domingo, 19 de junho de 2011

III- A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL -

--------- III ) -- "A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL" :

--- (TRANSCRIÇÕES PARCIAIS DO TEXTO E DAS SUAS ANOTAÇÕES) : ---


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1)---- A) DO AUTOR : ( ROBERTO CORREIA )----
font size=´4´> 2) ----

a)- "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO --- b)- "DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO" --- c)- "DO CUNENE MISTERIOSO AO ZAMBEZE ESPLENDOROSO" -- "ANGOLA - DATAS E FACTOS  - Cronologia - (1482/2002)"- 6 Volumes --


--- B/1)- DE DIVERSOS (do AUTOR E OUTROS) :
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--- 1) - ............

--- B/2) - de OBRAS DE DIVERSOS AUTORES : - (ver lista) -

--- 1)- "DO SUSTENTO QUE DEVEM OS SENHORES AOS ESCRAVOS" --- 2) - "COMO SE HÁ DE HAVER O SENHOR DO ENGENHO COM OS SEUS ESCRAVOS" --- 3) "manufacturas no Brasil " --- 4) - "O PORTUGUÊS" --- 5) - NOTAS SOBRE O RIO DE JANEIRO E PARTES MERIDIONAIS DO BRASIL" --- 6) - "RIO DE JANEIRO" --- 7) - "CASA GRANDE E SENZALA" --- 8) - A ÁFRICA ACORDA" --- 9) - "O BRASIL DOMINA A ÁFRICA PORTUGUESA (em : "ÁFRICA E BRASIL...) --- 11) - "A TRADIÇÃO DOUTRINÁRIA E A CONJUNTURA INTERNACIONAL" (em : "A QUESTÃO RACIAL") --- 12) - "A TERRA E A GENTE" (em : "A RESISTÊNCIA DO ÍNDIO À DOMINAÇÃO DO BRASIL") --- 13) - "OS PORTUGUESES OU O COMÉRCIO CONQUISTADOR" (em : "A DESCOBERTA DE ÁFRICA") --- 14) - NÓTULAS HISTÓRICAS" --- 15) - "REVISTA TERRA" - (Julho - 2005) --- 16) - "C) ANGOLA E BRASIL - Duas Terras Lusíadas"...) --- 17) - "O FOLCLORE DE ANGOLA... PARA O BRASIL" --- 18) - "O FOLCLORE - MÚSICA E CÂNTICOS" - (Danças - em : "O BAIXO CUNENE") ... - 19)- "FORMAS DE VIDA DAS ELITES" (em : Revista MILITAR)--- 20) - "CAPÍTULO I - A ECONOMIA, A POLÍTICA DO TRÁFICO"... (CAPÍTULO II - ( em : "ANGOLA E BRASIL NAS ROTAS DO ATLÂNTICO)--- 21) - O FOLCLORE - INTRODUÇÃO - (em : "CANDOMBLÉ - MITOS E LENDAS"...---22) - "O FOLCLORE AFRICANO NO BRASIL" (em : "UMA HISTÓRIA DE ESCRAVATURA")--- 23) - "RESUMOS - MITOS,MÚSICAS E DANÇAS"--- 24) - "O COMERCIANTE DO MATO" --- 25) - "OS ÚLTIMOS DEZ ANOS" (diversos...) em : "O ÚLTIMO NEGREIRO") --- 26) - "UMA HISTÓRIA DA ESCRAVATURA" --- 27) - "A MORTE TRISTE E SORRIDENTE DO PADRE ANTÓNIO VIEIRA" - (diversos) - (em : "O SAL DA TERRA" ) --- 28) - "A) EM ÁFRICA - B) - NO BRASIL " ---...

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===== A) --- OBRAS DO AUTOR :

-- a) - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - Poema Épico - 1º Volume - 2ª Edição: -

--- CANTO SEXTO : "O DRAMA DA ESCRAVATURA" - ANOTAÇÕES (Referentes a muitas das suas estâncias,num total de 698) :


... 1 ) - "Muitos escravos foram retomados
... Que eram vendidos em boa quantidade,
... Sendo p'ra novas terras embarcados
... Que deles havia lá necessidade.
... Mas os poderes régios contrariados
... Logo os mandavam de volta à sua herdade,
... Sendo caso de má e desleal conduta,
... Não fosse obra feia, de filhos de puta!"
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== (1) -- A África deve ter sido realmente o continente onde o homem surgiu pela primeira vez. Não é de admirar que tenha tido um papel preponderante na evolução humana, mesmo pré-histórica.
- A palavra escravo provém do facto dos eslavos (Europa Central) serem vendidos na Idade Média. A escravatura já existia há séculos na Europa e na Ásia, com várias categorias de escravos, em especial os domésticos e os de guerra,sobre os quais havia mesmo o direito de dispor de suas vidas.
-- ..."Foi ela sem dúvida um dos fardos mais pesados que oprimiu a África e constitui uma das mais tristes recordações da Europa -- e também dos países árabes -- sobre este continente...
... A escravatura parece ser quase tão velha como a humanidade, pois a encontramos em quase todos os povos antigos e sabe-se quanto ela pesou na sociedade do império romano, de refinada civilização" ... (em : "Angola, cinco séculos de Cristianismo", de D. Manuel Nunes Gabriel.

-- ... "A escravatura não foi trazida pelos europeus para a África, pois ela já existia mais ou menos em quase todos os africanos"...(da mesma obra).

== 2) - ..."Negociantes de TOMBOCTU e do mercado do deserto em Waden, traziam escravos e ouro em pó à feitoria de D. Henrique em Arguim, recebendo em troca trigo e panos brancos, albornozes, mercadorias europeias, enviadas pelo Infante num navio" ... "As caravelas de Portugal, seguindo o seu rumo ao longo da costa africana, já se não anunciavam pela violência, mas por ofertas de amizade e trocas justas com os indígenas dessas terras"... -(em "Descobrimentos Henriquinos", de E. Sanceau.)

-- "...O príncipe D. Henrique ordenou que as suas caravelas fossem armadas para a paz e para a guerra, ao país da Guiné, onde as gentes são extremamente negras"... (em "Crónicas", de Diogo Gomes).

-- O tráfico de escravos desencadeado pelos portugueses ao longo da costa africana não foi uma acção premeditada; foi surgindo à medida que faziam as conquistas ou até, ao princípio, por curiosidade, pela presença de povos desconhecidos e pela conveniência de justificativo dos lugares então alcançados. O principal objectivo do Infante seria talvez o de alcançar o reino cristão do misterioso Preste João para propagar a doutrina católica e combater o restante povo infiel.

-- "... Não consente o Senhor Infante que se faça dano a nenhum deles"...(em "Navegações", de Alvisse Cadamosto).

== 3 )-..."As expedições africanas faziam-se "por serviço de Deus e do Infante Nosso Senhor, e honra e proveito de nós mesmos."...(E.Sanceau - obra citada).

== 4 ) - D. Henrique não aprovava a simples captura de escravos, antes desejava manter boas relações (mesmo que fosse com objectivos comerciais), com tribos do interior. Assim, em 1445, segue para o Rio do Ouro o escudeiro João Fernandes e Antão Gonçalves, ficando este a viver no deserto com os berberes até encontrar-se com Ahude Meymom, magnate, possuidor de muito gado e ouro no Mali.
O Infante, só por si, talvez não pensasse em ..."reduzir à escravidão os povos descobertos"..."depois da descoberta de Arguim começaram a ser numerosos os escravos dali enviados para Lisboa. Formou-se uma companhia em Lagos para explorar o negócio dos escravos, que depois passou a ser reservado à coroa. Em meados do século XVI Lisboa contava com cerca de 10.000 escravos africanos"...(D. Manuel Nunes Gabriel, obra citada) -

-- Em 1486 foi fundada a Casa de Escravos.

== 5 ) "...O sultão do Egipto não deixa cristão nenhum passar para a Índia pelo mar Vermelho nem pelo rio Nilo para o Preste João, com receio de que os cristãos tratem com ele para que este rio lhes seja retirado"...

== 6 ) ..."se o preste João quisesse,faria desviar o rio para outro lado"...dizia La Broquiére.

... 7) - "A bons e novos portos iam chegando
... Cada dia mais além,por esses mares,
... O sonho em verdadeiro se tornando
... E bem mais quentes sendo os novos ares.
... Com tudo isso porém não lhes bastando
... Uns outros mais cuidavam dos bazares,
... No regresso levando negras gentes
... Por serem das suas algo diferentes;"

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== (7) - No século XVI os catalães visitavam as Canárias e faziam negócio de escravos para suprir a carência de mão-de-obra da Metrópole; uma das razões dessa falta no meio do século foi a peste que reduziu a população a menos de metade.
A "grande peste" (negra), propagou-se pela Europa entre 1348 e 1350; foi disseminada pelos genoveses fugitivos, chegados ao porto de Messina(1347), motivando uma enorme baixa na população, consequente falta de mão-de-obra e do aumento do seu custo. Provocou o abandono de aldeias, vilas e cidades, desagregando toda a economia, com efeitos durante muitos anos.

... 8) - "Logo vendo melhores e bons ganhos
... (Satisfazendo real necessidade),
... Começam de captar povos estranhos
... Que na defesa nem tinham vontade :
... - Uns,por curiosidade ou seus tamanhos,
... Mas outros destinados a uma herdade,
... Já sendo alto luxo entre a fidalguia
... Quem mais negros escravos possuía.
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== 8 ) - Nas cortes europeias começam a surgir servos negros nos mais diversos lugares domésticos, passando a ser um "luxo possuir em casa essas raridades"... Outros ocupavam lugares de guardas e soldados nos palácios reais.

... 9 ) - "E os lusos no negócio escuro estavam
... Desde que Tristão ao áureo rio seguira,
... Alcançando alguns tristes,nus andavam
... Com calor e secura que alguém vira.
... Ao continente berberes levavam,
... Testemunho do ponto que atingira,
... Mas chegando entre pasmo e orações
... Como estranhos seres ou aparições.
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== 9 ) - Em 1441, Antão Gonçalves e Nuno Tristão, na Costa do Ouro; uns outros que resistiram foram mortos. Em 1444, Lançarote de Lagos, leva 263 escravos que os vende logo à chegada !

... 10) - "Grande mal assim nem sempre cuidavam
... Por ser costume habitual muito antigo
... Que entre si mesmo todos operavam
... Sem haver nisso crime ou algum castigo.
... Nas guerras comuns logo ali os captavam
... E em servos punham tão fraco inimigo,
... Ficando alegre se à morte poupado,
... Não sendo pelos canhões atirado!
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== 10 )- ..."a fecunda e principal origem dos cativeiros nasce dos costumes bárbaros dos negros os quais eles abandonariam logo que conhecessem as verdades católicas e as máximas do Evangelho conformassem as suas acções"... "procedem-os cativeiros dos negros que outros nos vêm vender e que nós compramos para os transportar para o Brasil"...(de : D. Miguel António de Mello(governador-geral de Angola,1797/1802)-

--"...A escravatura florescia em África, havia milénios; os negros reduziam-se uns aos outros à escravatura, como ainda o fazem, ao passo que os árabes e os berberes caçavam negros e vendiam-nos nos portos de Mediterrâneo... Os teólogos em geral estavam convencidos de que ela favorecia o maior bem dos seus irmãos pretos"...(em "D. Henrique,o Navegador", de E. Sanceau) -

-- Muitas vezes, em terra ou já durante as viagens havia motins, pelo que os escravos eram postos a ferros ou espancados até à morte, o que acontecia por vezes nas fazendas onde eram amarrados ao "tronco" e chicoteados, na presença dos restantes e, outras vezes, em algumas guerras, atirados por pequenos canhões!

== 11) - Lançarote de Lagos e Gil Eanes,em navios com bandeira da Ordem de Cristo, fornecidos pelo Infante, faziam uma caçada entre o Cabo Branco e Arguim, capturando mais de 200 escravos, levando-os para Portugal, sendo desembarcados entre uma multidão embasbacada.

-- ..."E, animados do prazer benévolo,os seus amos enchiam-nos de mimos. Alguns deles é de recear que morressem com tantas bondades, empanturrados de comidas a que não estavam habituados. Começavam de lhes crescer os ventres -- diz-nos Zurara concisamente, e por tempo eram enfermos,... alguns deles eram assim complecionados que o não podiam suportar e morriam... A maioria deles, porém,aclimatou-se e em breve se reanimou"...

-- ..."A escravidão nos países de língua portuguesa viu-se sempre na sua forma mais atenuada, e quanto aos primeiros africanos trazidos no tempo do Infante, a sua sorte era boa"...- (E.Sanceau - o.c.) -

== 12) - Nas costas de Cabo Verde, o chefe senegalês, Budomel, trocava cem escravos por sete cavalos arreados !

== 14 ) - Em certos pontos mais importantes o tráfico de escravos assumia um elevado movimento, constituindo até o maior negócio, como em Jena, Timbuktu (Tombouctu), nas margens do rio Níger,havendo príncipes ou mesmo comerciantes que possuíam mais de uma centena de escravos; assim acontecia ainda na costa oriental(Zanzibar e outros pontos).

Estando autorizado o "negócio", eram os escravos trazidos do interior ou capturados pela costa e metidos em "gaiolas" ou a monte em armazéns, sem atender sequer à separação das famílias, chegando a matarem os filhos pequenos para negociarem as mães, sem que lhes fosse permitido protestarem, sob pena de "chicote" ou mesmo de morte,a não ser que fossem pagos em conjunto por um bom preço !

... 15 ) "A tanto era o negócio rendoso
... Que até os cativos outros permutavam
... Com objectos de aspecto duvidoso
... Ou pelo vinho com que embriagavam.
... Antes havia um controle cuidadoso
... E os menos sadios ao lado ficavam,
... Sendo às vezes trocados como saldo
... Por alguns que sobrassem do rescaldo."
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== (15) - Entretanto,nalguns países africanos, os escravos eram muitas vezes integrados nas famílias; noutros, como no Congo, eram tratados com certa tolerância, vendo-se até escravos a substituírem os chefes ausentes e Ngola Aire, filho de uma escrava, receber de Fernão de Sousa o trono do Dongo (Angola),em 1626. Também havia escravos que, por sua vez,possuíam escravos, e algumas tribos em que não havia qualquer tipo de escravatura.
Por vezes alguns senhores e, por certas razões. concediam-lhes carta de Alforria, indo em liberdade ou continuando ao seu serviço.

== 16 ) - Os congueses eram considerados bons escravos, sendo alegres e trabalhadores. Depois de seleccionados eram classificados, sendo os melhores designados "peças da Índia", chegando a valer o dobro ou o triplo dos outros mais fracos ou mais idosos; faziam-lhes um exame directo da cabeça aos pés (olhos, dentes, dedos, sexo, pés,etc); era negócio rendoso,feito à base de permuta,onde usavam as mais variadas artimanhas!
Depois de negociados eram marcados com ferro em brasa, no peito,pernas ou seios !
O Reino de Angola suplantaria o do Congo e mais tarde mesmo as feitorias da Costa do Ouro e Benin (Costa dos Escravos, tal o volume que atingiria a saída de escravos, principalmente para a América (Brasil e outros países), para substituir os índios, considerados fracos para o trabalho das plantações.

== 17 ) - Alguns Reis possuíam nas suas cortes um elevado número de mulheres escolhidas, cuja missão era a de seduzirem jovens, por vezes de conivência com os próprios maridos, para depois serem acusados de adultério e por tal ficarem sujeitos ao regime de escravatura.

== 18 ) - O tráfico de escravos pelos árabes estava mais orientado para os serviços domésticos e para soldados e guardas (sendo castrados para não haver descendentes), tendo um ou outro, de preferência forte e saudável, seleccionado para "reprodutor".
As mulheres mais dotadas eram as escolhidas para o harém dos grandes senhores e algumas como criadas das jovens (mucamas).

== 19 ) - Antes do embarque nos navios negreiros, faziam novas escolhas, pelo que muitas vezes os pais e filhos, ou as mulheres e seus parceiros ficavam separados para sempre. Nesses momentos de desespero alguns se escapavam e deitavam-se ao mar e outros se estrangulavam mesmo. Antes da chegada ao destino os que estivessem doentes ou muito fracos eram lançados ao mar para evitar o pagamento de impostos, sem terem grandes hipóteses de os venderem.Os recuperados eram engordados à pressa,drogados e polidos para apresentarem melhor aspecto e resistirem aos exames físicos e empurrões dos compradores para verificarem se estavam em boa forma.
Das plantações do Brasil, Cuba e outros lados por vezes eram ainda revendidos para novos donos em mercados e feiras e novamente marcados com o malfadado ferro em brasa !

... 20 ) "Grilhetados a Lagos aportavam
... Por entre a gente aflita e boquiaberta,
... Sendo tamanhos os gritos e ais que usavam
... Quando os donos lançavam alta oferta !
... Fartos de dor e raiva se esmurravam
... Ou se deitam a terra quando ela aperta,
... Tal o receio p'los tratos que temiam
... Mas para alguns as penas cessariam."
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== 20 ) - Chegada de escravos a Lagos (Algarve)e sua venda no mercado.

... 21 ) "Mães e filhos iam cada uma por seu lado
... Em sendo diferentes os patrões,
... Sem cuidarem do laço mais sagrado
... Nem de humanas, vitais satisfações !
... Muitos do que ali estavam no mercado
... Não ocultavam suas emoções
... Chorando tanto como os infelizes
... E escondendo o pingar dos seus narizes.
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== 21 ) - "...Era uma maravilhosa cousa de ver...mas era também dilacerante. Alguns dos cativos choravam, uns gemiam, outros soltavam lamentos e havia os que davam punhadas no rosto e se atiravam ao chão"... (de : ZURARA) -

... 22 ) "Num belo cavalo,o Infante os observava,
... Não mostrando o que estava ali sentindo,
... E escolhendo o quinto que lhe calhava
... O fez p´ra Santa Igreja ir prosseguindo.
... Outro grupo melhor tratado estava
... Que em vez de chorar já ficava rindo,
... Sendo dum igual modo bem cuidados
... Sem ver as cores com que foram nados.
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== 22 ) - "...D. Henrique, montado num grande cavalo, observava a estranha cena; não sabemos se sentiu compungido. Segundo Zurara, estava... "considerando com grande prazer na salvação daquelas almas,que antes eram perdidas"..."Os amos não faziam diferença entre eles e os seus servos brancos livres -- se qualquer diferença havia, parece que era a favor dos africanos" ... (de E.Sanceau - o.c.) -

-- "...ao contrário do que sucede com os holandeses, o português entrou em contacto íntimo e frequente com a população de cor. Mais do que nenhum outro povo da Europa, cedia com docilidade ao pressígio comunicativo dos costumes, linguagem e das seitas dos indígenas e negros. Americanizava-se , conforme fosse preciso. Tornava-se negro, segundo a expressão consagrada da costa da África..." - (em "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda ) --

... 23 ) - "Mas,muitos outros,os negros negociavam
... Mandando-os para as novas descobertas,
... Nisso grande proveito retiravam
... Maior sendo a procura que as ofertas.
... Com loucura a tal todos se entregavam
... De manhas e outras causas encobertas,
... Pondo em tudo o seu´pérfido disfarce
... Sendo mais forte que melhor roubasse !
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== 23 ) - "...Todos os povos marítimos da Europa ocidental e do norte se entregaram desenfreadamente ao tráfico : - portugueses, franceses, holandeses, ingleses e dinamarqueses. Não eram uns melhores do que os outros"... - "...Angola exportava anualmente, pelos portos de Loanda e de Benguela, cerca de 15.000 escravos...os ingleses e holandeses traficavam também ao norte do Ambriz e na foz do Zaire, e os franceses no Loango, Malembo e Cabinda..." - ( de : D. Manuel N. Gabriel - o.c.) -

== 24 ) - Muito embora as ordens régias não o permitissem era então o melhor negócio que havia, mesmo para o erário público pelos impostos e direitos que cobrava.

