... Aconselhava ser melhor maneira.
... Constituição confirma fim amargo
... Para o velho negócio e tanta asneira,
... Com que esses muitos graúdos sempre andavam
... A coberto de alguns, que os resguardavam.
.................... ??
--- (4) (573) ??? --- Ngola foi derrotado numa luta
... Enfrentando então Andrade com vigor;
... Ao Bié chega a figura resoluta
... No cargo principal,capitão-mor;
... Um mestiço com força na alma arguta,
... Com duplas funções de muito valor
... Naquelas mesmas terras do sertão
... E que muitos pretendiam ter na mão.
......................................................
.... -- 5) --- 574 ) ?? --
....................................????..............
-- (38) (606)) ----- A cera e o marfim tinham prioridade
... Em lugar dessa antiga escravatura,
... Atingindo maior capacidade
... E sem problemas de sua captura
... Desde o Barotze, com facilidade,
... Havendo ali rios de muita fartura;
... Com povos diferentes coexistiam
... Onde,p´los gestos, logo se entendiam.
39) (607)- A Moçâmedes chegam colonos
... Que das longínquas bandas embarcaram
... Com prometido aval duns bons patronos
... P´ra alcançarem as terras que sonharam !
... Muitos prosseguem, tendo alguns abonos,
... E, com rumo ao planalto, treparam
... Altos montes e serras de espantar,
... Cada dia mais distantes do seu mar !
40(608)- Garcia,major, recebe nomeação
... Para ali ter um elevado cargo,
... Figurando o governo da Nação
... Num lugar tanta vez bastante amargo
... Para quem quiser ter muita acção.
... Uma nova Companhia teria o encargo
... De proteger e instalar o colono
... Evitando um qualquer livre abandono.
41)(609) ?? - Nessa mesma, deviam tomar parte
... Uns casais açorianos,desgraçados,
... Com animais e artigos da velha arte
... E,todos juntos, seriam embarcados
... Com outros libertados, sem enfarte,
... Dos fortes e Presídios instalados.
... Na Huila era reforçada a povoação
... Com diversos colonos na sua acção.
..............................................
67)(635) ?? - O Brasil manda engenhos do melaço
... Com destino aos colonos instalados,
... Unindo-os assim com um forte laço
... Estando esses dois países enfrentados,
... E com o grande Oceano nesse espaço.
... Em Santo Adrião ficaram instalados
... Desenvolvendo as "Hortas" com bons frutos
... Juntamente com outros mais produtos.
68)(636) - Foi criado o seu respectivo distrito
... Sendo Sérgio de Sousa o governante,
... Conforme o que Ministro tinha escrito,
... Com o nome dum título sonante.
... Outros novos colonos,sem conflito,
... Embarcam no Brasil,muito distante,
... Tendo Abreu Castro por orientador
... Por ser do plano o grande sonhador.
69)(637) - Novas leis libertavam outros casos
... Dalguns trabalhadores ainda presos,
... Impondo algumas regras sem atrasos
... Sem os tratar com pérfidos desprezos ;
... Ficavam registados novos prazos
... E limitada tanta carga e os pesos.
... Aos poucos,as leis faziam certos efeitos,
... Ficando os lusos bem mais satisfeito.
70)(638) - Por fim chega a "Tentativa Feliz"
... Trazendo outros colonos portugueses,
... Bem marcados por triste cicatriz
... Que desse Brasil só traziam reveses.
... Recebem todos nova directriz
... P´ra se adaptarem nos primeiros meses;
... Depois de escassos tempos mal passados
... Renasciam sonhos sempre desejados !
71)(639) - Em Moçâmedes deixam o transporte
... P´ra se fixarem na terra da esperança
... Seguindo parte deles mais p´ro norte
... Sem ser em confortável segurança;
... Aí começa um calvário ou a fraca sorte
... No clima dum frágil abastança;
... Mas deixavam de ser como estrangeiros
... Num país onde os chamavam "marinheiros":
72)(640) - Numa baptismo rival,logo agravado,
... Fora mesmo cada um mais ofendido
... E ficaram com tudo destroçado,
... Nem bastando a pancada que haviam tido !
... Tudo isso por não terem aceitado
... Mudar o lugar em que haviam nascido;
... Ficariam para sempre portugueses
... Em pactuarem com pérfidos fregueses.
.............................................
100(668) - Os ingleses tentaram conquistar
... O Reino de Cabinda, sem prudência,
... Sabendo que não estava p'ra alugar,
... Mas ao cargo da lusa previdência.
... Subornavam o N'hongo sem cessar,
... Fazendo quase perder a paciência
... A quem tinha a total obrigação
... De manter em boa paz sua povoação.
101(669) - Costa Leal percorrendo pelo sul,
... Passa a Baía dos Peixes, continuando
... Em busca do mistério, sob céu azul :
... - Se o Cunene, absorvido e sem comando
... Há tantos anos, longe do Giraul,
... Entrava nessa areia que o ia ocultando ?!
... Findava esse segredo centenário
... Um caso,talvez, bem extraordinário !
++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ 102(670) - Leal, manda estudar sua navegação,
... Pretendida por outros governantes,
... Pensando na possível ligação
... Ao Cubango, desejo dos meliantes,
....Para terem mais rápida função
....Com os barcos de tantos traficantes,
....Na busca dos escravos e marfim
....Sem cuidar que esses podiam ser seu Fim.
----------------- FIM -----------------
...... (COIMBRA, 28/02/2003) ......
===================================================================
..................................................
----------- (INCLUIR TODAS AS ANOTAÇÕES EM FALTA : I e II VOLUMES) : -------------
-- NOTA I)-- ESTE POEMA ÉPICO TEM DOIS VOLUMES COM UM TOTAL GERAL DE 1.368 ESTÂNCIAS : ( Vol.I = 698 e Vol.II = 670), A QUE CORRESPONDEM 10.944 VERSOS, TALVEZ "O MAIOR" EM LÍNGUA PORTUGUESA) -- (Ver o Volume III, ainda em instalação e tendo nesta altura mais 147 estâncias..... e o TOTAL GERAL será de : 12.112 Estâncias ) --
-- NOTA II ) -- ALÉM DAS ESTÂNCIAS ACIMA TRANSCRITAS JÁ SE ENCONTRAM PUBLICADAS (VIRTUALMENTE), PARA UM PROVÁVEL III (??) VOLUME, TAMBÉM AINDA AS SEGUINTES (?) - ( EM ACTUALIZAÇÃO ):
A) - NO "SÍTIO" - http://angola.do.sapo.pt :
== VOLUME I - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" :
== VOLUME II - "DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO":
- CANTO VIII - nºs. 1 a 71 -- CANTO IX - nºs. 1 a 72 --
- CANTO XI - nºs. 1 a 59 --
B) - NO "SÍTIO" - http://angola-brasil-portugal.blogspot.com :
== VOLUME I -
- CANTO VI - nºs 1-7-15-20-36-49-53-58-59-64-75 --
C) - NO "SÍTIO" - http://angola-brasil-portugal.blogspot.com :
== VOLUME I -
- CANTO II ( )
- CANTO IV ( )
- CANTO V ( ) - CANTO VI (7/15 - 20/23 - 36-
-52-53-58-59-64...-) --
- CANTO VII ( ) --
......................................(em actualização) ...............
== VOLUME II :
- CANTO VIII (1-2-3-4-5...41-42-43-........69-70-71) --
- CANTO IX (1-2-3-4-5...40-41-42-43-.....70-71-72) --
- CANTO X (1-2-3-4-5...44-45-46-47-48...70-71-72) --
- CANTO XI (1-2-3-4-5...37-38-39-........56-57-58-59) --
- CANTO XII (1-2-3-4-5...44-45-46-47-.....92-93-94) --
- CANTO XIII (1-2-3-4-5...48-49-50-51.....-70-71-72) --
- CANTO XIV (1-2-3-4-5.. 34-35-36-37-....126-127-128) --
- CANTO XV (1-2-3-4-5...38-39-40-41-....100-101-102) --
================================
---- OBS -- Estas partes do "Meu Poema Épico" estão reproduzidas (com destaque) nos blogues a seguir mencionados, (além de outros), com a inclusão de bastantes e variadas fotos de interessantes motivos indígenas, por iniciativa e gentileza, que agradeço, aos seus autores,o que bastante valoriza e muito me sensibiliza :
Para um acesso directo basta clicar em :
------ ("SENTIRES SENTIDOS") :
sentirsentidos.blogspot.com/2008/01/do-tejo-grandioso-ao-zaire-
poderoso
------ ("A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL") :
afromix.org/html/blogosphere/pays/benin/index.pt.html
------ ("ANGOLA DO OUTRO LADO DO TEMPO") : (..."ir para página inicial do blogue"...)
tudosobreangola.blogspot.com
tudosobreangola.blogspot.com/2008/11/governadores-gerais-de-angola_15html
tudosobreangola.blogspot.com/2008/11/o-inicio-da-guerra-em-Angola-o-4de.html
-- "A Vida Das Palavras" : (CAMACUPA) :
camacupa.com/
avidadaspalavras.blogspot.com
avidadaspalavras.net/
avidadaspalavras.net/2009/01/historias-de-camacupa-e-outras-paragens_08html
===============================================
................... (EM ACTUALIZAÇÃO PERMANENTE).................
.....................................................
----------- OBS : Incluir ainda as respectivas ANOTAÇÕES do I e II Volumes --- (Utilizar o sistema seguido para o VOLUME III ( "DO CUNENE MISTERIOSO AO ZAMBEZE ESPLENDOROSO"), --(671) -- conforme textos seguintes : ---
=======================================================================
A partir de --- 12/11/1854 --- --- (estância nº --- (671) --- Os pombeiros de SILVA PORTO chegam à ilha de MOÇAMBIQUE... (..."ao destino prometido"...)
====================================================================
--- -- 2008/2009 - VOLUME III - :
--- "DO CUNENE MISTERIOSO AO ZAMBEZE ESPLENDOROSO" - ---
--- (Com a sequência normal de todas as suas estâncias e das anotações gerais, na parte final, respeitantes à sua totalidade) ---
...................................................................
===
=======================================================
...-- ( 1) ---(671) -- ? Os pombeiros heróicos, esgotados,
("Chegaram ao destino pretendido")
Com as novas que os lusos doutros lados,
Esperançosos, tinham remetido.
Depois de tantos sonhos desejados
PORTO não presenciara o acontecido :
-- Num leito estranho estava meditando
Nessas tantas canseiras com seu mando.
.... 2) - (672) - Mas um outro famoso caminhante
Pelos desertos áridos sondara
Uma esquisita planta dum semblante
Que a outros antes nunca vislumbrara :
- Qual um gigante polvo verdejante
Ali surgira sem que isso sonhara
Naquelas rudes, secas, misteriosas
Terras com suas miragens deliciosas.
3) ---(673) - No PINDA fora erguida uma bandeira
Demarcando a presença portuguesa,
Logo erguendo com rápida canseira
Seu porto e centro, válida firmeza,
Protegendo dessa boa maneira
Toda a costa com superior certeza
Naquela imensa baía, dita felina,
Protectora, piscosa, grande mina !
....4) -- (674) -- Com um decreto real punham Justiça
Para muitos milhares de nativos
Comuns ou aos adeptos da preguiça,
Porque bastantes eram os motivos
Dos que não respeitavam santa missa
Preferindo os pecados menos vivos !
Terminava esse tráfico tremendo
Que tantos ali estavam mais fazendo.
....5) - (675)-De CABINDA, MOLEMBO, pedia protecção
Na construção dum forte resistente
Contra ataques do inimigo valentão
Antes que tudo fosse diferente,
Tanto mais que havia muita pretensão
Mesmo de nações doutro continente !
Surgiam sempre diversas artimanhas
De obter todas vantagens mais tamanhas.
....6) - (676) -Conhecido o final daquele rio
Restava estudá-lo em pormenor
Para recolher frutos sem arrepio
E as regalias de ser dono e senhor
Com ligações mais fáceis, regadio,
Boas culturas das gentes do seu redor,
Talvez mesmo dum rápido contacto
Com um outro de ainda maior impacto !
....7) - (677) - Eram sonhos antigos, milenares,
Duma mais curta via para os "Orientes"
Pelos novos negócios,outros ares,
Plenos doutras demais cativas gentes.
Obteve acordo de altos titulares
O Plano de alguns sábios dirigentes
Prosseguindo os estudos efectuados
Por caminhantes de ambos lusos lados.
....8) - (678) - Emissários do BIÉ logo regressam
Utilizando "D. FERNANDO E GLÓRIA",
Compensando trabalhos que não cessam
Ficando assim guardados na memória.
SILVA PORTO concede porque mereçam
Sem desejar tapar essa sua história
Nem os prémios que lhes pertenciam
Conforme as suas honras, que mereciam !
....9) - 679) - O famoso inglês, explorador,
Que às grandes cataratas avistadas
Havia chegado sem farto temor,
Alcança as outras costas disputadas
Utilizando um rio bastante maior,
Pretendido por gentes bem ousadas,
Talvez ainda antes mais localizado
Mas sem ser por alguém participado.
- 10) -(680) - SILVA PORTO porém não desistira
No avanço ao BAROTZE pretendido
E conforme o seu chefe lho pedira,
Caminhando quiçá quase perdido.
Pelo NINDA outro bem lesto seguira
P´ro local pelo inglês mais conhecido.
Mas um agreste clima o contrariara
Recorrendo a outro poiso, descansara.
- 11) - (681) - Não desistindo dessa tentativa
De HIQUERETO obtivera o tal marfim;
Regressando com grande comitiva
Punha nas caminhadas um bom fim.
Mantendo sempre o CUANDO em objectiva
Chega a BELMONTE, sua casa e jardim !
Bem merecia um descanso confortante
Alcançado que fora o rio distante.
- 12) -(682)- Pouco folga porém o caminhante
Iniciando por outra trajectória
Desviada de QUIGINGA, mais adiante,
A quem logo dispensa sua memória !
Os do LOVALE nem por um instante
Perdem tempo ou qualquer fraca glória.
Na companhia ZANZIBAR, interfere
Ditando regras que nem as confere.
- 13) -(683)- Não estariam isolados no negócio
Compartilhado por altas chefias
Sem ficar companheiros em branco ócio
Que chegadas estavam mordomias.
Qualquer chefe era óptimo,real sócio,
Sem olhar às suas hierarquias !
Devia haver sempre bom entendimento
Dado ser elevado rendimento.
- 14) -(684)- Chegado de BENGUELA estava XAVIER
Com alguns companheiros da região,
Enquanto PORTO, como outro qualquer,
Fora vencido sem grande remissão !
Regressa logo ao BIÉ sem mais mister
Renovando suas forças de ocupação
Em busca do marfim bem tentador
Enquanto mandava outros ao interior.
- 15) -(685)-XIQUERETO morrera na capital
Tendo-lhe sucedido um seu irmão
Sem ter ainda uma idade principal
Para tomar contacto com a Nação.
Mas, um outro, HIPOPA, radical,
Persegue os Macorolos da região
Tendo suas costas quentes pelo SUL
Mais afectando em ANGOLA o mar azul !
- 16 ) -(686)- PORTO foi convidado p´ra outro lado
Por um chefe, MUCHIRE, em território
Mais a norte, CATANGA designado,
Ainda muito selvagem, crematório
Dum enorme animal,descuidado
Da desumana fúria e desse empório
Que se tornara seu grande marfim
E, afinal, do próprio e triste fim !
- 17) -687)- Regressa do distante compromisso
Encontrando MUCHIRE em vil negócio,
Utilizando as guerras e o feitiço,
Trocava muitos braços sem tal ócio
Por desejadas cargas, sem dar por isso.
Suas terras dispersava p´ra outro sócio
Sem cuidar dos danados,maus horrores,
Em que lançava tantos servidores.
- 18) -(688)- O Bieno e outros parceiros despistados
Resolveram mudar as ditas vidas
Em tendo muito fracos resultados
Nas comitivas, trágicas, perdidas.
Preferem outros rumos não arriscados
Recolhendo das terras sempre tidas
Seu sustento legal, sem punições
Nem perigos de más perseguições.
- 19) -(689)- Dedicam-se mais tarde a novas fontes
Com ligação aos antigos conhecidos
Que os trocaram por parceiros doutros montes
Desde há muito bastante precavidos.
QUIPOPA passa estradas e algumas pontes
Indo para os Quicepes, preferidos,
Que desde longe mais negociavam
Com processos escuros que os manchavam !
- 20) -(690)- Por outro lado, STANLEY continuava
Em busca do famoso companheiro
Que há muito tempo por ali marchava
Com as informações dum luso parceiro
E a ruidosa "VITÓRIA" assim achava
Nem se sabendo qual foi o primeiro !
Prosseguiu pelos GRANDES LAGOS, radiante,
Pleno de energias p´ra seguir por diante.
- 21) -(691)- No BAROTZE, QUIPOPA fora deposto
Por GAMBELA, a favor de MANUANINO,
Que, mal agradecido,vira o rosto,
Muito embora ainda fosse pequenino !
Nem progenitor tinha certo o posto
Mesmo sendo de trato muito fino !
O poder não respeita algum tamanho
Quando falta melhor saber e amanho.
- 22) -(692)- O governo central organizava
Uma importante,sábia expedição,
Aos grandes rios que Angola descuidava
Para saber melhor sua posição
Bem como assim a forma que os ligava
Permitindo uma real navegação
Com a facilidade p´ra chegar
À outra costa sem ter muito a gastar !
- 23 ) -(693)- Essa Comissão,já seleccionada
Por entre alguns cientistas creditados,
Depressa enfrenta as ondas, embarcada
Com estudos por CORVO preparados.
O CUNENE era a base mais falada,
Para outros ainda e ali referenciados
No sentido de alcançar documentos
Suficientes p´ra fortes fundamentos.
- 24) -(694)- STANLEY,outro famoso caminhante,
Todo o rio ZAIRE já havia percorrido
Quase de uma outra costa, mui distante,
Mas sendo pelos lusos recebido
Com carinho e respeito, fatigante,
Mesmo por PINTO, sem ser um vencido !
Regressam ambos com suas comitivas
E chegando entre aplausos e alguns vivas.
- 25 ) -(695)- IVENS, escolhido nessa acção,
Logo surge também para ajudar
Enquanto outros reunidos na questão
Em BENGUELA teriam de concentrar
Carregadores válidos p´ra função
Mas alterando o plano a activar :
Partiriam para o BIÉ, melhor caminho,
Deixando o "misterioso" mais sozinho.
- 26 ) -(696)- Iam tentar ainda noutras suas paragens
Tendo surgido tais dificuldades
Que anulavam suas válidas vantagens
Não passando de vãs facilidades !
Mas em QUILENGUES pior foram as viagens
Com diversas carências, nulidades
Insuperáveis, para alimentarem
Os componentes vários sem pararem.
- 27 ) -(697)- CONGEMBA foi difícil de trepar
Para depois um vale percorrer
E onde mesmo a boa água iria faltar,
Pensando alguns num pior acontecer !
Surgira CALUCULA, rio e o bom ar,
Para um pronto e total fortalecer,
Seguindo-se CALUNGA e mais alguns
Compensando onde não houvera quase nenhuns.
- 28 ) -(698)- SERPA PINTO tomara outro objectivo
Separando-se dos seus companheiros,
Tendo o CUNENE como o bom motivo
Para conseguir ser um dos primeiros
E de o alcançar, inteiro e ainda bem vivo,
Tendo por apoio válidos pioneiros,
Mas, seu corpo,porém, o havia de trair
Retendo-o ainda em CAPOCO e sem daí sair !
- 29 ) -(699)- Toma outro rumo sem estar em forma
E sendo recolhido pelo PORTO.
Pouco tempo repousa, contra a norma,
E entretanto ia acabar quase morto.
Prossegue de seguida e, assim, transforma
Sua doença, sendo nisso mesmo torto !
Nem os carregadores aguentavam,
Regressando p´ras terras se apartavam.
- 30 ) -(700)- Sobem pela CASSACA, grande serra,
Chegando a refrescantes, boas nascentes,
Donde o belo rio CUANDO olha outra terra
E suas margens se tornam bem crescentes,
Para depois engrossar, qual quimera,
De deixar os humanos seus bons crentes !
ZAMBEZE o aceita, cresce, caminhando
Para depois, em rápidos,se lançando.
- 31 ) -(701)- E naquelas paragens, mal sabidas,
Novo chefe, LOBOSSI,comandava
Depois de algumas entradas e saídas,
Pendente do poder que o suportava !
Um luso caminhante co' as perdidas
Havidas noutros lados, regressava
Estudando mais planos ou outras normas
Em zonas que lhes fossem de boas formas.
- 32 ) -(702)- Por toda a "Mãe das Águas" caminharam
Utilizando seus variados rios
Que ao Reino do BAROTZE os transportaram
Sem terem de passar por uns calafrios.
Os seus tinham problemas que tornearam
Vencendo soba ou chefe de maus brios,
Enquanto certos hábitos derrotam
Melhoravam passagens que os afrontam.
- 33 ) -(703)- Mais adiante GUINGÚRI os ameaçava
Manobrando com feitiços sem cessar,
Transformando-os em leões como afirmava
Para não os permitir por ali passar
Sem pagar o tributo que ele fixava
Sob pena de as cabeças degolar !
Entretanto MAVANDA premeia PORTO
Sem, haver em sua terra nenhum morto !
- 34 ) -(704)- Em CANGOMBE havia festa para os lusos
Negociantes de cera com boas trocas
Com o agrado de TEMBO e seus intrusos
Bem fornecidos com lanças ou mocas.
Mais agradado dos estranhos usos
O chefe nem lançara suas fofocas
Porque os brancos levavam oferendas
Melhores do que as armas e fazendas.
- 35 ) -705)- Oficiais da marinha portuguesa
Deslocaram-se à "foz misteriosa"
Completando os estudos e a certeza
Daquela situação estranha e famosa,
Chegando por CHICAPA sem tristeza.
Carregadores com postura airosa
Temiam habituais frios na grande serra
Ou em CANICA, QUIBUNGO e noutra terra.
- 36) -(706)- SERPA PINTO ligeiro continuava
P´ra CUBANGUI alcançando as suas nascentes;
Segue pelo CUSSIBI, zona brava,
Sobejando alguns répteis existentes
Comiam seus ovos quando se afastava
Um outro, embora dos mais potentes.
Avançam para NINDA entre os Cuancalas
Sem conseguir entender as suas falas.
- 37 ) -(707)- Comendo simples raízes e animais
Que num espeto assavam com cuidado,
Estavam quase nus, trocando sinais
Que seus antanhos já haviam combinado.
Eram bons caçadores, os principais,
Que se encontravam aí e por todo o lado;
Com arco e com a flecha prevenidos,
Enfrentavam selvagens aguerridos.
- 38) -(708)- Por outro lado IVENS avançando
Entre as serras de MOENGA regressava
Ameaçado por chamas, perigando
A formação que dantes o levava.
As abelhas, milhões,contra-atacando
Qualquer animal que se descuidava :
Punham em fuga os fortes ou menores
Ao som de gritos, rufar de tambores !
- 39 ) -(709)- Por CATUNGA e MINUNGO prosseguiram
E em CAPARANGA as quedas se avistavam;
Ladeando o CUANGO por ali dormiram,
Corpo cansado, já pouco aguentavam !
Alguns carregadores lhes fugiram
Quando com guarda fácil descansavam.
CASSANJE estava já ali mesmo em frente
Aguardando com calma por sua gente !
- 40 ) -(710)- Eram terras de CATUCHI,sobado;
Tendo perdido os seus carregadores
Deixava assim CAPELO desolado
Acrescentando mais algumas dores !
PINTO tivera já ao NHENGO chegado
Por entre manifestações e clamores.
Logo, do NINDA próximo ele estava,
Mas era c'o ZAMBEZE que sonhava.
- 41 ) -(711)- E, LIALUI, capital, lhes surgiria
Ofertando em CANGAMBA sua bandeira
Para ali passar, como por magia.
LOBOSSI, chefe,por farta maneira
Com o alegre povo o recebia
Esquecendo sem grande canseira
Seu antecessor MUANINO, despejado,
Indo p´ro CUANDO logo acossado !
- 42 ) -(712)- CAPELO em lenta marcha ia prosseguindo
Ao encontro de CHIQUILA, soba antigo,
Esquecido por Quiocos, quase findo,
Tendo apenas um único seu amigo :
-- o cachimbo c´o pipo que lhe ia caindo --,
Coroado pelo próprio inimigo !
Em troca dessa vil sobrevivência
Quase ali ultrapassada p´la demência !
- 43 ) -(713)- MANUANINO porém ressurgira
Sendo por MATEBELES ajudado
Enquanto SERPA PINTO assim se vira
Por uns momentos bem recompensado.
Muito mais para diante preferira
Estando em LIALUI mais interessado !
CAIUMBUCA novamente se pisgaria
Não sendo dos primeiros que assim traía.
- 44 ) -(714)- Como SERPA em CATONGO bem estava,
Ia VERÍSSIMO, fiel representante,
Protestar com LOBOSSI que o tramava,
Deixando muita gente hesitante
Pelo poder que a tantos superava
Sem coragem de o enfrentar um instante !