== 25 ) - Muitos eram provenientes de S. Tomé, onde residiam os condenados, aventureiros e judeus perseguidos pela Inquisição, alguns casados com jovens escravas, apoiados por um governador corrupto e ambicioso (Fernão de Melo); ou mesmo escravos ou seus descendentes auferindo da liberdade (por alforria) concedida pela Carta Régia de D. Manuel I, em 1515. Os de Cabo Verde, metidos em negócios e resgates na Guiné, proibidos em 1517, enquanto o rei D. Carlos V autorizava Riscalde e Garrevod praticarem o mesmo ramo, proibido aos restantes.

-- ..."O comércio da escravatura,o principal, mais importante ramo da fazenda real neste reino, é geralmente feito por indivíduos mandados expiar aqui os crimes atrozes que na Europa cometeram...Mas este vil tráfico fomenta e entretém uma constante imoralidade nos indivíduos deste país...parece que tais monstros perderam na passagem do equador toda a lembrança e interesse pelo país onde nasceram..." --(de Cristóvão Avelino Dias - governador-geral de Angola(1823)."-

== 26 ) - Os próprios povos negróides do Sáara, na busca dos rios e lagos onde se pudessem instalar, escravizaram ou expulsaram os outros povos menos fortes, como por exemplo o que se deu com os povos Khoisans -- (hotentotes e busquímanos(Kungs) -- corridos pelos pro-bantos,como no Congo.
-- Até os sobas vendiam os seus "fidalgos" e os pais vendiam os filhos : ... o padre Cavazzi afirma que alguns, por um preço abjecto, como um colar falso, um pedaço de vidro ou algum vinho da Europa --- vendem os pais, os filhos, os irmãos, as irmãs, afirmando aos compradores, com mil pragas, que são escravos e condenados muitas vezes à morte"...

== 28 ) - Vários delitos podiam levar à escravidão : - adultério com mulher legítima, morte numa luta, prisão em guerras (Kuata,Kuata),etc. Alguns sobas vendiam os seus vassalos quando não possuíam outros escravos para troca com mercadorias ou faziam as tais guerras contra vizinhos apenas com o propósito de adquirirem "escravos de guerra".

== 29 ) - Alguns chefes mantinham famílias de escravos que descendiam de outros há várias gerações, alguns sem terem realmente conhecimento da sua efectiva condição de escravos. Como a lei proibia a separação dos escravos casados, os senhores faziam tudo para evitar os casamentos ou simplesmente nem cumpriam a lei.

== 30 ) - Os espanhóis possuíam um vasto domínio na América,tendo dizimado as populações nativas(índias e Astecas),ou escravizando outras nas plantações; porém, estas não se adaptavam aos trabalhos, fugindo ou morrendo (ou sendo mortas); assim, voltavam-se para os escravos africanos, adaptados a climas semelhantes e mais resistentes.

== 32/33 ) - Tráfico que só podia ser efectuado por intermédio dos portugueses que ali possuíam um monopólio consagrado pelo Papa Nicolau V, no ano de 1454 e confirmado expressamente depois pelo Tratado de Tordesilhas(1494), por Alexandre VI (e antes,1479, pela Paz de Alcáçovas).

== 34 ) - "...Na América Central e nas Caraíbas os colonos não descansaram enquanto não arrancaram ao rei de Espanha um decreto que permitia reduzir os índios à escravidão"... - (D. Manuel N. Gabriel - obra citada) -

== 35 ) - "... Las Casas(Bartolomeu)-- 1474/1566), nasceu em Sevilha e foi o grande defensor dos índios contra os conquistadores, tendo ficado conhecido por "Apóstolo das Índias". Escreveu a História Geral das Índias.
Porém, os espanhóis, concluindo que os índios não satisfaziam nos trabalhos. conseguiram autorização para os substituir pelos escravos africanos, apenas com a exigência papal de que deveriam ser baptizados. Além de solução prática o escravo africano funcionava como "moeda internacional", com "visto" de Reis e Papas !

== 36 ) "Já Colombo trouxera uma remessa
... Que nas ocidentais Índias teria,
... Talvez fiado nalguma vã promessa
... Que afinal da Católica não havia,
... Tendo de os soltar todos mais à pressa
... Que nunca viram tão grande alegria !
... Cada qual tomou novo amo ou outro rumo
... Mas com comida certa e bom aprumo."
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== (36) - Cristóvão Colombo(1451/1506), sob a bandeira ..dos Reis de Espanha e na busca doutro caminho marítimo para as Índias,recusado por D. João II,chegara às Américas em 1492, desconhecendo que alcançara o continente americano, onde tinham chegado muitos anos antes (talvez mesmo cinco séculos)os Vikings, Erik, o Vermelho. e seu filho Leif, o Afortunado;( à Gronelândia, em 982/85).

..."Quando Colombo regressou da sua 1.ª viagem à América, trouxe um carregamento de índios para vender em Espanha. A rainha, Dona Isabel, a Católica, teve escrúpulos em permitir a sua venda e mandou pô-los em liberdade" . --(D. Manuel N.Gabriel - o.c.) --

== 37/39 ) - Só os espanhóis estavam autorizados a negociarem, mas não possuindo os necessários conhecimentos, nem feitorias próprias,
para o abastecimento da mão-de-obra. logo socorriam-se dos portugueses que, aproveitando a situação, os ludibriavam.

-- "... Não se esqueça também que a ocupação europeia da maior parte da África quase até aos nossos dias e a de Angola pelos portugueses tiveram também muitos aspectos positivos..." -- (Sérgio Buarque Holanda - o.c.) --

-- Em 1570 D. Sebastião fixara várias normas de conduta sobre essa ocupação e proibindo ainda o comércio de escravos.

== 46/7 ) - Concessão da donátaria de Angola a Paulo Dias de Novais, em 19 de Setembro de 1571.
Inquérito efectuado por Abreu de Brito.

49 ) "Em celas apertadas,muito escuras,
... Mas que de barcos assim se tratavam,
... Morriam cheios de fome e de securas
... Ou das muitas pancadas que apanhavam.
... Para mais tristes sortes,desventuras,
... Eram vendidos por ouros que odiavam,
... Caíndo p'la terra quente,afastados
... Das suas mulheres,fracas,noutros lados.
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== (49) - Só os homens é que normalmente interessavam aos negreiros por resistirem melhor às durezas das viagens,e,mesmo para esses,eram muitos os sacrifícios e tormentos que passavam. Além de serem muito demoradas, as cargas que cada navio levava, sem nenhumas condições, tornavam bastante piores essas viagens.

53 ) - "E mais defronte,os lusos insistentes
... Com medidos esforços e canseiras,
... Obtinham resultados sorridentes
... Em causas de outras válidas maneiras.
... Com eles iam sabidos e alguns crentes
... Que noutros lados,com razões ou asneiras,
... Tinham obtido paz e condições
... Em lucros de melhores divisões.
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== (53) - "...Neste caso o Brasil não foi teatro de nenhuma novidade. A mistura com gente de cor tinha começado amplamente na própria Metrópole. Já antes de 1500, graças aos trabalhos dos pretos trazidos das possessões ultramarinas, fora possível, no reino, estender a porção de solo cultivado, desbravar matas, dessangrar pântanos e transformar charnecas em lavouras,com o que se abriu passo à fundação de povoados novos"... - (Sérgio B. Holanda - o.c.)-

== 54 ) - Também os jesuítas ali possuíam os seus escravos,embora contrariando a orientação papal; mantinham diversos nas suas propriedades para o cultivo das terras.

58 ) - "Iam em lotes dobrados,por cuidado
... Prevendo as mortes talvez habituais,
... O que em cada nau tinha-se elevado
... Forçando a carregar braços a mais.
... De tal forma era o número aumentado
... Que, com fomes e apertos sem iguais,
... Ao mar encapelado se lançavam
... E da bruta força humana escapavam!

59 ) - "Homens,mulheres,eram amarrados,
... Corpos rapados,nus,ali estendidos
... Uns contra os outros postos,alternados,
... Pra aproveitar espaços já vendidos.
... Os naturais alívios ali obrados
.... Entre os líquidos,gazes expelidos,
.... Mais parecendo fétida estrumeira
.... Duravam assim a viagem inteira !"
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== (59) - Com os corpos quase nus e rapados, eram deitados uns contra os outros de maneira a ocuparem menos espaços, todos comprimidos e sujos pelos próprios dejectos!

== 60 ) - Às vezes, durante o dia,os escravos eram postos na ponte, a arejar ou a trabalhar; outras vezes obrigavam a fazer danças,sob chicotadas. Nos motins os cabecilhas eram executados ou lançados ao mar; outros chicoteados até ficarem em sangue e servindo de espectáculo,ou retalhados e servidos como refeição !...

== 61 ) - Outras vezes eram picados ou retalhados e tratados com misturas picantes e pólvora. Os condenados à morte recebiam a notícia com alegria por se libertarem daquele inferno..."Em seguida com a satisfação pintada na cara, olhando com desdém o carrasco e recusando que pusesse mão neles, lançavam-se ao mar,onde encontravam pronto remédio para os seus males"... - (em : "A causa dos escravos negros" - de FROSSARD) --

== 63 ) - Proibição aos portugueses de irem a CARTAGENA, dada por Filipe IV.

64 ) - "Depois um novo acordo combinaram
... Que permitia maior venda de gentes;
... Em porões carregados as embarcavam
... Para certos "assientistas" exigentes.
... Uns outros ali rápidos chegavam
... Da fortuna fácil muito crentes,
... Ficando os castelhanos co fracasso
... Porque primeiro alguém passara o laço.
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== (64) - Junta de Escravos (1614) -- Carlos V concede aos flamengos um "assiento", em 1518, sobre a "tonelagem de escravos" permitida nos seus navios, depois transmitida aos genoveses,portugueses e ingleses. Os barcos tinham dispositivos adequados ao transporte de escravos para aproveitar o máximo de espaço e evitar as suas fugas para o mar. Em terra havia uma complicada organização à roda das feitorias, com barracões onde os escravos, amontoados,aguardavam a chegada dos navios. Um sistema de taxas e impostos enchia os bolsos de muitos exploradores de vários países. Os que não tinham feitorias praticavam acções de pirataria, com assaltos aos outros negreiros. Assim era em Arguim, Goreia(na ilha de Gorée), Fernando Pó, S. Tomé, bem como mesmo em Luanda. Enquanto os franceses quase não possuíam instalações, os holandeses e ingleses eram os mais apetrechados nesse tráfico, servindo-se de todos meios para aliciarem os menos precavidos, tais como : - mulheres, bebidas alcoólicas e armas; quando já estavam entorpecidos eram amarrados e embarcados à força! Além dos portos indicados havia também grande movimento por quase toda a costa africana (Senegal),Serra Leoa, Costa do Marfim, Costa do Ouro, Ajudá, Benin, etc.) -

== 67 ) - Governador-geral Correia de Sousa enviara alguns povos (macotas e lengas) para o Brasil,tomando ainda severas atitudes contra os reinos do Congo e Benguela para os eliminar.

== 69 ) - D. Fernando de Toledo conseguiu um "assiento" para quinze mil licenças de venda de escravos.

Em Inglaterra formara-se a primeira Companhia para o negócio da escravatura, concedido ao famigerado John Hawkins e na qual a própria rainha D. Isabel teria(?) interesses, funcionando em regime de monopólio durante muitos anos!
Em Lagos também funcionava uma outra designada "Companhia" dedicada ao mesmo ramo, pois ali há muito existia o respectivo mercado.

== 70 ) - Os holandeses tiveram uma certa autonomia marítima a partir do século XVI, sendo superados depois pelos franceses e ingleses já no século XVII. Utilizavam o tristemente e bem célebre "Triângulo de Nantes", sendo os outros dois vértices na Costa de África e na América,fazendo toda a espécie de roubos e de piratarias.

71 ) - "Até um rei negro e sua corte vendiam
... Depois de seduzidos em cilada,
... Que as palavras assim nada valiam
... Entre gentes de má fé demonstrada.
... Nova Companhia logo formariam
... Apoiados p'lo Cardeal nessa jornada;
... A Colbert noutra até mais ajudaria
... Com certo monopólio que fazia.
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== (71) - Em 1602 é fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais, estendendo-se a sua acção aos países situados além do Cabo da Boa Esperança. Seria extinta em 1798 - (200 anos de exploração).

Em 1626 a Companhia Ruanesa obtinha autorização do cardeal Richelieu para o negócio da costa africana.

Colbert cria a famosa Companhia das Índias Ocidentais,em 1664, monopolizando durante muitos anos todo o tráfico a partir de Cabo Verde até ao Cabo da Boa Esperança e mar das Antilhas. Os portugueses e espanhóis, depois do descalabro da "Invencível Armada", enviada por Filipe II de Espanha, contra a Inglaterra (1588), ficam reduzidos a uma pequena fatia do grande bolo que apenas lhes pertencera!

== 72/3 ) - Os próprios negros,por vezes, conduziam alguns escravos aos mercados e feiras onde logo os vendiam ou trocavam por qualquer bugiganga, espingardas, pólvora, tecidos, etc. Os melhores iam para os ingleses e os mais fracos ou rejeitados para os portugueses que os pagavam com a "moeda" local (zimbo - um marisco de concha univalve, em forma de coração, pescado na Ilha de Luanda).

-..."Eram ainda os portugueses e espanhóis os que manifestavam mais humanidade no seu trato"... (D. Manuel N. Gabriel - o.c.) -

== 74) - João do Campo e Paulo Martel eram comerciantes no Rio da Prata(Buenos Aires).

75 ) - " E sentado num Cabo pedregoso
... Estava o negro ancião se recordando,
... C'os olhos no horizonte,bem receoso :
... - Quantos filhos seus foram transportando
... Certos negreiros pra um fim duvidoso,
... Sob controle de pérfido comando,
... Sem esperanças de os voltar a ver
... Em seu mais triste e trágico viver ?!..."
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== 75 ) - Imagem simbólica de quantos escravos foram obrigados a deixar a sua terra e suas famílias para um destino desconhecido,fatal tantas vezes !...

- Quantas "crias" - (filhas de escravos) - enriqueceram os "hárens" dos grandes senhores !?
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-- INTERNET - a consultar :





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=== b) ---- "DO ZAIRE PODEROSO AO CUNENE MISTERIOSO" - Vol. II -- Anotações em diversas estâncias respeitantes à rubrica acima referenciada :

=== 1649 :
16)- Proposta para a mudança da Sé de S. SALVADOR para S. PAULO DA ASSUNÇÃO. Renovada a proibição de escravatura dos índios no BRASIL.
=== 1653 :
50) - O rei de PORTUGAL, D. JOÃO VI, manda restituir escravos do rei de NDONGO.
=== 1654 :
51) - Abril - Parecer do Conselho Ultramarino sobre a utilização de escravos do DONGO  (NDONGO).
53) - Quatro naus espanholas acercam-se da costa angolana para negócio de escravatura.
54) - O Conselho Ultramarino salienta a necessidade do tráfico de escravos para o BRASIL.
77) - Novembro - JOÃO DE ARAÚJO DE SOUSA derrota um navio inglês na costa de BENGUELA e aprisiona traficantes holandeses.
=== 1663 :
100 - Setembro - O governo português toma conhecimento de que uma armada espanhola se dirigia para ANGOLA com a pretensão de obter escravos.
=== 1666 :
132) - O Regimento de TRISTÃO DA CUNHA proibia o resgate de escravos no sertão.
=== 1670 :
147)- Agosto - O rei do CONGO oferece auxílio contra o Conde do SONHO por causa do tráfico de escravatura com os holandeses.
=== 1673) :
171 - Junho - Conclusão da igreja de Nª. Sª. DO ROSÁRIO DOS PRETOS em S. PAULO DA ASSUNÇÃO.
=== 1680 - Desde 1580 devem ter sido exportados 1.500.000 escravos de ANGOLA e CONGO para o BRASIL e CARAÍBAS.
=== 1684 :
223) - Março - Lei sobre o tráfico de escravatura impondo princípios, meios e limites de actuação.
225 - Outubro - Autorização para a Irmandade do Santíssimo Sacramento adquirir um barco para o transporte anual de 500 escravos para a conclusão das suas obras.
=== 1688 :
233) - Março - Carta Régia sobre o consumo de bebidas alcoólicas e assistência aos escravos.
=== 1706 :
273)- O governador do BRASIL, D. RODRIGO DA COSTA, manifesta desagrado pelo desvio dos escravos dos "engenhos do açúcar" para as minas e pede a "remessa" de mais 3 a 4 mil, sob pena de ruína financeira !
=== 1708 - Estava em construção a igreja de Nª.Sª.DO ROSÁRIO DA IRMANDADE DOS HOMENS.
=== 1715 :
279)- Março - Carta Régia sobre o aumento da exportação de escravos de ANGOLA para o BRASIL.
=== 1729 :
311)- Os traficantes ingleses prosseguiam com as suas manobras e negociatas no LOANGO e no CONGO.
=== 1740 :
-- Chega ao BRASIL o navio negreiro "MADALENA", do qual só havia sobrevivido "CHICO REI".
Era o "rei" de uma tribo do CONGO, conhecido por GALANGA, sendo "monarca-guerreiro e sumo sacerdote" de "DEUS DE ZAMBI-APUNGO". Fora capturado com a sua corte por comerciantes portugueses, traficantes de escravos e tendo seguido para o BRASIL.  A "rainha" DJALÔ e a sua filha, princesa ITULO, foram lançadas ao mar pelos marujos para "suavizar" a sua fúria !  Os restantes foram logo vendidos ao major AUGUSTO e levados para VILA RICA como escravos.
-- ? - Alguns anos mais tarde "CHICO REI" comprou a sua liberdade, a do filho e de um outro. Associaram-se à IRMANDADE DE SANTA IFIGÉNIA, a (primeira dos escravos livres em VILA RICA).

=== 1746 :
335)- Surgiram conflitos na costa de BENGUELA com traficantes de escravos e marfim,com muitas prisões e recuperação dos produtos transaccionados.
=== 1751 :
341) - Outubro - Proibição do transporte de escravos do BRASIL (índios) para os portos estrangeiros e outros domínios portugueses. Surge a "Company of Merchants Trading to África" no negócio (inglês) de escravatura.

=== 1757 :
348)- Concessão aos escravos negros, inscritos na CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS DE SÃO SALVADOR DA MATTA DE LISBOA. o privilégio de não poderem ser vendidos para trabalhos nas colónias.- Antes, o Município de MARIANA (MINAS GERAIS), havia sugerido que ..."aos escravos fugitivos que fossem recapturados se cortasse o tendão de Aquiles de um pés, assim os impedindo de fugir outra vez, mas não de trabalhar"...

-- No dia de Nª. Sª. DO ROSÁRIO ("FESTA DE REIS") estava a sua IRMANDADE, com a presença de "CHICO-REI", a rainha e a corte, ricamente ornamentados, havendo música, missa e danças -- ("...ao som de caxambus,pandeiros,marimbas e ganzás..."), dito : ("congado"). -- ver  - pt.wikipédia.org/wiki/chico_Rei --  
===== 1758 :
350)- Janeiro - Alvará Régio estabelece limitações no transporte de escravos. Anulada a proibição dos comerciantes de se deslocarem ao sertão(imposta desde 1660).
351)- O padre MANUEL RIBEIRO ROCHA, da BAHÍA,publicara em LISBOA : "ETHIOPE RESGATADO, EMPENHADO, SUSTENTADO, INSTRUÍDO, LIBERTADO", em que condenava os processos, meios e os tratos infligidos aos escravos.
355)- Dezembro - Alvará sobre o contrato, direitos na exportação dos escravos e do marfim de ANGOLA.
==== 1761 :
358)- Janeiro - Carta régia sobre o estabelecimento de uma "JUNTA" para o julgamento dos negros e sobre a fixação dos preços dos "banzos".
-- Setembro - Alvará que proíbe a entrada de escravos negros em ..."PORTUGAL E ALGARVES". Declara libertos, ao fim de 6 a 12 meses, os escravos da AMÉRICA,ÁSIA e ÁFRICA, que desembarcassem em PORTUGAL.
359/360 - Setembro - Acção do governador sobre a abolição da escravatura ("Alvará da Libertação")do conde de Oeiras e do ministro SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E MELO), decretada por D. JOSÉ I, ficando proibidas as "cargas e descargas de escravos no Reino de PORTUGAL.
361)- Referência à presença dos escravos nas festas e espectáculos com suas músicas e danças,situação de mestiçagem e sua integração social.
362)- Referência à acção do Ministro SEBASTIÃO DE CARVALHO e à sua provável ascendência africana.
=== 1765 :
372)- O governador intensifica o combate ao tráfico de escravatura.
===== 1767 :
376)- Janeiro- A proibição da entrada de escravos negros em PORTUGAL (de 19/9/1761)foi alargada aos escravos mestiços.
===== 1768 :
379)- Fevereiro - Proposta do governador para que os direitos de exportação de escravos passassem a ser arrecadados directamente pelo Erário Público, em vez os contratadores.
===== 1769 :
385)- Em QUICOMBO surge um posto de tráfico de escravos.
387)- Agosto - Anulado o sistema de "contrato" adoptado na cobrança dos direitos de exportação sobre os escravos e o marfim pelos contratadores. Foi extinta a Companhia do Contrato de Escravos.
395)- Foi proibida a escravatura por dívidas e sob a responsabilidade dos capitães-mores.
===== 1771 :
395)- Fevereiro - Tomadas as primeiras medidas oficiais para a Abolição da Escravatura nas colónias portuguesas, sendo livres todos os que tivessem chegado depois de 19/9/1761.
396)- Abril - Portaria com medidas sobre a protecção dos escravos.
===== 1773 :
408)- Janeiro - D. JOSÉ I decreta a Abolição do Tráfico de escravos para o Continente, ilhas da MADEIRA e AÇORES. Foi extinta a escravidão por nascimento e consignada a libertação de todos os índios no BRASIL.
===== 1774 (?) - "CHICO REI" passou a ser monarca em OURO PRETO (antiga VILA RICA - em MINAS GERAIS), tendo o apoio do governador-geral FREIRE GOMES DE ANDRADE.

===== 1779 :
415)- Dezembro - Desde 1761 a COMPANHIA GERAL DO PERNAMBUCO E PARAÍBA transportou 41.324 escravos africanos.
===== 1780 :
416 - Maio - Extinção da COMPANHIA GERAL DO PERNAMBUCO E PARAÍBA, fundada para o negócio da escravatura.
===== 1790 :
471)- Dezembro - Demissão de ANTÓNIO JOSÉ DA COSTA, afastando-se para BENGUELA, porém com bastantes escravos e mercadorias para ali negociar.
===== 1807 :
499)- Alvará concedendo o exclusivo do negócio de cera e de escravos do CABO NEGRO a BOAVENTURA JOSÉ DE MELO, durante 10 anos !
Desde 1804 a COMPANHIA DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO exportara cerca de 50 mil escravos de ANGOLA para o BRASIL, num total de 700 mil desde a sua fundação (em 1755).
===== 1808 :
501)- Março - O governador de BENGUELA, ABREU E PAIVA, proibira ao capitão-mor de CABO NEGRO fazer guerra aos Macorocas e a venda de armas.
===== 1810 :
502)- Fevereiro - Tratado de Aliança e Amizade entre PORTUGAL e a INGLATERRA assinado também no RIO DE JANEIRO. Limitava o recrutamento de escravos na costa de ÁFRICA, a norte do Equador, salvaguardando os direitos da coroa portuguesa sobre os seus domínios ultramarinos e ainda também sobre CABINDA e MOLEMBO, com o apoio de ESPANHA.
===== 1815 :
511)- Janeiro - Assinatura do TRATADO DE VIENA. Abolição da Escravatura ao norte do Equador, na costa africana, efectuado com a GRÃ-BRETANHA. Foi ainda reconhecida a liberdade de navegação em todos os rios do continente africano.
===== 1816 :
514)- Em CABINDA a rainha D. TERESA fora acusada de adultério e deposta, sendo enviada como escrava para o BRASIL.
===== 1817 :
517/518)- Setembro - A ESPANHA e a INGLATERRA estabelecem um Tratado para a cessação do tráfico de escravatura ao norte do equador, sem abranger o BRASIL.
===== 1825 :
541/542) - O governador de ANGOLA mostra-se preocupado com a perda do "negócio" de escravos para o BRASIL, propondo ao governo central a cedência dos portos do norte aos ingleses que tinham mais influências nos negócios brasileiros !
542)- Novembro - Convenção entre PORTUGAL, GRÃ - BRETANHA e o BRASIL, sobre a extinção da escravatura.
===== 1830 :
549)- Março - Nova tentativa de PORTUGAL para conseguir a Abolição da escravatura, considera o seu tráfico (mesmo por alguns residentes) como contrabando, mas ainda se verificava uma saída média , anual, de 30 mil escravos.
===== 1835 :
560)- Outubro - Portarias régias sobre a proibição de escravos.-- Dezembro - Portaria recomendando aos governadores de ANGOLA e de CABO VERDE para efectuarem maior fiscalização sobre esse tráfico. A INGLATERRA volta a negociar com a ESPANHA a sua extinção.
===== 1836 :
566)- Acordo entre PORTUGAL e a INGLATERRA para a Abolição da Escravatura, proibindo a sua exportação para o BRASIL. Entretanto a INGLATERRA exportava para ÁFRICA..."armas de fogo e munições, de uma qualidade própria unicamente para o tráfico da escravatura"...

567) - Dezembro - BERNARDINO DE SÁ NOGUEIRA DE FIGUEIREDO, lº marquês, barão e visconde de SÁ DA BANDEIRA, Presidente do Conselho Revolucionário Português, decreta a "ABOLIÇÃO DEFINITIVA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS PELO MAR" em nau portuguesas. a norte e ao sul do equador. Ficava proibida essa importação e exportação nos territórios portugueses sob severas penas ou multas. PORTUGAL marcava assim uma posição de destaque com essa iniciativa.

-- Os Paulistas vendiam muitos escravos  índios aos cariocas (do RIO) para trabalharem "dia e noite", por vezes sob açoites nas zonas costeiras do TEJO. !

===== 1837 - Realização de grandes festejos em honra de NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM  com a participação de antigos escravos que trabalhavam nas zonas ribeirinhas do TEJO.

567)- Março - Diligências sobre o tráfico de escravatura por navios portugueses.
568)- Maio - Proibição dos navios estrangeiros, com bandeira portuguesa, de efectuarem tráfico de escravos. Isso já acontecera com mais de uma centena de barcos. Afinal o tráfico internacional continuava !
===== 1839 :
581)- O marquês de SÁ DA BANDEIRA solicitara à INGLATERRA um melhor apoio no cumprimento da proibição do tráfico de escravatura que ainda continuava.
===== 1841 :
585)- Junho - Os ingleses não estavam satisfeitos com a proibição do transporte de escravos em navios estranhos às "províncias ultramarinas"
===== 1841 :
588)- Dezembro - TRATADO DE LONDRES - entre a GRÃ-BRETANHA, FRANÇA, AÚSTRIA, PRÚSSIA e RÚSSIA sobre a proibição do tráfico de escravos.
===== 1842 :
591)- Julho - Os ingleses toma de assalto algumas povoações de CABINDA e destroem os barracões utilizados no negócio de escravos.
592)- Novembro - Revolta na CATUMBELA contra o governo de BENGUELA, preparada pelos que não aceitavam a abolição da escravatura.
=== 1845 :
597)- Janeiro - Portaria Ministerial sobre o destino dos 850 escravos apreendidos a bordo do brigue brasileiro Caçador", no rio DANDE. Portaria Ministerial manda reforçar a vigilância da costa do sul de ANGOLA para evitar o tráfico. Foram demitidos todos colaboradores próximos do governo geral.
600)- Março - A JUNTA DE JUSTIÇA DE ANGOLA puniu o alferes PAIVA PEREIRA, da BARRA DO DANDE, por não ter impedido o embarque dos 850 escravos.
606)- Julho - Os armadores de BENGUELA preferiam marfim e cera, em vez de escravos.Intensificamos negócios com o BAROTZE, na região do rio ZAMBEZE.
612) - Setembro - O novo governador manda aplicar as disposições contra a escravatura e o seu tráfico, apoiado pelo recente Tribunal de Arbitragem Luso-Britânico.
613) - Setembro - Desentendimentos entre o governador, o Juiz de Direito JOSÉ MARIA GONÇALVES, POMPEU DO CARMO e CARVALHO DE MENEZES sobre a aplicação do Decreto de 10/12/1836. (Abolição Definitiva da Escravatura). Aprisionamento do navio inglês "LADY SALE", no AMBRIZ por tráfico de escravos.
614)- Novembro - O Ministério esclarece sobre a prisão do coronel POMPÍLIO POMPEU DO CARMO, ordenada pelo governador POSSOLO sob acusação de tráfico de escravatura (..."o maior contrabandista de Angola"...)e de subornos às autoridades, pelo que fora expulso para PORTUGAL.
618)- Dezembro - Aprisionamento de diversos barcos brasileiros ao serviço de traficantes negreiros na costa angolana, que entretanto haviam sido encalhados e parcialmente incendiados para ocultar os seus "pecados". Entretanto o Árbitro português da Comissão Mista participava que ..."estava terminado o tráfico de escravos debaixo da Bandeira Portuguesa"...
===== 1846 :
624)- O REINO DE MUATIÂNVUA era limitado pelo CUANGO, na LUNDA,onde o tráfico de escravos era um negócio normal; a sua proibição fizera aumentar a "caça ao marfim", surgindo centenas de dentes de elefantes nessas trocas !

=== 1849 :
637)- Portaria sobre o destino a dar aos escravos libertados em ANGOLA.
=== 1850 :
647)- Setembro - Publicação da Lei brasileira (de EUSÉBIO QUEIROZ) considerando..."a importação de escravos como um acto de pirataria"...
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== 1500 - DEZEMBRO - 31 - Desde 1450 já haviam sido "exportados" cerca de 150 mil escravos dos territórios africanos sob domínio português !
== 1502 - A Praça de Escravos (em ALFAMA -- LISBOA), era um dos locais do leilão dos escravos, como se fossem animais de carga !
== 1509 - D. AFONSO I ("rei" do CONGO)oferece escravos aos portugueses que o haviam ajudado nas suas lutas, os quais seguiram com D. GONÇALO, sobrinho do rei.
== 1512 - O porto de LISBOA passa a ter o exclusivo do desembarque de mercadorias e dos escravos, ali se cobrando para a Coroa o respectivo e já fixado imposto de 10% sobre o valor das mesmas ou uma sisa de 600 réis por cada "peça"(escravo)!
== 1516 - (?) - D. MANUEL reduz o imposto de venda de escravos (sisa) para metade quanto aos respeitantes à Coroa.
== 1517 - BARTOLOMEU LAS CASAS, na defesa da população índia do BRASIL, propôs a D CARLOS V uma substituição total nas fazendas por mão-de-obra de escravos africanos, considerados mais adaptados. E, assim, CARLOS V concede a CARREVORD um "assiento" (contrato)para exportar 4 mil escravos africanos para o BRASIL ! Era o início do grande tráfico internacional.
D. MANUEL I alarga a abolição da escravatura a todos serviçais de S. TOMÉ.
== 1518 - D. CARLOS V de ESPANHA concede aos flamengos um "assiento" sobre..."tonelagem de escravos"...(dependentes das suas alturas), permitida nos seus navios, os quais tinham dispositivos adequados a esse transporte de modo a aproveitar ao máximo o espaço disponível para "as cargas" e evitando possíveis fugas, lançando-se ao mar !
== 1518 - MAIO (?) - Regimento de D.  MANUEL I sobre o tratamento dos escravos que aguardavam embarque na real feitoria de S. TOMÉ depois de chegados de BENIM e do CONGO. Ali eram marcados com ferro quente com um "G" (marca da GUINÉ), no braço direito, ficando entretanto a trabalharem nas plantações.Regulamentou ainda sobre as condições do seu transporte e alimentação, até para salvaguardar o seu aspecto físico em posterior exibição para a venda em público.
== 1520 - A venda de escravos da Coroa na "CASA DOS ESCRAVOS" passou a ser feita por contrato em vez do Almoxarife, cessando assim algumas ofertas de "peças" que eles faziam a favoritos da corte ou a religiosos.
== 1521 - JULHO - 8 - Alvará de D. JOÃO II mandando açoitar os escravos que fossem encontrados em qualquer jogo na cidade de LISBOA ou na corte, se o seu amo não pagasse a multa de 300 reais !

== 1524 - (?) - As cortes de ALMEIRIM limitam a protecção dada aos escravos pela Confraria dos Negros de Nossa Senhora dos Remédios e o levantamento, legal, dos fundos das alforrias, em LISBOA.
== 1526 - JULHO - 6 - D. AFONSO I solicita ao rei D. JOÃO III a suspensão do tráfico de escravatura para ..."que nestes reinos não haja trato de escravatura, nem saída para ele"...
== 1530 - (?) - D. JOÃO III autoriza a viagem directa dos negreiros de CABO VERDE ou S. TOMÉ para os "Novos Mundos" sem passarem por LISBOA. Declara imoral a venda de escravos por cristãos a infiéis, sobre a qual passava a incidir um novo imposto, porque o anterior já pouco rendia dada a fraca proveniência dos escravos.
-- Embora, talvez um tanto contrariado, D. JOÃO III não deixava de concordar com o seu "irmão" do CONGO..."não quereis em vosso reino haja resgate de escravos, isto por que se vos despovoa a terra"...
== 1532 - AGOSTO - 2 - Proibição do tráfico de escravatura a pedido do rei do CONGO em oposição aos Jesuítas e Santomistas.
== 1537 - JUNHO - 20 - O Papa PAULO III protesta contra os abusos do tráfico de escravatura.
== 1540 - DEZEMBRO - Durante este ano foram vendidos em LISBOA cerca de 12 mil escravos africanos.
== 1545 - FEVEREIRO - 1 - Alvará autorizando os escravos a residirem à parte, em PORTUGAL, por conta própria, conforme proposta de 1524 nas cortes de ALMEIRIM.

== 1549 - JANEIRO - Os padres JORGE VAZ, Superior das Missões, CRISTÓVÃO RIBEIRO e JÁCOME DIAS, logo se dedicam ao negócio do tráfico de escravatura e mudam-se para S. TOMÉ.

== 1550 - DEZEMBRO - 31 - Um décimo da população de LISBOA, que era de 100 mil habitantes, compunha-se de "escravos pretos" : cerca de 10 mil (9.950), sendo a maioria utilizados nos serviços domésticos e noutros, particulares ou públicos.
Durante este ano verifica-se um aumento do tráfico de escravatura dos Reinos de NDONGO (ANGOLA) e do CONGO para o BRASIL, utilizada nos inúmeros "engenhos" de açúcar levados da MADEIRA, em concorrência devoradora e insaciável com os mercados da COSTA DA MINA, sempre prontos a efectuarem esses fornecimentos. Era uma autêntica "mina" e uma ..."indústria assassina" !
== 1553 - ( ? ) - D. JOÃO III renova por alvará as proibições feitas em 1512 e 1532 sobre o tráfico de escravatura, a pedido do rei do CONGO.
== 1560 - ( ? ) - D. SEBASTIÃO toma medidas de protecção a favor dos Índios do BRASIL mas para azar dos escravos africanos !
== 1562 - O inglês JOHN HAWKINS transportara os primeiros escravos negros para a AMÉRICA, no navio "O JESUS", para a sua troca por açúcar !
== 1563 - HAWKINS volta a transportar centenas de escravos, desta vez em barcos da Coroa inglesa.
== 1564 - A rainha ISABEL, de ESPANHA, que condenara o traficante HAWKINS pelos negócios feitos no HAITI, em 1563, acaba por adquirir acções para uma nova viagem do referido negreiro!
== 1570 - MARÇO - 20 - D. SEBASTIÃO regulamenta normas e melhor conduta social, proibindo o comércio de escravos na ocupação dos territórios africanos, concedendo a liberdade aos Índios.
== 1579 - SETEMBRO - KILOANJI manda eliminar os residentes portugueses que convocara, bem como outros que ali não compareceram e cerca de mil escravos cristãos...
== 1580 - DEZEMBRO - 31 - Depois desta data  foram "exportados" imensos escravos de ANGOLA para o BRASIL e EUROPA. A população de LISBOA era de 200 mil habitantes, dos quais um terço eram negros.
== 1587 - AGOSTO - 22 - Termina o trabalho obrigatório dos Índios nas plantações brasileiras, sendo substituídos pelos escravos africanos ! Concretização das influências do padre ANTÓNIO VIEIRA.
== 1587 - DEZEMBRO - Desde 1575 foram "exportados para as Américas" (BRASIL e outros destinos, cerca de 2.500 escravos.
== 1591 - DEZEMBRO - Desde 1575 e até ao final deste ano , já haviam sido "vendidos" para PORTUGAL e AMÉRICAS mais de 50 mil escravos angolanos, sujeitos ao imposto de 4 mil réis por cabeça.
== 1594 - Um contrato efectuado entre os Reis de PORTUGAL e de ESPANHA, com PEDRO SEVILHA e ANTÓNIO MENDES LAMEGO, permitia-lhes um monopólio para negociarem 7.500 escravos, marfim, borracha e outros artigos..."o rei, que recebia anualmente 11 contos,, dois negros e 1% dos lucros daqueles, destinados às obras pias reais, comprometera-se a protegê-los e a combater o contrabando"...além de darem 200.000 reais aos dominicanos de LISBOA e 20.000 às irmãs de Nossa Senhora da Esperança !
== 1600 - DEZEMBRO - Neste ano foi negociado um contrato entre a Coroa e DUARTE DIAS HENRIQUES para o monopólio comercial de ANGOLA e CONGO, mas com o compromisso de pagar 28 contos anuais. A exportação anual, média, de escravos rondava os 5.000.