Mas ao "Grande" LIAMBAI queria chegar
Tal o ensejo de logo o desvendar !
- 45 ) -(715)- SERPA PINTO, com febres consumido,
Não desistia perante outros perigos
Ficando por GAMBELA e sendo traído,
Mas valendo MACHAUANA e seus amigos,
Guias dum explorador bem conhecido,
Não esquecendo os valores mais antigos !
Nessa demanda tudo havia arriscado,
Melhor fora tentar num outro lado.
- 46 ) -(716)- CAPELO pouca ajuda ali obtivera
Nem mesmo CAENGUE, tal como contava,
Enquanto IVENS, por certo a sua espera
Nessa CASSANJE, já desesperava.
Era difícil sair dessa atmosfera
Rodeado por um monte que o travava.
CHIQUILA, fracassado, nem valia,
Não fosse o companheiro que surgia !
- 47 ) -(717)- Os "Grandes" em BERLIM se consertavam
Para o avanço sobre ÁFRICA sem demoras,
Num mapa "Rosa" logo a retalhavam
Sem cuidarem de fusos nem de horas !
Enquanto os outros povos acordavam
Alheios aos que partiam as suas penhoras !
Alguns estranhos, já por ali andando,
Melhores posições iam conquistando.
- 48 ) -(718)- Tudo valia num tal atrevimento
Como sendo seus donos dum passado !
Nesse simples papel, sem valimento,
Traçavam o destino ao povo atado,
Sem direitos ao solo, alimento,
Nem sequer às suas vidas sem pecado !
Por tudo eram de pronto despojadas
Mesmo mulheres com vidas não criadas !
- 49 ) -(719)- Era tremenda a luta p´lo comando
Antes que os tristes povos despertassem
E as mentes fracas logo controlando
Para que um seu melhor ponto ocupassem.
Os "direitos antigos" iam negando
E lucravam mais os que se apressassem
Numa disputa nunca ali surgida
Sem darem o valor a tanta vida !
- 50 ) -(720)- Alguns danados vindos doutras partes
Com seus estranhos carros, fugitivos,
Perseguidos por gentes, quase sem artes,
Mais perigos causavam aos nativos
Bem fartos de tremendos, maus enfartes
Sem conhecerem válidos motivos,
Estando nessa terras ameaçados
E sem alternativas noutros lados !
- 51 ) -(721)- Outros diversos riachos iam vencendo
E os velhos companheiros se juntaram
Chegando a CASSANJE, recorrendo
às forças comuns que lhes sobejaram.
Entretanto CORDEIRO, não temendo,
Defendia os lusos contra os que tramavam
Obter direitos válidos, rendosos,
Por caminhos porém não temerosos.
- 52 ) -(722)- A MUTEMA diversos iam chegando
Na busca aos paquidermes refugiados
Porque, antes dessas quedas, iam ficando
Pelas imensas águas assustados,
Assim como dos homens os caçando
Pelos dentes que estavam bem dotados !
Viviam em MACHINGANGA, estando presos,
Sem fuga certa por imensos pesos.
- 53 ) -(723)- "MOZITUNIA" não estava mui distante
Ouvida ainda bem longe, temerosa,
Buscada há muito tempo, intrigante,
Difícil de vencer, tanto famosa !
Ali andava perdido outro funante
Dito COILLARD, situação duvidosa,
Sem ser bem conhecida a sua missão,
Talvez mais um de mapas na sua mão !
... 54 ) -(724)- STANLEY no ALTO CONGO caminhando
Foi convidado para uma Comissão
Que duvidosa andava executando
Alguns estudos numa estranha acção !
Mas algo grave andavam bem planeando
Com lucros para certa Organização
Ou do seu principal representante
Pleno de altos poderes, governante !
- 55 ) -(725)- SERPA avança p´ro BUMBO mais confiante
Com as ajudas válidas, preciosas,
Confiadas por COILLARD, ido distante,
Não achando ali estar num mar de rosas !
MOZITUNIA surgira, empolgante,
Assustadora, águas tão famosas !
Era a "Grande" VITÓRIA, conhecida
Muito antes noutra viagem destemida.
- 56 ) -(726)- O luso, doente, rápido, ali insiste
Descer aquela queda assustadora
Por uma corda que à dita resiste
Perante o espanto, prova aterradora
Dum direito que há tanto lhes assiste
Como pioneiros nessa grande hora,
Demarcando garantias seculares
Obtidas antes por outros seus pares !
57 ) -(727)- A "Floresta das Chuvas", no seu fundo,
Prolongando-se lá para distante
Era p´ra muitos como outro mundo
Que todos desafiava dali em diante.
Surgia PATAMATENGA, bem profundo,
Em busca do deserto sufocante
Apoiados por uns povos diferentes
Vivendo com bens parcos, suficientes.
- 58 ) -(728)- Eram terras salgadas, duvidosas,
Que não podiam usar sem mui cuidados,
Infectadas com bichos, infecciosas,
Sem outros alimentos encontrados !
Os seus guias, com as falas alterosas,
Lestos iam prosseguindo nesses lados,
Habitantes antigos, perseguidos
Por outros, quase mortos,bem feridos !
- 59) -(729)- Uma nova paisagem ia surgindo
Com MARICARI imenso, confortante
Naquele outro cenário quase infundo
Com tanta nova terra mui escaldante
Mas com noites dum frio mais prosseguindo
E alcançando um valor muito alarmante.
Alguns outros perigos os ameaçavam
E quase as noites em branco passavam !
- 60 ) -(730)- Era esse lago "Grande" ali interligado
Ao NGAMI, depois terras angolanas,
Estando mais acima, do outro lado,
Com as margens baixas, quase planas
Viradas p´ro CUNENE desvendado
Do segredo das suas águas bem insanas,
Durante muitos anos escondido
Não obstante do seu berço ser sabido!
- 61 -(731)- SERPA PINTO ia assim lento, avançando
Com as devidas cautelas, sempre atento
Às gentes, terras por onde ia passando,
E evitando ter qualquer ferimento
Com todos homens sob o seu comando,
Não lhes faltando o próprio provimento.
Passara por enormes cataratas
Do mui "Grande" rio ou por simples cascatas.
- 62 ) -(732)- Estava chegado ao fim de sua viagem,
Apenas parte desse "Esplendoroso",
Rio que assim abria válida viragem
Tornando-o logo em feito clamoroso;
Ainda não completara essa passagem
Até alcançar o Oceano venturoso,
Sonho antigo p´ra atingir a glória
Maior que a obtida c´o "Grande VITÓRIA" !
- 63 ) -(733)- CAPELO e IVENS já tinham chegado
Ao CASSANJE, ficando ali retidos
Pelo tempo bastante mau tombado
E sendo nessa altura surpreendidos.
SERPA tornara para um outro lado
Em locais ainda pouco conhecidos,
Sendo o principal dito de VITÓRIA
Que depressa bem ficou na memória.
- 64 ) -(734)- Os outros dois antigos companheiros
Retomam sua tirada interrompida
E nem sendo entretanto ali primeiros
Que haviam ficado em força reduzida.
CAMBOLO recebera tais parceiros
Sentindo assim mais válida sua vida.
Aguardam por melhor tempo local
Para a travessia sem risco dum mal.
- 65 ) -(735)- Ruma depois p´lo BANGO, grande monte,
Deixando o LUCALA noutro avanço
E dali, tendo como horizonte,
Alcançarem BRAGANÇA em novo lanço.
Passaram por CATANHA, sendo a fonte
Do CAMBO, depois XISSA, sem descanso.
Ali tombara um certo e grande herói
Para o povo que a sua fama constrói !
- 66 ) -(736)- Enquanto SERPA avança p´ra NATAL
Os outros dois preferem novo rumo
Que os levasse ao seu destino final
Surgindo certas águas como fumo
Em terrenos mais sólidos, sem sal,
Sendo seguras, próprias p'ra consumo.
Alcançam novos riachos,um povoado
E outro povo, incrédulo e admirado.
... 67 ) -(737)- Aí contactam CALUNGA, Reino em frente,
Seguindo para o CUILO, novidade,
Com seu povo ainda muito descontente
Perseguido por outra sociedade.
Mas, ainda em CAFUCHILA, era eminente
Um encontro com uma outra verdade,
Chefiados por CATECO, aterrador,
Por ser de todos Hungos seu senhor !
- 68 ) -(738)- Regressa SERPA PINTO, lusitano,
Portador da Bandeira vencedora
Naquela imensa viagem, muito ufano,
Esquecendo outra parte mais traidora !
Prosseguem seus parceiros naquele ano
Para alcançar a costa sonhadora.
No entanto outro destino os contrariava
E a "Expedição" logo regressava !
- 69 ) -(739)- Novas doenças surgindo, implacáveis,
Reduziram suas forças carenciadas,
Tornado-se por tal intoleráveis
E perigando as terras conquistadas.
O regresso em medidas favoráveis
Dava alento às tropas esgotadas;
Voltando pelo Forte BRAGANÇA
Renascera uma válida esperança !
- 70 ) -(740)- Às PEDRAS NEGRAS tinham regressado
Após a merecida e repousante
Permanência no solo desejado
De que precisa qualquer caminhante.
Depois de AMBACA terem alcançado
Havia fome tremenda, delirante;
Chegaram a LUCALA, entre serras,
Desejosos de suas antigas terras.
- 71 ) -(741)- STANLEY enviado pelo seu patrono,
Rei dos belgas também noutros espaços,
Do Continente queria ser o dono,
Explorando o rio ZAIRE em tantos passos,
Sem cuidar dessas tais doenças do sono
Que a tantos lhes causaram embaraços !
Era tudo uma pérfida mentira
Disfarçada com hábil, falsa mira !
- 72 ) -(742)- O pobre e fraco Reino congolês
Nem escapara dessa tal manobra
Que LEOPOLDO montara ao português
E ainda lhe ficando tempo em sobra !
Para a "Comissão", com desfaçatez,
Enrolando-a assim, tal gigante cobra
E eliminando Zúlus e outros povos
Mesmo nem sendo por ali mais novos !
- 73) -(743)- CAPELO chega com seu companheiro
Alcançando o rio CUANZA e desejando
Arribar são e salvo, em primeiro,
Porque o perigo estava sobejando !
Descem por LUENA, serra e outro ribeiro
Antes do principal, pouco faltando
P'ra reencontrar de frente,volumoso,
O caminho do Atlântico grandioso.
- 74) -(744)- Mais ao Sul buscam outra ligação
Seguindo o rio CUNENE, desvendado,
Supondo-o numa certa posição
E chegar ao ZAMBEZE desejado
Para alcançarem nova situação
Talvez mesmo mais fácil ao outro lado.
No entanto o novo plano iria falhar
E logo todos tinham de voltar !
- 75 )-(745)-
De BEMPOSTA regressa SILVA PORTO
A caminho do seu antigo BELMONTE
Falido, fraco, já quase bem morto,
Sonhando com aquele outro horizonte
P'ra recuperar um destino torto
Dessa perdida sua esgotada fonte !
Nesses velhos caminhos encontrou
Muitos outros parceiros que sondou.
- 76 ) -(746)- O ALTO DO CASSAI estava nesse plano
Que ainda lhe despertava outra coragem
Para os novos negócios daquele ano,
Arrastando novatos na voragem,
Cada qual nessa vez bastante ufano
Nem temendo a desconhecida viagem !
Pior p'ros paquidermes antigos
Contra tantos humanos inimigos !
- 77 ) -(747)- PORTO prossegue com velhos parceiros
E alcançam IUBA,válidas regiões
De pequenos, milhares dos obreiros,
Defendendo com seus fatais ferrões
E assim trocando as vidas dos primeiros
Contra tais invasores ou ladrões !
Dos diversos e estranhos Continentes
Ali estavam, bem ávidos, presentes !
- 78 ) -(748)- CASSAI surgira, tanto desejado,
Deixando antes CALUNGA mais atrás.
Sua passagem porém, havia custado
Elevado tributo em notas, Paz,
Não sendo apenas fácil, bom agrado,
Trocar produtos dessas terras más !
Terminara assim tal Expedição
Restando voltar sem outra reacção.
- 79) -(749)- PORTO regressa ao velho Continente
Propondo um novo plano, com lealdade,
Estudando os rios, forma diferente
De recolher os dados e a verdade
Sem afectar sua terra e a pobre gente
Recolhida com pouca ou muita idade
Ao longo de alguns séculos passados
Sem terem de ir p'ra outros novos lados.
- 80 ) -(750)-
Bienos atacam forças invasoras
Que MUCHIRE mandara p'ra BENGUELA
Sem respeitar as leis reguladoras
Levantando assim forte e feia querela.
Mas não ficam paradas as opressoras
Reprimindo com rápida cautela.
Eram muitos os estranhos infiltrados
Encontrando-se alguns mais avançados !
- 81 ) -(751) - Desses,um, STANLEY,muito conhecido,
Instalara sua tenda militante
Junto ao ZAIRE, num Posto guarnecido
E entre um povo que,talvez ignorante
Do verdadeiro plano, escondido,
Acreditava nesse bem falante
Controlado por um rei poderoso
Sob o austero domínio, majestoso !
- 82 ) -(752)- Era grandiosa tal "Associação",
Lançando logo rédeas imperiais
Que transformara numa sua Nação,
Aniquilando mesmo os seus rivais !
Negociava com chefes sem razão,
Mantinha-os como submissos tribais.
Nem os lusos poderes respeitara
De quem muito antes válido chegara.
- 83 ) -(753)-
Logo outros seus vizinhos se instalaram
Numa margem oposta ali defronte.
Fundando novo posto negociaram
Tornando-os logo numa nova fonte !
Assim, esses senhores, aumentaram
As antigas fronteiras, serra ou monte,
Como sendo seus donos, atrevidos,
Sem aos outros antigos darem ouvidos !
- 84 ) -(754)- E STANLEY muitas terras percorrera
Estudando e negociando com gentes
Antes faladas já numa outra esfera
Com os poderes bem mais dependentes,
Não ficando com planos em espera
Porque muitos, também seus pretendentes,
Avançavam com armas e bagagens
Dando ao Mundo umas pérfidas imagens !
- 85 ) -(755)- Muito antes DUARTE LOPES ali andara
Como outros destemidos portugueses,
Terras onde ninguém o amedrontara
Sendo sempre sujeito a mui revezes.
Factos dos quais alguém se aproveitara
Como havia acontecido tantas vezes !
Fora deles a grande descoberta
Ficando assim a nova porta aberta !
................. ( V. também a actualização das anotações) .....................
- 86 ) -(756)- No litoral,ao norte,NEGRA PONTE,
Os franceses depressa ali chegaram
Atraindo LOEMBO, dono dessa fonte,
E, com as muitas prendas que ofertaram,
Mudaram logo para esse seu monte
Esquecendo os que muito antes passaram !
Depressa ali arvoraram sua bandeira
Desprezando de quem fora a primeira.
- 87 ) -(757)- Mas,o luso com essa ofensa feita,
Reage co ´as mais enérgicas acções,
E as ajudas nativas ali o aceita
Chefiadas pelo soba e povoações
Como sendo uma válida receita
Recebida em certas situações !
Quem oferta, também ia manobrando,
Mais seguro no trono se guardando !
- 88 ) -(758)- Alguns outros "colegas" estrangeiros
Mais "direitos históricos" instavam
Por terem sido logo dos primeiros
Que por ali muito antes se instalavam !
Todos à "ASSOCIAÇÃO" se uniam ligeiros :
- Numa pronta manobra concertavam.
O Grande Rio pretendiam nos negócios
Havendo logo,rápidos,novos sócios.
- 89 ) -(759)- O Reino desse CONGO cobiçado
Ficava com fronteiras limitadas,
Tendo assim esse ZAIRE libertado
Com as duas margens bem mais negociadas,
Mas o luso ficava bem mais tramado,
Nada valendo as terras conquistadas !
Interesses diversos descobertos
Mostravam logo quais os mais espertos !
- 90 ) -(760)- Entretanto uns ilustres sertanejos
Avançavam com novas comitivas
Aproveitando os válidos lampejos
Sem temor doutras gentes primitivas
Chegadas a CACONGO com desejos
De manter suas ambições ainda vivas !
LUBUCO, ali bastante desejado,
Animava p´ra cumprir o seu fado.
- 91 ) -(761)- STANLEY e outros pelos ZAIRE continuavam
Dominando assim todas essas margens
Sem cuidarem que os lusos ali andavam
Muito antes nessas ou noutras paragens
Com acordo dos sobas que aí mandavam,
Permitindo pacíficas passagens,
Sendo melhor porém sua ocupação
Antes que fosse cair noutra mão !
- 92 ) -(762)- Mas eram necessárias as fortalezas
Garantindo lugares mais seguros,
Reduzindo sem temor as fraquezas
Antes que aumentassem os apuros !
Eram postos obtidos com firmezas
Mas ainda protegidos sem os muros,
Sendo assim muito fáceis de assaltar
E aumentando suas áreas por vigiar.
- 93 ) -(763)- CAPELO conseguira outro Tratado
Solicitado mesmo por nativos
Assustados,temendo do outro lado
Seus ataques sem válidos motivos !
CACONGO regressava dominado
Erguendo sua bandeira,bem altivos.
Mas, enquanto séculos passaram,
Nascia a esperança em que tanto aguardaram !
- 94 ) -(764)- Numa nova missão fora escolhido
Com companheiro doutras caminhadas
Para achar o destino pretendido
De melhor alcançarem as jornadas,
Por muitos outros nunca esquecido
E mais nações também interessadas.
ZAMBEZE era o o principal objectivo
Superando qualquer outro motivo !
- 95 ) -(765)- Chegado a umas desérticas paragens
Buscam as margens desse misterioso
Rio que alguns descobriram noutras viagens
Enfrentando um calor bem pavoroso,
Não podendo pernoitar nas suas margens
Com o estrangeiro sempre perigoso
Amedrontando até os carregadores
Que depressa sumiam p´los arredores !
- 96 ) -(766)- Demandam para terras lusitanas
Evitando perigos conhecidos
Tentando obter reforços dos humanos
Dispostos a substituir os fugidos.
Buscam novos caminhos e outros planos
Sem conseguirem vencer meios perdidos.
Restava regressarem para as serras
P´ra alcançarem o acesso a novas terras.
- 97 ) -(767)- Mas foram surpreendidos por uns rios
Arrastando preciosas, grandes cargas,
Que causaram uns tantos calafrios
E tornavam suas horas mais amargas.
Contactam outros povos,uns gentios,
Vivendo muitos sem reservas largas,
Não fosse existir tanto animal
Em ambiente bastante desigual.
- 98 ) -(768)- CAPELO e seu parceiro continuam
Sua caminhada em busca do almejado
Sonho sempre seguido e nem recuam
Perante algum perigo mais forjado.
Carregadores nem por ali actuam
Temendo atravessar o rio engrossado
Com outras grandes águas revoltadas
Depois de algumas quedas acentuadas.
- 99 ) -(769)- Outros povos estranhos avançavam
Desde o Sul bem distante,fugitivos,
E suas moradas todos as deixavam
Acompanhando povos primitivos.
Usando seus transportes caminhavam
Chegando ali nem todos ainda vivos !
Pretendiam um bom clima no Planalto
Para aí todos viverem sem sobressalto.
- 100 ) -(770)- Muitos outros também foram chegando
Com uns enormes carros,muito gado,
Longos e demorados se arrastando,
Subindo serras altas com cuidado.
Com o tempo se foram instalando
E escolhendo o melhor local e lado,
Mas era uma corrida manobrada
Para ocupação rápida e estudada !
- 101 ) -(771)- Em terras da HUÍLA entra a "Expedição".
Seguindo pela CHIBIA, acompanhados
P´lo africano MARIA, de boa acção,
Chegam aos rios com vários povoados,
Buscando alcançar GAMBOS, nessa missão,
Passando p´lo CUNENE em ambos lados.
Mais em frente, MULONDO, era o destino,
Se não surgisse grave desatino.
- 102 ) -(772)- Aí comandava então o "MANUEL MULOLA"
Não obstante DUPARQUET e seus comparsas
Prejudicarem muito toda ANGOLA
Em benefício doutras normais farsas;
Mais depressa iam enchendo a sua sacola
Sem cuidar dos prejuízos ou moças.
Alguns dos chefes locais manobravam
Ajudando os ladrões que comandavam.
------- (em actualização -------------------------
- 103 ) -(773)- Passam o rio CUNENE para o Sul
Onde os antigos povos se instalavam
Tendo vindo das terras e mar azul.
Expulsando os que muito antes aí estavam,
Nada pouparam nesse grande paúl
Sem respeitar direitos que olvidavam
E em zonas encharcadas, perigosas,
Com ameaças das feras ardilosas.
- 104 ) -(774)- Diversos missionários estrangeiros
Colaboravam contra os portugueses
Como se fossem eles os primeiros,
Destacando-se franceses e ingleses !
Uns destes, perigosos timoneiros,
Sem qualquer rejeição ou revezes,
Obrigara a descer lusa bandeira
Respeitada p´lo soba e antes primeira !
- 105 ) -(775)- Avançam para o CUITO bem confiados
De alcançar o CUBANGO,fim primeiro,
Com lagoas,riachos por diversos lados,
Dificultando mais seu companheiro :
- Terrenos, eles todos alagados,
Pantanosos,difícil p´ro pioneiro,
Havendo muito poucos alimentos
E nem sendo possível suprimentos !
- 106 ) -(776)- Estando todos bem adormecidos
Foram tolhidos por uns assaltantes
Perdendo os poucos bens,desprotegidos,
Sem guardas,tropas nem uns vigilantes.
Andaram depois por ali perdidos
Até alcançarem zonas sem errantes.
ZAMBEZE finalmente lhes ressurgia
Sendo esse outro,grandioso,em tal dia.
--- 107 ) - (777)--Logo passaram p´ro lado contrário
Tentando estudar várias estruturas
Que revelassem válido cenário
Depois de abandonadas suas alturas
Ainda nem vistas doutro visionário.
Findos desertos com muitas securas,
Restava chegar à última conclusão
P'ra descobrir a histórica ligação !
- 108 ) -(778)- Buscam fontes do ZAIRE, conhecido,
Num Reino que o MUSIRI conquistara
A CATANGA, a quem tinha sucedido
Por processos forçosos que mandara.
A "Expedição" depressa se quebrara
Separando-se a base que a iniciara.
Diversos povos haviam contactados
Andando uns e outros rápidos, forçados.
- 109 ) -(779)- P´las mais variadas questões se guerreavam
Impondo-se alguns, cruéis, os prepotentes,
Esmagando milhares que os rodeavam
Quer fossem os mais fortes,diferentes,
Mas que com muita fúria os enfrentavam
Nem temendo vinganças bem presentes.
Suas antigas origens, recordadas,
De nada valiam, sendo violentadas.
- 110 ) -(780)- Os Boeres organizam expedições
Aos grandes rios de ANGOLA, simulando
Interesses estranhos,sem razões,
Para não regressarem ao comando
Dos seus chefes e anteriores patrões
Que novo plano andavam manobrando :
- Ocupar zonas válidas, diversas,
Tomando-as sem direitos e sem pressas.
- 111 ) -(781)- Servindo como guia,bom companheiro,
O libertado "TRINTA" os orientava
Aonde CATANGA já estava primeiro
Mas com problemas pérfidos andava
Nem resistindo ao jovem ,mais ligeiro,
Que assim aquele trono lho tomara,
Não deixando passar a "Expedição"
E havendo outras influências mais à mão !
- 112 ) -(782)- Os sertanejos voltam a reunir
As suas bem limitadas guarnições
Para o LUAPULA depois atingir,
Passando por CAPONDA e mais regiões.
Andaram por caminhos sem porvir
Nem tendo frutos p´ra alimentações,
Rodeados de interesses estrangeiros
Que demonstraram serem mais ligeiros.
- 113 ) -(783)- Às fontes de CAFUÉ tinham chegado
Companheiro de grandes, velhos rios,
Correndo cada um para outro povoado
Causando os mais variados arrepios.
Estavam bastante próximos,ao lado,
Ora por climas quentes ou com frios;
Descansam em LUFUBO,mais em frente,
Tendo o grande LUAPULA na sua mente !
- 114 ) -(784)- Mas não ficavam por ali seus anseios
Tendo outro ainda maior para alcançar
Obtendo nesse já melhores meios
Antes deles chegarem ao alto mar !
Prosseguiram mais rápidos,sem freios,
Estando agora ao fim quase a chegar !
Descendo por QUIROPIRA no gozo
Surgia ao longe o ZAMBEZE "ESPLENDOROSO" !...
- 115 ) -(785)- P´la sua margem esquerda caminharam
Alcançando assim BOROMA bem depressa
Porque bastante próximo pararam
Cumprindo desse modo sua promessa
Pela qual ponto válido julgaram
Chegar com toda rápida pressa.
ZUMBO surgira,ponto principal,
Daquele território nacional.
- 116 ) -(786)- Por uma ilha fluvial haviam passado
Depois, terras de TETE e outra de SENA,
Atingindo esse objectivo desejado
Confirmaram válida tal cena !