== 1602 - JANEIRO - 7 - Chegada a LUANDA do novo governador (JOÃO RODRIGUES COUTINHO), com patente de 30/1/1601, sendo irmão de Frei LUÍS DE SOUSA.
Era portador de um contrato de ANGOLA ("...renda de negros"...) a seu favor e de GOMES REINEL (seu sócio), para dali fornecerem anualmente 4.250 escravos às colónias espanholas, pagando ainda ao rei D. FILIPE II a quantia de 162 mil ducados e tendo por apoio uma força militar de 800 homens que os acompanhavam."... - (RALPH DELGADO obra citada .(o.cit.) --
== 1612 - JULHO - 2 - Num leilão de escravos angolanos efectuado no BRASIL, verificou-se que 70% chegaram vivos e foram vendidos à média de 28.000 réis cada.
== 1621 - (?) - O governador VASCONCELOS domina muitos sobas e imensos prisioneiros (escravos), ao ponto de possuir "armazéns" onde instalava uma grande parte deles.
== 1623 - AGOSTO - (?) - Morrera o contratador ANTÓNIO FERNANDES D' ELVAS deixando uma enorme fortuna, calculada (em 1619) no valor de 16.750$660 réis. Surge um novo contrato em sistema de monopólio (comércio de escravos) nos Reinos do CONGO e ANGOLA, entre a Coroa e HENRIQUE GOMES DA COSTA, por 40 contos anuais até 1626.
  Desde 1620 haviam chegado a PERNAMBUCO 15.430 escravos africanos !
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== 1624 - OUTUBRO - 1/3 - Bando criando as Feiras para o negócio de escravos em : DONGO (BUMBA ARQUIZAMBO), SAMBA ANGOMBE, CACULO CABAÇA E AMBUÍLA --
== 1624 - NOVEMBRO - 2 - Partem de S. PAULO DE LUANDA para o BRASIL, nessa época, 33 navios, transportando cerca de sete mil escravos.
== 1625 - (?) - Desembarcam em NOVA AMESTERDÃO, na AMÉRICA DO NORTE, os primeiros escravos africanos para aquela zona.
== 1626 - JUNHO - 26 - Saíram de S. PAULO DE LUANDA trinta navios para..."as Índias e outras partes"...com cerca de nove mil escravos. Na mesma altura chegava à BAHÍA (BRASIL) um navio também de ANGOLA, com 150 escravos "sobrados" nessa viagem. Foram então abandonados na ILHA DOS FRADES para "recuperarem as forças perdidas" ou com medo de estarem contagiados dalguma perigosa "doença", livrando-se no entanto de serem por tal massacrados como acontecera noutras ocasiões !
== 1626 - DEZEMBRO - Autorização dada à Companhia Ruanesa para negociar na costa africana, em exclusivo, no comércio de escravatura !
Foram abertos os seguintes locais para Feiras : - GUIZAMBAMBE -- CACULO -- SANGA -- QUIPAPA (QUIAPAPA), NADLA KISUA (MBONDO) --

== 1628 - A Coroa efectuara um contrato com ANDRÉ RODRIGUES ESTREMOZ para o monopólio comercial (com tráfico de escravos) em ANGOLA e CONGO, durante 8 anos.

== 1641 - DEZEMBRO - Durante o ano foram "exportados" mais de vinte mil escravos para o BRASIL holandês. Desde 1486 saíram de ANGOLA cerca de 1.400.000 escravos !

== 1645 - (?) - Os chefes KAMUKAMA e NAMBUANGONGO haviam atacado e derrotado alguns navios portugueses que transportavam escravos para a BARRA DO DANDE.
A Coroa portuguesa aceita a proposta do capitão da caravela "Nossa Senhora da Nazaré", JOÃO DE ALMEIDA RIOS, para a troca duma carga de açúcar do BRASIL por escravos, a efectuar no RIO MOREIRA ou no QUANZA.
== 1647 - SETEMBRO (?)- Alvará de proibição de escravizar os Índios no BRASIL, acelera o tráfico dos africanos.
== 1649 - ? - Renovada a proibição de escravatura dos Índios no BRASIL.
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-- 1653 - ABRIL - 8 - O rei do DONGO reclama para o rei de PORTUGAL sobre a restituição de 10.000 escravos ao serviço de ANTÓNIO TEIXEIRA DE MENDONÇA, "genro" do rei angolano, bem como a protecção contra a rainha GINGA.
-- 1654 - ABRIL - 22 - O CONSELHO ULTRAMARINO dá parecer a uma reclamação sobre a utilização de escravos no REINO DO DONGO por A. TEIXEIRA MENDONÇA e termina com o trabalho gratuito dos carregadores para os ditos pombeiros e da sua protecção contra a rainha GINGA.
-- 1659 - ABRIL - 14 - Termina o prazo concedido ao rei do CONGO, D. GARCIA II para cumprir o acordo firmado com o governador sobre a restituição dos escravos.
-- 1660 - OUTUBRO - 13 - Carta régia dando instruções para avisar os interessados ao concurso para contratos de escravos e de que os mesmos passariam a serem efectuados apenas em LISBOA, como anteriormente.

-- 1660 - Em INGLATERRA a COMPANHIA DOS MERCADOS AVENTUREIROS obtém o exclusivo no tráfico da escravatura desde o CABO DA BOA ESPERANÇA ao CABO BRANCO. Tal empresa pertencia à alta burguesia e a alguns elementos da corte inglesa !

== 1660 - "DEZEMBRO - A exportação de escravos que alcançara elevados valores, entra em diminuição, excepto para o BRASIL e CUBA, destinados às suas culturas de cana-de-açúcar e café.
-- 1664 - NOVEMBRO - 15 - O Senado da Câmara de S. PAULO DA ASSUNÇÃO reclama da forma de resgate de escravos pelos pombeiros brancos.
-- 1664 - NOVEMBRO - 29 - Consulta do CONSELHO ULTRAMARINO sobre os contratos de escravos, que haviam passado a ser "fechados" em LISBOA.
-- 1664 - DEZEMBRO - Entretanto fora criada por COLBERT a COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS para a exploração do tráfico de escravatura, com monopólio durante 60 anos ! Abrangia o percurso desde CABO VERDE ao CABO DA BOA ESPERANÇA e ainda das ANTILHAS !. Sucedia à antiga COMPANHIA DE CABO VERDE E SENEGAL (?).

-- 1670 - (?) - Expulsão dos jesuítas de ANGOLA por causa das suas interferências no tráfico da escravatura para as suas próprias fazendas no BRASIL !

-- 1672 - (?) - Formada a COMPANHIA DO SENEGAL para o tráfico de escravatura, substituindo a COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS, criada em 1664. Os ingleses transformaram a COMPANHIA DOS MERCADORES AVENTUREIROS na COMPANHIA REAL DE ÁFRICA (ou, antes, "COMPANHIA DOS AVENTUREIROS REAIS DE ÁFRICA" (?) - (COMPANY OF ROYAL ADVENTURES), ou ainda, da "ROYAL AFRICAN COMPANY" (?), com carta outorgada pelo rei CARLOS II !
-- 1680 - JANEIRO - 4 - Foi criada a COMPANHIA DE CABO VERDE E CACHEU para o negócio de escravatura.

-- Desde 1580 devem ter sido exportados 1.500.000 escravos de ANGOLA para o BRASIL e CARAÍBAS !

-- 1684 - FEVEREIRO - 20 - Carta régia sobre a aquisição de mão de obra por transferência de direitos ao arrematante DIOGO DA FONSECA HENRIQUES.
-- 1684 - MARÇO - 28 e 30 - Uma Lei e uma carta régia regularizam o tráfico de escravatura, impondo certos princípios...tentando assim acabar com os autênticos "armazéns" em que eram acomodados os escravos, punindo os transgressores com elevadas penas, multas de 2.000 cruzados e com 10 anos de degredo para os capitães de navios e armadores.

-- 1685 - OUTUBRO - 31 - Provisão que autoriza à Irmandade do Santíssimo Sacramento a compra dum patacho para o transporte de 500 escravos por ano, durante 4 anos, para conseguirem verbas suficientes à conclusão das obras da igreja de Nª.Sª. DOS REMÉDIOS ! Que triste "remédio" !... (Felizmente não concretizado).

-- 1685 - (?) A COMPANHIA DO CACHEU intensifica a sua actividade no negócio da escravatura com o apoio do governo português !
-- 1690 - JANEIRO - ? - A sede da COMPANHIA DE CABO VERDE E CACHEU, criada em 4 de Janeiro de 1680, com o apoio da coroa portuguesa, fixa-se na ilha do PRÍNCIPE e, com maiores possibilidades,para a exportação de escravos dos territórios ultramarinos. Absorvera anterior COMPANHIA DE CACHEU E DOS RIOS DA GUINÉ, de 1656,tendo obtido inúmeras facilidades e protecções oficiais !
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+-- 1703 - SETEMBRO - 28 - Carta Régia ordena que nas exportações de escravos para o BRASIL houvesse um rateamento das "peças" para os portos de : RIO DE JANEIRO (1.200); PERNAMBUCO e PARAÍBA(1.300), seguindo os restantes para a BAHÍA.
-- 1715 - MARÇO - 24 - Carta Régia sobre o aumento da exportação de escravos de ANGOLA para o BRASIL.
-- 1716 - SETEMBRO - 3 - A embaixada portuguesa, em MADRID, reclama da aplicação do artº 15º do TRATADO DE UTREQUE, sobre o ..."assiento de negros"

-- 1718 - MARÇO - 9 - Carta Régia autoriza a escravidão dos índios no BRASIL.
-- 1722 - MARÇO - Durante este governo aumentaram, as exportações de escravos para o BRASIL, totalizando cerca de 20 mil "peças".
-- 1722 - ? - MIGUEL SUBTIL encontrara novas e maiores minas de ouro em CUIABÁ (BRASIL) nas suas campanhas em busca de escravos.
-- 1723 - JANEIRO - O governador CARVALHO procedeu a diligências junto do rei de ANGOY para apurar a situação e acção dos ingleses ali instalados : Haviam comprado aquela zona a um certo soba sem o consentimento do rei de ANGOY...... Mas, na verdade, estava mais em causa a concorrência dos ingleses no negócio de escravos, tendo eles mais vantagens e facilidades por causa da tentação dos novos artigos permutados. Era uma tentação mais do que natural para quem nunca os vira e, muitos , nunca  tiveram oportunidades de os possuir !
-- 1723 - DEZEMBRO - Foi aprovado um imposto de 1.200 réis sobre a exportação de cada escravo para compensar a despesa com atribuição dos vencimentos concedidos aos governadores, funcionários e militares |
-- 1729 - DEZEMBRO - Nos últimos 3 anos haviam sido "exportados" mais de 30.000 escravos.
-- 1731 - DEZEMBRO - 31 - ANGOLA exportava então cerca de 6 a 7 mil escravos anuais para a BAHÍA, PERNAMBUCO e PARAÍBA.
-- 1747 - ? - Um jesuíta publica "Prática Missionária" sobre o problema da escravatura.
-- 1751 - OUTUBRO - 14 - Proibição do transporte de escravos do BRASIL (índios) para os portos estrangeiros e domínios não portugueses. (ALVARÁ do ministro e conde de OEIRAS, com a colaboração de seu irmão, MENDONÇA FURTADO; capitão-general do Estado, no BRASIL.
-- 1751 - OUTUBRO - Surge a "COMPANY OF MERCHANTS TRADING TO AFRICA" no negócio da escravatura, a conta dos ingleses.
-- 1754 - JANEIRO - 18 - MENDONÇA FURTADO, capitão-general no BRASIL, sugere a substituição da mão-de-obra dos índios por africanos, por intermédio de uma Companhia.
-- 1755 - JUNHO - 6 - Restituía por lei a liberdade de pessoas e bens aos índios do GRÃ-PARÁ e MARANHÃO. Os escravos deviam ser substituídos por africanos ! Foi criado o DIRECTÓRIO DOS ÍNDIOS, em vez do REGIMENTO DAS MISSÕES.
-- 1755 - JUNHO - 7 - Criada,e confirmada por Alvará Régio, a COMPANHIA GERAL DO GRÃ-PARÁ E MARANHÃO, no BRASIL, para o comércio, navegação, fomento das colónias e importação de escravos, em exclusivo, de que ANGOLA passaria a ser um dos seus principais mercados abastecedores, com isenção de taxas e direitos; deveria importar uma média anual previsível, de 100.000 escravos durante 20 anos. Contrariava assim os interesses e negócios dos jesuítas.

-- 1757 - ? - Concedido aos escravos negros inscritos na CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS DE S. SALVADOR DA MATTA DE LISBOA, o privilégio de não poderem ser vendidos para trabalhos nas colónias. Dois anos antes a municipalidade de MARIANA (MINAS GERAIS)..."sugeriu que aos escravos fugitivos que fossem recapturados se cortasse o tendão de Aquiles de um dos pés, assim os impedindo de fugir outra vez, mas não de trabalhar"...(de "RELACÇÕES RACIAIS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS", de C.R.BOXER, 1963 - pg.110).
-- 1758 - JANEIRO - 11 - Alvará Régio estabelecia limitações ao transporte dos escravos, seus abusos e ilegalidades. Foi abolida a proibição estabelecida em 1666 que impedia que os comerciantes se deslocassem ao sertão : CONGO, ANGOLA, BENGUELA, CABINDA(NGOYO)E LOANGO, bem como aos respectivos portos, tornando-se o "negócio livre", enquanto se mantinha a sujeição ao BRASIL, ou seja, "Período Brasileiro",(incluindo..."o resgate dos escravos com toda a sorte de Fazendas permitidas"...e sem oposição de qualquer autoridade. Tentava assim dar combate aos comerciantes ou negociantes clandestinos, muitos deles estrangeiros e para desenvolver as Feiras do interior. Revoga os ditos "direitos velhos" e os "direitos novos", substituindo-os por direitos dos escravos e do marfim.
-- 1758 - JANEIRO - 26 - Estabelecidos os direitos sobre a exportação de escravos, conforme a s suas alturas : 8.700 réis para os tivessem ..."quatro palmos craveiros" e 4.350 réis para os mais baixos !

-- 1758 - MAIO - 8 - Declarados livres todos os índios do BRASIL.

-- 1759 - AGOSTO - 13 - Alvará Régio da fundação da COMPANHIA GERAL DE PERNAMBUCO E PARAÍBA, por 20 anos, com privilégios e monopólio no negócio de escravatura africana, concedendo-lhes casas e armazéns.
-- 1759 - DEZEMBRO - 12 - Alvará sobre o contrato, direitos dos escravos e da exportação do marfim de ANGOLA.
-- 1760 - JANEIRO - 25 - Alvará sobre os direitos e fretes a cobrar por cada escravo "exportado" de ANGOLA.
-- 1760 - MAIO - 1 - O governo ordena a retenção dos bens dos jesuítas e a protecção dos seus escravos, para não desaparecerem...
-- 1760 - DEZEMBRO - Durante o ano, cerca de 150 barcos ingleses haviam "carregado" 30.000 escravos africanos.
-- 1761 - SETEMBRO - 19 - Alvará que declara proibida a entrada da escravatura negra em PORTUGAL e ALGARVES, o que fazia concorrência aos empregos metropolitanos e prejudicava a necessária mão de obra colonial !
Declara libertos os escravos da AMÉRICA, ÁSIA e ÁFRICA, que desembarcassem em PORTUGAL ao fim de seis a doze meses. Isto muito antes de muitos outros países, incluindo a INGLATERRA, que então o contrariava. Procurava assim evitar sobretudo a saída de escravos negros do BRASIL.
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== 1837 - DEZEMBRO - Apesar da proibição ainda entraram no BRASIL, durante este ano, mais de  5.000 escravos oriundos na sua maioria das costas portuguesas de ÁFRICA.

== 1838 - MARÇO - 2 - Foi proibido o tráfico de escravatura para qualquer destino, conforme exigências da INGLATERRA!

-- 1839 - MAIO - 29 - O governador-geral assina com TUCKER um acordo sobre a apreensão dos traficantes de escravos de ambos países e do julgamento dos seus comandantes, o que provoca alguma revolta em LUANDA, reclamando os interessados para a rainha sobre tal decisão.
-- 1839 - JUNHO - 5 - O governador pede a demissão do seu cargo face as reacções contra a Abolição do Tráfico de Escravatura que surgiam de muitas facções, bem como contra a proibição do recrutamento obrigatório dos carregadores.
-- 1839 - AGOSTO - Um navio inglês afunda dois barcos portugueses implicados no tráfico de escravatura, bem como as suas mercadorias, inclusive o "Paquete de Loanda", mas este sem escravos !
-- 1839 - SETEMBRO - 30 - Foi aprovada a CONVENÇÃO realizada em Maio entre o governador-geral e o comandante TUCKER sobre a repressão a efectuar contra o tráfico de escravatura.
-- 1839 - NOVEMBRO - O Marquês de SÁ DA BANDEIRA solicitara à INGLATERRA um melhor apoio no cumprimento da proibição do tráfico da escravatura, que continuava a proliferar, tanto mais que se haviam levantado movimentos separatistas insatisfeitos com essa medida, em especial da parte de contrabandistas brasileiros que já tinham constituído algumas sociedades, aumentando-o ainda muito mais, com receio da falta da mão-de-obra barata nas suas fazendas e "engenhos"...
-- 1839 - DEZEMBRO - 3 - Bula papal condena o tráfico da escravatura.
-- 1839 - DEZEMBRO - Durante este ano foram aprisionados 200 navios negreiros na costa de ÁFRICA e na maioria estrangeiros, o que satisfazia outros interesses ingleses !
-- 1840 - FEVEREIRO - 13 - Portaria sobre os navios estrangeiros julgados suspeitos de tráfico de escravos.
-- AGOSTO - Aprisionado um barco de ARSÉNIO CARPO com 400 escravos a bordo. Porém livrou-se dessa condenação dadas as regalias que gozava junto dos governantes e dos ingleses !
-- 1841 - JUNHO - A proibição do transporte de escravos em navios estranhos às "províncias ultramarinas" desagrada alguns ingleses.
O governador-geral toma medidas de repressão contra o tráfico de escravos, libertando-os, mandando fiscalizar o litoral e criando postos de controle que serviriam de base para futuros portos e povoações.
-- 1842 - JULHO - 25 - Aplicação de penas pelo tráfico de escravos.
-- OUTUBRO - Tratado com E.U.A. sobre a proibição do tráfico dos escravos.
-- OUTUBRO - 6 - Portaria sobre o procedimento contra os culpados do tráfico dum navio brasileiro.
-- DEZEMBRO - 31 - Durante o ano verificou-se uma baixa na "exportação" de escravos, mas atingindo ainda os 8.000 !
-- 1843 - JULHO - O governador BRESSANE LEITE não conseguiu também impor a total proibição de tráfico de escravos, ou, por vezes, talvez tivesse mesmo "colaborado" nessa transgressão!
-- 1845 - MARÇO - A JUNTA DE JUSTIÇA DE ANGOLA puniu o alferes PAIVA PEREIRA, comandante da BARRA DO DANDE, por não ter proibido o carregamento de 850 escravos pelo brigue brasileiro "CAÇADOR"....
-- ABRIL - 30 - Chegada a LUANDA do árbitro inglês, EDMUND GABRIEL JÚNIOR,e do Vice -Cônsul GEORGE BRAND para a formação da JUNTA DE SUPERINTENDÊNCIA DOS ESCRAVOS LIBERTOS, nos termos do Tratado de 3 de Julho de 1842, entre PORTUGAL e a INGLATERRA, tendo por finalidade a abolição completa da escravatura.
-- JULHO - 2 - O Ministro do Ultramar ordena ao governador geral a instalação urgente da JUNTA DE SUPERINTENDÊNCIA DOS ESCRAVOS LIBERTOS, que entretanto já entrara em funcionamento.
-- SETEMBRO - A aplicação do Decreto de 10/12/1836 sobre o tráfico de escravatura, causava muitos desentendimentos inclusive com o Juiz de Direito, JOSÉ MARIA GONÇALVES, e entre o governador e POMPÍLIO DO CARMO com CARVALHO MENEZES e seus antigos opositores, que acusavam o governador geral de conivência com os traficantes de escravatura !
-- NOVEMBRO - A fiscalização marítima inglesa aprisiona barcos brasileiros na costa de ANGOLA.
-- DEZEMBRO - 23 - Aprisionado o brigue-escuna "CACIQUE", a barca "PRIMAVERA" (brasileira), o patacho "FAVORITA" e a escuna "GAGO", por se dedicarem ainda ao tráfico de escravatura da costa angolana, tendo sido todos ele logo "encalhados" e incendiados pelos próprios transgressores na tentativa de se desculparem ou de escaparem ao grave crime !...........
-- 1846 - FEVEREIRO - 16 - Chegam barcos franceses ao porto de LUANDA para fiscalização do tráfico de escravatura.
-- 1847 - MARÇO (?) - Os escravos transportados ilegalmente para o BRASIL foram repatriados para LUANDA.
-- 1848 - MARÇO - Forças militares seguem para BENGUELA-A-VELHA, tentando reprimir o enorme tráfico de escravos.
-- 1848 - DEZEMBRO - Entraram no BRASIL 60.000 escravos, na sua maioria clandestinos, isto é sem transitarem pelas alfândegas, em virtude da proibição do tráfico que continuava a não ser totalmente cumprida.

-- 1848 -- Ainda neste ano a FRANÇA decretara a Abolição da Escravatura.

-- 1849 - MAIO - 24/26 - Portaria sobre o destino a dar aos escravos libertados em ANGOLA. Apresentação dum novo projecto para a Abolição faseada da escravidão.

-- 1850 - DEZEMBRO - 31 - Até este ano haviam saído dos portos de LUANDA, BENGUELA e outros de menor importância, um total de 4 milhões de escravos !
-- 1851 - FEVEREIRO - 21 - Portaria autorizando a transferência de escravos entre as possessões portuguesas.
-- 1852 - DEZEMBRO - 31 - Estava quase terminada a saída de escravos para o BRASIL, onde existiam, nessa altura, 3.250.000 escravos negros ! De 1807 a 1819 terão ido quase 200 mil por ano. De 1820 a 1847 essa média baixara para metade.
- Assim, em 40 anos, saíram de ANGOLA para o BRASIL mais de 5 milhões de escravos negros !

-- 1853 - OUTUBRO - 26 - Regulamento anexo ao decreto do dia 25 sobre o transporte de "libertos" de ANGOLA para S. TOMÉ depois de baptizados e alforriados. À chegada seriam "marcados" com uma chapa metálica no braço direito ! O contrato seria por sete anos, mesmo para os menores (dos 13 aos 20 anos de idade), sem qualquer garantia de retorno nem vencimento, mas com direito a boa alimentação, assistência médica e vestuário ! Tudo seria fiscalizado pela Junta de Superintendência dos Libertos, em S. Tomé.

-- 1854 - DEZEMBRO - 14 - Decretada a libertação dos escravos ao serviço do governo ou por indemnização dos seus patrões.

-- 1855 - MARÇO - 14 - Portaria sobre o Regulamento da JUNTA PROTECTORA DOS ESCRAVOS.
-- 1856 - JULHO - 5 - Libertação dos escravos no distrito do AMBRIZ e ao norte de LIFUNE até ao rio ZAIRE, conforme proposta aprovada em 15 de Junho.
-- 1856 - JULHO - 24 - Foi concedida a libertação dos filhos dos escravos nascidos nas Províncias Ultramarinas, embora ainda pudessem ser obrigados a trabalhar até aos 20 anos de idade!....
-- 1856 - JULHO - 25 - Lei que concede a liberdade aos escravos pertencentes ás entidades religiosas.
-- 1856 - AGOSTO - 18 - Lei que concede a libertação dos escravos entrados por qualquer porto do Reino (Continente), ÍNDIA ou MACAU.
-- 1856 - NOVEMBRO - 3 - Decreto abolindo todo o serviço forçado ou obrigatório de carregadores na Província de ANGOLA...........................
-- 1857 - ABRIL - 15 - Em MOÇÂMEDES, BERNARDINO FREIRE,continuando a sua luta contra a escravatura, dentro e fora de ANGOLA, faz uma exposição ao governador-geral.
-- 1857 - DEZEMBRO - 5 - Disposições sobre o desmantelamento dos navios apreendidos no tráfico de escravatura.

-- 1859 - FEVEREIRO - 25 - Foi decretada a Abolição imediata e total da escravatura em todo o território português mas os escravos libertos deviam trabalhar ainda durante 10 anos para os seus donos !

-- 1862 - "SETEMBRO - 22 - Nos EUA foi decretada a Abolição da Escravatura a partir
de 1/1/1863, sendo importante a influência do Presidente LINCOLN.

-- 1863 - JANEIRO - Só depois da Abolição da escravatura os negros americanos passaram ser admitidos no exército e na armada ou a serem empregados nas fazendas.

-- 1863 - DEZEMBRO - Neste ano foram considerados "libertos" oficialmente cerca de 30 mil escravos mas, no entanto, enviados para as plantações de S. TOMÉ sem quaisquer hipóteses de regresso !
-- 1864 - AGOSTO (?) - Nos E.U.A. o general SHERMAN, prosseguindo o ideal de JOHN BROWN, invade o Estado da GEÓRGIA, emancipando os seus escravos. De seguida controlam a linha férrea e alcançam a costa. Essa situação provoca uma enorme crise nas plantações algodoeiras o que acaba por beneficiar as de ANGOLA, instaladas entre BENGUELA e MOÇÂMEDES.

-- 1866 - DEZEMBRO - Instruções à JUNTA PROTECTORA DE ESCRAVOS E LIBERTOS.
-- 1868 - JULHO (?) - Abolição do trabalho forçado. A legislação anterior sobre a Abolição da Escravatura estava quase sem aplicação. Quase ninguém a respeitava !

-- 1869 - FEVEREIRO - 25 - Abolição total e imediata da escravatura em todo o território de PORTUGAL ultramarino, tendo em atenção o Decreto de 14/12/1854, mas devendo então os escravos libertos trabalharem até 29 de Abril de 1878 para os mesmos patrões e proibindo a situação de vadiagem, conforme fora determinado pelo Decreto de 29/4/1858, antecipando a sua execução. -- (V. 25/2/1859) --

-- 1869 - AGOSTO (?) - Nos EUA nem com a derrota dos sulistas os negros recuperaram muitas das suas terras e bens, nem os seus direitos, tendo de trabalhar como empregados, ou de tomá-las de arrendamento (parcerias). Houve, porém, distribuições de terras para agricultura ("Homesteads"), mas a classe burguesa, branca, procurava diminuir ou anular o valor dos negros, receando pelos seus lugares e privilégios, explorando-os o mais que podiam !

-- 1870 - OUTUBRO - 25 - Extingue-se o trabalho forçado e foi decretada a Abolição definitiva de "exportação" de escravos.
-- No cais de LUANDA existia uma cadeira de mármore onde o Bispo baptizava as centenas de escravos utilizados nos remos dos navios.

-- 1874 - DEZEMBRO - 31 - Ainda existiam em ANGOLA 58.061 escravos e 31.768 "libertos". Durante este ano morreram 116 soldados europeus.
-- 1875 - ABRIL - 12 - Novo decreto que prevê a existência do trabalho por contrato após a cessação do trabalho como escravo, regulamentando os respectivos salários.

-- 1875 - ABRIL - 29 - Carta de Lei que decreta a efectiva a abolição dos "Libertos" a partir de 1876, seguida de 2 anos de tutela pública nos termos do seu artigo 2º(até 1878) durante os quais ainda era obrigatória a sua contratação e dando preferência ao anterior patrão (artº 5º), de forma a evitar a vadiagem em todo o território português.
O Ministro SÁ DA BANDEIRA foi um grande impulsionador desta lei,referendada pelo Ministro da Marinha e Ultramar, ANDRADE CORVO.

-- 1875 - NOVEMBRO - 28 - Chegada a LUANDA da expedição de VERNET CAMERON... Teve contactos na LUNDA com negreiros e traficantes portugueses que lhe deram um lamentável apoio praticando atrocidades..... Os seus parceiros, negreiros, destruíram duas aldeias, eliminando 1.500 residentes para capturarem 50 escravos !
-- 1875 - DEZEMBRO - 20 - Foi regulada a execução da Lei de 29 de Abril sobre o trabalho retribuído e o fim da condição servil dos libertos - (Regulamento Geral do Trabalho Indígena). Era um Código de Trabalho.

-- - 1876 - FEVEREIRO - 2 - Abolição completa da escravatura em PORTUGAL e em todos  territórios ultramarinos, incluindo S. TOMÉ E PRÍNCIPE, ainda não abrangidos anteriormente. Esse passa a recrutar serviçais angolanos sob a forma de "contratos de trabalho". Era assim o corolário de uma série de medidas que vinham sendo tomadas há bastantes anos !

-- 1877 - DEZEMBRO - 31 - Durante o ano o BANCO NACIONAL ULTRAMARINO (BNU) comprara mais 240 escravos que foram transportados no vapor "BENGUELA" para S. TOMÉ. Nos vapores da EMPRESA LUSITÂNIA transportaram escravos de NOVO REDONDO, onde se encontravam "armazenados" !  Mais de 300 foram ainda exportados no brigue "PENSAMENTO"!

-- 1878 - ABRIL - 29 - Cartas de Lei que extingue a servidão em todo o Ultramar Português, conforme estabelecia o Decreto de 29/4/1858, por ocasião do casamento de D. PEDRO V. Era o final do período fixado para terminar por completo a escravatura, ficando no entanto proibida a vadiagem (sistema aproveitado para desvirtuar a lei e manter à mesma o trabalho obrigatório, inclusive da parte do próprio governo num outro tipo de escravatura!)

-- 1878 - NOVEMBRO - 21 - Decreto que aprova o Regulamento Geral do Trabalho Indígena e o do contrato de trabalhadores ("serviçais") e "colonos" nas Províncias de África, de elevado nível e mesmo apreciado pelos estrangeiros que o adoptaram para as suas colónias ! Estabelece a Curadoria Geral.
Mas, o seu espírito era talvez "avançado" demais para aquela época, provocando de imediato fortes oposições ! Embora terminasse "definitivamente" com a escravatura permitia porém que continuasse o trabalho obrigatório para combater a vadiagem, como estava legislado desde 1875.
-- DEZEMBRO - 31 - Muito embora todas as boas intenções dos governos ainda existiam em ANGOLA cerca de 90.000 escravos considerados "libertos", porém sujeitos ao trabalho obrigatório !
-- 1879 - ABRIL - Trabalhadores de QUICOMBO fazem uma tentativa de revolta, sendo os seus chefes presos e mandados para LUANDA.

-- 1883 - - Apesar da Portaria de 1854 sobre a Abolição do Trabalho obrigatório dos carregadores pelo interior, ANDRADE CORVO afirmava ..."continuavam a fazer-se os transportes de mercadorias do interior à cabeça dos negros, brutalizados e sacrificados"....."calculam-se em 100.000 carregadores os que por ano passam o Lucala para conduzir mercadorias ao Quanza"...

-- 1885 - JANEIRO - 22 - Apresentação do TRATADO DE SIMULAMBUCO (NGOYO)ao governo português, representado por GUILHERME DE BRITO CAPELO,... pela regência de NGOYO...Ficou acordado a criação dum protectorado português a quem, voluntariamente reconheciam a soberania, devendo manter a integridade de todo esse território e garantindo-lhes a posse de suas terras e obrigando-se a não fazerem acordos com nações estrangeiras e a não permitirem o tráfico de escravatura.
-- 1885 - FEVEREIRO - 26 - Chegara ao fim a CONFERÊNCIA DE BERLIM. O Estado Independente do CONGO adere ao conhecido ACTO GERAL já assinado pelas 14 potências participantes.... Estava estabelecida a "Bacia Convencional do ZAIRE" (artº 3º) e sua neutralidade, liberdade de comércio (artº 1º), bem como : - a proibição total do tráfico de escravatura e as obrigações da sua repressão (artº 2º), sob fiscalização da Comissão Internacional do CONGO e com punição aos transgressores ...
-- 1889 - NOVEMBRO - 18 - CONFERÊNCIA DE BRUXELAS contra a escravatura e o tráfico, com todos participantes da anterior CONFERÊNCIA DE BERLIM e o Estado do CONGO. Foi convocada por LEOPOLDO II, na defesa dos seus próprios interesses e os da BÉLGICA, a cuja coroa legara, por testamento, os seus direitos. Pretendiam ainda a revogação da isenção de direitos na bacia do ZAIRE.

-- 1890 - JULHO - 2 - Assinatura do "ACTO GERAL" da CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE BRUXELAS, iniciada em 18/11/1889, tendo ficado fixadas as penalizações e a repressão sobre o tráfico de escravos no mar, inclusive contra as intervenções árabes, aliados num pacto, bem como sobre a utilização de armas de fogo, munições e bebidas alcoólicas no Continente Africano. Foi ainda regulamentada a utilização das estradas e vias férreas no trânsito das caravanas, no transporte e no controle dos escravos por via terrestre.

-- 1893 - AGOSTO - PADREL regressa de LUANDA a NOVO REDONDO com uma coluna e avança mais uma vez sobre o refúgio do CUVO (na confluência com o UCHILO)...
...As ilhas de SANGA, CUVO e UCHILO continuavam como refúgio dos escravos acoitados, aliados depois a ladrões, vadios e bandoleiros!
-- 1894 - FEVEREIRO - 28 - Concedida à "COMPANHIA DE MOSSAMEDES" (de franceses e ingleses)numa imensa área de terrenos, superior a 190.000 km/2, desde o litoral à fronteira oriental, incluindo CASSINGA, licença para a pesquisa de ouro, anteriormente já efectuada por diversos indivíduos, incluindo os boers. Estes já não estavam satisfeitos com a política de Abolição da Escravatura, também já defendida pelos ingleses naquele território.
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-- 1120 - Terminara a escravatura nas terras pertencentes à ABADIA DE PETERBOROUGH.
-- ? - ..."Alguns dos primeiros cristãos eram eles próprios escravos convertidos, enquanto outros eram proprietários de escravos "pagãos". Por outro lado, à medida que as instituições religiosas se espalhavam pelo Europa e se tornavam proprietárias de terras, aceitavam como natural que os escravos iriam trabalhar as terras da igreja, tal como já faziam nas terras dos outros proprietários. Por exemplo, em Inglaterra, as igrejas foram dos últimos proprietários a possuir escravos nas suas terras"...(transcrito da obra "UMA HISTÓRIA DA ESCRAVATURA" - de JAMES WALVIN -2008 -
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-- 1240 - Mercadores catalães compravam escravos no Norte de ÁFRICA, que depois eram vendidos em MAIORCA e BARCELONA. Esse "negócio" funcionava a coberto da lei das "SETE PARTIDAS".
-- 1261 - Os genoveses controlavam , com monopólio, o grande negócio da escravatura na zona do MAR NEGRO !
-- 1363 - As autoridades de FLORENÇA autorizavam a importação de escravos "pagãos".
-- 1393 - Em GÉNOVA, um mercador afixava um anúncio para a compra de uma... "pequena escrava, jovem e rústica, entre os oito e os dez anos, bem constituída, capaz de aguentar trabalho duro"...
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-- 1428 - Em MAIORCA, um décimo da população era de escravos.
-- 1430/40 - Os primeiros escravos levados pelos portugueses eram árabes, berberes e negros, depois negociados em LAGOS.
-- 1493 - No início da segunda viagem de COLOMBO já haviam chegado às "AMÉRICAS" muitos escravos africanos através dos "assientos" que a coroa espanhola concedera.
-- 1495 - COLOMBO envia alguns jovens índios taino ("canibais") para a corte dos "REIS CATÓLICOS" (ESPANHA), para serem ..."educados e treinados"...


-- 1500 - Uma lei brasileira proibia os escravos ("criados de tábua") de usarem sapatos.
-- 1516 - BARTOLOMEU DE LAS CASAS, Bispo de CHIPAS, justificava a "importação" de escravos como sendo pela necessidade de .."salvar os povos nativos"...
-- 1517 - LAS CASAS propõe a D. CARLOS V (ESPANHA) a substituição da mão-de-obra índia por africanos.
*- 1518 - AGOSTO - 18 - O rei de ESPANHA autorizou LORENZO DE GORREVOD a "remessa" de "quatro mil escravos negros, tanto homens como mulheres que sejam cristãos"...
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-- 1531/32 - Data provável da chegada dos primeiros negros ao BRASIL.
-- 1562 - JOHN HAWKINS,ao serviço da rainha ISABEL I,inicia o tráfico de escravos.
-- 1570 - Carta Régia - Publicação das primeiras(?) leis sobre a proibição de utilizar escravos índios nos diversos trabalhos. Mas, estabelece o direito da escravidão dos índios aprisionados em..."guerra justa"...agressão dos indígenas ou recusa de submissão aos colonos). Eram então todos como novos trabalhadores e de pouca resistência física. Assim, passam a adoptar a sua substituição por trabalhadores africanos, especialmente nas zonas de PERNAMBUCO e da BAHÍA, embora ali chegassem com elevados custos e muitas baixas durante as viagens, o que tantas vezes atingia os 50%.
Nessas zonas eram então utilizados no negócio do pau-brasil e nas plantações e engenhos da cana-de-açúcar ("propriedade canavieira"), onde os grandes senhores também exploravam os pequenos cultivadores, de menores rendimentos e sem grandes capacidades de possuírem os seus próprios engenhos, sujeitando-se ("fazendas obrigadas")às regras impostas pelos mais fortes. Além de receberem apenas metade do açúcar extraído a partir do seu canavial, ainda tinham de pagar um "arrendamento" das terras que por vezes atingia os 20% daquele valor !
É certo que a montagem dum engenho açucareiro se tornava bastante complicada e onerosa, sendo necessário montar as mais diversas instalações e aparelhagens, embora ainda muito rudimentares : - moenda - caldeira - casa de purgar - dormitórios e refeitórios para os inúmeros empregados (a maioria escravos). Todos eles ficavam na dependência e controle da "CASA GRANDE"(residência dos senhores, empregados de mais nível e dos escravos domésticos).
Além do açúcar ainda obtinham a aguardente que servia de negócio local e de exportação para ÁFRICA, como moeda de troca pelos escravos que dali eram despachados de qualquer forma, tantas vezes com a conivência de governantes e dos chefes tribais !
No BRASIL existiam então 110 "moinhos" de cana-de-açúcar
-- 1575 - Depois de iniciadas as explorações de cana-de-açúcar em PERNAMBUCO e na BAHÍA, registaram-se maiores procuras da mão-de-obra escrava africana.
-- 1580 - Até esta data foram "exportados" 1.500.000 escravos de ANGOLA para o BRASIL e EUROPA.
- 1584 - Na "Informação dos Primeiros Aldeamentos da Bahia" constava que mais de 80 mil almas tinham descido do sertão para serem escravizados e .." Vão ver agora os engenhos e fazendas da Bahia, achá-los-ão cheios de negros da Guiné e muito poucos da terra e se perguntarem por tanta gente, dirão que morreu, donde se bem mostra o grande castigo de Deus dado por tantos insultos como são feitos, e se fazem a`^estes índios, porque os portugueses vão ao sertão e enganam esta gente, dizendo-lhes que se venham com eles para o mar, e que estarão em suas aldeias, como estão em sua terra e que seriam seus vizinhos"...
-- 1587 - AGOSTO - 22 - Termina o trabalho obrigatório dos índios nas plantações brasileiras, sendo substituídos pelos escravos africanos, salientando-se a influência do padre ANTÓNIO VIEIRA.