Com esse novo ponto conquistado
Assim finda com êxito sua pena.
Em QUELIMANE surgia outra Bandeira
Ali sendo em tais terras a primeira !
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........................................ (em actualização ...............................
.................................
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--- 1) -- (117) / (787) ------ À outra costa longínqua,desejada,
Chegam de ANGOLA os válidos pombeiros
Que com uma missiva reservada
Cumprem sua missão,nem sendo os primeiros !
SILVA PORTO, com saúde complicada,
Ficara com saudáveis hospedeiros
Que em CATONGO por lá se conservavam
E com desvelo dele bem cuidavam !
... 2) (118)/ (788)-- Diversos portugueses percorreram
As margens do CUNENE,cuidadosos,
Entretanto diversos aí morreram
Em lutas com animais bem raivosos.
Mas outros em DONGOENA se instalaram
Praticando negócios mui rendosos.
Assim seus sacrifícios reduziram
Enquanto suas fortunas mais cresciam.
... 3) (119)-/789)-- Alcançaram o BEMBE uns militares
Para explorarem suas zonas mineiras
Com valiosas ajudas dos quimbares
Conseguidas por rápidas maneiras,
Comandadas por FLORES com seus pares.
Chegam ao AMBRIZ após muitas canseiras
Dos naturais com cargas bem pesadas
Levadas em distâncias alongadas.
... 4) (120)-(790)-- Salteadores atacam comitivas
Dirigidas do Centro p´ra BENGUELA,
Controladas por gentes primitivas
Permanecidas fora da tutela
Sob comando de CAMBA,mais altivas
Do que outras, sem nenhuma outra cautela,
Estando nos seus roubos ocupados
Sem cuidarem dos vários outros lados !
... 5) (121)-(791) -- Nos GAMBOS surge BINGA com suas lutas
Seguindo logo PINTO bem armado
Com tropas para rápidas disputas
Apoiadas logo por um outro lado,
Mesmo incluindo um sobrinho com astutas
Ambições de assim herdar tal sobado
Porque desde algum tempo nada tinha
E tal poder mais sólido mantinha.
... 6) (122)-(792)-- Por outras bandas mais desconhecidas
Andara ANCHIETA muito atarefado
Com estudos científicos das vidas
Que ali existiram em tempo passado,
Explorando umas plantas conhecidas
Mas que ainda ali ninguém as havia usado !
Era nisso bastante sabedor
Honrando o nobre título e valor.
... 7) (123)-793)-- Outros,por mais rendosos elementos
Buscavam sem olhar a humanidades,
Acumulando rápidos proventos
Em prejuízo de antigas sociedades,
Mesmo empregando feros tratamentos
Contra os animais com tantas idades !
Estavam dizimados noutras zonas
Depois das infindáveis intentonas.
... 8) (124)-(794)-- Um destemido e fraco caminhante
Avança sem temor,embora doente,
Rompendo entre altas serras mais triunfante,
Vencendo quanto surgia pela frente !
MUCUSSO era o destino mais brilhante
Cada dia o vendo já quase eminente
Mas sonhando obter lucros merecidos
Depois de tantos males padecidos !
... 9) (125)- (795)-Nem cuidara o cansado sertanejo
A partida que estava reservada
Tramando-lhe seu válido desejo
Porque sua vida estava terminada,
Tal como BONIFÁCIO,outro lampejo
Derrubando ali sua longa jornada.
Os sonhos muitas vezes terminavam
Em tristes vidas que não compensavam !
... 10) (126)- (796)- As comitivas eram assaltadas
Nas mais diversas terras com violências
Sendo mesmo por chefes comandadas
Não obstando suas origens,proveniências,
Por vezes personagens respeitadas,
Esquecendo outras velhas conveniências !
O castigo paterno fora dado
Sendo para bem longe despachado !
...11 (127)-(797)-- Surgira depois nova Sociedade
Para os altos estudos amparar
Com apoio dum válida cidade
Que tantos homens dera ao Ultramar,
Dele conhecedores,validade
Com que os poderes tinham de contar.
Da outra banda,desde ZANZIBAR,
Chegara VERNEY,rápido no andar !
...12 (128)-(798)-- Grandioso, quase louco,seria o Plano
De que fora mandado em sua missão,
Pretendendo ligar solo africano
Ponta a ponta por toda a sua extensão,
Limitada p´lo grande mar Oceano
E as desérticas terras do SUDÃO,
Sonegando direitos portugueses
Ali instalados já por tantas vezes !
...13 (129)-(799)-- A velha EUROPA estava despertando
Co' as conquistas dos lusos destemidos
Todos a uma,com pressa se lançando,
Ora sendo contrários, ora unidos,
Tais os planos que estavam preparando
Nas costas, sem serem conhecidos;
Nem as povoações eram respeitadas
Sendo suas casas logo ali queimadas !
...14 (130)-(800)-- Algumas, de científicas mantidas,
Novos bens e produtos negociavam,
Quer fossem formas claras ou escondidas
O que nem mesmo a tais incomodavam
Ou deixavam suas almas mais feridas !
Na mesma grande mó se concertavam
Sem cuidarem de quantos iam sofrendo
E por diversa causa ali morrendo.
...l5 (131)-(801) -- Os grandes rios também justificavam
Os tantos interesses demonstrados
Nos mais diversos lados que chegavam
E sem respeitar os seus povoados
Que,temerosos,logo desertavam
Para outros locais bem mais isolados.
Assim defendiam sua boa liberdade
Posta em perigo com qualquer idade.
...16 (132)-(802)-- Outros estudos técnicos fizeram
Os novos engenheiros contratados
P'ra traçarem caminhos aí,disseram,
Que os transportassem aos diversos lados
Sem esquecerem grandes rios que daí eram,
Ficando todos entre si ligados.
Enormes interesses manobravam
Naquelas terras que antes ocultavam !
... 17 (133)-(803)-- Destacada cimeira foi marcada
Por LEOPOLDO reinando poderoso.
Ficava logo tudo sob sua alçada
Pelo que se tornou logo famoso.
Missão hospitaleira,disfarçada,
Era afinal negócio desonroso,
Enchendo as algibeiras aos senhores
Misturados com pérfidos traidores.
... 18 (134)-(804)-- Chegara a hora do assalto preparado
Com escondida intenção,silenciada,
Não fosse tal segredo revelado
Numa manobra bem arquitectada !
Diversas missões por distante lado
Completavam,de forma combinada,
Ficando assim PORTUGAL esquecido
Como grande adversário a ser abatido !
... 19 (135)-(805)-- STANLEY prosseguia noutras caminhadas
Conseguindo famosas descobertas :
- Entre alguns rios,lagoas ali encontradas,
Surgiam grandes nascentes,encobertas,
Entre densas florestas reveladas
P´ra servirem de dávidas, ofertas,
Ao supremo senhor de tantas terras
Adquiridas por entre montes,serras !
... 20 (136)-(806)-- As imensas famílias fugitivas
Percorrem as desérticas planuras
Perseguidas por gentes bastante altivas
E enfrentando perigos e securas
Com calores ou noites negativas
Sendo diversas suas temperaturas !
Nos seus imensos carros,pesadões,
Foram sendo atacadas pelos leões!
... 21 (137)-(807)-- Muitas eram as mortes constatadas
Reduzindo as restantes esperanças
De alcançar outras terras sossegadas
Onde tivessem válidas bonanças.
Logo prosseguiam,sendo ainda atacadas
Pelos animais ou gentes nada mansas !
Assim mesmo seguiram decididos
A alcançarem seus sonhos prometidos.
... 22 (138)-(808)-- Novas vias resolveram instalar
Facilitando até ao quente sertão
Para dali suas minas explorar
Estando algumas com boa exposição
Sem terem muito tempo que esperar
E havendo ainda bem pouca ocupação !
Outros mais engenheiros arribaram
E nos fracos cobertos se instalaram.
... 23 (139)-(809)-- Muitos mais para diante desejavam
Prosseguir com seus planos estudados
Temendo os adversários que avançavam
Mesmo com uns processos condenados
Que nem as doutas leis aí respeitavam
Julgando-se senhores consumados
E esquecendo os históricos direitos
Conquistados pelos lusos peitos !
... 24 (140)-(810)-- LEOPOLDO não quebrava nessa luta
Mais alargando rápidas conquistas
Usando modos de maneira astuta
Sem cuidar de manobras muito vistas
E mesmo utilizando a força bruta
Ajudado por pérfidos artistas.
Muitos povos,temendo o seu poder,
Tinham sempre afinal que obedecer !
... 25 (141)-(811)-- Os lusos sertanejos prosseguiram
Pelo planalto bieno conhecido
Em rotas arriscadas que as abriram
Muito antes dum estranho estranho convencido
Ser o dono dos povos que fugiram
Embora sendo sempre perseguido.
Tudo valia durante essa avançada
Usando força bruta,gente irada !
... 26 (142)- (812)--Mais adiante CACONDA os aguardava,
terra de seculares reconquistas,
Sendo bem recebidos,o que honrava,
Entre gentes por ali nunca vistas
Mas que com gratos modos se portava
Sem cuidarem de suas origens mistas.
Com satisfação todos festejaram
E diversas ofertas permutaram.
... 27 (143)-(813)-- Dali partira SERPA c´o tenente
A caminho de uma outra alternativa
Percorrendo primeiro um sub-afluente
Sem precisar de nova comitiva.
Pelo Norte surgira estranha gente
Logo avançando rápida,altiva,
Convencendo alguns chefes descuidados
Sem saber do que foram ali enviados !
... 28 (144)-(814)-- Passaram para oposta,feia margem,
Mas deixando o cientista ali ocupado,
Aumentando sua válida passagem
Bastante conhecida noutro lado,
Mais valendo também essa viagem
Que consumia o viajante mais cansado
Embora em desejada e boa companhia
Doutro BILOMBO,porque ainda vivia.
... 29 (145)-(815)-- Nova missão porém o comandava
Para seguir por pérfidos caminhos,
Quase isolado,mas onde o acompanhava
CAPOCO,soba fiel,com pergaminhos,
Entre a bem pouca ajuda que sobrava,
Sem buscarem alguns novos vizinhos.
A BELMONTE chegaram seus parceiros
Mui conhecidos,nem sendo os primeiros !
... 30 (146)-816)-- SERPA,doente,cansado,prosseguira
Tentando alcançar bom acolhimento
Tendo BELMONTE em válida,boa mira,
Mas dali logo se punha em movimento:
- P´ra outro destino rápido partira
Quase sem ter ajuda ou valimento,
Com muitas falhas,sem carregadores,
Mais desejados por novos senhores.
--- ( 31) - (147) ---(817) ---............................
.............(em actualização )....................
...........................................
===============================================================
=== hl id="ref_VIII"> --- "CANTO XVIII --- "AS INTERFERÊNCIAS E AS OCUPAÇÕES ESTRANGEIRAS" ---
............................ (... "em suspensão temporária por motivos de força maior"... ) ..........................
............................................................................
=====================================================================
------------------------------------------- ANOTAÇÕES : -------------------------------------
DESTE VOLUME III ainda em execução :
-- (EXTRAÍDO DE: "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - 3º VOL--- :
(RESUMO DAS PRINCIPAIS ANOTAÇÕES RESPEITANTES ÀS DIVERSAS ESTÂNCIAS DO MESMO AUTOR):
-- (665) - ABRIL - LIVINGSTONE chega a CASSANJE e foi recebido pelo director da sua Feira.
-- Em MAIO chega a LUANDA. Em JULHO/AGOSTO percorre o interior do território de ANGOLA.
- (666) - SETEMBRO - Chegam a MOÇAMBIQUE alguns emissários de SILVA PORTO.
- SETEMBRO - Criação da paróquia de Nª S.ª DO CABO,na ilha de LUANDA.-
667/8 -- OUTUBRO - O Conselho Ultramarino decide mandar proceder à efectiva ocupação do AMBRIZ e ao sul do CABO NEGRO,até ao CABO FRIO,para evitar as pretensões inglesas sobre essas zonas de ANGOLA
(669 ) - (--- 1854 - ? - 8 -- NOVEMBRO -- Descoberta definitiva da FOZ DO RIO CUNENE --
(1 ) --- 671) -- (1854 - NOVEMBRO - 12) - Os pombeiros de "SILVA PORTO" chegam à ilha de MOÇAMBIQUE, levando uma carta do Governador-Geral de ANGOLA. Estava assim concretizada a segunda travessia da costa ocidental à oriental, dita de "ANGOLA À CONTRA-COSTA". Porém SILVA PORTO ficara retido por doença em CATONGO (CUTONGE ?), após mais de 3 meses de viagem.
(2) --- O dr. FREDERICO WELWITSCH faz estudos da flora no deserto do NAMIBE, em MOÇÂMEDES, tendo ali descoberto uma estranha e rara planta (só ali conhecida), dando-lhe o nome científico de "TUMBOA ANGOLENSIS", vulgo "TUMBO", qual polvo gigantesco, contorcendo-se nos calores e securas das areias escaldantes do NAMIBE.
( 3) - No PINDA (PORTO ALEXANDRE) fora hasteada a bandeira portuguesa e iniciada a construção do porto e do primeiro centro piscatório... O rio COROCA não tem águas durante a maior parte do ano,(excepto nos meses de Março e Abril), resultantes das cheias do norte, mas mantendo ainda bastante quantidade durante mais tempo nas lagoas(ou "dambas", onde abundam as mufumeiras...
(4) -DEZEMBRO - 14) - Decretada a libertação dos escravos ao serviço do governo ou por indemnizações dos seus patrões...Foi proibida a entrada de escravos pela via terrestre...Estipulado o seu registo e protecção e definindo a situação do "liberto".
(5) - O rei do MOLEMBO(CABINDA), capitão MANIPOLO, envia uma embaixada a LUANDA prestando vassalagem e pedindo a construção de uma fortaleza para sua protecção, furtando-se aos cobiçados interesses estrangeiros...
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6) (676/677)-- (- 1855 -)-- O CONSELHO ULTRAMARINO autoriza a exploração dos rios CUNENE e CUBANGO até ao ponto a que havia chegado o governador LEAL,em Novembro de 1854, ou seja até à foz do primeiro...
8) - (678)-- --- (1855 - SETEMBRO) - Os emissários de SILVA PORTO partem de MOÇAMBIQUE na fragata "D. FERNANDO II E GLÓRIA", no seu regresso para ANGOLA.
--- (678) -- (DEZEMBRO) - Chegada a LUANDA da fragata"D. FERNANDO II E GLÓRIA" com os emissários de SILVA PORTO, cumprindo assim o acordo com o governo geral de ANGOLA. SILVA PORTO já havia feito doação aos pobres do Hospital da Santa Casa da Misericórdia do PORTO do prémio e da patente a que então teve direito !...
(9) - (679) --- (1856 - MAIO - 20) - LIVINGSTONE chega à costa de MOÇAMBIQUE (QUELIMANE) depois de ter seguido pelo rio ZAMBEZE e de já ter estado em ANGOLA.
-- Prepara o seu posterior regresso à INGLATERRA.
(10) --(689) --- (1858 - MAIO/JULHO) - SILVA PORTO organiza e chefia uma nova caravana ao REINO DO BAROTZE (LUI), no ZAMBEZE,a pedido do chefe HIQUERETO. Seguira pelas margens do NINDA até ao ZAMBEZE, alcançando depois as cataratas VITÓRIA. Continuara para o sudoeste onde depara com as elevadas temperaturas do deserto, situação que foi difícil de aguentar até que chegasse a LINYANTI. Entretanto o explorador LIVINGSTONE preparava o seu regresso ao ZAMBEZE.
- A palavra "LUI" refere-se a "estrangeiro" (lozi), atribuída aos invasores Lundas, também chamados "Luianos" e seus anteriores ocupantes.
(11) --- (AGOSTO - 11/27) - Depois de várias tentativas em falso, SILVA PORTO consegue então negociar com o rei HIQUERETO, obtendo bastante marfim e encontrando muitas girafas e avestruzes, o que o satisfez. Desse modo inicia o seu regresso pelo CUANDO até ao BIÉ (BELMONTE).
(12/3) - (1860 - ABRIL) - Comitivas de SILVA PORTO seguem para QUIGINGA (serra de MUCHINGA), desviando-se do controle e das prepotência do "senhor do LUI", visitado pelos negociantes de ZANZIBAR.
---- (682) ---( -- Esses sertanejos e traficantes do sul do LOVALE logo deitam a mão ao negócio do marfim que estava sendo controlado pelos portugueses do BIÉ e da LUNDA.
Cada qual tentava adquirir o máximo e pagar o mínimo do preço e dos tributos aos chefes indígenas daquela região, com a conivência dos seus próprios súbditos , colocando-os em lutas uns contra os outros, sem olharem a hierarquias.
(14) -- 1861 - (?) - O governador de TETE, em MOÇAMBIQUE, envia ao governador-geral de ANGOLA algumas notícias sobre AGOSTINHO XAVIER, que ali havia chegado, proveniente do ZUMBO com outros comerciantes de BENGUELA.
( ) -- (684) -- MAIO - Uma caravana de SILVA PORTO, dirigida ao LOVALE, foi atacada sem ter conseguido obter o desejado marfim.
-- -- (684)- -1863 -- - (OUTUBRO - 5) - SILVA PORTO chega de novo ao BIÉ para seguir para o LUI. -
(684) -- (NOVEMBRO - 21) --- - SILVA PORTO parte do BIÉ para o LUI, o "Eldorado" do marfim, enquanto envia os seus pombeiros para o HUMBE e CUITO/CUBANGO.
(15) -- (685)--- (DEZEMBRO - (?)) - Morrera XIQUERETO em LINYANTI, capital do Reino do BAROTZE, tendo-lhe sucedido seu irmão, MBOLOA, por ser menor o herdeiro M´PEPE.
-- (685)- (1864)SETEMBRO - Acossados pelos LOZI chefiados por HIPOPA (QUIPOPA ?), os Macorolos são forçados a deixarem o LUI (BAROTZE), numa zona compreendida entre o rio CUANDO e o ALTO ZAMBEZE. Por detrás estavam porém os interesses do CABO contra os de ANGOLA !
(16) --- (686) --- (1869 - JANº/FEVEREIRO) - SILVA PORTO, sob chefia de JOÃO DA SILVA e a
pedido do chefe MUCHIRE, UNYAMUEZI, organiza uma comitiva para CARANGANJA (no CATANGA), uma nova zona, mais ao norte do BAROTZE, que já estava saturada de negociantes. Ficava a ocidente da já conhecida zona do CAZEMBE, mas onde havia ainda muitos elefantes. Iria começar um novo massacre dos desgraçados e quase inocentes paquidermes que não tinam culpam dos dentes que a natureza lhes dera, nem da serventia tão valiosa para os homens ! -- DEZEMBRO - SILVA PORTO completara a sua 7ª viagem ao LUI.
(17) --- (687)----- (1870 - AGOSTO - 2) - Regressa de CARANGANJA a caravana de SILVA PORTO tendo encontrado uma outra de ZANZIBAR. Ali, porém, MUCHIRE estava mais interessado no negócio de escravos do que de elefantes !
(18) - SILVA PORTO -( OUTUBRO) - Fixa-se na Fazenda BEMPOSTA, próximo de BENGUELA, como agricultor, depois de muitos anos de sertanejo, mas sem grandes lucros auferidos. E, como ele,outros se retiraram dessa vida.
(19) ---(689)--- - 1874 - O comércio da borracha de 1ª. transportada em caravanas, começa a ter um certo desenvolvimento a caminho do litoral, principalmente pelos Bienos, para CATUMBELA e BENGUELA. Foi também o ano da grande expansão das plantações de café, tanto pelos europeus como pelos indígenas residentes nessa áreas...
...Em contrapartida, o negócio do marfim mudava de rumo, indo para os ingleses e alemães, tendo mesmo o chefe do LUI, QUIPOPA, mudado a capital para QUICEPE sob a grande influência dos britânicos, seus principais clientes ! Essa situação acabou por provocar novamente o agravamento do mercado de escravos...
...Porém, SILVA PORTO, negociava directamente com os emissários de MUCHIRE e com os comerciantes de BENGUELA.
(20) --- (690)--- - (1875 - FEVEREIRO) - O explorador STANLEY que andara em viagens de 1870 a 1871 em busca de LIVINGSTONE, prossegue na sua nova expedição e chega a VITÓRIA-NZIANGA.
-- Posteriormente, seguindo pelos lagos NIASSA e TANGANICA até ao lago ALBERTO EDUARDO, "descobre" uma das nascentes do rio NILO. Mais ao sul, chega depois ao LUABALA e descobre o curso do rio ZAIRE desde as nascentes e ao qual chamou então de "LIVINGSTONE". Terminava o ..."aspérrimo mistério"... Assim se abriam novas esperanças para alcançar o imenso sertão africano e de atravessá-lo mais facilmente até à costa oriental,um caminho talvez mais curto para o negócio com o lendário Oriente,a expensas particulares do rei LEOPOLDO II,não fosse ele o dono do enorme CONGO !
(21) --- (691)--- - Entretanto no BAROTZE o rei Luína, QUIPOPA(LUTONGA), sucessor de HIQUERETO, fora por sua vez eliminado por GAMBELA, para colocar no trono o seu sobrinho MANUANINO, de 17 anos de idade, mas que logo manda cortar a cabeça ao dito tio !
(22/3) --- (692/3)--- - (1877 - ABRIL - 12) - Lei que autoriza um crédito de 30 contos para a expedição à zona compreendida entre ANGOLA e MOÇAMBIQUE e às bacias dos rios ZAMBEZE, CUNENE,CUANZA e CUANGO.
-- MAIO - 11 - Decreto nomeando a Comissão Científica, constituída por : HERMENEGILDO DE BRITO CAPELO, ROBERTO IVENS e ALEXANDRE ALBERTO DA ROCHA DE SERPA PINTO. Tinha o objectivo de estudar as regiões do rio CUANGO, as ligações ao rio ZAIRE e as origens dos rios ZAMBEZE, CUNENE e CUANGO, desde o interior de ANGOLA até às possíveis extensões para a costa oriental (MOÇAMBIQUE), segundo um plano e iniciativa de ANDRADE CORVO.
----- (693)--- ( JULHO - 5) - Partida de LISBOA da Comissão Científica, depois de terem contactado com a Sociedade de Geografia de PARIS.
-- JULHO - 27 - P.P. - Regimento para a JUNTA GERAL DA PROVÍNCIA DE ANGOLA.
-- JULHO - O Dr. JOSÉ ANCHIETA segue para QUILENGUES e CACONDA numa expedição com mais de 60 carregadores (era uma exploração zoológica), enquanto ERNESTO DE VASCONCELOS, oficial da Marinha, viaja da BAÍA DOS TIGRES à "foz" do rio CUNENE, fazendo descrições detalhadas (talvez pela primeira vez ?).
-- AGOSTO - 6 - Chegada dos exploradores SERPA PINTO e BRITO CAPELO às "Portas do Mar", em LUANDA, no vapor "ZAIRE". BRITO CAPELO já estivera em ANGOLA numa missão geográfica da corveta "SÁ DA BANDEIRA", em serviço na BAÍA DOS TIGRES e no rio ZAIRE.
(24) --- (694) ---- (AGOSTO - 9) - HENRY STANLEY chega a BOMA, no rio ZAIRE, a norte da PEDRA DO FEITIÇO, após 999 dias de viagens, desde a costa oriental, completando assim a sua descoberta do curso do rio ZAIRE ! O rei LEOPOLDO II estava também interessado no estudo da bacia desse rio ,as STANLEY chegara ali mais morto do que vivo. Foi então recolhido pelos portugueses,a quem,aquele, tanto tramava !-- AGOSTO - 17 - SERPA PINTO contacta com STANLEY em CABINDA. Tinha-se deslocado ao norte para contratar carregadores.
-- AGOSTO - 20 - SERPA PINTO regressa de CABINDA com STANLEY e toda a sua comitiva.
(25) - (SETEMBRO - 1 )(?) - Chega a LUANDA o explorador ROBERTO IVENS.--(695)--- SETEMBRO - 6 - SERPA PINTO parte para BENGUELA para recrutar carregadores.
-- SETEMBRO - 19 - BRITO CAPELO e ROBERTO IVENS chegam a BENGUELA na canhoneira "TÂMEGA" para se juntarem a SERPA PINTO. Este fizera algumas tentativas para recrutar carregadores naquela zona com o apoio do governador, capitão-tenente PEREIRA DE MELO, e do juiz CALDEIRA. Decidem seguir para o BIÉ e não para a foz do rio CUNENE.
(26) --- (696)--- - (OUTUBRO) - Os exploradores portugueses tentam arranjar carregadores Mundombes para a sua viagem até QUILENGUES.
-- NOVEMBRO - 1 - SERPA PINTO, BRITO CAPELO e ROBERTO IVENS saíram de BENGUELA para o DOMBE GRANDE(CUIO).
(27) --- (697) --- - (DEZEMBRO - 4) - A expedição de SERPA PINTO e seus parceiros segue para QUILENGUES, atravessando s SERRA DA CONGEMBA e o VALE DE TARAMANJAMBA, tendo dificuldades com a alimentação e a falta de água potável, bem como pelas ausências de carregadores.