-- 1587 - Num "Capítulo" de GABRIEL SOARES DE SOUSA, constava a seguinte Informação : ..."Costumam os padres irem pelas fazendas da Baía e confessar a gente que per ela está espalhada nos engenhos e fazendas, onde são muito servidos e agasalhados. Os quais confessam os negros de Guiné e índios da terra; casam os que estão em ruim estado que podem ser casados e fazem cristãos os que o não são. Enfim trabalham para os pôr em bom estado e à volta destas boas obras perguntam-lhe na confissão como foram resgatados, e donde são naturais e se acham que não foi o resgate feito em forma, dizem aos índios que são forros e que não podem ser escravos, que se quiserem ir para suas aldeias que lá os defenderão, e farão pôr em sua liberdade, com o que fizeram e fazem fugir muitos escravos destes e os recolhem nas suas aldeias, donde seus senhores os não podem mais tirar, do que nasceram grandes desmandos, e ódios e há muitos homens que não querem consentir que os padres vão a suas fazendas e outros que defendem seus escravos que se não confessem com os padres nem falem com eles quando vão a suas fazendas, onde se não fazem as outras obras tão santas per atalharem a estes danos que, à volta delas, lhe nascem, sobre o que havia também muito que dizer"...
*- 1591 - DEZEMBRO - Desde 1575 terão entrado em PORTUGAL e AMÉRICAS mais de 50 mil escravos negros, rendendo um imposto de 4 mil réis por cabeça.

-- 1595 - Foi publicado um Decreto que limitava a utilização dos índios como escravos.

-- 1600 - Nesta altura já teriam sido "despachados" para as plantações de açúcar do BRASIL mais de 50 mil escravos africanos.
-- 1601 - O Imposto sobre as exportações de escravos de ANGOLA para o BRASIL era, em S. PAULO DE LUANDA, de 4 tostões. A coroa cobrava 3$000 réis para o BRASIL, mas, nas remessas para PERNAMBUCO, chegavam a aplicar 160$000 réis por cabeça !
-- 1609 - JULHO - 30 - Proibição do cativeiro dos índios, considerando-os com direitos iguais aos restantes colonos.
-- 1612 - JULHO - 2 - Num leilão realizado no BRASIL, constataram que 70 % dos escravos tinham sobrevivido e que foram vendidos a 28.000 réis por "peça" !
-- 1619 - Os holandeses transportaram os primeiros escravos africanos para JAMESTOWN.
-- 1621- OUTUBRO - 20 - Alvará proibindo aos negros, mulatos ou índios .."ainda que forros aprender o ofício de ourives e usar dele".
-- 1625 - Os escravos africanos negociados para as plantações brasileiras ultrapassava os 100 mil.
-- 1626 - JUNHO - 26 - Partida de S. PAULO DE LUANDA de 30 navios com 9.000 escravos para o BRASIL.
Desse "carregamento" de escravos apenas sobraram com vida uns 150 que acabaram por ficar retidos na "ILHA DOS FRADES", para se recuperarem ou de "quarentena".
-- 1635 -- A COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS solicita ao governador da COSTA DO OURO o fornecimento de escravos para PERNAMBUCO.
-- 1637 - Uma expedição saída do RECIFE tenta aprisionar escravos na COSTA DA GUINÉ e ANGOLA. Chegam a PERNAMBUCO 1.000 escravos da GUINÉ.
-- 1638 - MAIO - 19 - Foi assinado um contrato com ROIZ DE ABREU e MANUEL FERNANDES FERREIRA, para o transporte de 30 "peças" no seu navio S. JORGE para o BRASIL, pagando o imposto de 7.000 reais cada.
-- 1640 - GASPAR BARLEUS afirmara : ..."sendo grandíssima a importância do resgate de negros no reino de Angola, por imprescindíveis aos trabalhos dos engenhos brasileiros"...
-- 1643 - DEZEMBRO - Chegada ao RECIFE da embaixada do CONDE DE SONHO (ANGOLA) no navio "AS ARMAS DE DORDRECHT", transportando 200 "escravos de oferta" para MAURÍCIO NASSAU, em troca de protecção militar contra o seu vizinho, Rei do CONGO. Além dos escravos mandara ainda..."muito ouro, prata, jóias e todas as mais alfaias"...
*- 1645 - Desde 1636 entraram no BRASIL 23.163 negros.
-- 1647 - SETEMBRO - Alvará Régio que proíbe a escravidão dos índios no BRASIL.
-- 1650 - Nos engenhos de açúcar já trabalhavam mais de 100.000 escravos, na sua grande maioria angolanos, praticando os mais rudimentares processos.
-- 1654 - SETEMBRO - 17 - O Governador-Geral de ANGOLA informa o governo de LISBOA que a média anual de exportação de escravos era de 10 a 12 mil.
-- 1655 - ABRIL - 9 - Foi estabelecido que os índios que se encontrassem livres, só deviam prestar serviços durante 6 meses, tempo superior ao que pretendera o Padre ANTÓNIO VIEIRA (4 meses) e com um intervalo de 2 meses. Os paulistas vendiam escravos índios aos "cariocas" (do RIO) e com grandes lucros. Os escravos de ANGOLA estavam..."trabalhando dia e noite, sempre mantidos com muitos açoites"...(em : "Fontes para a História do Brasil Holandês"...).
-- 1657 - MARÇO - 12 - O Governador-Geral de ANGOLA informa que cada "peça", com 15 a 25 anos de idade, custaria 22.000 réis, devendo ser vendida no BRASIL por 80.000 !
-- 1662 - O Governador-Geral de ANGOLA, VIDAL DE NEGREIROS e as altas autoridades, decidem aumentar o imposto sobre a exportação dos escravos destinados aos engenhos do BRASIL, passando a ser de 12 mil réis por "peça".

-- 1669 - O Padre ANTÓNIO VIEIRA solicitara a "importação" anual de 200 casais africanos para as fazendas do BRASIL.
-- 1679 - DEZEMBRO - 23 - Contrato do REINO DE ANGOLA, LOANGO E BENGUELA a favor de DIOGO DA FONSECA HENRIQUES para o resgate de escravos durante 6 anos, pagando o total de ..."23 contos e 600 mil réis forros por ano"..., além de outros encargos materiais, tendo o exclusivo no transporte do marfim obtido nesses Reinos.
-- 1680 - (1682 ?) - Formação da COMPANHIA NEGREIRA DO PARÁ E MARANHÃO, sendo autorizada a traficar anualmente cerca de 600 escravos.
-- 1680 - Abolição da escravidão dos nativos (índios e outros ?).
Desde 1580 foram "exportados" para o BRASIL e CARAÍBAS, cerca de 1.500.000 escravos de "ANGOLA E CONGO", destinados aos seus engenhos de açúcar.
-- 1681 - Destruição do Quilombo de PALMARES por DOMINGOS JORGE VELHO. Ali se tinham refugiado alguns milhares de escravos, mesmo dos libertos.

-- 1682 - A COMPANHIA DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO obteve autorização para traficar anualmente 10 mil escravos para o BRASIL.
-- 1682 - JOHN BARBOT, em "A Description of the coasts of North South Guinea..." - in Elizabeth Donnan,ibidem,p. 293 - relata as seguintes situações : ..."Quando os escravos começam a chegar a Fida ("Benim"), vindos das terras do interior, são postos todos juntos, numa barraca ou prisão, construída perto da praia de propósito para os recolher. Quando é chegada a altura de os europeus os receberem, eles são levados para uma vasta planície onde os médicos os examinam todas as partes de cada um deles, estando todos eles,até ao mais pequeno, homens e mulheres, completamente nus. Aqueles que são tidos por saudáveis e robustos são reunidos para um lado, enquanto os outros são postos de parte. Estes escravos assim rejeitados são chamados "mackrons" e podem ser recusados por terem mais de trinta e cinco anos, por terem imperfeições nos membros, olhos ou dentes, por terem o cabelo grisalho ou uma doença venérea ou outro género de imperfeição. Enquanto estes seres são rejeitados, os outros, que foram considerados bons, são marcados no peito com um ferro em brasa que lhes deixa a insígnia das companhias francesas, inglesas ou holandesas, de modo que cada nação possa distinguir os seus e impedir que os nativos possam atacar este indivíduo, como muitas vezes o fazem. Há ainda o cuidado especial de que as mulheres, que tem o peito mais tenro, não sejam marcadas com muita força."...
..."(Os africanos) estão de tal modo amontoados, em condicções tão repulsivas e com tais maus-tratos, segundo as próprias pessoas que tratam do seu transporte me garantem, que chegam a estar em grupos de seis, com correntes em volta do pescoço e, ao mesmo tempo, estando dois a dois com correntes em volta dos pés, de modo que estão nos porões presos da cabeça aos pés, fechados ao exterior, de modo a não verem nem sol nem lua,(e) não havendo um único espanhol que se atreva a meter a cabeça no porão sem ficar agoniado, ou que consiga permanecer lá dentro uma hora sem risco de apanhar grave doença. E é tal o fedor, a desgraça e o amontoar de gentes naquele lugar que o (único)refúgio e consolação que aqueles têm é que cada um (recebe) uma vez por dia não mais do que meia taça de farinha de milho crua ou painço, que é parecido com o nosso arroz, e uma pequena caneca de água e nada mais, para além das pancadas, das chicotadas e dos insultos. Eis o que de forma corrente acontece aos tais homens e eu creio bem que alguns dos marinheiros os tratam com um pouco mais de gentileza e piedade, especialmente agora ...(Mas, apesar disso,a maioria)chega transformada em esqueletos."
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-- 1684 - MARÇO - 28/30 - Cartas Régias sobre a regularização e disciplina do tráfico de escravatura quanto a : transporte, alimentação, assistência médica e instalações condignas.
-- 1687 - Carta remetida de PERNAMBUCO sobre a situação dos escravos refugiados em PALMARES :..."É importantíssimo mandar Sua Majestade que Deus guarde dar forma à guerra dos Palmares pelas danosas consequências que dela nascem assim a estas capitanias, como a suas frotas, por estarem os negros mui absolutos e desaforados, tanto que mandaram este ano negros fingindo-se dos moradores a persuadir os nossos escravos que se levantassem e nos matassem, que eles os viriam socorrer, o que Deus permitiu que descobrisse uma negra. Estes negros são robustos e sofredores de todo o trabalho por uso e por natureza, e são muitos em número e cada vez mais, não lhes falta destreza nas armas, nem no coração ousadia, como se viu no tempo em que governou D. Pedro de Almeida, em que se despovoaram algumas capitanias do sul pelas mortes, roubos e insolências que em contínuos assaltos faziam estes negros. E o nosso exército, que pôde domar o orgulho de Holanda naquele tempo já formidável a todo o mundo, nenhum efeito tem conseguido contra estes bárbaros em várias e repetidas entradas que fez aos Palmares com grande dispêndio da Fazenda Real, antes com o pouco dano que receberam se lhe aumentou a confiança para no-lo fazerem maior".

-- 1693 - DEZEMBRO - 20 - Decreto que permite aos negros e mulatos prestarem serviço aos alcaides e meirinhos (funcionários da Justiça).

-- 1694 - Diversos escravos fugidos dos seus "senhores" concentravam-se em "Quilombos". Um dos principais era o de PALMARES.





-- 1697 - NOVEMBRO - 16 - Carta Régia fixa o preço de venda dos escravos em 160$000.

-- 1699 - Um disposição régia autoriza e permite a entrada livre de escravos em barcos com cargas brasileiras (permuta de : tabaco, marfim, cera, madeira, barbas de baleia,etc.).

-- 1700 - MARÇO- 1 - Carta de D. PEDRO II para o governador-geral D. JOÃO DE LENCASTRE, comentando os maus tratos a que os escravos estavam então sujeitos : ... "cruéis castigos,por dias e semanas inteiras, havendo alguns que por anos se acham metidos em correntes, sendo mais cruéis as senhoras em alguns casos para com as escravas, apontando-se alguns que obram tanto os senhores como as senhoras com tal crueldade como são pingar de lacre e marcar com ferro ardente nos peitos e na cara, executando neles a mutilação de membros"..."Diz ainda de castigos que se fazem por suspensão de cordas em árvores, para que os mosquitos os estejam picando e desesperando, sobre os açoitarem e pingarem com a mesma crueldade que fazem os demais"...

-- 1700 - MARÇO - 26 - Bando do governador do RIO DE JANEIRO, ARTUR DE SÁ E MENEZES, que proibia o transporte para as Minas de escravos de cana e mandioca e por sua vez a Câmara pedia ao Conselho Ultramarino mais facilidades para a entrada de escravos africanos. A Coroa também os negociava !...
-- 1700 - Desde 1640 desembarcaram nas Américas 1.600.000 escravos africanos.
-- 1700 - JOHN BARBOT, em "JOURNEY IN THE CONGO RIVER" escrevia : ..."Os escravos estão deitados em duas filas, uma por cima da outra, e tão perto quanto podem estar amontoados...As pranchas ficam mais ou menos húmidas, ou porque o porão é lavado muitas vezes para ficar limpo, ou por causa da chuva que, às vezes, se infiltra pelos escotilhões e outras falhas, e até mesmo por causa do suor dos escravos que, devido ao facto de eles estarem amontoados de tal maneira, é praticamente contínuo e,ocasionalmente, causa problemas ou chega mesmo a tornar-se muito perigoso para a saúde deles "...
-- 1706 - À CÂMARA DE S. VICENTE foi concedida autorização para importar 200 escravos africanos destinados às "minas".
*- 1714 - JANEIRO - 25 - Carta de D. JOÃO V ao Vice-rei do BRASIL sobre a urgente e necessária defesa da costa da Capitania da BAHÍA, bem como dum melhor e eficaz controle sobre as cobranças dos impostos sobre as mercadorias e escravos entrados, afim de obter meios suficientes para cobrir as despesas militares.
-- 1715 - MARÇO - 24 - Carta Régia sobre o aumento do tráfico de escravatura de ANGOLA para o BRASIL.
-- 1718 - MAIO - 30 - Carta Régia que autoriza o resgate de 200 escravos índios, revertendo a sua receita para ajudar a construção de uma Catedral no MARANHÃO !

-- 1720 - FEVEREIRO - 16 - Ordem Régia determina a proibição do resgate de escravos por armas e pólvora..."por serem aqueles povos infiéis"....
-- 1730 - Nos últimos 3 anos foram "exportados" 3.000 escravos de ANGOLA. Com o decréscimo da "febre do ouro" surgira a "corrida" aos diamantes.
-- 1736 - Ordem do Provedor da Alfândega da BAHÍA aos mestres de embarcações que transportavam escravos de PORTUGAL ou dos seus domínios africanos para pagarem 1 vintém por cada, bem como por um quintal de ferro ou chumbo.
*- 1738 - MARÇO - 7 - Provisão que autoriza FRANCISCO DA SILVA mandar ao presídio de BENGUELA uma embarcação para o resgate de escravos, pagando dez mil réis de direitos por cada um..
-- 1745 - A Bula do Papa BENEDITO XIV proibia a posse ou transacção de escravos índios.
*-- 1751 - OUTUBRO - 14 - Alvará de proibição da ..."passagem de negros"...para terras que não fossem dos domínios portugueses, sob pena de degredo dos contrabandistas e perda dos escravos.
*- 1753 - ABRIL - 7 - D. JOSÉ I envia ao Conselho Ultramarino o Alvará que legitima o contrato de ..."direito de resgate"... concedido a MANUEL BARBOSA TORRES, em : ANGOLA, LOANGO E BENGUELA.
-- 1754 - JANEIRO - 18 - MENDONÇA FURTADO pretendia a utilização da mão-de-obra africana para substituir a dos índios, a cargo duma certa Companhia.

-- 1755 - MARÇO - 12 - Uma provisão do Conselho Ultramarino determinava que ..."os pretos e mulatos que andassem armados receberiam 100 açoites em lugar de 10 anos de galés. Uma solução de que beneficiavam os senhores dos engenhos por não ficarem sem os seus escravos !

-- 1755 - JUNHO - 6 - Lei que concede liberdade aos índios. A lei concedera "certa" liberdade mas continuava a considerar como escravos os mestiços dos índios, filhos de mãe negra escrava.
Apenas podiam ser classificados livres "metade" dos índios, considerando-se os restantes como uma "reserva de mão-de-obra do Estado" e, mesmo a outra "metade", devia prestar serviço obrigatório aos particulares durante 6 meses em cada ano !
Os escravos africanos podiam adquirir a sua liberdade por "alforria", tornando-se então "escravos forros". Esse direito podia ser comprado pelo valor atribuído na sua venda ou mesmo superior. No entanto não passava de uma teoria e muitos patrões negavam-se a respeitar esse princípio. Outra hipótese era por morte do patrão ("forro por testamento", como praticavam com os filhos ilegítimos duma escrava e seu senhor solteiro). A "carta de alforria" devia ser registada por tabelião e podia ser ainda concedida no caso dos "afilhados" registados em baptismos paroquiais.
O direito oficial à liberdade também podia ser adquirido : - por casamento, por denúncia de sonegação de diamantes contra a entidade patronal (o mesmo acontecia com o pau-brasil) e quando o escravo tivesse a sorte de encontrar um diamante com mais de 20 quilates, recebendo o "senhor" uma parte do seu valor pois estava obrigado a entregá-lo à entidade responsável pelo seu controle.

-- 1756 - MARÇO - 30 - Provisão que facilitava..."o uso franco da navegação para a Costa da Mina a todos os que lá quisessem ir e mandar comerciar em embarcações que não excedessem o número de três mil rolos, como principal fundamento de ficarem sendo contínuas as utilidades e de abundarem os escravos em preços cômodos no recôncavo, sertões e minas daquele dilatado continente"...
-- 1757 - Comerciantes da BAHÍA pediram a D. JOSÉ que autorizasse a formação duma nova Companhia para lhes fornecer escravos da COSTA DA MINA..."sem eles os colonos receberiam um irreparável prejuízo a um comércio que se encontrava em tão decadente estado"... (v. "Anais" da Biblioteca Nacional - vol. XXXI - doc.2.804 - 1913).
Esses ditos comerciantes preferiam os escravos angolanos, alegando que eram... "mais domáveis e em melhor preço"...
-- 1760 - DEZEMBRO - Durante o ano 150 barcos ingleses carregaram mais de 30 mil escravos africanos.


-- 1761 - NOVEMBRO - 17 - Decreto que proíbe aos navios de regresso da ÍNDIA, a passagem por portos brasileiros, porque antes trocavam as mercadorias em LUANDA e donde levavam escravos.
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-- 1770 - MARTINHO DE MELO CASTRO, Secretário de Estado,confessava não poder ver ..."sem grande dor que os nossos domínios do Brasil tenham absorvido em si todo o comércio e navegação da costa de África, com total exclusão de Portugal, e que aquela parte que os brasileiros não fazem, pára todo em poder das nações estrangeiras"...
-- 1770 - Publicação de "Historie philosophique et politique"... do Abade Raynal.

-- 1771 - AGOSTO - 6 - Publicação duma Portaria que proibira o casamento de militares (e outros) com nativas, como sucedeu com a despromoção dum capitão-mor índio porque..."se mostrara de tão baixos sentimentos que casou com uma preta, manchando o seu sangue com esta aliança, e tornando-se assim indigno de exercer o referido posto"...

-- 1772 - JUNHO - 19 - Alvará sobre a proibição de entrada de navios da Índia nos portos de ANGOLA, evitando a concorrência do algodão que era produzido pela mão-de-mão escrava no BRASIL.

-- 1773 - JANEIRO - 16 - Alvará permitindo aos pretos libertos o acesso a cargos públicos.

-- 1773 - Foi consignada a libertação de todos índios do BRASIL, mas mantendo-se no entanto como escravos e até à sua morte, os seus pais e avós !

*- 1776 - FEVEREIRO - 22 - Aviso do Marquês de POMBAL que proíbe a libertação de escravos "marinheiros" em serviço nos navios de comércio, contrariando o disposto em 19/09/1761.
-- 1778 - Extinção da escravatura... ?
-- 1780 - A interdição da escravatura no MASSACHUSETTS, na PENSILVÂNIA e na NOVA INGLATERRA, favorece a campanha da "SOCIEDADE LONDRINA DOS AMIGOS DOS NEGROS" sob grande influência de WILBERFORCE, enquanto em FRANÇA se destacava BRISSSOT DE WARVILLE (talvez com LA FAYETTE, CONDORCET, MIRABEAU, etc.)
-- 1781 - NOVEMBRO - LUKE COLLINGWOOD, capitão do ZONGS (ZUNG), em LIVERPOOL, mandou atirar ao mar 133 escravos por dificuldade de provisões e alegando em sua defesa..."que se os escravos morressem de morte natural seria uma perda dos donos do navio, mas se fossem atirados ao mar seria uma perda para os seguradores", desculpando-se ainda com o argumento de que ..."não seria tão cruel atirar os desgraçados doentes, ao mar como seria deixá-los continuar a sofrer as dores de que sofriam, ou lhes disse algo com tal sentido..." !
-- 1784 - JOHN SMITH relata os "entretenimentos musicais" dos escravos : ..."Em vez de se retirar para repousar, como se esperaria que ele (o escravo) fizesse com gosto, normalmente sai de casa e caminha até nove ou dez quilómetros durante a noite, não interessa como esteja o tempo, até um baile de negros onde ele dança com espantosa agilidade (...) até ficar exausto e ter apenas o tempo e a energia suficientes para voltar para casa antes de ser chamado ao trabalho na manhã seguinte"...

-- 1787 - MAIO - Formação da COMISSÃO PARA A ABOLIÇÃO DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS, por grande influência de THOMAS CLARKSON e WILLIAM WILBERFORCE, apoiados pelos "quakers" e pelos anglicanos evangélicos.

-- 1787 - OTTOBAH CUGOANO, que serviu como escravo durante cerca de 10 anos
nas CARAÍBAS, (depois de 1770),  publicou o panfleto "REFLEXÕES E SENTIMENTOS SOBRE O VIL E MALIGNO TRÁFICO DE ESCRAVATURA E COMÉRCIO DA ESPÉCIE HUMANA", criticando essa condenável prática e relatando a sua viagem para GRANADA num navio negreiro :
..."Mas, quando chegou uma barcaça para nos levar para o navio, assistiu-se à mais terrível visão : apenas se ouvia o restolhar das correntes, o estalar dos chicotes e o gemidos e gritos dos nossos companheiros. Alguns nem se mexiam do chão quando eram chicoteados e espancados da forma mais brutal. Já esqueci o nome desta fortaleza demoníaca, mas fomos levados nesse barco para outro que estava pronto para partir da costa do Cabo. Quando fomos levados para esse navio, vimos vários mercadores negros a subirem a bordo, mas fomos empurrados para os nossos buracos e impedidos de falar com qualquer deles. Foi nesta situação que permanecemos ainda vários dias à vista da nossa terra natal, mas eu não tinha qualquer pessoa a quem pudesse passar informações sobre a minha situação para Accasa, em Agimaque(*). Quando, finalmente fomos levados, a morte tornou-se preferível à vida e foi combinado um plano entre nós para incendiar-mos e destruirmos o navio e perecendo juntos nas chamas. Contudo, fomos traídos por uma das nossas compatriotas, que dormia com alguns dos oficiais do navio -- pois é prática comum destes imundos marinheiros tomarem algumas mulheres africanas e deitarem sobre os seus corpos -- pelo que os homens foram acorrentados e metidos nos buracos. Restavam as mulheres e os rapazes para queimar o navio, com a aprovação e gemidos dos outros, mas, embora o plano fosse descoberto, tal descoberta deu origem a mais uma cena sangrenta e cruel.
..."Será desnecessário descrever aqui todas as horríveis cenas a que assistimos e o tratamento vil com que nos deparámos na nossa terrível situação de cativos, pois são bem conhecidos milhares de casos semelhantes que sofrem devido a este infernal comércio"...
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..."Os gritos de alguns e a visão da sua miséria podem ser vistos e ouvidos de longe, mas os gemidos cavos de milhares e a profunda tristeza da sua miséria e sofrimento sob a pesada carga da opressão e calamidades que lhes são infligidas são tais, que apenas distintamente podem ser escutadas aos ouvidos de Javé dos exércitos"...

-- 1788 - Relato de ALEXANDER FALCONBRIDGE , em "Account of the Slave Trade on the Coast of Africa" : - ..."Mas, ao mesmo tempo, estão colocados tão perto uns dos outros que não podem ter outra posição senão a de deitados de lado. Nem mesmo a altura do porão, a menos que estejam debaixo da grade, lhes permite o alívio de se colocarem de pé, especialmente onde haja plataformas,o que é normalmente o caso. Estas plataformas são uma espécie de prateleiras, com dois metros e meio ou dois metros e setenta, que se prolongam desde o lado do navio até ao seu centro. São colocadas a meio caminho entre porões, a cerca de meio ou um metro de cada porão. Nestas plataformas são colocados os negros da mesma maneira que são colocados no porão abaixo...
..."Em cada uma das divisões são colocados três ou quatro baldes grandes, de forma cónica, com cerca de meio metro de diâmetro no fundo e apenas um no topo, tendo um profundidade de setenta centímetros, ao qual recorrem os negros quando deles têm necessidade...Nesta situação aflitiva, impedidos de chegar aos baldes, muitos desistem de o fazer e, como as necessidades da natureza não podem ser evitadas, aliviam-se nos seus próprios lugares..."
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-- 1788 - Descrição de JOHN NEWTON : ..."E soube de um homem branco que foi enviado lá para baixo, para junto dos homens, para os arrumar em filas o melhor que pudesse, de modo a perder-se o menor espaço possível. Que se diga que as pobres criaturas, já tão amontoadas com falta de espaço, ainda estão acorrentadas entre si, de mãos e pés, o que faz com que seja muito difícil virarem-se ou tentarem levantar-se ou deitar-se sem se magoarem a si próprias ou umas às outras"..."O calor e o cheiro destes alojamentos, quando o clima não permite que os escravos sejam trazidos ao convés e as suas acomodações limpas todos os dias, seria quase insuportável para uma pessoa que a eles não estivesse habituada. Se os escravos e os seus alojamentos puderem ser constantemente arejados e eles não estiverem detidos por muito tempo a bordo, talvez não morram muitos deles. Mas o contrário costuma ser o que lhes cabe. O tempo faz com que fiquem fechados no porão, respirando o ar contaminado, por vezes uma semana inteira, o que, juntando o peso das suas grilhetas e o desespero que toma conta dos seus espíritos por se verem assim aprisionados, rapidamente se torna fatal. E todas as manhãs se encontram, talvez, mais do que um caso destes, em que vivos e mortos, como os de Mezentius (rei etrusco), são encontrados acorrentados juntos..."



-- 1788 - A "LEI DE DOLBEN" impõe restrições e obrigações sobre o transporte de escravos africanos pelos negreiros.
-- 1789 - MAIO - Num debate no Parlamento, WILLIAM WILBERFORCE apresentava as suas famosas 12 proposta e afirmava : ..."Um relatório do Conselho Privado de sua Majestade que, creio, todos os cavalheiros terão lido, afirma claramente que o comércio de escravos é tão justo na prática como, na teoria, nós sabemos que ele deva ser. Quais é que nós devemos imaginar que sejam as consequências de mantermos um comércio de escravos com a África ? Com um país tão extenso no seu território e não completamente bárbaro, mas apenas infimamente civilizado ? Não é óbvio que este irá sofrer por isso ? Que a civilização deverá ser posta em causa, que modos bárbaros se tornarão ainda mais bárbaros e que a felicidade dos seus milhões de habitantes será posta em causa pela sua relação com a Grã-Bretanha ? Será que não é óbvio para todos que um comércio de escravos, praticado em redor das suas costas, implica a violência e desolação do seu centro ? Num continente a emergir da barbárie, se se estabelecer um comércio de homens, e se os seus homens forem todos convertidos em objectos e se tornarem bens que podem ser trocados, segue-se necessariamente que eles se tornam alvo de rapina, como acontece com os bens. E isto num período da sua civilização em que não existe uma legislatura que defenda este seu único género de propriedade, do mesmo modo como os direitos de propriedade são mantidos pela legislatura de todos os países civilizados. Vemos, por isso, na própria natureza das coisas, como se torna fácil prever as práticas de África. Os seus reis nunca são impelidos para a guerra, que se saiba, por princípios públicos, pela glória nacional e ainda menos pelo amor das suas gentes. Na Europa, a extensão do comércio, a manutenção da honra nacional ou algum grande objectivo público são motivos de guerra de todos os monarcas, mas, em África, as razões são a cobiça pessoal e a sensualidade dos seus reis. Estes dois vícios (...) somos nós que os estimulamos em todos estes príncipes africanos e dependemos deles para a própria manutenção do comércio de escravos. O rei de Barbessin (*) deseja aguardente ? Basta-lhe enviar as suas tropas durante a noite para queimar e pilhar uma aldeia, sendo que os cativos servirão de objecto para serem trocados com o comerciante inglês"... (*) - "Reino independente na zona do Senegal" --

-- 1789 - WILLIAM BLAKE, no seu poema "O MENINO NEGRO", "cantava" : ..."Eu nasci muito longe, lá pró Sul, / Eu sou negro, sim, mas minha alma é branca; / Branco como um anjo é o menino inglês, / Mas eu, como o escuro, de negra tez."...--- ..."Minha mãe, antes do sol abrasar, / À sombra duma árvore se sentou / Aconchegou-me ao colo e, ao beijar-me / Apontando p´ra leste assim falou :... --- ..."Olha o sol a nascer, ali Deus mora / E dá luz e calor a toda a gente, / Aos bichos, aos homens, a toda a flora; / Faz o dia alegre e a manhã quente"/...

-- 1789/90 - Carta do Governador de ANGOLA, D. MANUEL ALMEIDA VASCONCELOS, 3º Barão de MOÇÂMEDES, solicitando o envio de apoio militar para impedir que os franceses comprassem escravos libertos ..."por um gentio"... que cercara um presídio.
-- 1790 - Nos EUA existiam 700 mil escravos espalhados pelos seus Estados, principalmente nos do Sul.
Nesta altura, nas diversas e extensas plantações do BRASIL (açúcar,café, arroz, tabaco,etc), trabalhava UM MILHÃO DE ESCRAVOS NEGROS !
-- 1791 - NOVEMBRO - 1 - Carta de D. MANUEL ALMEIDA VASCONCELOS, Governador de ANGOLA, dirigida a D. JOSÉ LUIZ DE CASTRO, solicitando a remessa de alimentos para os habitantes em consequência da guerra no sertão e para que pudesse ser garantida a..."continuidade do transporte de escravos à América"...
-- 1792 - A Câmara dos Comuns inglesa aprova, com grande maioria, as propostas apresentadas por WILBERFORCE sobre a Abolição da Escravatura (posteriormente vetadas na Câmara dos Lordes !).

-- 1793 - WILLIAM COWPER publica o poema "O LAMENTO DO NEGRO", de que destacamos esta tremenda verdade :..."Levado do lar e do bem-estar caseiro,/ Da costa de África me vi apartado. / Para engrossar os tesouros do estrangeiro / Sobre as grossas ondas fui transportado. / Em Inglaterra me venderam e compraram, / Pagando o meu preço em reles ouro; / Mesmo se como escravo me registaram, / O espírito não se vende como couro."...

-- 1794 - NOVEMBRO - 10 - Carta de D. MANUEL DE ALMEIDA E VASCONCELOS, Barão de MOÇÂMEDES, para o Vice-rei do BRASIL, D. JOSÉ LUIZ DE CASTRO,comunicando o envio de ..."uma arqueação" completa de escravos para o RIO DE JANEIRO, na corveta "NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM",devendo a mesma regressar com ..."cavalos para as tropas de BENGUELA"...

-- 1798 - JANEIRO - 28 - Termo de Fiança de D. MIGUEL ANTÓNIO DE MELO para D. JOSÉ LUIZ DE CASTRO, sobre o transporte de escravos de ANGOLA, devendo serem respeitadas as normas estabelecidas, em especial contra os super loteamentos.

-- 1798 - No BRASIL existiam cerca de 406.000 negros livres.
-- 1799 - FEVEREIRO - 13 - O Governador D. FERNANDO PORTUGAL manifesta o seu receio de que surgisse uma revolução de escravos.
-- Desde 1700 cerca de 2 milhões de escravos africanos tinham sido "exportados" para o BRASIL.
ª- 1799 - NOVEMBRO - 8 - Carta do Governador de ANGOLA para o Vice-rei do BRASIL, JOSÉ LUÍS DE CASTRO, sobre a demora e as dificuldades verificadas com as remessas de novos escravos e na venda dos produtos importados, principalmente na época das secas ou das grandes chuvas (em ANGOLA).

-- 1800 - Durante o século XVIII foram enviados para as Américas cerca de 6 milhões de escravos africanos.

-- 1803 - 23 navios do BRASIL transportaram 9.397 escravos de ANGOLA (LUANDA - BENGUELA).
-- 1803 - DEZEMBRO - Desde a sua fundação (1755)a activa COMPANHIA DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO "exportou" para o BRASIL 650 mil escravos de ANGOLA, embora já estivesse extinta a escravatura desde 1778!
-- 1803 - Os ingleses ocupam a TASMÂNIA com 500 mil habitantes, considerados "selvagens" e tratados como animais, destroem as suas habitações para ali instalarem uma capital.


-- 1804 -
-- 1804 - 60% dos escravos existentes no BRASIL eram locais (nativos).
-- 1805 - JANEIRO - 11 - Enviados ofícios e processos sobre a remessa de 63 escravos ilegais, de LUANDA para o RIO DE JANEIRO, na nau "NOSSA SENHORA DE BELÉM".

-- 1806 - JANEIRO - O primeiro-ministro WILLIAM PITT concorda com a abolição do comércio de escravos para novos territórios.
-- 1806 - MAIO - Aprovação no Parlamento inglês do "ACTO DE COMÉRCIO EXTERNO DE ESCRAVOS"
-- 1807 - JANEIRO - A INGLATERRA decretara a Lei da Abolição do Tráfico nas suas colónias e passara a ser a sua principal defensora, depois de já ter transportado pelo ATLÂNTICO mais de TRÊS MILHÕES,DUZENTOS E CINQUENTA MIL ESCRAVOS !...

-- 1807 - MAIO - 1 - A "LEI DE ABOLIÇÃO DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS" determina o seu fim na GRÃ-BRETANHA e a aplicação de severas punições pecuniárias contra os seus transgressores, com destaque para os dirigentes da "SOCIEDADE DA AMIGOS DOS NEGROS"

-- 1807 - DEZEMBRO - 3 - Ofício que informa o Príncipe-regente, D. JOÃO, sobre uma embarcação que transportava escravos de ANGOLA para a BAHÍA sem ter pago os respectivos direitos alfandegários, alegando tratar-se dum barco de guerra.

-- 1807 - Nos últimos 3 anos a COMPANHIA DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO transportou para o BRASIL mais de 50 mil escravos angolanos, totalizando, desde 1755, cerca de 700 mil, enquanto os EUA proibiam qualquer entrada de escravos.
-- 1807 - Durante este ano registou-se uma Revolta de escravos negros na BAHÍA.

-- 1808 - JANEIRO - 1 - Entrada em vigor da lei Britânica que abolira o comércio de escravos.
-- 1808 - NOVEMBRO - 5 - Carta Régia permite a detenção particular de índios, mantendo-os durante 15 anos como "prisioneiros de guerra".

-- 1810 - "TRATADO DE COMÉRCIO E DE PAZ E AMIZADE" com a INGLATERRA, não esquecendo a questão da escravatura.
-- 1810 - Exportações - De ANGOLA para o RIO DE JANEIRO (BRASIL) : - 8.839 escravos (incluindo 212 crianças sem valor) - 4.491 arrobas de cera amarela - 86 arrobas de cera branca - 824 arrobas de marfim - Importações (do mesmo destino): - 1.462 arrobas de açúcar - 3.606 arrobas de algodão de Minas - 685 rolos de fumo.
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-- 1811 - O Parlamento inglês (nas suas duas câmaras) aprova nova lei contra a escravatura, mandando aplicar penas de prisão até cinco anos ou de degredo por 14 anos.

-- 1815 - JANEIRO - 11 - Prossegue o TRATADO DE VIENA (iniciado em 16 de Setembro de 1814). Aprova a DECLARAÇÃO DE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA,completa e imediata. PORTUGAL renunciou ao tráfico a norte do equador, mas continuaram os "fornecimentos" de ANGOLA para o BRASIL.

-- 1815 - JANEIRO - 22 - Assinatura, em VIENA, da CONVENÇÃO e TRATADO sobre a abolição gradual do tráfico de escravos. Ficava proibido o comércio de escravos..."em qualquer parte da costa de África ao norte do Equador, debaixo de qualquer pretexto ou por qualquer modo que seja"...
-- 1815 - FEVEREIRO - 8 - DECLARAÇÃO DO CONGRESSO DE VIENA sobre a proibição do tráfico de escravos.

-- 1815 - JUNHO - 8 - No RIO DE JANEIRO foi ratificado o TRATADO de 22 de Janeiro. Mantinha-se a permissão desse tráfico ao sul do Equador, anulando-se o TRATADO de 1810 !.

-- 1815 - Desde 1812 que, de "ANGOLA e BENGUELA", chegaram ao RIO DE JANEIRO, respectivamente, 20.742 e 12.995 escravos.
-- No início deste século ainda existiam 555 minas de ouro e diamantes, utilizando um total de 6.662 trabalhadores,dos quais apenas 169 eram livres.
-- 1817 - JULHO - 28 - CONVENÇÃO ADICIONAL entre PORTUGAL e a GRÃ - BRETANHA sobre a Abolição do Tráfico de Escravatura.