Continuam os seus problemas na travessia da floresta de CHALUSSINGA, chegando então ao rio CALUCULA onde fizeram aguada. Atravessam a vau alguns afluentes do rio COPOROLO(ou DOMBE), ali no designado CALUNGA.
--- (697)--- DEZEMBRO - 11 - Haviam acampado na margem do rio TUI, sobado de NANJA, próximo de QUILENGUES, onde ficam instalados.
(28) --- (698)--- -( 1878 - JANEIRO - 1 )- Os exploradores SERPA PINTO, BRITO CAPELO e ROBERTO IVENS, partem de QUILENGUES com o apoio do chefe, tenente ROSA, durante alguns quilómetros, seguindo com destino ao BIÉ. Pernoitam em terras do soba UNGÚRI (ou QUINGÚRI). Prosseguem viagem iniciando a subida da serra de QUISSÉCUA, a 1.740 metros de altitude. Passam por NGOLA, terras do soba CHIMBARANDONGO e atravessam os rios CUÉ e CATAPE.
--- JANEIRO - 6 - Os viajantes alcançam o forte de CACONDA, sendo recebidos pelo ..."chefe interino, mulato e rico proprietário do concelho,sargento da guerra preta"..., senhor MATEUS. Mas, para grande surpresa ali encontram o já célebre zoologista , dr, JOSÉ DE ANCHIETA. Foram visitados pelo soba guerreiro CHIMBARANDONGO e sua escolta, os quais muito apreciaram a boa aguardente do "MUENE PUTO".
-- FEVEREIRO - 8 - SERPA PINTO parte de CACONDA acompanhado do chefe, tenente AGUIAR, separando-se dos seus companheiros.Atravessam o rio CUÉ, sub-afluente do CUNENE.
-- FEVEREIRO - ? - SERPA PINTO adoece, ficando alguns dias ao cuidado do dr. ANCHIETA e em terras do soba CAPOCO, filho do soba do HUAMBO, BILOMBO, que também o recebeu com agrado. Era casado com a filha do soba do BIÉ, mas que o havia traído com CAPUSSOCUSSO e do qual pretendia vingar-se.
-- FEVEREIRO - 17 - SERPA PINTO recebe uma comunicação de CAPELO avisando-o da sua partida sem aguardarem que chegasse, pelo que decide continuar para o BIÉ, a caminho do ZAMBEZE.
-- FEVEREIRO - 21 - SERPA PINTO dirige-se para leste a caminho do SAMBO, quase sem carregadores, mas ainda com o apoio do soba CAPOCO. Atravessa o rio CANHUNGAMUA, afluente do CUNENE.
(698)---
--- (29/30/31) - MARÇO - 8(10 ?) - BRITO CAPELO e ROBERTO IVENS chegam ao BIÉ (BELMONTE).
-- (698)--- MARÇO/ABRIL - SERPA PINTO volta a adoecer. Teve o apoio do governador de BENGUELA, PEREIRA DE MELO do sertanejo SILVA PORTO, em cuja libata ficou instalado. Porém prossegue, mesmo sem carregadores suficientes. Passa o LUNGUE-BUNGO e depois a serra de CASSACA CAERA, seguindo por CAPACA até às nascentes do CUANDO e CANGAMBA..."descobriu o segredo do Cubango, o Ngami na sua parte norte, e a verdadeira posição do Mosiatumia ou Victória Falls"...(em : "Recordações de África" -- ROMA MACHADO --,pgs. 177.
-- MARÇO - MANUANINO, chefe do BAROTZE,sucessor de QUIPOPA, escapara a um atentado mas foi substituído por LOBOSSI, intitulado LEVANICA (LEWANICA).
(699)-(700)-(701) ---
--- 31 ) - MAIO - SERPA PINTO prossegue para CABIR, onde recebe a visita de TIBÉRIO JOSÉ COIMBRA, filho do major COIMBRA. Segue depois para CUIONJA e CAQUENHA, onde foi recebido pelo célebre sertanejo CHACAHANGA e pelo ..."negro branco"... JOSÉ ANTÓNIO ALVES, assim designado porque..."usa calça e sapatos de liga e guarda-sol"...
-- MAIO - CAPELO regressara ao BIÉ depois de ter conseguido chegar ao rio CUANZA, mas volta com ROBERTO IVENS à rota anterior. Alcançam a confluência com o rio COQUEMA (COQUEIMA) e entram na planície do LUIMBE ; prosseguem por BANDUA sem conseguir carregadores. Chegam ao rio LUANDO e ao país dos Songos, onde o velho soba MONGOA já não era respeitado. Eram terras de CAANDA, casada com o fundador do BIÉ, ex-caçador do HUMBE. Defrontam os Songos (?).
(701 - 702) ---............. ---
--- (32)- MAIO/JUNHO (?) - CAPELO e IVENS alcançam o planalto da "...MÃE DAS ÁGUAS", donde brotam rios : LUANDO, CUANGO, , CASSAI, CUITO, a caminho dos grandes rios : CUANZA, ZAIRE e ZAMBEZE. Estavam no país dos Quiocos.
-- JUNHO - 14 - Haviam atravessado o rio CUANZA em direcção ao CUITO e CUANDO, para a zona dos Ambuelas, no ALTO CUANDO, para seguirem depois com rumo ao REINO DO BAROTZE(LUI). A sua missão era a de : ..."estudar o rio Cuango,nas suas relações com o Zaire: o estudo dos países compreendidos entre as nascentes do Cuanza, Cunene, Cubango, até ao Zambeze superior, indicando que, se possível fosse, deveria estudar-se o curso do Cunene"... - (em : "COMO EU ATRAVESSEI A ÁFRICA" , de SERPA PINTO - (pgs. 55). Este seguia a caminho de MAVANDA e CUBANGO para o rio CUITO.
( 33) - JUNHO - Deveriam tentar alcançar essas nascentes e estudar as respectivas bacias. CAPELO prossegue rumo ao CASSAI até IACA, enquanto IVENS tentaria negociar com o renitente soba QUILEMO para o fornecimentos dos amedrontados carregadores que preferiam a rota comercial de SERPA PINTO e ainda pelo receio de percorrerem as terras dos Quiocos e dos Lundas, fornecedores de cera e muitas vezes envolvidos em guerrilhas. Era a região dos ..."homens-leões"..., dos feiticeiros, o dito..."caminho de QUINGÚRI", o terrível CULAXINGO (corta pescoço)!.
-- JUNHO - 20 - O chefe MAVANDA, de CANGAMBA, oferece a SERPA PINTO uma grande recepção e toma mesmo parte numa dança de mascarados (dos Quimbandas). (703)
-(34) - JUNHO - CAPELO e IVENS chegam à libata CANGOMBE, dominada por N´DUMBA TEMBO. Foram recebidos com alguma reserva pelo seu soba acompanhado de grande cortejo e de muitos guerrilheiros comandados pelo seu sobrinho CAUEN, encavalitado às costas de um possante escravo ! Era uma zona de grande produção de cera, negociada por intermédio dos Bienos uma vez que os comerciantes brancos pouco se aventuravam chegar a essas terras, o que desgostava o grande soba TEMBO, desejoso dos seus artigos nacionais ! (704) -
- 35) - JULHO - 10 - SERPA PINTO alcança as nascentes do CUANDO.
-- JULHO - Os carregadores Bienos regressados à sua terra, temendo o frio que se aproximava, chegaram às nascentes do CUANDO, defronte dos morros de QUIBUNGO, onde nasce ainda um outro rio, o CHICAPA.
Mais além, em CANICA, surgia o CASSAI, o maior filho do grande ZAIRE, correndo para o norte, em concorrência com o CUANGO.
-- (?) - Uma expedição de oficiais da Marinha, comandados por ALMEIDA LIMA e com : GONÇALVES PINTO, ROLÃO PRETO, FREITAS QUERIOL, NUNES DA SILVA e HIPÁCIO DE BRION, seguem em exploração à região da foz do CUNENE.
-- JULHO - SERPA PINTO, que alcançara CANGAMBA, próximo do rio CUBANGO, afluente do CUANDO, foi aí visitado pelo soba MUENA-CAHENDA que lhe forneceu novos carregadores.
(36/37) - JULHO - 14 - SERPA PINTO chega às nascentes do CUBANGUI. - Os exploradores CAPELO e IVENS, com carregadores Quiocos chefiados então por CAUEN, percorrem o curso e bacia do rio CUANDO. IVENS segue para Oeste. (...705)-
-- CAPELO parte finalmente de CANGOMBE, mas já sem o apoio de CAUEN. Segue por XAQUICUMBE, CACHILO-CHILO até NUGANDE.
-- ROBERTO IVENS chega a NUNGOMBE, região onde nascem vários rios , seguindo para diversos e opostos destinos. Segue pelo rio LUALI até MOANDA, onde foi detido.
-- JULHO - 25/29 - SERPA PINTO prossegue pelo rio CUSSIBI (CUCHIBI), o ..."caminho de SILVA PORTO"..., de margens desertas, apenas habitadas por rastejantes mussavos, comedores de ovos dos crocodilos e por assustadas lontras. Chegam às terras dos Mucassequere -- (Mussequele ou Vassekele, povos Bochimane), a caminho do NIDA e que estavam então instalados entre os rios CUBANGO e o CUANDO (ALTO CUANDO) -- CANGAMBA); viviam protegidos apenas por ramos de árvores e alimentavam-se de raízes e de carne de pequenos animais, assada num espeto de pau, quase nus, usando apenas uma pequena pele de macaco ! Caçavam com arco e flechas.(706 - 707) -
- 38) - AGOSTO - 3 - ROBERTO IVENS, a convite do soba MUENEPESO, senhor do rio CUANDO, ultrapassa o seu vale entalado entre as serras de MOENGA e TALA MUNGONGO, chega à sanzala de XA-CALUMBO, tendo fugido ao fogo das caçadas (queimadas) que afugentava milhões de abelhas e condenava à morte muitos animais selvagens para delírio da povoação, rufando os tambores e ouvindo os gritos de aviso da sua aproximação. Espectáculo dantesco e inesquecível!
-- AGOSTO - 8 - IVENS, depois de ter passado XA-CALUMBO, segue por terras queimadas e já sem abastecimentos, alcançando finalmente a aldeia de CATUNGA, a caminho da planície de CASSANJE, vendo à distância as serras do MINUNGO e o desejado CUANGO de que se havia afastado alguns dias antes. Era a região dos Bangalas.
(39) - AGOSTO - Chegam à catarata de CAPARANGA(LUÍSA ?), seguindo ao longo do rio CUANGO e onde fazem aguada. Um merecido repouso depois de tantos dias de privações ! Prosseguem em direcção a CASSANJE.
-- AGOSTO - 13 - CAPELO consegue chegar às margens do CUANGO, terras de MUENE-CATUCHI, já quase sem carregadores.(708) -
-- AGOSTO - 16/17) - SERPA PINTO chegara à planície do NHENGO e ainda ao rio NINDA, nas proximidades do ZAMBEZE. Aí encontra o célebre pombeiro de SILVA PORTO, o "CAIUMBUCA", o melhor de todos na ÁFRICA AUSTRAL ! (...708) -
-- AGOSTO - 24 - SERPA PINTO passa o rio NHENGO e desce a caminho do ZAMBEZE (LIAMBAI), chegando à capital LIALUI depois de ter ofertado a bandeira portuguesa ao soba de CANGAMBA, MUENE CAHENDA, por onde tivera de passar.
Em LIALUI foi recebido com muito entusiasmo pelo povo e grande aparato do seu rei, LOBOSSI, sucessor de MANUANINO, que havia fugido para o CUANDO perseguido pelos adversários. ---- (710/711/712) -
-- 40/42 ) - HERMENEGILDO CAPELO, depois de estudos e contratempos surgidos pelo curso superior do CUANGO e tendo conseguido alguns carregadores, prossegue a sua viagem com rumo ao IULA, onde encontra o velho soba N´DUMBA CHIQUILA, ex-todo poderoso chefe Quioco, então já abandonado pelo seu próprio povo, entre pragas e bebedeiras..."com um cachimbo de um metro, de pipo na boca desdentada e uma coroa de penas enterrada na carapinha branca"... (em : "A MARAVILHOSA VIAGEM" - de CASTRO SOROMENHO - pgs. 278 - 3ª edição) --
--- 43/44 ) - SETEMBRO - 9/10 - SERPA PINTO prossegue viagem para MOÇAMBIQUE com a bandeira da "Expedição" bem erguida, chegara a CATONGO,junto ao ZAMBEZE (LIAMBAI).
CAIUMBUCA mais uma vez o atraiçoara regressando com a maioria dos carregadores...Novamente o rei LOBOSSI oferece-lhe ajuda e protecção. SERPA PINTO prefere continuar em CATONGO e envia como seu representante o mulato VERÍSSIMO...(713/714) -
-- SERPA PINTO, na capital, protesta com LOBOSSI sob espanto de toda a corte...Prossegue pelo "pequeno LIAMBAI" até alcançarem o ZAMBEZE ("o "Grande LIAMBAI", ou também chamado "rio dos cem nomes"...). Avança pelo Vale do BAROTZE...
--- 45 ) - ...SERPA PINTO continua ardendo em febres, enfraquecido, mas ainda disposto a continuar ! ... não se assustou com as ameaças de GAMBELA que logo promove uma revolta contra a presença dos portugueses, valendo-lhe a amizade do chefe MACHAUANA que já havia estado em LUANDA...(714/715) -
--- 46 ) - CAPELO, não conseguindo novos carregadores, tenta o apoio do soba MUENE CAENGUE, sem resultado. Terminara o prazo para se encontrar com IVENS em CASSANJE e não tinha hipóteses de sair daquele buraco, tendo defronte as serras do QUIBONGO e da CANJAMBA. Ali aguarda que o fossem socorrer.(716)-
-- SETEMBRO - 26 - Chega finalmente ROBERTO IVENS às terras do desacreditado soba CHIQUILA,em socorro de CAPELO, após mais de dois meses de se terem separado em CANGOMBE.
- (716/717) -
--- 47/50 ) - No CONGRESSO DE BERLIM e após o CONGRESSO DE VIENA, de Setembro de 1815,onde se formaram a "GRANDE ALIANÇA" (INGLATERRA, AÚSTRIA e RÚSSIA) e a "SANTA ALIANÇA" (RUSSIA; AÚSTRIA e PRÚSSIA), BISMARK tentara manter um equilíbrio...
-- (717) -
-- Entretanto os alemães fazem explorações até à LUNDA, enquanto os ingleses tentam infiltrações no CONGO e no sul de ANGOLA (na HUILA). Ao sul dessa fronteira, no CAOKO, já se haviam instalado os colonos boers refugiados do TRANSVAAL ... - Alguns já haviam desistido dessa fuga regressando ao TRANSVAAL e outros para o vale do LIMPOPO. Os restantes instalaram-se junto à fronteira sul de ANGOLA, entre a DAMARALÂNDIA e o CUBANGO ou pela zona da ETOCHA, ou ainda na OVAMBOLÂNDIA, enquanto os mais afoitos atravessavam a fronteira angolana !
-(718/ 719/ 720) -
---- 51 ) - OUTUBRO - 18 - Depois de passar por CANTALA, QUEMBO e de ter atravessado alguns afluentes do CUANGO, a "Expedição", já com CAPELO e IVENS novamente juntos,consegue chegar a CASSANJE.(721) -
--- No Congresso de Geografia Colonial, em PARIS, LUCIANO CORDEIRO foi o grande defensor dos direitos dos portugueses na zona do ZAIRE, contra os interesses estrangeiros, isto depois de PORTUGAL nem ter sido convidado para a Conferência de BRUXELAS, convocada por LEOPOLDO II.(Congresso sobre a ocupação do ZAIRE;foi seu companheiro MENDES LEAL). - (721) -
--- 52/53 ) - OUTUBRO - A "Expedição" de SERPA PINTO alcança o país de MUTEMA, refúgio dos elefantes. Prossegue até aos rápidos de LUSSO e as cataratas de NAMBUE. Apesar do seu estado de saúde não desiste da viagem ! Avança ainda pelos rápidos de MACHICANGA até alcançar as cataratas de MOZI-A-TUNIA, chegando depois a QUISSEQUE e onde foi recebido pelo soba CARIMUQUE. O seu objectivo era então encontrar o missionário francês COILLARD, acampado em LEXUMA. - (722/ 723) -
--- 54 ) - NOVEMBRO - 25 - STANLEY acaba por aceitar o convite do soberano belga para a recém formada Comissão de Estudos do ALTO CONGO, que fora criada com alegados fins filantrópicos, em vez da ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL, cujo principal objectivo era a instalação duma linha férrea desde o ZAIRE e o comércio/indústria no ALTO CONGO. Tinha toda a protecção e apoio pessoal de LEOPOLDO II, seu único accionista e passou a denominar-se SOCIEDADE INTERNACIONAL DO CONGO ! - (724) -
--- 55 ) - NOVEMBRO - SERPA PINTO prepara a sua deslocação ao ZUMBO, tentando o apoio de COILLARD que opta pelo regresso a MANGUATO.
Chegam à famosa catarata de MOZI-AO-TUNIA (ou "MOZIOATUMBA") - "a água grande"), com cerca de 140 (108 ?) metros de altura, já vista em 17/11/1855 por LIVINGSTONE e que a baptizara de "VITÓRIA" ! No seu fundo prolonga-se..."a Floresta das Chuvas"...
-(725 -726- 727) --
--- 56/58 ) - SERPA PINTO, mesmo doente, não resiste à tentação de fazer uma descida suspenso por cordas !
-- Prossegue a viagem e alcança PATAMATENGA, a caminho de DEICA (?), utilizando 4 carros boers. Porém surgia-lhes pela frente o imenso KALA-HARI, onde se deslocam com os Bochimanes servindo de guias.
( - 59) - DEZEMBRO - SERPA PINTO atravessara lagos de sal até aos grandes lagos MACARICARIS ("KARRI-KARRI"), significando : "há e não há", tal a inconstância das suas águas, como acontece com as do rio CUBANGO (OKAVANGO), mais ao sul), desaparecendo nas areias quentes do deserto.- (727 - 728) -
--- 60 ) - Chega ao lago "GRANDE MACARICARI" com ligação ao lago NGAMI e prossegue por terras do rei de MANGUATO, rumo a SHOSHONG (XOXOM), sob o domínio inglês. -731) -
(729 - 730 )-
--- 61/62 ) - Depois de ter passado para a margem esquerda do rio CUANDO, em EMBARIRA, e de LEXUMA, cataratas do rio ZAMBEZE, chega a MANGUATO, quase no final da sua viagem e onde encontra os exploradores BRADSHAW e WALSH com suas famílias.
--- 63 ) - 1879 - JANEIRO - 7 - H.CAPELO e ROBERTO IVENS conseguem entrar finalmente na FEIRA DE CASSANJE, a caminho do rio CUANGO, mas as grandes chuvas obrigam a uma nova permanência. (733) -
-- JANEIRO - 14 - SERPA PINTO segue para o TRANSVAAL integrado numa comitiva com carros boers sob chefia do missionário COILLARD.
-- FEVEREIRO - 12 - SERPA PINTO chega a PRETÓRIA.
-(733/ 734) -
---( 64 ) - FEVEREIRO - 19 - CAPELO e IVENS, depois de terem esperado pela paragem daquelas chuvas ("quiangala"), decidem arriscar e continuar a viagem, deixando a BAIXA DE CASSANJE ,não obstante a fuga de mais carregadores.
--- FEVEREIRO - 25 - Debaixo de chuvas e calor sufocante chegam à aldeia do soba CAMBOLO.
Ali permanecem uns dias para tentarem efectuar a travessia do CUANGO. -( 734 -)
--- 65 )- FEVEREIRO - H. CAPELO e ROBERTO IVENS tomam o rumo de DUQUE DE BRAGANÇA pelo morro do BANGO. Alcançam o rio LUCALA em FABA e depois a fortaleza do DUQUE DE BRAGANÇA.-- 735 --
-- MARÇO - Alcançam a nascente do CAMBO, na serra da CATANHA. Passam o rio CUIGIE e chegam ao XISSA, passando pelo túmulo de JOSÉ DO TELHADO. --735 --736 --
--- 66 ) - MARÇO - 19 - SERPA PINTO que alcançara a província sul-africana do NATAL, na ÁFRICA DO SUL, chega então a DURBAN.
-- ABRIL - CAPELO e IVENS prosseguem para o CUANGO. - (?) - ...
... 67 ) - MAIO - ..."Os exploradores CAPELO e IVENS chegam ao rio HAMBA, corte do rei CALUNGA N´DOMBO ACAMBI (um Ngola) e depois ao rio CUILO (..."rio pela primeira vez marcado"...), até à aldeia de CAFUCHILA, sendo atacados pelos Hungos chefiados por CATECO. Nada restava à "Expedição" senão debandar a caminho da costa ! Chegam ao rio FORTUNA depois de terem passado muita sede e mais tarde ao rio MAPEMBA"... --- 737 --
-- 68/69 ) - JUNHO - 18 - ..."Sessão solene na Sociedade de Geografia de Lisboa para receber SERPA PINTO e a bandeira nacional que o acompanhou na travessia de ÁFRICA. Regressara a PORTUGAL na fragata "D. FERNANDO II E GLÓRIA"... -- 738 --
-- JUNHO - ..."Regresso da "Expedição" depois de ter sido abandonada pelo guia Sosso e andado alguns dias à deriva sem atinar com o rumo certo e debaixo dum calor sufocante. Muitos estavam estoirados e doentes, tendo havido mesmo algumas baixas. Porém o regresso era mais rápido, mesmo no DUQUE DE BRAGANÇA. Passam o CAVALI, o SUSSA e o LUAMBO até ao LUCALA. chegando à fortaleza do DUQUE onde fizeram um prolongado descanso.-- 738 -- 739 --
--70) - ..."JULHO/AGOSTO - A "Expedição" de CAPELO e IVENS chega a PORTO REAL, a caminho de PUNGO ANDONGO (PEDRAS NEGRAS). Passaram ainda pela PAMBA REAL, capital de AMBACA, onde só encontraram desolação e fome. Ultrapassam o LUCALA e as serras de CATENDA, CACHINGUE e QUILULO, sendo comandados pelo capitão SILVÉRIO. Chegam à vila de PUNGO ANDONGO. ---( 740 )---
--( 71/72) - AGOSTO (?) - STANLEY partia para a sua viagem de "exploração" encomendada pelo rei dos Belgas, LEOPOLDO II,seguindo pela foz do rio ZAIRE e estabelece a "ESTAÇÃO DE VIVI", base para a futura expansão do CONGO, a coberto da disfarçada "Comissão Internacional"...
..."depois de, no sul de ÁFRICA, terem quase eliminado os Zúlus ! O famoso chefe TCHAKA fora eliminado pelo seu próprio irmão,morrendo ainda 700 boers nessa manobra. Os chefes Zúlus,vencidos,assinam então uma paz com a INGLATERRA.--741-- 743 --
-- ( 73 ) -...Depois prosseguem pelo CUANZA e passam o antigo posto de escravos de SANZA MANDA e sobem as serras de CAPANDA. Continuam para CASSOQUE e acampam no BUNGO.
...Descem a serra LUENA sob um calor tremendo, novamente a caminho do rio CUANZA, no DONDO. -- O ATLÂNTICO estava mais perto !
----- (744) -----
----------------------- Findava aquela inesquecível aventura ! -----------------------------
--( 74 ) - Outubro - A expedição chefiada pelo tenente da Armada, ALMEIDA DE LIMA, encarregado de explorar o CUNENE e a sua foz...outros seguem para MOÇÂMEDES e PORTO ALEXANDRE. -- Daí viajam em carro de bois para a BAÍA DOS TIGRES, transportando ainda todo o material necessário. Em, seguida encaminham-se para a foz do rio CUNENE,tendo de deixar os carros e de carregar os botes aos ombros com as outras cargas, abandonando porém uma parte delas!... -- (744 )--
-- ( 75/76 ) - Outubro - A situação de SILVA PORTO em BEMPOSTA (BENGUELA) desde 1870,não estava nada famosa pelo que decidiu regressar a BELMONTE(BIÉ). Falido,desgosto pela falta de apoio e consideração do comércio daquela zona, preferia mais uma vez o seu BIÉ para continuar as expedições e viagens de negócios mais além, até ao ALTO CASSAI e o ALTO LUBUA. Encontrara pelo caminho 40 caravanas de Bienos, transportando borracha, cera e 10 pontas de marfim.
---( 744 )---
---- (77 ) -1880 - MARÇO - O sertanejo SILVA PORTO que regressara ao BIÉ, acompanhado do seu pombeiro CAIUMBUCA e o do sertanejo SANTOS,inicia a grande viagem de exploração até à IUBA (MOIO) e a outras regiões do Nordeste de ANGOLA, mais interessado no negócio da borracha e do marfim que havia sido localizado algum tempo antes por LUCAS JOSÉ COIMBRA
--( 78 ) - Nessa época já os Ovibundos efectuavam longas viagens além fronteiras,levando sempre um mestiço, que figurava como português (para inglês ver !). Era assim como que o representante do MUENE PUTO. Circulavam então diversas caravanas, encontrando-se por vezes em diversas zonas e caminhando em sentidos opostos, com diferentes cargas, pelas quais tinham de pagar os elevados tributos estipulados pelos sobas, bem como ainda com alguns estrangeiros a caminho do MWATIÂNVUA...
-- MAIO - SILVA PORTO chega às terras do CALUNDA, nas margens do LUACHIMO, seguindo para QUIMBUNDO até ao CASSAI, cuja travessia lhes custou pesados encargos (tributos).
--( 79 ) - 1881 - AGOSTO - O sertanejo SILVA PORTO apresenta à Sociedade de Geografia de LISBOA um plano de expedições aos cursos dos rios : ZAIRE, CUBANGO, CUNENE e ZAMBEZE, com carácter científico e comercial, para o qual oferecia a sua colaboração, de modo a conseguir combater a concorrência dos estrangeiros
--( 80 ) - AGOSTO - Povos Bienos decidem atacar as caravanas de MUCHIRE, do CATANGA,que começavam a fazer-lhes bastante concorrência na praça de BENGUELA, principalmente no negócio do marfim. MUCHIRE responde a esses ataques prendendo ou eliminando alguns Bienos das caravanas que iam a CARANGANJA.
--( 81 ) - SETEMBRO - STANLEY funda um Posto na margem esquerda do rio ZAIRE, KISANGANI, onde já estava instalado e ,assim, nasce "STANLEY-VILLE" . Era o seu Posto nº 5.
--( 82/83 ) - 1882 - MAIO/JUNHO (?) - A Associação Internacional do Congo, anterior "Comissão de Estados do ALTO CONGO", liderada por LEOPOLDO II, rei dos Belgas,declara-se proprietária de todos territórios situados ao longo do rio CONGO (ZAIRE), abrangidos por contratos feitos, em seu nome (particular) por STANLEY com indígenas da zona, levantando assim, uma viva celeuma internacional e contrariando os direitos dos portugueses sobre os territórios do BAIXO CONGO e dos franceses na margem nas margens do ZAIRE. Os direitos dos portugueses já haviam sido reconhecidos muito antes, em 1786, em negociações com a ESPANHA ("QUESTÃO DE CABINDA"), em em diversos tratados com a INGLATERRA. Assim, os portugueses ocupam MASSABI e CACONGO. No entanto, a FRANÇA antecipa-se à BÉLGICA e apodera-se da margem norte do rio ZAIRE e ali fundando BRAZZAVILLE, enquanto os Belgas, na margem oposta (sul),fundam a Feitoria de LEOPOLDVILLE !
-- Com a colaboração de STANLEY,o rei LEOPOLDO II fora-se apoderando, a bem ou a mal, de uma imensa região sob a capa do "Comité dos Estudos do Alto Congo" e depois à sombra da dita "Associação Internacional", que arvorara bandeira, reconhecida pela FRANÇA e ALEMANHA,interessados no reconhecimento dos territórios que também já ocupavam ! A ALEMANHA aproveitara a maré para se instalar na DÂMARA (ao sul de ANGOLA), além dos territórios já ocupados aos Ingleses em 1880 !
1884/5) -- STANLEY já percorrera uma vasta região,desde BAGAMOYA a BOMA,entre o período de 1874 a 1877.
Por sua vez LEVINGSTONE também havia percorrido uma grande área até ao ALTO ZAMBEZE entre 1851 e 1852,atravessando o continente africano desde a costa oriental para leste,passando pelas nascentes e origens do rio NILO...Essa região fora percorrida muitos anos antes pelo português DUARTE LOPES...
............................................................
-( 86) -- 1884 -- CAPELO e IVENS seguem da vila de MOÇÂMEDES para o PINDA,com rumo ao HUMBE para alcançar os rios CUNENE e o CUBANGO. Passa pelo leito do rio GIRAUL montados em "bois-cavalos".
-- ABRIL/MAIO - Sobem a serra da CHELA pela PORTELA DO BRUCO,a quase 2.000 metros de altitude.
--( 87/88) -- JUNHO - A "Expedição segue para o QUITEVE e depois percorre toda essa zona sob a influência do comerciante MANUEL FERREIRA PINTO (o "MANUEL DA MULOLA") .
-- O QUITEVE está situado entre os sobados da CAMBA e do KULONDO -
(-- 89 --)
(--113 -)
(-- 146 ) ---
........ ( Em actualização permanente e suspensão temporária por motivos de "força maior"...) ...
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-----( Ver no final desta rubrica o respectivo ÍNDICE de : I)- "PERSONALIDADES" e II - "LOCAIS" -----
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-- A) - LISTA DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS POEMAS( OU TEXTOS )"ÉPICOS" NACIONAIS E ESTRANGEIROS): --
-- "A DIVINA COMÉDIA" - (inicialmente "COMÉDIA) - de DANTE ALIGHIERI, natural de FLORENÇA(1265/1321) - Elaborada entre : 1307 a 1321 -- 100 Cantos (Capítulos) em 3 grupos de 33, dedicados a : INFERNO - PURGATÓRIO e PARAÍSO. Cada canto tem 45 estrofes de 3 versos (4.455 versos em cada parte, num total de 13.365). --
stelle.com.br/pt/index_comedia.html
wikipedia.org/wiki/A_Divina_Comédia
-- "ARAUGANA" - de ALONSO DE ERCILHA (Com 3 partes em : 1569/1578/1589).
-- "ARGONÁUTICA" - de APOLÓNIO(RÓDIO)DE RODES -- entre 260 a 247 a C. - s/ os Feitos dos Argonautas - em estilo camoniano, com 4 Cantos -
pt.wikipedia.org/wiki/Apolonio_de_Rodes
-- "A ASSUNÇÃO" - de FRANCISCO DE S. CARLOS(1768/1829) - com 8 Cantos - decassílabos --
arqnet.pt/dicionario/saocarlos_ff.html
-- "À ILHA DE MARÉ" - de MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA (1636/1711) - (Foi o primeiro autor nascido no Brasil a ter um livro publicado ("Música de Parnaso" -1705- Lisboa):
.... "Jaz oblíqua forma e prolongada
a terra de Maré toda cercada
de Neptuno,que tendo o amor constante
lhe dá muitos abraços por amante,
e botando-lhe os braços dentro dela
pretende gozar,por ser mui bela."
....................................
-- "BEOWULFF" )RAY WINSTONE) -- (anglo-saxão) - lutas contra o demónio GRENDEL -- com 8.816 estâncias (?) --
en.wikipedia.org/wiki/Beawulf_ray_winstone
-- "BRASILEIDA" -- (ou "PETREIDA") - s/ ´PEDRO ÁLVARES CABRAL - em estilo camoniano -- do Padre DOMINGOS DA SILVA TELES --
books.google.pt/books?isbn:8531606977
-- "BRASÍLIA" -- de GONÇALO SOARES DE FRANÇA -- com 1.800 oitavas --
books.google.pt/books?isbn:8531606977
-- "CAÇADOR (O)DE ESMERALDAS" -- de OLAVO BILAC --
almanaque.cnt.br/SAMPA/FERNAODIAS.htm
pt.wikisource.org/wiki/O_cacador_de_esmeraldas
-- "CANÇÃO DE ROLANDO" -- (de "anónimo" (canção de gesta)- na Idade Média,(1.100), em FRANÇA, s/Batalha de Roncesvalles em 15/8/778 --) -- Cruzadas e guerras de CARLOS MAGNO ( e os 12 PARES de FRANÇA)em ESPANHA - com 4.002 versos -
wikipedia.org/wiki/La_Chanson_de_Roland
-- "CARAMURÚ" - De : JOSÉ DA SANTA RITA DURÃO (Frei)- 1722 a 24 de Janeiro de 1784 - Nasceu em MINAS GERAIS. Diplomou-se em Teologia na Universidade de COIMBRA, onde foi Professor e reitor. Foi publicado em 1871 s/Descobrimento da BAHÍA -. Pertenceu ao chamado ""Grupo Mineiro". O Poema tem 10 Cantos (em oitavas decassilábicas regulares) com 7.914 ( 6.672 (?) versos decassilábicos heróicos - estilo camoniano, em 834 estrofes (?), sendo : Canto I - 92; Canto II - 91 ; Canto III - 91 ; Canto IV - 83; Canto V - (?); Canto VI - 43 ? ; Canto VII - ? ; Canto VIII - 54 ? ; Canto IX - ? : Canto X - 77 ? ; -(com mais de 800 estrofes ? ... Baseia-se no herói DIOGO ÁLVARES CORREIA, lançado à costa de S. SALVADOR alguns anos depois da descoberta e onde foi aprisionado pelos Tupinambá. CARAMURÚ significa "Monstro nascido do mar". Ficou respeitado pelo facto de acertar num alvo distante com a sua arma de fogo. Recebeu como prémio CATARINA PARAGUAÇÚ, filha do chefe local. É uma Epopeia menos original do que a de BASÍLIO GAMA, seguindo o estilo camoniano. Invoca a história, tradição e os povos primitivos do BRASIL. Destaca-se o episódio de MOEMA que segue a nado o navio onde o seu amado,DIOGO CORREIA, regressava para PORTUGAL, até morrer afogada (Canto VI. DIOGO CORREIA seguia com sua mulher,a princesa PARAGUAÇÚ.
DIOGO ÁLVARES mandou baptizar a sua companheira índia com o nome de CRISTINA, na BAÍA DE "TODOS OS SANTOS" --
------- (A consultar na INTERNET : www.casadatorre.org.br/caramuru.html
-- "CAUCHEIROS" -- de EUCLIDES DA CUNHA --
ig.com.br/paginas/novoigler/livros/margem_da_historia_euclides_da_cunha/parte3.html
-- "CESAREA" -- de JOÃO DE BRITO DE LIMA, natural de BRAGANÇA --
pt.wikipedia.org/wiki/Joao_de_Brito_Lima
-- "CANTAR DE MIO CID" -- (na Idade Média, em ESPANHA) --
pt.wikipedia.org/wiki/Cantar_de_mio_cid
-- "COLOMBO" -- de MANUEL DE ARAÚJO PORTO ALEGRE --
recantodasletras.uol.com.br/e-livros/206348
-- "CONFEDERAÇÃO DOS TAMOIOS (A)" - de GONÇALVES DE MAGALHÃES(1856) -
com 10 Cantos s/expulsão dos Índios Tapuia pelos Tupis e Portugueses que ainda os foram contactar à sua chegada) --
-------- (A consultar na INTERNET :
recantodasletras.uol.com.br/e-livros/206348
-- "DEGESTIS MENDI DI SÁ" - de ANCHIETA (1534/1597)--
pt.wikipedia.org/wiki/De_Gestis_Mendi_de_Saa
-- "EDAS (LA)" -- de SOEMOND SIGFUSSON ("o SÁBIO")- (Idade Média - Poesia Nórdica - ESCANDINÁVIA).
distante.no.sapo.pt/mitnordica.htm
-- "EL MACABEO" -- de MIGUEL DA SILVEIRA, natural de PORTUGAL --
books.google.pt/books?id=xW0CAAAAQAAJ
-- "ENEIDA" - De : PÚBLIO VIRGÍLIO MARÃO - Aventuras de Enéias - (s/ a "GUERRA DE TRÓIA" e a fuga dos seus habitantes para a ITÁLIA - 29 A 19 a.C. - Com 12 Cantos --
-(1854)- Foi traduzida por MANUEL ODORICO MENDES e publicada em português em 1854. Faleceu em Julho de 1864 -- O original contem 12 Livros. PUBLIO VIRGÍLIO MARÓN nasceu no ano de 70 a. C. ,em MÂNTUA(ITÁLIA). Canta as aventuras de ENEIAS, um desterrado
troiano. --
------- CANTO I :
..."Canto as armas e o varão que nos primórdios veio das costas de Tróia para Itália e para as praias de Lavínio,fugitivo por força do destino, e muito padeceu na terra e no mar por violência dos deuses supernos, devido ao ressentimento da cruel Juno; muito sofreu também na guerra, até fundar uma cidade e introduzir os deuses no Lácio; daqui provêm a raça latina, os antepassados albanos e as muralhas da grandiosa Roma.
Musa,lembra-me as causas por que razão ressentida, devido a que ofensa aos seus desígnios terá a rainha dos deuses forçado um varão notável pela sua piedade a sofrer tantas provações e a enfrentar tantas dificuldades. Tão grandes cóleras têm os espíritos supernos ?
..................................................................
-------- clicar em :
pt.wikipedia.org/wiki/Eneida
--- "ESCRAVO" -- de CELSO C. MAGALHÃES - (1849/1879) --
--- "ESCRAVOS (OS)" -- de CASTRO ALVES - (colecção de poesias publicadas 12 anos após a morte do poeta) s/liberdade dos escravos):
......................... "A CRIANÇA " .......................
......"Que tens criança ? O areal da estrada
...... Luzente a cintilar
...... Parece a folha ardente de uma espada.
...... Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.
...... A sombra do palmar
...... O lavrador se inclina sonolento.
...... É triste ver uma alvorada em sombras,
...... Uma ave sem cantar,
...... O veado estendido nas alfombras.
...... Mocidade,és a aurora da existência,
...... Quero ver-te brilhar.
...... Canta,criança,és a ave da inocência.
...... Tu choras porque um ramo de baunilha
...... Não pudeste colher,
...... Ou pela flor gentil da granadilha ?
...... Dou-te um ninho,uma flor,dou-te uma palma,
...... Para em teus lábios ver
...... O riso -- a estrela no horizonte da alma.
...... Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite
...... Dos seus algozes vis,
...... E vagas tonto a tatear à noite.
...... Choras antes de rir... pobre criança !...
...... Que queres infeliz ?...
...... -- Amigo eu quero o ferro da vingança."
----- (Recife,30 de Junho de 1865) -----
........................................................
livrariacalil.com.br/escravidao2.htm
---------------------------------------------------------------
-- "EUSTÁQUIDOS" - de MANUEL DE SANTA MARIA, com 6 Cantos - verso octossilábico - estilo camoniano --
books.google.pt/books?isbn=8531606977
-- "GUARANI, O" - (Romance de JOSÉ DE ALENCAR (1857) - sobre a guerra entre os Índios Aimoré e Guarani (1560) -- Amores de D. CECÍLIA MARIZ com o português D. ÁLVARO e o Índio PERI.
...... "PRIMEIRA PARTE - OS AVENTUREIROS -- I CENÁRIO" :
..."De um dos Cabeços da Serra dos Orgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas,torna-se rio caudal.
..."É o Paquequer : saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba,que rola majestosamente em seu vasto leito.
..."Dir-se-ia que,vassalo e tributário desse rei das águas,o pequeno rio,altivo e sobranceiro contra os rochedos,curva-se humildemente aos pés do suserano.Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas : escravo submisso, sobre o látego do senhor.
..."Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz,onde é livre ainda,como o filho indómito desta pátria da liberdade"...
..........................................................
fredbar.sites.uol.com.br/guarani.html
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1843
"GUESA" -- de JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE - Século XIX (1858) - (1833/1902) -- Tem 13 Cantos, em quartetos decassílabos (incompletos : 6º - 7º - 12º e 13º - inacabados) -- Versa a lenda dos índios da COLOMBIA (nova epopeia) -- em estilo moderno --
guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina440.htm
-- "HESÍODO" - (- de HOMERO -)-- TEOGONIA - (ORIGEM DOS DEUSES) - S/PERSES, irmão de HESÍODO) - em versos hexâmetros - (700 a.C) --
nomismatike.hpg.ig.com.br/Mitologia/Hesiodo.html
-- "ILHA DA MARÉ" - Poema de MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA (1636/1711) -- Foi o primeiro autor nascido no BRASIL a ter um livro publicado (1705 - Lisboa) --
-- "ILÍADA" - De HOMERO -(725 a.C ou 850 a.C. (?) -- -(9º Ano da "GUERRA DE TRÓIA" - Tem 28.000 versos e com 25.000 de frases repetidas, em 24 Cantos e 15.673 (15.693 ?) hexâmetros -- Traduzida em português por MANUEL ODORICO MENDES e publicada em 1874 no RIO DE JANEIRO --
... "CANTO I : - Canta-me a Cólera - ó deusa ! - funesta de Aquiles Pelida,...
... Causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta
... e de baixarem para o Ades as almas de heróis numerosos
... e esclarecidos , ficando eles próprios aos cães atirados
... e como pasto das aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio
... desde o princípio em que os dois ,em discórdia, ficaram cindidos,
... o de Atreu filho,senhor de guerreiros, e Aquiles divino.
... Qual, dentre os deuses eternos,foi causa de que eles brigassem ?
... O que de Zeus e de Leto nasceu, que, com rei agastado,
... 10)peste lançou destruidora no exército. O povo morria,"...
........................................................
---- (Ver na INTERNET : www.geocities.com/Athens/4539/iliada.html
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-- "INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (A)" -- Poema Épico de ANTÓNIO GONÇALVES TEIXEIRA E SOUSA -- (28/3/1812 - 1/12/1861) -- Natural de CABO RUIVO (RIO DE JANEIRO) -- filho dum português (Manuel Gonçalves) e duma negra (mestiça ?),Ana Teixeira de Jesus) -- Carpinteiro,mecânico,escriturário... - Foi o autor do primeiro romance brasileiro ("O FILHO DO PESCADOR) - O seu Poema tinha dois Tomos : (I - I ao VI Canto - com (?) estâncias) e (II - VII ao XII Cantos, com 738 (?) estâncias) -- ..."DEDICADO,OFFERECIDO E CONSAGRADO A SUA MAGESTADE IMPERIAL O SENHOR D. PEDRO II E OFFERECIDO ÁS AUGUSTAS,VIÚVA E FILHAS DO HERÓI DO POEMA" ... -- (Harvard College Library) -- 1847/1855)
.........................
--- CANTO XI - estância CLI :
..."As espadas então todos despiram / Em tanta patriótica influência ! / E as scintillantes laminas uniram / Á Espada do Ypiranga ! com vehemencia / O Juramento augusto proferiram / De morrer pela pátria Independente !/ E bradaram após n´ um grito forte : / -- Viva o Brasil !...Independência, ou Morte ! --..."
...........................................
--- Para Consultar na INTERNET :
www.cabofrioculturavivateixeiraesouza.blogspot.com/...artigo-teixeira-e-souza-o-primeiro.html
www.pterodactilo.com/.../o-grito-da-independencia
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-- "IRACEMA" - De JOSÉ DE ALENCAR (1865)-- Lenda indígena do CEARÁ sobre
a expedição de MARTIN MORENO para contactar com PÊRO COELHO. Surge ainda o apaixonado índio IRAPUÃ.
---- IRACEMA I ---
..."Verdes mares bravios de minha terra natal,onde canta a jandaia nas frontes da carnaúba;
"Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, prolongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;
"Serenai,verdes mares,e alisai docemente a vaga impetuosa,para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
"Onde vai a afouta jangada,que deixa rápida a costa cearense,aberta ao fresco terral a grande vela ?
"Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano ?
"Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce,mar em fora.
"Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano : uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas,e brincam irmãos,filhos ambos da mesma terra selvagem.
"A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas :
" -- Iracema ! --- (*)
.............................................................
amoliteratura.hpg.com.br/iracema.htm
-- "INVENÇÃO DE ORFEU" -- de JORGE MATEUS DE LIMA, natural de NITERÓI (BRASIL - (1893 - 15/11/1953) -- Poema com 10 Cantos(irregulares diversos), publicado em 1952. Destacamos a estrofe I no Canto IX : ..." Estavas,linda Inês, nunca em sossego,/ e por isso voltaste neste poema,/ louca, virgem Inês, engano cego,/o' multípara Inês, subtil e extrema"... - É acentuadamente "camoniana". Este Canto tem estâncias diversas(quartetos,sextilhas,decassílabas, irregulares e sem rima -- O Canto X é misto, como alguns dos outros (desde o 1º ao 8º) com rima muito diversa e irregular.O Canto I - "Fundação da Ilha" tem XXXIX conjuntos (?) variados (tercetos, quartetos, sextilhas, oitavas, e com 9 de rima irregular, No Canto II -"Subsolo e Super-solo" tem XX conjuntos. O Canto III - "Poemas Relativos" - tem XXVII conjuntos. O Canto IV - "As Aparições" - tem XXIX conjuntos. O Canto V - "Poemas das Vicissitudes" - tem XVIII conjuntos irregulares. O Canto VI - "Canto da Desaparição" .- tem XI conjuntos. O Canto VII -"Audição de Orfeu" tem XIV conjuntos muito irregulares. O Canto VIII - "Biografia" - tem um conjunto com imensas sextilhas, sem qualquer rima. O Canto IX - "Permanência de Inês" - tem um conjunto com oitavas normalmente rimadas. O Canto X - "Missão e Promissão", tem XX conjuntos muito variados e sem rima normal.
pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_mateus_de_lima
speculum.art.br/article.php?a_id=811
-- "ITAMONTE" - de ALMEIDA COUSIN - Natural de Sacramento (Minas Gerais)- Diplomado em : Farmácia - Direito - História - Literatura - Química Analítica : -- (Transcrição parcial dedicada a ANCHIETA) : --..........................................
...."Renegaste,abnegado apóstolo,a família
...."O mundo,a sociedade,a civilização.
...."Não tiveste o carinho ingénuo de uma filha
...."Nem um beijo de esposa ou um abraço de irmão,
.... "Olhos fitos no céu -- na coroa que brilha
.... "Na fronte do Martírio em tua Religião,
.... "-- Empreendeste na terra a estranha maravilha
.... "De,homem só,conquistar os índios e o Sertão !...
.... "Singular bandeirante,audaz e humilde,brando
.... "E forte,penetrante,almas virgens buscando
.... "A inóspita floresta,empunhando uma cruz...
.... "E,assim,abriste o céu num milagre de Graça
.... "--Se não tiveste esposa,esposaste uma Raça,
.... "Sem ter um filho,foste o Pai dos índios nus..."
.................................................
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-- "JERUSALÉM LIBERTADA" - de TORQUATO TASSO(1580 - no Renascimento,em ITÁLIA)-- em estilo camoniano -s/"Guerra Santa" - com 12 (15 ?) mil versos
pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_epica
estacio.br.rededeletras/"
-- "KALEVALA(PRIMEIRO)" - DE ELIAS LONNROT (1835/49)e outros autores. - (Finlândia) - com 5.000 versos - (1835/1849) -- Poema Épico - octossilábico - O NOVO "KALEVALA" (completo,com diversos autores, tem cerca de 20 mil versos octossilábicos,sem rima,sobre fábulas,mitos,superstições,canções populares, etc.), com influência dos épicos gregos. "KALEVALA" significa "a terra de KALEVA", um antigo herói.
filandia.org.pt/Public/default.aspx?contentid=124149
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-- "LUISIDINHA" - de JOÃO CRESCÊNCIO DE SANTANA -
-- "MACONGÍADAS, AS" - de : RUI FERREIRA COELHO e CÉSAR PAULO DA SILVA - (Príncipes dos Poetas do Reino de Maconge) - 1940 -- ("Memórias da vida académica do Liceu Diogo Cão(Sá da Bandeira - Lubango)- Angola)-- (v. Fevereiro 1995 ?) --
--- "Visado em Agosto de 1959 nos Paços Reais do Maconge - B.º de S.º António, em Sá da Bandeira,futura cidade Universitária, nas Festas da segunda confraternização da malta do Liceu -- S. Majestade Severíssima D. Caio Júlio César da Silveira" --
--- Em 5 CANTOS, com o total de 113 estâncias : I (26) -- II (29) -- III (16) -- IV (25) - V (17) -- (decassílabos) --
...... CANTO PRIMEIRO :
------- I) - "Os feios e galãs assinalados
............. Que em macongino reino agora existem,
............. Nunca deixam de andar apaixonados
............. E apesar das tampadas não desistem
............. Das asas arrastarem excitados,
............. Pois conseguem aquilo em que persistem.
............. Entre as moças bonitas alcançaram
............. Novas façanhas que todos espantam".
..............................................................
...... CANTO TERCEIRO :
------ VIII) "Por toda aquela mesa espalhados
.............. Se viam muitos pães e muitos pratos,
.............. E também muitos vinhos perfumados
.............. Que às vezes às cabeças dão maus tratos,
.............. Armando,entre os que estão mal precatados,
.............. Terríveis e cruéis espalhafatos ;
.............. Pelo ar se evolou cheiro esquisito
.............. De boa caldeirada de cabrito".
..........................................................
--- (Extraído parcialmente de : reinodemaconge.com.sapo.pt/Macongiadas.pdfrangel21.blogspot.com/2008/04/desde-os-vedas.html
-- "MANUS" -- (poema épico chinês) - tem 2 milhões (?) de versos ! --
pt.wikipedia.org/wiki/Apsarás
-- "MESSÍADA" - de FRIEDRICH GOTTLIEB KLOPSTOCK -(1724/1803) - de 1748 -
books.google.pt/books?isbn=8585219017
-- "METAMORFOSES" - de OVÍDIO - com 15 Livros -
pt.wikipedia.org/wiki/Matamorfoses
pt.wikipedia.org/wiki/Ovidio
-- "MOÇAMBICANA" - Padre JOÃO NOGUEIRA,S.J. -- "Socorro que de MOÇAMBIQUE foi a S. LOURENÇO contra o rei arrenegado de MOMBAÇA fortificado na ilha Massalagem sendo capitão-mor ROQUE BORGES e vitória que do rei se alcançou este ano de 1635" -- CANTO ÚNICO - 112 estâncias em oitavas normais --
...... 1) "Canto as armas e obras valerosas
...... "Da pouca gente ilustre lusitana,
...... "Que a nobre Moçambique às arenosas
...... "Praias da Massalagem maometana
...... "A refrear mandou as vitoriosas
...... "Forças da muita gente mauritana,
...... "Que para o forte Rei arrenegado
...... "De Mombaça se tinha já passado."
......................................
bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/aladaa/ramal.rtf
-- "NAMIBELUSOS (OS)" --de EDUARDO ABREU DA SILVA BRAZÃO - Tem 10 Cantos e 336 estâncias (em oitavas normais) sobre a viagem de PERNAMBUCO a MOÇÂMEDES --
-- "NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA" - de JERÓNIMO CORTE REAL - 1578 -(1530/1588 (1590 ?) --
alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/creal.htm
-- ""NAVIO NEGREIRO O(antes "Tragédia do Mar") -- ("OS ESCRAVOS") -- de ANTÓNIO CASTRO ALVES (1847/1871) -- (em 6 Cantos) --
pt.wikipedia.org/wiki/Castro_Alves
www.youtube.com/watch?v=Vo-JejTp704"
www.youtube.com/watch?=gywT-x6a6W8
-- "NIBELUNGENLIED" - ("A CANÇÃO DOS NIBELUNGOS") - de autor alemão (desconhecido ?) - Tem 4 partes com um total de 2.400 estrofes.
-- "ODISSEIA" ("ODYSSÊA" de HOMERO") -(SEC VIII a.C)-- Com 24 Livros (Cantos) sobre as "AVENTURAS MARÍTIMAS DOS DEUSES" (Regresso de ULISSES de TRÓIA). O original tem 12.106 (12.110 ?) versos(hexâmetros) e a versão 9.302 (em português, de MANUEL DORICO MENDES (1928 - RIO DE JANEIRO) -- publicada pela primeira vez em 1864):
----- LIVRO I) ---
..... "Canta,ó Musa,o varão que astucioso,
..... Rasa Ilion santa,errou de clima em clima,
..... Viu de muitas nações costumes vários.
..... Mil transes padeceu no equoreo ponto,
..... Por segurar a vida e aos seus a volta;
..... Baldo afã ! pereceram ,tendo insanos
..... Ao claro Hyperioneo os bois comido,
..... Que não quiz para a pátria aluminal-os.
..... Tudo, ó prole Dial,me aponta e lembra."
.............................................
--- (A consultar na INTERNET : www.geocities.com/Athens/4539/odisseia.html
estacio.br/rededeletras/numero11/parlaquetefabene/italia_principes.asp
-- "ORLANDO FURIOSO" - de LUDOVICO ARIOSTO - Nasceu em 8/9/1474 em REGGIO NELL' EMILIA. Divulgados desde 1486 e depois entre 1504/1532, inicialmente (1516) só com 40 Cantos e depois (1537)com 46 Cantos e cerca de 5.000 estâncias (40.000 versos, rimados),principalmente sobre as guerras entre CARLOS MAGNO e os Mouros chefiados pelo rei AGRAMANTE.
pt.wikipedia.org/wiki/Orlando_furioso
criticaliteraria.com/9896230676
-- "ORLANDO INNAMORADO" - MATTEO MARIA BOIARDO - (1486) -
-- "OS FILHOS DE TUPÃ" - DE JOSÉ DE ALENCAR -
mundocultural.com.br/literatura1/romantismo/alencar.htm
-- "OS LUSÍADAS" - DE LUIS DE CAMÕES (1525/1580) - publicado em 1572 - Com 10 Cantos e 1.102 Estâncias (8.816 versos - decassílabos normais). Salienta a viagem de
VASCO DA GAMA à ÍNDIA :
--- CANTO I :
... "As armas e os Barões assinalados
... Que, da Ocidental praia Lusitana,
... Por mares nunca de antes navegados
... Passaram ainda além da Taprobana,
... Em perigos e guerras esforçados,
... Mais do que prometia a força humana,
... E entre gente remota edificaram
... Novo reino, que tanto sublimaram;" --
..........................................
----- (A consultar na Internet :
oficina.cienciaviva.pt/~pw020/g7/lat2.htm
oficina cienciaviva.pt/~pw020/g7/lat3.htm
pt.wikipedia.org/wiki/Os_Lus%C3%ADadas
www.scribb.com/.../Literatura-Aula-04-Camoes-epico-os lusiadas
OBS -- .... ("o texto Os Lusiádas é considerado o maior poema épico da língua portuguesa,não só por sua extensão "... "composta por dez cantos organizados contendo em média cento e dez oitavas,perfazendo um total de oito mil e oitocentos e dezasseis versos decassílabos"... -- (extraído de "SCRIBB" - Aula 03 - LITERATURA - Prof. EDNA PRADO - (CAMÕES ÉPICO) --
-( OBS : - Ver na rubrica "O MEU POEMA ÉPICO",em 2 volumes : - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - (I vol.) e - "DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO" (II vol.), num total de 1.368 estâncias,perfazendo 10.944 versos decassílabos ) -- Engloba ainda o III) Volume (em actualização), designado "DO CUNENE MISTERIOSO AO ZAMBEZE ESPLENDOROSO", com 146 estâncias e também inserido parcialmente neste mesmo blog pelo seu autor (ROBERTO CORREIA), perfazendo o TOTAL GERAL de : 1.514 estâncias ----
------- CANTO I ) :
......." 1) - Não pretendo cantar lutas gloriosas
Desses antigos Reis e outros senhores,
Já gabadas em versos e altas prosas
Por alguns de mais rápidos louvores.
Mas sim aquelas duras,perigosas,
As mais negras,sem fim e sem favores,
Desses aventureiros de espantar
Que venceram as terras e o alto mar ! "
.........................................................
-- "OS MÁRTIRES" - ? - ....................................
-- "OS NAMIBELUSOS" - de EDUARDO ABREU DA SILVA BRAZÃO --1955 - com 10 Cantos e 336 estrofes --
--- CANTO PRIMERIO - I)
......"A Cruz e a Fé pelas quais foram guiados
......"À antiga Angra, -- então um vasto areal -,
......"Mártires e heróis;humildes e esforçados
......"Obreiros de Epopeia sem igual;
......"D´Agosto o quarto dia aqui chegados,
......"Para maior tornarem Portugal,
......"Entre o mar e o deserto edificaram,
......"Esta terra que tanto eles amaram."
.......................................
-- "PARAÍSO PERDIDO (PARADISE LOST) - de JOHN MILTON - Poema Heróico com 12 Livros (1667 e 1674), num total de 10.565 versos (decassilabos heróicos), sem rima.-
pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_epica
-- "POEMA DO SENHOR" - de BHAGAVAD-GUITÁ - (VYASSA) - em 3000 aC - (É uma parte do poema épico MAHABHARATA - já referido -)
-- "PROSOPOPEIA" -- de BENTO TEIXEIRA (PINTO) - natural do PORTO(1565/ ? ) -- Publicada em 1601 (LISBOA) - (Primeira obra poética produzida no BRASIL(PERNAMBUCO)- (1585/1594) - com 94 estâncias (apenas num Canto, em decassílabos e oitavas) -- O seu autor morrera em 1600 -
cce.ufsc.br/-nupill/literatura/prosopopeia.html
-- "PÁTRIA" -- GUERRA JUNQUEIRO - Poema com 23 Cenas -
-- "RAMAYANA" - DE SRIMAD VALMIKI (hindú), no Século V a.C. --
rangel.21.blogspot.com/2008/04/vidas-do-pai-divino-ramayana-historia.l
-- "TIMBIRAS (OS)" - DE ANTÓNIO GONÇALVES DIAS(1823/1864. Publicado em 1847 (1857)? -- com 4 Cantos -(Incompletos)(?). Morreu num naufrágio. --
pt.wikipedia.org/wiki/Gonçalves_Dias
educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u187.jhtm
--" TESEIDA" - de BOCCACCIO (1340) -
-- "URAGUAIA" - DE J. BASÍLIO DA GAMA - 1769 - Com 5 Cantos em versos brancos --(contra os jesuítas porque..."apenas defendia os direitos dos índios para serem eles mesmo seus senhores"... --
www.passeiweb.com/na _ponta.../o_uraguai
www.jayrus.art.br/.../O URAGUAI_trechos.htm
clubedapoesia.com.br/brasileiros/brajosecont.htm
============================================================
.........................................
--- INTERNET - Outros "sites" a consultar :
br.groups.yahoo.com
educaterra.terra.com.br
wikipedia.org/wiki/Poesia_epica
sabercultural.com
--- (*) -- NOTAS .. "Argumento histórico -- Em 1603, Pêro Coelho ,homem nobre da Paraíba, partiu como capitão-mor de descoberta,levando uma força de 80 colonos e 800 índios. Chegou à foz do Jacuaribe e aí fundou o povoado que teve nome de Nova Lisboa "... de "IRACEMA - Cartas sobre "A Confederação dos Tamoios" ... JOSÉ DE ALENCAR --
=================================
--- "EPOPEIA" :
2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/E/epopei.htm
--- "UM POEMA ÉPICO" :
exames.org/apontamentos/Pt/poemaepico.doc
--- "POESIA E HISTÓRIA" :
cfh.ufsc.br/magno/poesiahistoria.htm
================================================
--- "TUDO SOBRE ANGOLA" :
tudosobreangola.blogspot.com
tudosobreangola.blogspot.com/2008/11/governadores-gerais-de-angola
tudosobreangola.blogspot.com/2008/11/o-inicio-da-guerra-em-angola-o-4de.html
=========================================
....................................................
-- POEMA HERÓI-CÓMICO :
-- --- "O HISSOPE" - de ANTÓNIO DINIS DA CRUZ E SILVA - ( /1799) -- Apreciação crítica sobre o litígio entre o ..."Deão da santa Igreja (José Carlos de Lara) e o bispo (..."Excelentíssimo e Reverendíssimo" D. Lourenço de Lencastro" ...)da Sé de ELVAS : O Deão..."querendo obsequiar o seu Bispo...vinha oferecer-lhe o hissope à porta da casa do cabido todas as vezes que este prelado ia exercitar as suas funções na Sé. Depois,esfriando esta amizade por motivos que nos são ocultos.mudou o dito Deão de sistema, o que o Bispo sentiu em extremo como uma grande afronta feita à sua ilustríssima pessoa. E para o obrigar a continuar no mesmo obséquio, maquinou com alguns seus parciais do cabido que este lavrasse um acórdão pelo qual o Deão fosse obrigado,debaixo de certas multas, a não o esbulhar da pretendida posse em que se achava. Deste terrível acórdão apelou o Deão para a metrópole,onde teve sentença contra si.Esta é a acção do poema. Passado pouco tempo depois da referida sentença, morreu o Deão e lhe sucedeu no deado um sobrinho seu chamado Inácio Joaquim Alberto de Matos, o qual recusando sujeitar-se, como seu tio, ao sobre dito encargo, foi pelo Bispo repreendido e ameaçado. Então interpôs o mesmo um recurso para o tribunal da coroa que, mandando ao Bispo dar a razão do seu procedimento, este, cheio dum terror pânico, desistindo da imaginada posse, negou haver tal acórdão e tudo quanto tinha obrado a este respeito.Tudo isto dá matéria ao vaticínio de Abracadabra e é um dos episódios de que se reveste o presente poema."... "... -
--- (Transcrição parcial da obra "...O HISSOPE - Poema Herói-Cómico" - pgs. 3/4/5 -- Edição Crítica de Ana Maria Garcia Martin e Pedro Serra -- Editora "angelus novus (2006)"...
Existiam várias teses sobre as datas da sua efectiva publicação, bem como a constituição. Um delas apresenta a possível publicação entre 1770/1776 e o número de Cantos varia entre 6 e 9 (?), bem como o respectivo total de versos, de : 1.530 -- 2.549 ou ainda outros :
--da Biblioteca Municipal de Elvas - Ms.P.H. 9097 : Canto 1º -(296 versos)-- (Canto 2º -(226) -- Canto 3º (275) -- Canto 4º(290) -- Canto 5º(364) -- Canto 6º (407) -- Canto 7º (372) --
-- O seu título (Hissope)..."Este bem conhecido instrumento da aspersão da água benta nos templos dos cristãos católicos é derivado de hissopo, erva medicinal, com um molho da qual se faziam na antiga Lei as aspersões mundificativas de que se faz menção no Êxodo Cap.12 e 52, Números Cap. 19v. e 18, e Salmos 50v.9."(OP:136).
.... "CANTO PRIMEIRO" : (1/13):
...... Eu canto o Bispo e a espantosa guerra
...... Que o hissope excitou na Igreja d'Elvas.
...... Musa, tu que nas margens aprazíveis
...... Que o Sena borda d´árvores viçosas
...... Do famoso Boeló a fértil mente
...... Inflamaste benigna,tu me inflama,
...... Tu me lembra o motivo, tu as causas,
...... Por que a tanto furor, a tanta raiva,
...... Chegaram o prelado e o seu cabido.
...... Nos vastos intermúndios d' Epicuro
...... O grão país de estende das Quimeras,
...... Que habita imenso povo,diferente
...... Nos costumes,no gesto e na linguagem"...
.......................................
-----------------------------------------
=========================================
1 ) ============ "O CANTO DOS POETAS..." ============
====== De : ANGOLA -- BRASIL -- PORTUGAL
-- "A CAMÕES,COMPARANDO COM OS DELE OS SEUS PRÓPRIOS INFORTÚNIOS" -
...... "Camões,grande Camões,quão semelhante
...... Acho teu fado ao meu,quando os cotejo !
...... Igual causa nos fez perdendo o Tejo
...... Arrostar co sacrílego gigante :
...... Como tu,junto ao Ganges sussurante
...... Da penúria cruel no horror me vejo;
...... Como tu,gostos vãos,que em vão desejo,
...... Também carpindo estou,saudoso amante :
...... Ludíbrio,como tu,da sorte dura
...... Meu fim demando ao céu, pela certeza
...... De que só terei paz na sepultura :
...... Modelo meu tu és...Mas,oh tristeza !...
...... Se te imito nos transes da ventura,
...... Não te imito nos dons da natureza."
...........................................................
----- XIV -- "A LAMENTÁVEL CATÁSTROFE DE D.INÊS DE CASTRO" ---- --------------------
"O MENINO DA SUA MÃE" -------------------
...... "No plano abandonado
...... Que a morna brisa aquece,
...... De balas trespassado
...... -- Duas,de lado a lado --,
...... Jaz morto,e arrefece.
...... Raia-lhe a farda o sangue.
...... De braços estendidos,
...... Alvo,louro,exangue,
...... Fita com olhar langue
...... E cego os céus perdidos.
...... Tão jovem ! Que jovem era !
...... (agora que idade tem ?)
...... Filho único,a mãe lhe dera
...... Um nome e o mantivera :
...... "O menino da sua mãe".
...... Caiu-lhe da algibeira
...... A cigarreira breve.
...... Dera-lhe a mãe. Está inteira
...... E boa a cigarreira.
...... Ele é que já não serve.
...... De outra algibeira,alada
...... Ponta a roçar o solo,
...... A brancura embainhada
...... De um terço... Deu-lho a criada
...... Velha que o trouxe ao colo.
...... Lá longe,em casa,há a prece
...... "Que volte cedo, e bem !"
...... (Malhas que o Império tece !)
...... Jaz morto e apodrece,
...... O menino da sua mãe !"
.............................................
----- ( de : - FERNANDO PESSOA) --
----------------------- "O MOSTRENGO" --------------------
ver em : tabacaria.com.pt/mensagem/.../mostrengo.htm
----- (de : FERNANDO PESSOA (1888/1935) - (09/09/1918) -----
==================================================
------------------------- "QUADRAS" -------------------------
.........................................
...... "Sei que pareço um ladrão...
...... mas há muitos que eu conheço
...... que,sem parecer o que são,
...... são aquilo que eu pareço".
...... "Muito contra o meu desejo,
...... sem lhe qu´rer dizer porquê,
...... finjo sempre que não vejo
...... quem finge que me não vê..."
...... "Por isso é sempre preciso,
...... p´ra nos livrarmos de p´rigos,
...... adular,ter um sorriso,
...... para os nossos inimigos..."
...... "Enquanto o homem pensar
...... que vale mais que outro homem,
...... são como os cães a ladrar,
...... não deixam comer,nem comem."
.......................................
----- De : ANTÓNIO ALEIXO - em : "ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO..." - ("Explicação Indispensável" - Primavera de 1943 - de Joaquim Magalhães ---
-------------------------------------------------------------------
----------------------- " A CAMINHO " --------------------
...... "Vai Amigo...
...... Vai,e não esperes por mim...
...... Ao longe fica a estrada,
...... talvez certa,
...... talvez bela.
...... É tua esta jornada.
...... Já passas a cancela...
...... Porque olhas para trás ?...
...... Vai,Amigo...
...... Amanhã, voltarás.
...... É longe o meu adeus.
...... Estão tristes os meus olhos.
...... Por tudo,
...... eles me estão tristes
...... neste fim...
...... Mas vai,
...... que a hora é breve
...... Não esperes por mim."
------- ( de ALDA LARA - Extraído do blogue "Lupango da Jinha " - 1949 --
.................................................................
...... " Fica longe o sol que vi,
...... aquecer meu corpo outrora...
...... Como é breve o sol daqui !
...... E como é longa esta hora...
...... Donde estou vejo partir
...... Quem parte certo e feliz.
...... Só eu fico. E sonho ir,
...... rumo ao sol do meu país...
............................
--------- ( de ALDA LARA -- "Quadras da minha Solidão" ) -------
-------------------------------------------------------------------
------------------------ "O GRANDE POEMA" -----------------------
...... "Este é o poema que eu escrevi
...... Para as crianças da minha terra !...
...... Para as crianças negras,
...... e brancas,
...... e mestiças,
...... sem distinção de cor...
...... comungando o Amor
...... que as unirá...
...... Este é o poema que eu escrevi a sonhar...
...... de olhos perdidos no mar,
...... que me separa delas...
...... O poema que eu escrevi a sorrir...
...... a gritar confianças desmedidas
...... nas ânsias partidas...
...... quebradas...
...... como velas de naufrágio !...
...... O poema que eu escrevi a soluçar,
...... sobre os livros
...... onde não encontrei
...... para os sonhos resposta um dia !..."
----- (de : ALDA LARA -- extraído do blogue "O Lupango da Jinha " -- 1949 --
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---------------------- "SELVAGEM" ---------------------
......"Ninguém,ninguém,ninguém me queira mais;
...... podem trazer-me tudo quanto existe :
...... as pérolas de Ofir e as irreais,
...... ilusões que contentam quem é triste.
...... Podem trazer-me,em doidos vendavais,
...... a luz da felicidade que sentiste,
...... mulher ditosa que em cortejo vais
...... seguida de quem ama de quem riste.
...... Podem passar,ó loucas multidões
...... que eu bem o sinto,em tétrica miragem,
...... o labirinto em vossos corações...
...... Podeis passar,ó luz do sol fecundo,
...... porque eu não troco o amor desta selvagem
...... por todas as grandezas deste mundo !
-------------------------------------------------
-------------------- "KALAHÁRI" --------------------
...... Flor pálida dos trópicos,ó flor
...... de chama,com pétalas de lume...
...... Flor gentil do jardim dum grande amor,
...... que tem o clima estranho do ciúme !
...... Tens a beleza dos desertos quentes
...... e a tristeza anémica do sul,
...... filha do Kalahári,
...... miragem do deserto
...... de areias de oiro,
...... reflectindo
...... o céu azul
...... enamorado de ti...
...... Deserto e céu enamorados
...... e perseguindo
...... teu corpo de sonho,a despertar !
...... Filha do Kalahári,
...... que tentação a tua...
...... És linda e triste,
...... como à noite a branca Lua !
...... Ó rainha do deserto,
...... que sepulta um morto mar,
...... talvez tu sejas de perto
...... a sombra de quem morreu,
...... a alma de quem sofreu,
...... há mil anos,nesse mar,
...... e o milagre do amor,
...... quebrando o túmulo das águas,
...... fizesse ressuscitar !
-------------------------------------------------------
------------------- "ROMAGEM AO QUICOMBO" --------------------
...... Vinham de toda a parte esses romeiros
...... em procissão de imagens quase santas;
.......e os de mais longe foram os primeiros
...... que chegaram à grande romaria...
...... As léguas caminhadas eram tantas
...... que a distância é um pranto de alegria!
...... Vinham de Seles e do Amboim do norte
...... os homens brancos e de negra cor
...... que servem Portugal até à morte.
...... Vinham do rio Longa e da Quissâma
...... todos que têm por lá o seu grande amor
...... à santa da Muxima que os inflama.
...... Em fá ardente,e crente,e milagrosa,
...... Vinham os Sobas de passadas guerras
...... com sua corte altiva e caprichosa;
...... E moças lindas,cor da noite escura, --
...... negras flores do exílio em que te encerras,
...... ó minha Angola imensa,ó formosura !
...... E bandeiras daquelas mais festivas,
...... certo dia tornadas prisioneiras,
...... ali regressam,livres e altivas.
...... Quando Elas passam,com seu ar contente,
...... batem palmas as palmas das palmeiras,
...... e o Sol,subindo alto, é mais ardente !
.......................................
...... Diz a missa o mais velho missionário,
...... sobre um altar de pedras carcomidas,
...... que são da fortaleza o breviário.
...... Numa aliança de sangue,as lindas flores,
...... de duas raças por amor unidas
...... olvidam os passados dissabores
...... nesta Terra Africana, -- a bem amada --
...... que Salvador Correia restaurou
...... em luta ardente,forte,ilimitada !
............................................
............................................
...... Paira no ar uma oração fremente,
...... e um poeta que nunca mais voltou,
...... erguendo a voz,cantou humildemente :
...... Por obra e graça da divina glória,
...... que mais além da vida aconteceu,
...... Quicombo é um padrão da nossa história
...... que a nossa gente em devoção ergueu !
...... Gritai, clarins da fama e da vitória,
...... rezai preces de amor por quem morreu,
...... dando valor a quantos,de memória,
...... dizem seus nomes altos como um céu !
...... E Tu,ó grande mar das caravelas
...... e dos naufrágios,conduzindo as velas
...... que aportaram,gloriosas,no teu fundo,
...... Ergue-te ao alto em torre de menagem
...... e ensina à voz do vento esta romagem
...... para que o vento a leve a todo o mundo.
------------------------------------------------------------------
---- ( 1º Prémio de poesia nacionalista (amaranto de oiro)nos jogos florais da Emissora Nacional -- 1938 --)
--- (de : "QUISSANGE" - TOMÁS VIEIRA DA CRUZ (1971) ---
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------------------- "SÁTIRA A JANEIRO - 1959" -------------------
...... "Surge Janeiro frio e pardacento,
...... Descem da serra os lobos ao povoado;
...... Assentam-se os fantoches em São Bento,
...... E o Decreto da fome é publicado.
...... Edita-se a novela do Orçamento;
...... Cresce a miséria ao povo amordaçado;
...... Mas os biltres do novo parlamento
...... Usufruem seis contos de ordenado.
...... E enquanto a fome o povo se estiola,
...... Certo santo pupilo de Loyola,
...... Mistura de judeus e de vilão,
...... Também faz o pequeno "sacrifício"
...... De trinta contos, -- só ! - por seu ofício,
...... Receber, a bem dele...e da nação."
---------- ( De : JOSÉ RÉGIO = - Sátira de Janeiro de 1959 ) ---------
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------------------ "PICADA DE MARIMBONDO" ------------------
....."Junto da mandioqueira
..... perto do muro de adobe
..... vi surgir um marimbondo
..... vinha zumbindo
..... Cazuza !
..... vinha zumbindo
..... Cazuza !
..... Era uma tarde em Janeiro
..... tinha flores nas acácias
..... tinha abelhas dos jardins
..... e ventos nas casuarinas,
..... quando vi o marimbondo
..... vinha voando e zumbindo
..... vinha zumbindo e voando !
..... Cazuza !
..... Marimbondo
..... mordeu tua filha no olho !
..... Cacuza !
..... Marimbondo
..... Foi branco que inventou !...
----- (de : ERNESTO LARA (FILHO)- (1922/1977) - em Nova Lisboa,1961) --
-----------------------------------------------------------------
------------------------ "POEMA" --------------------------
...... "Eis-nos aqui no caminho
...... Traçado por nossa mão.
...... Cada braço traz o punho
...... e cada punho um punhal.
...... Bandoleiros na vida,
...... vida errante era o destino !
...... Nas costas nasceram traços
...... da vida dura sem pão.
...... Rugas dos covais da vida
...... cemitérios da ilusão !...
...... Mortos,mortos,mas com vida
...... quase à beira do chão.
...... Quase à beira do chão
...... rastejantes,vermes, podres !...
...... Pobre miséria do mundo
...... Só o dinheiro é patrão.
...... Só o dinheiro é patrão
...... dos vermes saídos do chão
...... Cada um traz um punho
...... Com uma faca na mão."
------ (De : ALEXANDRE DÁSKALOS - (publicado em "ABC - Diário de Angola") - (?) --
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--------------------- "A SÁ DA BANDEIRA" -------------------
......"Detenho-me a cismar e nunca mais atino
...... Porque há contradições de forma irregular;
...... Como o tempo veloz,a ti,faz remoçar
...... E a mim me torna velho,a mim que era menino.
...... Chorava qualquer outro a lei deste destino
...... Mas eu juro que não,talvez por te adorar.
...... Quero ver-te crescer,formosa,de encantar,
...... Assim moça gentil,de trato lhano e fino.
...... Hei-de sempre seguir a sombra dos teus passos
...... Até que a morte venha desfazer os laços
...... Que unem alma e corpo e dão expressão à vida !
...... Se a cidade puder levar nos olhos meus
...... Não há-de custar tanto o derradeiro adeus,
...... Não há-de ser tão triste a nossa despedida !"
------ Angola,1957 - de : RUI FERREIRA COELHO - Extraído de "ANGOLA - SAUDADE NOSSA" - pgs. 11 - edição OLEC - 1991 --
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------------------- "CHELA -- RAINHA" ----------
...... " Fugindo ao mar e,vencido o deserto,
...... Como se fora alçar voo no espaço,
...... Dinossauro gigante,ágil,desperto,
...... Sacode,ondeando,o rugoso espinhaço :
...... Eis a CHELA -- magnífica, alterosa,
...... Montanha linda, agreste e majestosa,
...... Lá onde o ninho meu,amado tanto,
...... Ficou perdido,enuviado em bruma...
...... Terra-pátria da HUÍLA,oh ! minha terra,
...... Dos meus sonhos gentis da mocidade,
...... Mau grado o longe,em que se tudo esfuma,
...... No belo anfiteatro, que era a serra,
...... Vejo o esplendor do luar sobre a cidade,
...... As capelas no monte,o Cristo-Rei,
...... O sol, o céu azul, jardins em flor,
...... Todo o muito que foi,tudo o que amei,
...... A beleza sem par que os olhos viram
...... Desde que para a vida e luz se abriram !...
...... E lembro o povo irmão,mártir da guerra,
...... P´ra quem miséria e fome são a lei
...... Sob o punhal odioso da traição.
...... -- Não consigo esconder meu pensamento
...... E,inda menos,calar meu coração! --
...... Meus olhos, de onde a luz já vai fugindo,
...... Prendem-nos teu feitiço, o teu encanto,
...... Como nos prende o amor a um rosto lindo,
...... Como nos prende a flor, que vai-se abrindo..."
...... Nem sei se, ANGOLA, eu te choro ou te canto!...
.....................................................
---- Odivelas,1988 -- de : MÁRIO BORGES ALEXANDRINO -- Extraído de : "ANGOLA -- SAUDADE NOSSA" - pgs. 92 - Edição OLEC - 1991 --
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-------------------- "ÁFRICA MINHA" -------------------
......"África minha,e tua,África nossa,
...... Onde me fiou lá muito para trás,
...... -- Crisol dos meus anseios de rapaz,
...... Angola,meu amor,menina e moça...
...... Onde o chiar dolente da carroça
...... Era prenúncio de trabalho em paz
...... -- Fruto daquela vis,que era capaz
...... De transformar o ermo em verde roça...
...... Quem uma vez viveu tua presença,
...... O teu imenso céu,tu´alma imensa,
...... Não mais te esquece, plasma do meu plasma !
...... Ó Mãe da minha Mãe,doce velhinha,
...... Bem sei que te perdi, África minha,
...... Mas hei-de voltar, feito fantasma...!
--- Azenhas do Mar,1986 -- de : TOLSTOI NÓBREGA MOITA -- Extraído de "ANGOLA - SAUDADE NOSSA" - pgs. 116 - Edição OLEC - 1991 --
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---------------- TERRA MINHA, MINHA TERRA MÃE -------------
Berço meu,meu planalto imenso,
Mãe das minhas primeiras madrugadas,
Na rua terra barrenta,no teu aroma intenso,
Abracei o pôr-do-sol e as cigarras aladas.
Das tuas acácias granjeei meu fôlego,
Do teu cama-couve veio o café e o feijão;
No teu Cunene banhei teus encantos.
E das festas domingais, o futebol e o camarão.
Dos caudais de tuas impetuosas torrentes,
Rompiam sois abruptos e imponentes,
E por entre milheirais e terras queimadas,
Irrompiam noites por cacimbas esventradas.
Nos teus mamoeiros abundou a traquinice,
Goiabas e bananas-macaco, qual repasto do além !
Foram tempos de uma aura meninice,
Domingos fartos de pirão, peixe-seco e dendém.
Tuas picadas desbravavam a terra,
E os machimbombos transportavam paixão.
De capim se vestia a tua terra,
E nas cubatas nascia uma nação.
Terra minha,minha terra amada,
Foram onze anos as primaveras da vida.
Onze foi o número de partida
Terra minha,minha dor anunciada.
Meu nome choraste no dia em que parti,
Meu regresso imploraste na vida ou na morte.
Nova Lisboa,por ti,até hoje sofri,
Huambo excelso,só para ti traçarei minha sorte.
--- ( em : "Homens (deste Mundo)" -- de SÉRGIO FONSECA --
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------------------ "PAUSA" ------------------
...... "Há esta angústia de ser humano
...... Quando os répteis se entrincheiram no lodaçal
...... e os vermes se preparam para devorar uma criança
...... em indecorosa orgia de crueldade.
...... e lá esta alegria de ser humano
...... quando a manhã avança suave e forte
...... sobe a embriaguez sonora do cântico da terra
...... apavorando vermes e répteis
...... e entre a angústia e a alegria
...... um trilho imenso do Níger ao Cabo
...... onde marimbas e braços tambores e braços vozes
...... e braços
...... harmonizam o cântico inaugural da nova África"
--- (de AGOSTINHO NETO - (1922/1977) - (do blogue "Angola:os poetas")
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...... Uma criança triste
...... Como centenas,mutilada
...... Numa qualquer rua de Luanda,
...... Num musseque ou num quimbo distante,
...... Com perna de pau,
...... Às voltas da bola de meia, sem pé,
...... Saltita e sorri,sentindo-se feliz
...... Nesse pequeno instante !
...... Duma rajada,descontrolada,
...... Não sobra menino,bola nem Nada !...
-- (de : "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - 6º Vol. 1975/2002)- Roberto Correia - Pgs.143) -
---- (Maio de 2005) ----
...............................................
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------------- "O MENINO NEGRO" --------------
..."Eu nasci muito longe,lá p´ro Sul,
Eu sou negro,sim,mas minha alma é branca;
Branco como um anjo é o menino inglês,
Mas eu,como o escuro,de negra têz"...
...minha mãe,antes do sol abrasar,
à sombra duma árvore se sentou.
Aconchegou-me ao colo e,ao beijar-me
Apontando p´ra leste assim falou...
Olha o sol a nascer,ali Deus mora
E dá luz e calor a toda a gente,
Aos bichos,aos homens,a toda flora;
faz o dia alegre e a manhã quente...
------- (WILLIAM BLAKE -------
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---------- " O LAMENTO DO NEGRO" ----------
..." Levado do lar e do bem-estar caseiro,
Da costa de África me vi apartado
Para engrossar os tesouros do estrangeiro.
Sobre as grossas ondas fui transportado.
Em Inglaterra me venderam e compraram
Pagando o meu preço em reles ouro;
Mesmo se como escravo me registaram,
O espírito não se vende como couro..."
---------- WILLIAN COWPER ----------
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------------ "BAIRRO DA FACADA" - VOL 2" ----------------
...... AMIGOS,VOU HOJE AQUI ABRIR
...... O "BAIRRO DA FACADA" - VOL 2
...... FOI TUDO À PRESSA E A FUGIR.
...... AS CONTAS SÓ AS FAREI DEPOIS.
...... VENHAM TODOS,QUE A TODOS QUERO VER,
...... QUE HOJE NINGUÉM FALTE,VOU ESPERAR.
...... QUEM SERÁ O PRIMEIRO QUE IRÁ CHEGAR
...... E PROVAR O ABSINTO QUE MANDEI FAZER ?
...... COPOS AO ALTO,VAMOS TODOS ESPERAR
...... QUE ESTES DIAS NÃO SEJAM SÓ DE RENOVAÇÃO !
...... COPOS AO ALTO,VAMOS TODOS DESEJAR
...... NA NOSSA "SANZALANGOLA" UMA REVOLUÇÃO.
------- (JOÃO M.VENTURA MANGERICÃO - "NECO") - 11/04/2007 -- (de : "Sanzalangola")--
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----------------- "LXXIX ---- EMBONDEIRO" -----------------
........ Com teu porte majestático e estranho
........ Sobressais na planície ressequida
........ Olhas o Hoje como o Antanho
........ Nada altera a tua própria vida.
........ Deixa que,mais uma vez, de ti me acerque
........ Lembrando os tempos em que era moleque
........ Embondeiro... Meu Amigo ! Meu Irmão !
........ Porque tenho um desejo : Antes de morrer
........ Kissangua das tuas múcuas quero beber
........ E compartilhar da tua...solidão.
.........................................
----------------- "LXXX -- Menino Negro" -----------------
........ Pulando contente
........ Na terra vermelha
........ Em frente à cubata
........ O menino negro
........ Faz malabarismos
........ Com um carro de lata
........ De olhos enormes
........ Puros...sem maldade
........ Recria na areia
........ A enorme teia
........ Da sua cidade
........ Na barriga grande
........ Descai-lhe o calção
........ Com um só suspensório
........ Que não era seu
........ Mas Deus que é bom
........ Conferiu-lhe o dom
........ De transformar em céu
........ O que é purgatório
------------- (Extraídos de : "PATRANHAS 100 POESIA" - de JOAQUIM DE LISBOA -
Edição de Autor - Setembro de 2008 -----------------
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-------------------- "O DIA MUNDIAL DA POESIA" ---------------------
--- É o "DIA MUNDIAL DA POESIA" !
--- Que bom que fosse verdade,
--- Sem tanta hipocrisia
--- E muito menos vaidade !
--- "Eu tive um sonho" (*) um dia
--- Que nunca chegou a ser realidade :
--- Em físico-químicas obter a engenharia,
--- Mesmo já com avançada idade...
--- Não gostei da moda que então surgia
--- Sem enfrentar grande dificuldade.
--- O tempo depressa evoluía
--- Com novas normas na sociedade.
--- Para tal fim, o meio já não contaria,
--- Bastando ultrapassar a oportunidade :
--- Indo no final dessa rebeldia
--- Buscar o diploma da "universidade" !
--- Porém, em mim, o sonho morria
--- Surgindo uma nova realidade
--- E renascendo no peito a POESIA
--- Para uma maior felicidade !
..........................
(*) - "Eu tenho Um Sonho"- afirmou o Pastor da Igreja Batista, MARTIN LUTHER KING (15/01/1929 -- 04/04/1968) -- num célebre discurso em ATLANTA (Março de 1963 ) --- (Esta é a minha modesta homenagem ) ---
............................................
--- COIMBRA -- 21/03/09 ---
- Roberto Correia - (Sourreia) -
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------------------- "O DIA MUNDIAL DA POESIA" -------------------
...... "Esquecida, só te restando um dia,
...... no meio desta tremenda confusão
...... de tanta política,demagogia,
...... em que..."ser ou ser,eis a questão"...!
...... Para compensar-te tanta "razia"
...... vou recordar uma modesta colaboração
...... com alguns dos versos que certo dia
...... vos escrevi com alma e coração ! :
...... " 1) - Não pretendo cantar lutas gloriosas
...... Desses antigos reis e outros senhores,
...... Já gabadas em versos e altas prosas
...... Por alguns de mais rápidos louvores,
...... Mas sim aquelas duras,perigosas.
...... As mais negras,sem fim e em favores,
...... Desses aventureiros de espantar
...... Que venceram as terras e o alto mar !
.....................................
...... " 3) - Apenas p´ra os de triunfos merecidos
...... E que,de pó,seus feitos silenciosos
...... Estavam já cobertos ou sumidos
...... P´la pata de inimigos temerosos,
...... A eles,da tantas lutas esquecidos,
...... Louvo a Calíope,para que animosos
...... Vibrem os seus,em som alto e mais forte
...... Contrariando s caprichos d´outra sorte !
.......................................
-------- (Versos de : Roberto Correia,(21/03/2010), com estâncias extraídas do seu Poema Épico "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" (1990),já referido neste mesmo blog ----
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-- B) ----------------- "O LUBANGO" -----------------
..."Linda terra,encantadora,/Que Deus beijou ao nascer.../Dôce carinho,onde mora/Alegria de viver!"/ --- "Suas águas e seu clima/(Maravilha do Planalto!)/São bênçãos vindas de cima,/Sorrisos vindos do alto!"/ --- "Esta terra abençoada,/Rica de mimo e beleza,/É uma pérola engastada/Em possessão portuguesa!"/ --- "O Sol, quando aqui desceu,/Depois dela ter surgido,/De repente a côr perdeu, /D' espanto,surpreendido..."/ --- "Mas depois nasceu mais lindo,/Em volta as serras doirando.../"Salvé,Lubango! Bem vindo!"/Dizem os anjos,cantando."/ --- "Este jardim africano,/Rincão de Angola bendito,/E que o braço lusitano/Cada vez põe mais bonito,"/ --- "Deve sempre ser olhado,/Por todos os filhos seus,/Com grande amôr e cuidado.../Não nos vá castigar Deus."/ ------------ (26 de Agosto de 1923)--------
................................................
---- (Da autoria de JOAQUIM DE FIGUEREDO, o mui ilustre "primeiro director" (?) do Jornal "A HUILA", publicado no LUBANGO (SÁ DA BANDEIRA - ANGOLA), que também foi o proprietário do panfletário "CLARIM" que circulou (na clandestinidade)a partir de 1919 ! ------ -- (Por amável cedência dos amigos : HOMERO FIGUEIREDO e HONORATO ALVES) --
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--- B/A ------------------ "O CABRAL" ------------------
..."Hoje retocou-me o sentimento da perplexidade... / O Bar Lafões... Ah o bêbado da infância,o Cabral, / Cambaleando aos trambolhões...Ah que crueldade, / Sem nunca ter conseguido a ninguém fazer mal... //
..."Lá vem ele pelo sofisma da infinita generosidade / Dizendo que aquele tempo era bem melhor afinal / E o vinho tinto batizado, quiçá, na orgia da qualidade, / Fez todos nós tomarmos a sopa de sabor sem igual //
..."Sinto-lhe os passos leves nessa imagem imortal / E no caminho ébrio pela vertente da liberdade / O saco que nos levaria jogado à poeira sepulcral //
..."Vejo-o ali pelos passeios da clarividência angelical./ Estou lúcido e o enigma desta saudade e inquietude / Ofereço a Deus pelo testemunho do indizível sinal."
------- Brasília 05 de Agosto de 2009 -- EDUARDO MAIA -------
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---- B/B ---------------- "ESCOLA 60" -----------------
..."Na esquina da Escola 60,a minha escola, a do meu pobre saber,/ Aonde aprendi a tabuada e, sobretudo, a escrever e ler / Havia uma casa como a dos pobres, abandonada e posta ao entardecer, / Aonde havia aparições de uma aparição que nunca pude compreender /
..."E as crianças da minha infância já no princípio do alvorecer, / Abriam as portas e as janelas sem que eu pudesse perceber,/ Como falavam com os fantasmas que eu não podia ver. / Riam, gritavam e se acotovelavam entre o não me poder mexer /
..."Bem próximo do jardim-escola perdeu-se a ilusão do meu entender, / Mesmo vendo fantasmas sem ver, não consigo sequer poder dizer / O que viram os meus condiscípulos nas proximidades do aprender a ler /
..."Passou-se o tempo da minha vida sem me poder aperceber / Como consegui conviver com a imperceptível razão do viver / E carregar pelas distâncias do tempo essa inamovível razão de ver."
-- Sítio da Catraia - Lamas ---- Coimbra, 17 de Maio de 2005 ----- EDUARDO MAIA -
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----B/C -- "Diogo Cão - Navegador Português Séc. XIV" ----------- -
..."Roberto Correia,compondo os Lusíadas da epopeia terrestre,como fez Camões os da epopeia marítima, é poeta; ciências sociais e antropologia, são poesia de verdade.
Gosto deste intelectual-cientista,maior ainda pela singeleza com que,a miúdo,o encontramos a passear junto de nós,sempre comovido tal a crença que, humildemente
faz.
Aliás,essa encantadora simplicidade é bem o vinco de ouro da nossa pujança racial.
As obras -- muitas já escreveu,e todas de altíssima cultura -- Roberto Correia exibe o desvelo com que honra a Pátria : mãe insubstituível, que as glorifica na glória dos seus filhos.
A inter-compreensão,cada vez mais lúcida e cada vez mais bela, da Pátria que tem.
Ora pesquisando a alma da nossa gente,ora à nossa gleba,páginas vibrantes consagrando, faz do espaço que nos une, o símbolo da afectuosidade Luso-Afro-Brasileira, porque o espaço é profundo e eterno. É pelo coração que fala a nobre inteligência,aquele que inspira as formas superiores do sentimento humano.
BEM HAJA." ...
.........................................................
------ Comentário de : AMATA - (Autor de : "DIOGO CÃO - NAVEGADOR PORTUGUÊS SÉC. XIV" -- ( http://afmata-tropicalia.blogspot.com/ )
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-- ---- B/D --- " ORIGENS --- ("Novamente eu seria criança/Se a vida fosse uma balança") --- ANGOLA" --- :
...... "Terra de queimadas
...... De noites lânguidas...
...... Onde o luar nos povoa a alma,
...... Nos aquece e nos embala
...... Nos ajuda a sonhar !...
...... Nos ajuda a chorar !..."
......"Terra da minha meninice !...
...... Tão distante no tempo
...... E tão perto no coração.
...... As tuas estrelas,são só tuas,
...... Pois,só brilham assim para ti...
...... Para nos fazeres sonhar !...
...... Para nos fazeres chorar !...
...... Terra de noites maravilhosas,
...... Silenciosas num turbilhão de ruídos...
...... Cada som... diz-nos algo
...... Que se grava em nossa alma
...... Pondo-nos a sonhar !...
...... Pondo-nos a chorar !...
...... Terra longínqua e estranha
...... Onde eu nasci e...cresci...
...... De ti ficou a saudade,
...... Que é a chama da vida,
...... Que é o choro da alma,
...... E assim me fazes sonhar !...
...... E assim me fazes chorar !..."
........................................
-- ---- "SAUDADES" --------------
...... "África longínqua e calorosa !
...... De noites estreladas e sensuais,
...... Cheias de encantos e nunca iguais...
...... África tão grande e misteriosa !..."
...... "África com luares encantadores,
...... Maravilhosa paleta de cores !
...... As tuas estrelas tão reluzentes
...... Lembram,do fogo de artifício,lágrimas pendentes..."
...... "Ouvem-se sons da Natureza
...... Repletos de tamanha beleza
...... Que à jovens lembram serenatas de amor
...... E às crianças,das canções de embalar,o seu calor !"
................................................
------ ( Extraído parcialmente de : "O fluir da vida" -- da autoria de MARIA DO CARMO FERNANDES -- (Guemanisse - 2011) -- pgs. 13 e 16 -----
====================================================================
..................... (actualização permanente) ...............
=========================================================
==== C/ --- DE ALGUNS POETAS DO BRASIL :~ ====
------ O MILAGRE DE S.JOÃO" -----
... "E agora eu peço a sa dona,
... "que é muié civilizada,
... "que é muié de ducação,
... "pelo que não arrepare
... "na minha comparação.
... "As cadeiras de Joaninha
... "tava sadia istufada,
... "como uma pedra encalhada
... "na beira de um riachão,
... "que as agua que vai passando
... "vai, aos poucos arredondando
... "inchando,que nem balão,
... "inté ficá tão redonda
... "como as anquinhas macia
... "de uma bonita nuvia,
... "que ainda fica assustada,
... "vendo um touro,um barbatão".
........................................
---- de CATULO DA PAIXÃO CEARENSE -- em :
revista.popular.agulha.nom.br/.../catulo-o-poeta-popular-do-brasil.html
----------------------------------------------------
... "Eu juro que muié feme
.... "nunca teve coração...
.... "Todo o bêjo é uma simente
.... "Que abre em frô numa traição.
.... "Tu não tá vendo a lagôa.
.... "Daquela báxa...acolá ?
.... "Óia : chena na rebêra
.... "espia que tu verá
.... "a cara da tua cara
.... "lá no fundo a ti espiá.
.... "Enquanto tu tá oiando
.... "ela tá sempre a te oiá !
.... "Mas quando tu te arretira
.... "Gorogotó...nem siná !
.... "Aquilo que fez contigo
.... "Faz cum outro que vinhé
.... "Apois,óiá : essa lagôa
... "é o coração da muié !"
......................................................
---- Transcrição parcial do Poeta CATULO DA PAIXÃO CEARENSE ..."o maior poeta sertanista do Brasil"... extraído da obra "O BRASIL NAS LETRAS E NAS ARTES" , de RUY DE MONTEMOR - LIVRARIA PETRONY - (LISBOA - 1960) - pg.22 -
====================================
-------------------- "MEU IRMÃO PORTUGUÊS" ------------------
.... "Meu irmão português ! Meu irmão de além-mar !
.... "Sinto,em meu coração,teu sangue palpitar !
.... "Teu sangue varonil,tão cheio de bravura,
.... "Que é ao mesmo tempo,uma flor de ternura !
..........................................
.... "Meu irmão português ! Tu não és estrangeiro !
.... "Nasceste em Portugal,mas és bem brasileiro !
.... "A tua alma é a minha ! O teu sangue é o meu !
.... "Abençoado irmão que o destino meu deu !
..............................................
---- (Transcrição parcial de LOLA DE OLIVEIRA extraída de "O BRASIL NAS LETRAS E NAS ARTES" - de RUY DE MONTEMOR - LIVRARIA PETRONY - LISBOA - 1960 - (pg.29) --
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------------------------- A POESIA... ------------------------
..."A poesia não existe,porque o homem quer que exista; não é o produto de uma vontade humana,pois por mais forte que ela seja.Ela é anterior ao homem.Existe nas mais pequeninas coisas,nas maiores coisas,em toda a parte,no homem,na vida,na Natureza,no amor,no próprio ar que respiramos.Existe,existiu sempre.Nasceu com o mundo,porque todo ele é produto da Vontade do Criador,na mais enternecedora obra de amor e de poesia."
..."Convencionar-se uma uniformidade de poesia universal,em qualquer lugar,parece.nos coisa absurda e impossível."
..."A poesia não sofreu alterações com o rolar dos tempos e com a evolução do homem. Manteve-se tal como era na sua essência. O que mudou foi o estilo,a forma, a interpretação,o sentido das coisas que têm poesia. Ela é e foi sempre um riquíssimo manancial de formas e adapta-se e adapta-se a qualquer mentalidade, a qualquer inteligência"...
..."Poeta não é apenas o que descreve as maravilhas da Natureza,a epopeia de um povo,a grandeza de uma raça ou a tortura da vida social. Poeta é todo o que canta, seja qual for a forma ou o estilo,quer se trate de um mestre de lirismo, de um génio em sonetos,de um pródigo em estrofes ou de um simples trovador.À fonte inesgotável da Poesia, todas as faculdades criadoras do homem podem ir beber e buscar a sua imaginação."
..."A poesia não se transforma,não passa por metamorfoses,quando muito evolui,mas não perde a sua fonte primária e a sua natureza inspiradora,a sua essência. Ela existe,muito anterior ao homem e este limita-se a moldá-la,consoante o seu engenho e a sua arte,como nos diria Camões"...
..."Parece não compreender-se a razão por que se deve condenar tanto o romantismo,o simbolismo,o parnasiamismo e tudo o mais que formou escola e em que se notabilizaram tantos e tão eminentes génios."
..."O romantismo não deve ser "doentio e piegas"diz Exupero Monteiro. Eu,porém,limitar-me-ei a acrescentar que ele o deve ser tanto quanto as coisas de doentias e de piegas se apresentem à imaginação do poeta".
..."A poesia é uma mensagem da Verdade e não pode ser falseada."
..."O Poeta não pode cantar as fontes e os rios da mesma forma que canta os mares e as nuvens,os vendavais ou a fúria dos elementos. Não pode cantar a criança que chora,a donzela que ama,como o avião que cruza os ares ou o canhão que espalha a morte e o desespero."... (pgs. 13/14) -- .
........................................................
---- (Transcrição parcial da obra "O BRASIL NAS LETRAS E NAS ARTES" - de RUY DE MONTEMOR - 1960 -- Casa Distribuidora : LIVRARIA PETRONY - Lisboa --
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-- --- D/ --- "O RECANTO DOS JOVENS" (-- menores de 16 anos --)--
.......................................................
--- 1) - ..." Senhora Ministra . -- Eu sou um aluno do CAIC, que fica em Cernache,perto de Coimbra.Como a Senhora Ministra sabe,o nosso colégio pode estar prestes a fechar,e ninguém gostaria que isso acontecesse.
.."Há uma frase que apareceu na TVI e ainda bem que estava exposta no portão do nosso colégio que dizia assim : ..."Não é o CAIC que escolhe os alunos, são os alunos que escolhem o CAIC." ... Só de pensar que um espaço como o nosso colégio pode ser desprezado desta maneira, acho que é um absurdo, não há nenhum colégio como este em nenhum lugar de Portugal."
..."Eu também compreendo a Vossa parte,não têm dinheiro, mas porquê comprar objectos desnecessários, tais como, os carros blindados para a Cimeira da NATO que era muito importante, mas nem vieram no tempo proposto. Porquê que todas as pessoas do Governo têm um bom carro,motorista...aí não podem reduzir despesas ? "
..."A Senhora Ministra fala dos colégios que desfrutam da modalidade de equitação, piscina e outros luxos; quero relembrar que nós não temos nada disso, somos uma escola pública e vamos lutar para que o CAIC não feche.".....
"Também quero perguntar à Senhora Ministra onde é que houve aproveitamento da parte dos pais por nos levarem às manifestações ? Somos nós que andamos no colégio; nós temos que lutar pelos nossos interesses, os pais como encarregados de educação devem ajudar. Quando houve a história dos computadores (Magalhães)a Senhora Ministra não se aproveitou de ninguém, pois não ? Mas utilizou as crianças nos vídeos das tvs."
..."A Senhora Ministra foi professora do ensino público; queria ver a sua reacção se fosse agora do ensino privado e estivesse no lugar em que os nossos professores estão !"
.......................................
..."Com os meus grandes cumprimentos, Paulo Antunes, Cernache."
-------------------------------------------
--- (transcrição da carta dum aluno do 7º ano - com 12 anos de idade) ---
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--- - 2) ---------- "O QUE EU GOSTO MAIS NA MINHA VIDA !" ------
..."Olá eu sou o Paulo, e o que eu gosto mais na minha vida foi ter sido adoptado."
..."Eu estava na instituição, quando fui adoptado. Não me lembro dos outros meus pais, mas agora o que interessa é que tenha uns que gostam de mim e que eu gosto deles.
..."Deve ser difícil que os pais estejam divorciados. Felizmente eu não sei o que isso é mas há muita gente que tem os pais separados, mas mais difícil que isso é não saber quem são os pais que me criaram até eu ter um ano. Mas nesta história eu também sou um felizardo por ter ficado com estes pais,se calhar se não me fossem buscar, ainda lá estaria."
..."Mas claro que gosto de mais coisas desta vida. Gosto de estar neste colégio,gosto de poder jogar futebol no Vigor, gosto de já ter ido a muitos sítios fora de Portugal (ex. Corunha, Barcelona, Paris, Santiago de Compostela,Sevilha, Lyon, Marselha, entre outros menos conhecidos)."
..."Mas ainda gosto mais da minha vida quando sei que sou sportinguista."
..."Eu acho que sou um menino sortudo."
........................................................
----- (transcrição dum texto de PAULO ANTUNES, aluno do 7º ano do CAIC -- com 12 anos de idade) ---
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--- -- 3) ---------------- "INFÂNCIA" ------------------
.......... "Na minha infância
.......... Eu gostava de ler,
.......... Agora que sou grande
.......... Estou farto de escrever.
.......... Na minha Infância
.......... Costumava ir brincar,
.......... Agora que sou grande
.......... Obrigam-me a estudar.
.......... Na infância,sim,isso é que era,
.......... Queria ser pequenino.
.......... Voltar,quem me dera,
.......... Agora que já sou menino.
.......... Na minha infância
.......... Tudo era melhor,
.......... Havia mais tolerância,
.......... Mais tempo para jogar computador.
.......... Sempre com o desejo
.......... De futebol jogar,
.......... Quando havia uma bola
.......... Eu estava lá para a chutar.
.......... Agora não,
.......... Temos que estudar
.......... Língua Portuguesa,Francês,
.......... Para nega não tirar.
.......... Terceira idade,nem pensem,
.......... Idade adulta, talvez,
.......... Adolescência já estou,
.......... Infância, queria ter outra vez.
...................................
-------------------------------
------ (de : PAULO ANTUNES -- aluno do 7º ano do CAIC -- 12 anos de idade) -----
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......................
----------------------------- (em actualização) .......................
....................................................................
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----- C) --- O MEU PRIMEIRO LIVRO : --
OBS : - Esta Secção é dedicada aos mais jovens para que lhes possa ser dada a oportunidade de,posteriormente, "lançarem" o seu ..."PRIMEIRO LIVRO"...
..................................................................
..."Quem sou eu ?"
..."O autor deste livro sou eu sim, um menino de 12 anos que adora escrever e ler. O meu nome é Paulo Duarte Correia Antunes. Frequento o Colégio Apostólico da Imaculada Conceição (CAIC). Eu fiz este livro não para passar o tempo mas para passar bem o tempo. O tema que eu mais gosto é poesia,por isso mesmo este livro. Acho que é muito engraçado brincar com as frases".
..."Devem pensar porquê o título "Já formaste o teu puzzle ?". Eu explico-vos. Este livro fala de várias idades e nós consoante as idades vamos formando algumas peças da nossa vida só que,por exemplo,o nosso puzzle ainda está muito incompleto porque ainda somos crianças e ainda temos muita coisa para juntar às outras partes do puzzle".
...O meu sonho de carreira Profissional é ser jornalista desportivo. Deve ser muito divertido estar ao corrente de tudo, ir a todo o sítio,ver jogos sem pagar,só para depois publicar uma frase que até pode não ser importante mas crucial.
..."Tenho várias frases que costumo usar no dia-a-dia. Quando acontece alguma coisa eu costumo dizer "temos pena mas não muita senão éramos aves". É a minha frase típica."
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..."Eu dedico este livro à minha família,aos meus amigos, a Portugal inteiro que está numa fase pela crise,mas nada impede,nem o Sócrates,de passar um bom bocado a ler."
..."Só precisam de saber mais uma coisa sobre mim : adoro o Sporting,é a minha segunda namorada."
................... "JÁ FORMASTE O TEU PUZZLE ?" ....................
--------------------------------- D) -- OUTRAS CURIOSIDADES A DESTACAR :
--- A designação "Retornado" surgiu pela "primeira vez" numa "guia de marcha",passada em Junho de 1975, pela Capitania de LAGOS a uns refugiados chegados do LOBITO na traineira "BENGO",para se apresentarem no "INSTITUTO E APOIO AO RETORNO DE NACIONAIS" (mais conhecido por IARN, em LISBOA, que fora criado pelo Decreto-lei nº 169/75 de 31 de MARÇO.---
--- Em Setembro desse mesmo ano foi publicado o Decreto-lei nº 494 sobre a renovação e Gestão do IARN. --
--- Ingresso no QUADRO GERAL DE ADIDOS foi regulamentado pelo Decreto-Lei nº 23/75, de 22 de Janeiro e alterado pelo Decreto-Lei nº 169/A/75, de 31 de Março - Publicação no Diário do Governo nº 18 /1ª - 2º Suplemento --- De início os "ADIDOS" (funcionários chegados das ex-colónias, eram atendidos nas antigas CAVALARIÇAS DO PALÁCIO DA COVA DA MORA!---
-- Nova alteração regulada pelo Decreto-Lei nº 294/76, de 24 de ABRIL - publicada no Diário do Governo nº 97 --
--- PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS - Secção Pessoal - O Ofício nº 1299 - a/77 - de 1 de SETEMBRO de 1977 - Manda descontar 500$00 por mês até completar 2.500$00 a partir de Outubro por adiantamentos nos termos do Decreto-Lei nº 819/76, de 12 de Novembro ( recebidos na Agência Geral da Secretaria de Estado da Integração Administrativa) !
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-- "AQUI VAI UMA LISTA DE CURIOSIDADES SOBRE ANGOLA :"...
..."Na década de 60, os Estados Unidos, fizeram uma proposta de centenas de milhares de dólares a Portugal, a troco da independência das ex-colónias.
..."Portugal não está à venda", foi a resposta do então ditador português, António de Oliveira Salazar"
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----(na Mensagem de Delfim (6/9/05) em : http://groups.msn.com ----
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----------- D) - "ACORDOS..." ------------
..."O acordo de 1996 suspendeu a guerra civil em Angola, concordando o Governo do MPLA em partilhar o poder com a UNITA, o que não veio a suceder. O primeiro Acordo ficou célebre por um espectacular deslize de Mário Soares, que, no arrepio das instruções que tinha, deu volta à mesa da conferência para abraçar Samora Machel, revelando assim quais eram as suas verdadeiras intenções. Recorde-se que foi precisamente em Lusaka que foi divulgado em 1969 um Manifesto, apoiado pelas Nações Unidas, pela Organização da Unidade Africana e pela Maçonaria, exigindo a Autodeterminação de todos os territórios africanos ainda sob administração de países europeus."
--(em : "Dicionário do 25 de Abril" - pgs. 12 - (Setembro 2002) -- de : JOHN ANDRADE ---
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--- "A Colonização Portuguesa no Século XIX à Luz da Estratégia" --
..."Todas as Constituições portuguesas desde 1822, discriminavam a totalidade dos territórios como fazendo parte do todo nacional, atribuindo-lhes diferentes dignidades e regulamentavam o estatuto social da respectiva população e sua representatividade fácil ao grau civilizacional em que se encontravam"...
..." A designação de "colónia" encontra-se já no Século XVII e XVIII e o termo "província" entrou na linguagem do Século XIX por via legislativa. A Constituição de 1822 já fala em "Ultramar" e "Províncias Ultramarinas"...
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O termo "províncias" durou de 1822/1920 (em diferentes fases) e de 1951/1974,num total de 121 anos). O termo "colónia" durou de : 1920/1926 e de 1933/1951, num total de 24 anos.
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..."Os portugueses deram-se e misturaram o seu sangue com todas as gentes que contactaram. Se é certo que em muitos casos essas ligações tiveram, causa natural ou de volúpia, também é certo que não eram, de um modo geral, renegadas pelos próprios nem o Estado as considerava ou a Igreja as verberava, tentando,outrossim, enquadrá-las no sacramento do casamento. E foi Afonso de Albuquerque, que se saiba, a incentivar os casamentos mistos, já lá vão quinhentos anos. Não se pode dizer que os portugueses tenham acordado tarde para essa realidade. Tardiamente ou copiado modelos alheios"...
-- (De : JOÃO JOSÉ BRANDÃO FERREIRA (Tenente-coronel)- em : "REVISTA MILITAR" de 15/10/2006 -- http://revistamilitar.pt ---
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===== I) -- FAMILIARES RESIDENTES DO ESTRANGEIRO :
-- A) - ÁFRICA DO SUL : - ODETE SOUSA LAGE CORREIA (YOLANDA, RUI JORGE, CARLOS, PAULO, JEANINE e LUIS) - (
-- B) - ANGOLA : - GUILHERMINA LOURDES CORREIA (?) -
- ANGOLA : - VIRGÍLIO COSTA ALEMÃO - (CUNENE ?) -
-- C) - BRASIL - ANTÓNIO PEDRO DA SILVA CHAVES ............. (RIO DE JANEIRO)
- ROSITA S.PANEIRO CORRÊA/HILÁRIO CORRÊA - RODRIGO e RACHEL
CORRÊA -- (RIO DE JANEIRO) -
-- D) - FRANÇA - ISAAC RODRIGUES JÚNIOR (e família) ... (LA QUEUE EN BRIE)
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====== II) -- EM BUSCA DE DIVERSOS EX-RESIDENTES NO ULTRAMAR (OU DE INFORMAÇÕES SOBRE OS SEUS FAMILIARES,(OU AMIGOS), ACTUALMENTE RESIDENTES EM PARTE INCERTA) :
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-- 2007 - OUTUBRO - 5 - JOSÉ MANUEL BARATA FEIO, Sociologista, residente em PORTUGAL, solicita informações sobre alguns familiares ex-residentes em ANGOLA. Seu avô, MANUEL GOMES BARATA FEIO, era filho de JOAQUIM,comerciante,casado com (?), natural da MADEIRA e,talvez, falecido na ÁFRICA DO SUL.
-- 2007 - OUTUBRO - 5 - Pedido de várias informações por ANTÓNIO DUQUE MARTINHO, sobre a acção desenvolvida por seu pai,Engº DUQUE MARTINHO (Chefe da "Brigada de Estudos do Caminho de Ferro da BAÍA DOS TIGRES a PEREIRA D´EÇA,(depois até à Fronteira da Rodésia), no período de 1954/56,e em que efectuou os respectivos "Reconhecimentos", e depois quando foi nomeado Director do Porto e Caminho de Ferro de LUANDA (até 1961)- (Esse assunto está devidamente referenciado na m/obra "ANGOLA-DATAS E FACTOS" (Volumes : 3º Pgs.168 e 315)- 4º(Pgs.227,319 e 327)-
-- 2007 - OUTUBRO - Pedido de informações de RAUL GUILHERME VALADÃO TOOD, residente no MÉXICO, filho de GUILHERME VALADÃO LOPES e neto de JOÃO VALADÃO, um dos componentes da 2ª Colónia de PERNAMBUCO, chegada a MOÇAMEDES em 26 de NOVEMBRO de 1850 (descendentes de GERÓNIMO INÁCIO VALADÃO) -- Procura também descendentes de seu tio-avô, ANDRÉ VALADÃO.
-- 2008 - FEVEREIRO - 23 - Solicitação de ANTÓNIO PEDRO DA SILVA CHAVES, nascido em 1943, residente no RIO DE JANEIRO (na ILHA DO GOVERNADOR), filho de RAUL AUGUSTO CHAVES(que foi estudante em COIMBRA e faleceu no Brasil em 1965), neto de GUILHERMINA CHAVES, natural de CAMPINAS (S.PAULO) e do capitão PEDRO AUGUSTO CHAVES,fundador de S. PEDRO DA CHIBIA em l887, tendo sido um dos heróis nas Campanhas do Sul de ANGOLA),e do qual pretende saber mais informações. O pai de GUILHERMINA CHAVES seguira de PORTUGAL para o BRASIL para ali fazer trabalhos de entalhador --
-- 2008 - MARÇO - 18 - Contacto de JULINHA VIEIRA MONTEIRO ("JU"), Biologista, residente em COIMBRA. Presta informações, apresenta e esclarece dúvidas sobre os nomes de alguns dos seus familiares.
-- 2008 - Pedidos de informações enviado por : MARCELO CURADO CORREIA RIBEIRO, residente em PORTUGAL, tri-neto de JOSÉ DA COSTA ALEMÃO COIMBRA - (natural de MINAS GERAIS - BRASIL - e que foi estudante na UNIVERSIDADE DE COIMBRA, regressado posteriormente ao BRASIL), - bem como o pedido de diversos outros seus descendentes residentes em : PORTUGAL (COIMBRA, LAGOS, LISBOA, PORTIMÃO, PORTO...) e em : ANGOLA, FRANÇA e BRASIL.
JOSÉ DA COSTA ALEMÃO "COIMBRA", era irmão de MANUEL DA COSTA ALEMÃO, natural e residente em COIMBRA,(27/11/1833 - Novembro de 1922),onde foi o 3º Director / Administrador dos H.U.C.(1902/1910), tendo ainda exercido as funções de : Administrador da Imprensa Nacional,Governador Civil e Presidente da Câmara de COIMBRA. O apelido "COIMBRA" foi-lhe atribuído no BRASIL.
Em 1847, JOSÉ DA COSTA ALEMÃO "COIMBRA" tomou parte numa Expedição à "ALTA SOROCABANA", terras de PARANAPANEMA, no sertão Paulista, organizada pelo célebre mineiro, JOSÉ THEODORO DE SOUZA. -- (consultar o blog a seguir indicado)--
Em 1860, seguiu de PERNAMBUCO para MOÇÂMEDES (ANGOLA) com seus filhos.
Posteriormente e durante muitos anos, seu filho, JOSÉ DA COSTA ALEMÃO COIMBRA, exerceu elevadas funções civis e militares nas zonas de : MOÇÂMEDES (CAPANGOMBE), HUILA e CHIBIA. Faleceu no LUBANGO (HUILA) em 1933. (Estes "Factos", desenvolvidos, constam do m/blog : --- http://angola-brasil.blogspot.com ---
-- 2008 - - - Solicitação duma ex-colega (3º ano A - 1958/9) no Liceu "DIOGO CÃO"(SÁ DA BANDEIRA), sobre o "paradeiro" de MARIETA LIMA VIEIRA RODRIGUES, filha do Sr. Engº RODRIGUES, ex-residentes em SÁ DA BANDEIRA.
-- 2008 - AGOSTO - 12 - Solicitação de SARA AMARAL, bisneta dum dos componentes da primeira "Colónia" que seguiu de PERNAMBUCO para MOÇÂMEDES (1850), INÁCIO ANTÓNIO FERREIRA DO AMARAL,que posteriormente foi Director das Obras Públicas de MOÇÂMEDES, tendo falecido com 107 anos de idade!. Era parente de FRANCISCO JOAQUIM FERREIRA DO AMARAL, Governador de MOÇÂMEDES. SARA, era bisneta de CLARA ROSA CONCEIÇÃO, neta de JOÃO INÁCIO DO AMARAL e filha de TIRSO INÁCIO DO AMARAL, assim como seus numerosos irmãos e irmãs. SARA pertence também à "Familia ALMEIDA"(da CHIBIA),tendo dificuldade em localizar alguns desses outros familiares(anteriores e actuais).
-- 2009 - MAIO - - Solicitação dos filhos de : HEITOR PINTO DE CARVALHO(ABREU)- (electrecista e funcionário da EMISSORA CATÓLICA (falecido em LUANDA -- Dezº 1974) --
sobre familiares actualmente residentes (?) em PORTUGAL.
-- 2009 - MAIO - Pedido de informações sobre os ex-colegas da ESCOLA DE QUADROS MILITARES (SARGENTOS MILICIANOS)- EQM)- LUANDA, em 1953 -- especialmente dos "Máquinas". --
-- 2009 - AGOSTO -- Pedido de informações de PEDRO GANHO em busca de seus tios, irmãos do seu pai : - GUILHERME MATOS DE SOUSA GANHO - FERNANDO MATOS DE SOUSA GANHO e de sua avó, BEATRIZ COIMBRA DE MATOS. ==
-- 2009 - AGOSTO -- Pedido de informações de : NI(PRAZERES) sobre sua ex-colega do Liceu "DIOGO CÃO", ROSI ANDRADE, irmã de ANTÓNIO ANDRADE (que foi locutor da Rádio local e também irmã de GORETI, filhas de um ex-chefe dos Correios. --
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---- (-- Desde já agradeço todas as informações que os amigos leitores possam fornecer por : e-mail : sourreia@gmail.com --- sourreia2@gmail.com ---, ou pelo telemóvel : 917323651 --)
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-- Recordando alguns dos "BONS VELHOS TEMPOS" e percorrendo centenas de páginas de alguma imprensa regional,em especial do saudoso e quase histórico Jornal "A HUÍLA" (do LUBANGO -- ANGOLA) --, sob a orientação do seu muito ilustre Director, Sr.Tenente-coronel-Farmacêutico,CARLOS ALBERTO CACELLA DE VICTÓRIA PEREIRA,decidi deixar registadas aqui as mais diversas "Notas Soltas", funcionando como que uma Agenda Social recheada das tantas notícias que o tempo não se atreve a limpar das memórias de quem as viveu intensamente. E, como "RECORDAR É VIVER", achei por bem dar-lhes algum relevo e colocá-las ao dispor dos milhares de visitantes desta nova e acessível forma de comunicação imediata, ilimitada no espaço e no tempo.
Funcionará como que um intervalo ou uma atenuante entre tantas "DATAS E FACTOS" Históricos, mais pragmáticos, que tenho alinhavado noutros e agora nestes novos "espaços virtuais".
Ao mesmo tempo e, mais uma vez, solicito aos mesmos interessados que facultem muitas outras notícias, recordações de suas vidas ou de familiares que merecem ser sempre lembrados. Os "BONS E VELHOS TEMPOS" não devem ficar esquecidos; essas ilustres e queridas personagens merecem o seu lugar nestas recordações pelo quanto labutaram e sofreram na busca e defesa das mínimas condições de sobrevivência, muitas delas agora inimagináveis !
Este recanto é uma justa homenagem, além das muitas que tenho referenciado noutros locais de divulgação pública, mas nunca serão demais para quem tanto se esforçou e,tantas vezes, pouco obteve.
Desse pouco, mas para eles imenso, que conseguiram erguer,quase nada restou em proveito dos seus mais directos e legítimos descendentes por ter sido alvo duma louca, desenfreada e ilegal posse de terceiros, como que uns verdadeiros "mabecos" numa selva desgovernada, pronta a criticar e condenar o "Passado" mas capazes de procedimentos muito mais prejudiciais na defesa do bem comum e em nome das invocadas minorias,falsamente utilizadas em proveitos particulares ! :
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-- Assim, extraímos do Jornal "A HUILA" as seguintes "NOTAS" :
== nº 697 - 07/07/1954 :
-- Falecimento - JOAQUIM PAULO RODRIGUES -
== nº 710 - 29/09/1954 :
-- Aniversariantes : - GASTÃO A. DE SOUSA DIAS - LEANDRO MENDONÇA -
== nº 725 - 26/01/1955 :
-- Falecimentos : - CARLOS SOTTO MAIOR NEGRÃO - GASTÃO ADALBERTO DE SOUSA DIAS -
== nº 728 - 19/02/1955 :
-- Aniversariantes : -- ARTUR FERNANDES - BEATRIZ DE SOUSA BARROS PEREIRA - JORDÃO FIRMINO JORGE - JOSÉ MARIA MARQUES DE MIRANDA - MARIA AMÉLIA RIBEIRO DE VASCONCELOS FARIA - ORLANDA GARCEZ CAMACHO -
-- Falecimentos : -- ANTÓNIO JOAQUIM FERNANDES - DINÁ GOMES DE ABREU BATISTA GOMES DE SOUZA -
== nº 734 - 24/03/1955 :
-- Casamento : - MARIA DA CONCEIÇÃO DE MELO SEABRA DE AZEVEDO / JOSÉ CONSTANTINO BORGES DE SOUSA --
== nº 745 - 15/06/1955 :
-- Falecimento : - NUMA RIBEIRO REIS HOMEM DE FIGUEIREDO -
== nº 757 - 17/09/1955 :
-- Casamento : - MARIA FERNANDA CAMACHO SOARES /CARLOS EUGÉNIO ARAÚJO DE FREITAS TORRES -
-- Estudante do Liceu "DIOGO CÃO" pré-universitário(COIMBRA) - ORLANDO J.MACHADO RODRIGUES -
== nº 759 - 01/10/1955 :
-- Conselho Legislativo : - Presença dos deputados,naturais do LUBANGO : RICARDO SIMÕES e JOSÉ AMARAL ESPINHA -
-- Hospitalização : - CARLOS ALBERTO CACELLA DE VICTÓRIA PEREIRA (Director do Jornal)-
== nº 761 - 15/10/1955 :
-- Aniversariantes : ALEXANDRE GOMES DOS SANTOS - MADALENA MIGUEL DA SILVA -
== nº 762 - 22/10/1955 :
-- Louvor Público : - JOSÉ RAMALHO VIEGAS (Reitor do Liceu "DIOGO CÃO" -
== nº 764 - 29/10/1955 :
-- Falecimento : - ANTÓNIO AUGUSTO FERREIRA (68 anos) - ISABEL MARIA DE SÁ LEMOS REIS (89 anos) -
-- Estudante do Liceu "DIOGO CÃO"/pª UNIVERSIDADE COIMBRA - OLGA D'ALBERTO LOPES -
== nº 766 - 12/11/1955 :
-- Falecimento : - ALBERTO DE ABREU COUCEIRO -
== nº 771 - 23/12/1955 :
-- Hospitalização : - MARIA DE LOURDES AMARAL -
== nº 780 - 10/03/1956 :
-- Falecimento : - FERNANDO CALDEIRA DOS SANTOS -
== nº 782 - 24/03/1956 :
-- Casamento : - MARIA ELISA LOPES TORRINHA / HERNANI PINHO CALDEIRA -
-- Pessoas conhecidas : - FELÍCIA ROSALIS DA COSTA(a "VELHA FELÍCIA" - em perigo de vida. -
== nº 788 - 12/05/1956 :
-- Casamento : - MARIA FELISMINA TEIXEIRA DOS SANTOS/HUMBERTO DE CARVALHO SILVEIRA
== nº 792 - 02/09/1956 :
-- Casamento : - MARIA JOAQUINA MAC-MAHON /JOSÉ DIOGO -
== nº 797 - 14/07/1956 :
-- Falecimento : - MARIA DA CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA GOMES (87 anos) -
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