-- 1817 - DEZEMBRO - Desde 1815 chegaram ao RIO DE JANEIRO 18.490 escravos angolanos e a PERNAMBUCO 15.342.
-- 1818 - MAIO - Alguns dos ministros de D. JOÃO e que eram partidários de uma colonização europeia no BRASIL, assinaram um acordo para a entrada de famílias Suiças (católicas), especialmente com destino ao RIO DE JANEIRO e para serem instaladas em fazendas existentes no MORRO QUEIMADO.
-- 1818 - Existiam no BRASIL 3.800.000 habitantes, sendo : - 1.043.900 brancos, 1.930.000 negros e 526.500 mulatos
-- 1818 - Realização do Congresso de AIX-LA-CHAPELLE, sob influência dos resultados do Congresso de VIENA.
-- 1819 - Foi aprovada a Lei do Registo dos Escravos.
-- 1819 - DEZEMBRO - O comércio de escravos de ANGOLA para o BRASIL crescia anualmente, atingindo então 17.500, além da cera e marfim. Nos últimos anos ANGOLA exportara uma média de 20 a 22 mil escravos para o BRASIL.
Durante os últimos 40 anos haviam saído pelos portos de ANGOLA (S. PAULO DE LUANDA e BENGUELA)cerca de 600 mil escravos.
-- 1819 - o "Correio Brasiliense" revela a remessa de ANGOLA para o RIO DE JANEIRO, na fragata de guerra "D. PEDRO", de 3 milhões de cruzados deixados de herança do negociante JOÃO BARBOSA RODRIGUES, cuja entrada no país foi "negociada" com subornos de... "altos funcionários reais"... a favor dum herdeiro.

-- 1820 - JANEIRO - 3 - A nova "Colónia" instalada em FRIBURGO passa a considerar-se como vila.
-- 1820 - Os "colonos" ingleses ocupam as terras das TASMÂNIA procedendo a verdadeiros extermínios das suas populações, não obstante a tentativa falhada do seu Governador, WILDFORD.
-- 1821 - Crescia o negócio de escravos remetidos de ANGOLA para o RIO DE JANEIRO, tendo atingido os 20 mil. Registara-se o movimento total de 54 embarcações entre ANGOLA e o RIO DE JANEIRO.
Segundo relata JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES em "BRASIL E ÁFRICA" - 1961 - pg.126 : ..."O Rio de Janeiro e a Bahía foram os centros de todos os negócios lícitos ou ilícitos, com escravos ou com outros géneros, que se faziam na América do Sul com a África, especialmente Angola e Daomé. No Rio de Janeiro se chegava da África e daqui se partia para a África. Mas o maior negócio era o comércio ilícito de escravos, feito em zonas proibidas, por portugueses e brasileiros"...

-- 1822 - JUNHO - 16 - Mediante jogadas de bastidores e de situações indefinidas, a Comissão de Diplomacia, em Parecer enviado à Comissão de Legislação em que, propunha que :"...a lei dissesse ..."a respeito à pirataria ou às necessárias circunstâncias e requisitos que a devem regular"... e até mesmo..."que esta Convenção priva o Brasil de grandes créditos e de braços para a agricultura"...
-- 1822 - DEZEMBRO - 22 - Aprovação do "Regimento para o Corso do Brasil" contra o comércio, embarcações e propriedades dos portugueses do Reino de PORTUGAL.
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-- 1823 - JANEIRO - Fundação da SOCIEDADE PARA A MITIGAÇÃO E ABOLIÇÃO GRADUAL DA ESCRAVATURA". Na GRÃ-BRETANHA tinham surgido então cerca de 250 sociedades na luta contra a extinção da escravatura, sendo a maioria encabeçadas por mulheres
-- 1823 - MARÇO - 15 - Assinatura duma Convenção entre PORTUGAL e a GRÃ-BRETANHA sobre a Abolição do Tráfico de Escravatura,(emancipação gradual), apoiando a Convenção de 28 de Julho de 1817.
-- 1823 - ABRIL - 23 - JOSÉ BONIFÁCIO ANDRADA E SILVA afirmara a CHAMBERLAIN que o governo brasileiro estava disposto a fixar o período para terminar o tráfico sem colocar em risco a lavoura, por falta de mão-de-obra africana, enquanto o britânico desejava reduzi-lo.
Os trabalhos agrícolas estavam quase na sua totalidade a cargo dos escravos e não os havendo a sua quebra seria grande !
-- 1823 - Registou-se uma revolta dos escravos. A média anual de escravos "importados" era de 40 mil.
-- 1824 - MARÇO - 25 - Juramento da Constituição Brasileira (liberal). Considera livres os descendentes dos escravos africanos.
-- 1825 - NOVEMBRO - 23 - Convenção entre PORTUGAL, a GRÃ-BRETANHA e o BRASIL para a extinção da escravatura, uma vez que o governo português já reconhecera a sua independência.
-- TRATADO que limita as relações entre o BRASIL e ANGOLA.
-- 1826 - JUNHO - CONVENÇÃO que satisfaz as exigências inglesas sobre a Abolição do comércio de escravatura na costa africana.O BRASIL comprometia-se a efectuá-lo na sua totalidade ao fim do prazo de 3 anos,findo os quais essa actividade passaria a ser considerada "pirataria".
O Brigadeiro RAIMUNDO DA CUNHA MATOS,que estivera cerca de 20 anos em África, fundador da "Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional",criticando as consequências do TRATADO afirmava :..." os inglese querem fazer-se senhores da África... Antigamente fomos nós e no dia de hoje são os inglêses que tiram toda a vantagem destas grandes riquezas"..."Por muitas vêzes tenho declarado que não defendo o comércio de escravos por tempo indefinido, mas pergunto o que seria hoje o Brasil no caso de se seguirem as antigas leis de ciúme e desconfiança de Portugal e de não entrarem pretos para êsse continente ? Não estaria ainda hoje povoado de indígenas, vivendo no meio da barbaridade ?"
-- 1826 - NOVEMBRO - 23 - Convenção entre o BRASIL e GRÃ-BRETANHA sobre a proibição do tráfico de escravos na costa brasileira.
-- 1826 - Dezembro - A importação de escravos no BRASIL foi calculada em 33.999.
-- 1827 - MARÇO - 13 - TRATADO sobre a Abolição Imediata do Tráfico de Escravatura. Ratificação da CONVENÇÃO de 1826 que concedia 3 anos para sua aplicação.

-- 1827 - JULHO - 2 - Num discurso, CUNHA MATOS revelava : ..."que muitas vezes me lembro da opinião do sábio brasileiro, o Sr.JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADE, quando dizia que a política do Brasil relativamente a negócios diplomáticos devia ser de amizade com tôdas as potências da Europa sem ligação de Tratados de qualquer natureza que fossem; é com as nações americanas que devemos ter íntimas relações diplomáticas, tanto por serem nossas vizinhas, como para fazer barreira contra as desordenadas pretensões da velha Europa..."
-- 1827 - JULHO - 3 - Sessão em que o Bispo da BAHÍA, D. ROMUALDO ANTÓNIO DE SEIXAS, membro da Comissão de Diplomacia para aprovação do parecer sobre a CONVENÇÃO, teria então afirmado, quanto à ..."possível falta de braços escravos no Brasil"... : "...só os bosques da minha província apresentam mais de 200 mil indígenas aptos para todo o género de trabalho e indústria, mas cujos braços têm sido infelizmente perdidos para o Estado por falta de um sistema de catequese e civilização e colonização, e talvez pelas falsas ideias que ordinariamente se formam da sua indolência ou incapacidade intelectual"...
Essa opinião mereceu então pronta resposta da parte do Brigadeiro CUNHA MATOS :..."Ah! os índios do Senhor Bispo ! Há 300 anos estão se catequizando os índios,e, à excepção dos aldeados pelos jesuítas, todos os demais têm sido menos úteis do que desinteressantes ao Estado. Eu sei quais foram as despesas que na província de Goiás se fizeram no aldeamento e catequese dos índios : tudo foi baldado, porque os pobres homens vinham encontrar nas aldeias directores mais bárbaros que seus antigos chefes"...

Estas afirmações foram ainda apoiadas por JOSÉ CLEMENTE PEREIRA : ..."Tenho ouvido falar em índios, e dizem que temos 200.000 que virão logo povoar o Brasil. Isto é bem bom para se dizer, mas vamos à prática que nos mostra a experiência de tantos anos : que progresso tem feito a civilização dos índios, apesar de diligências mais ou menos eficazes do Governo ? Pouco ou nada, Sr. Presidente, ou seja porque se não tem acertado com o verdadeiro caminho de ganhar os índios, ou seja por fôrça de sua natureza e hábitos : o que sei é que os índios continuam a habitar suas matas e fazer guerra aos que pretendem invadi-las e que se se consegue alcançar terreno, não se consegue alcançar população. Mas conceda-se que a civilização dos índios pode prosperar, quando vêm êsses braços a serem profícuos ao Brasil ? Eles virão tarde sem dúvida e mui lentamente, e a cessação dos africanos é imediata e repentina"...

-- 1827 - JULHO - 4 - CLEMENTE PEREIRA afirmara numa Convenção que a média anual de entradas de escravos no RIO DE JANEIRO registadas nos anos anteriores estaria entre os 25 a 30 mil, posteriormente distribuídos por outras províncias.
-- 1829 - DEZEMBRO -- Neste ano entraram no BRASIL 52.600 escravos e no ano anterior 43.555 (?) escravos.

-- 1830 - Mulheres negras, naturais de KETU (NIGÉRIA), da IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DA BOA MORTE, reunidas na Ladeira do Bercô, em S. SALVADOR DA BAHÍA estabeleceram uma nova forma de culto com a intenção de ali manterem as suas tradições africanas. Daí o aparecimento do "candomblé" (mas não existente em ÁFRICA). Aos "candomblés" da BAHÍA e do RIO DE JANEIRO foi depois atribuída a designação de "NAÇÃO KETU", quase sem intervenção masculina.

-- 1831 - OUTUBRO - 27 - Reconhecimento da liberdade dos Índios no BRASIL.

-- 1831 - NOVEMBRO - 7 - Lei que proíbe o tráfico africano no BRASIL. Declara livres todos escravos chegados de fora do Império, contrariando no entanto os que estivessem no cativeiro !

-- - JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, primeiro-ministro, deputado da Assembleia Constituinte, não tinha dúvidas em afirmar :..."É tempo de irmos acabando gradualmente até aos últimos vestígios da escravidão entre nós, para que venhamos a formar em poucas gerações uma nação homogénea, sem o que nunca seremos verdadeiramente livres, respeitáveis e felizes. É da maior necessidade ir acabando tanta heterogeneidade física e civil; cuidemos pois desde já em combinar sabiamente tantos elementos discordes e contrários, em amalgamar tantos metais diversos para que saia um Todo homogéneo e compacto, que não se esfarele ao pequeno toque de qualquer nova convulsão política"...
-- 1832 - Fundação da "AGENCY COMITTEE" por GEORGE STEPHEN, EMMANUEL e JAMES COPPER, jovens abolicionistas (quakers).
-- 1832 - Publicação da Lei da Reforma Parlamentar "liquidando" definitivamente o problema da escravatura.
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-- 1832 - ABRIL - 8 - ..."
-- 1833 - MAIO - 14 - A Câmara dos Comuns aceita algumas resoluções propostas por HENRY STANLEY para a abolição imediata e completa da escravatura.
-- 1833 - AGOSTO - A Lei da Abolição da Escravatura fixa a liberdade dos escravos (adultos) a partir de Agosto do ano seguinte. Quanto aos que tinham menos de 6 anos de idade deviam ser imediatamente libertados e que tivessem mais de 6 anos passavam a ser classificados de "aprendizes", mas sem qualquer remuneração durante seis anos.
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-- 1834 - AGOSTO - 29 - Lei da GRÃ-BRETANHA que extingue a escravidão nas Colónias.
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-- 1835 - A nova Lei sobre a Abolição do Tráfico de escravos, antes recusada pela Câmara, era drástica, mandando aplicar mesmo a pena de morte contra os seus infractores, sendo o castigo mínimo os açoites em via pública, em número dependente da gravidade das faltas.
-- 1835 - Revolta de escravos registada na BAHIA e que foi severamente reprimida.

-- 1836 - OUTUBRO - 20 - Um Acordo entre PORTUGAL e a INGLATERRA proibira a "exportação" de escravos para o BRASIL ("apenas no papel" !)

-- 1836 - DEZEMBRO - 10 - Foi decretada em PORTUGAL a "ABOLIÇÃO DEFINITIVA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS PELO MAR", em naus portuguesas, a norte e ao sul do equador, contrariando interesses brasileiros.

-- 1837 - MAIO - 17 - Proibição dos navios estrangeiros, com bandeira portuguesa, provenientes de ANGOLA, prosseguirem com o tráfico de escravatura para o RIO DE JANEIRO (BRASIL), em virtude do grande movimento que continuava a verificar-se.
-- 1837 - OUTUBRO - 11 - O governo do BRASIL regulamenta a substituição da mão-de-obra dos escravos por colonos europeus.
-- 1837 - DEZEMBRO - Não obstante as proibições já decretadas,ainda entraram no BRASIL cerca de 45 mil escravos africanos.

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-- 1838 - AGOSTO - 1 - A Lei termina com o regime dos aprendizes, concedendo-lhes liberdade total. Os seus senhores haviam dificultado essa acção com receio de sofrerem "vinganças", mas, pode dizer-se que tal não aconteceu.
-- 1840 - Na TASMÂNIA a sua população nativa estava quase exterminada por acção dos seus ocupantes e vitimada por doenças para as quais não possuía defesas, como sucedeu então noutras zonas.

-- 1840 (1849 ?) - O tráfico aumentara mesmo após a Independência do BRASIL, atingindo o total de 50 mil escravos africanos. Nesse ano, provavelmente, terá falecido (em AJUDÁ) FRANCISCO FELIX DE SOUZA (o "CHACHÁ" ou "XAXÁ SOUZA"),natural de S. SALVADOR DA BAHÍA, considerado como o maior traficante brasileiro de todos tempos, pelo que se tornara muito poderoso financeira e socialmente, possuindo um verdadeiro monopólio para os fornecimentos ao BRASIL (BAHÍA) e para CUBA ! Fora casado (em segundas núpcias)com uma descendente dum régulo africano; ele chegara ao Brasil com 8 anos de idade. Com o produto dessa sua desenfreada actividade criou um verdadeiro harém com mais de 50 filhos ! Um deles, ISIDORO, prosseguiria com a sua acção "negreira".
Como muitos outros traficantes da costa africana era sem dúvida um homem poderoso, capaz das maiores tropelias, conseguindo "burlar" os vigilantes da marinha inglesa
com destemidas negociatas. O tráfico era assim um dos grandes "negócios" no BRASIL (e noutros países !).

-- 1844 - AGOSTO - 12 - Decreto nº 376 - Manda cumprir o Regulamento e Tarifa para as Alfândegas do Império que punham termo aos direitos preferenciais que haviam beneficiado os interesses comerciais e as exportações dos ingleses e franceses.
-- 1844 - O Ministro norte-americano no BRASIL declarava :..."é um facto que não pode ser obscurecido ou negado, que o tráfico de escravos é quase inteiramente feito sob a nossa bandeira e em navios construídos por americanos e vendidos aí e licenciados para a costa de África aos traficantes. Talvez o tráfico escandaloso não pudesse ter tanta extensão, se não fosse o uso da nossa bandeira e das facilidades concedidas ao licenciamento de navios americanos para levar à costa da África os equipamentos do comércio e os materiais para a compra de escravos"...
-- 1845 - AGOSTO - 8 - O Parlamento inglês aprova o Plano "BILL ABERDEEN" que permite a detenção de navios piratas ou assim classificados. No entanto os escravos então detidos por esses barcos passavam a "servir" noutros destinos a coberto de novos negócios.

-- 1845 - O Ministro americano no RIO DE JANEIRO, HENRY A.WISE, afirmava : ..."Nós somos(...) o único povo que pode levar e transportar qualquer coisa ou todas as coisas para o comércio escravo, sem receio dos cruzeiros britânicos; e porque somos o único que pode, vamos permitir que este orgulhoso privilégio seja pervertido e perverta nossa gloriosa bandeira na bandeira dos piratas, na protecção dos esclavagistas - o transporte brasileiro, português e espanhol -- a um comércio contra nossas próprias leis e as leis locais de quase todas as nações civilizadas na terra ? "...

Nesses últimos 5 anos foram comprados 64 navios americanos no RIO DE JANEIRO destinados certamente, na sua grande maioria, ao comércio de escravos.

-- 1845 - DEZEMBRO - Desde 1840 teriam entrado no BRASIL 124.832 escravos (os dados apresentados pelo Ministério apresentava).
-- 1846 - Ainda o Ministro WISE acusava ..."havia sómente três maneiras de enriquecer no Brasil : o tráfico negreiro, a usura e o negócio dos comissários do café. Os negociantes estrangeiros só se ocupam do último, mas para um brasileiro ser "homem de importância" todos têm que participar mais ou menos, directa ou indirectamente,dos dois primeiros. E todos que são de importância participam de ambos. Aqui deve-se ser rico para aproveitar da usura e, para ser rico,ocupar-se do tráfico negreiro. Os traficantes são, então, ou os homens no Poder, ou aqueles que emprestam aos homens que estão no Poder e os seguram pelos cordões da bolsa. Consequentemente, o próprio Governo é de fato um Govêrno esclavagista contra suas próprias leis e tratados"..."...Êste povo e degradado e corrupto ignora os primeiros rudimentos da justiça administrativa e judiciária"...(despacho de 9/12/1846).

-- 1849 - O tráfico de escravos progredia não obstante as leis que tentavam extingui-lo.
O preço por "peça" passara desde 1846 de 630$000 para 1.350$000 réis, no entanto a sua "importação" ultrapassava os 50 mil anuais..
-- 1849 - MARÇO - 12 - A COMISSÃO DO TRÁFICO DA ESCRAVATURA (do PARLAMENTO BRITÂNICO) chegara às seguintes conclusões :

..." 1) que do fim do ano de 1845 até aquele momento o vigor e eficácia das forças navais britânicas destinadas a reprimir o tráfico haviam chegado a um ponto a que antes nunca haviam atingido e que aquelas forças eram auxiliadas pelas da França e Estados Unidos, conforme os Tratados; 2) - que o número total dos negros libertados pelos cruzadores britânicos nos anos de 1846 e 1847 pouco excedia de 4% dos escravos exportados da África, naqueles anos;... 4) que o tráfico de escravos africanos feito pelo Brasil trazia grandes lucros, e era então dirigido e por tal modo organizado e com tanta confiança no bom resultado das empresas, que contrariava, como nunca, os esforços das nações empenhadas em suprimi-lo; ... 6) que a admissão do açúcar produzido por braços de escravos no consumo deste país concorrera de tal sorte , pelo grande aumento na procura dos artigos daquela produção, para arruinar o tráfico de escravos africanos, que se tornara então mais difícil que nunca embaraçá-lo; 7) que os sofrimentos e a mortalidade de escravos nos barracões e nos transportes eram aterradores para a humanidade, e que a intensidade desses sofrimentos e o cálculo da mortalidade eram sem exemplo na história do tráfico da escravatura."...

-- 1850 - JANEIRO - 8 - O Ministro DAVID TOD, quanto à constante presença de navios nas costas brasileiras, despachava para o Secretário de Estado :..."êstes navios embarcavam produtos para escravos e tripulações escravas, sob a protecção de nossa bandeira e continuavam nominalmente propriedade americana até que numa oportunidade favorável recebiam uma carga de escravos e não é sem frequência o caso da nossa bandeira proteger os escravos até ao desembarque de africanos na costa do Brasil"...
-- A repressão do tráfico de escravos permite a expulsão dos seus autores, à excepção dos "bens colocados na vida", que logo movimentavam grandes influências políticas e sociais, registando-se porém uma acentuada redução.
-- 1850 - JULHO - 15 - Num discurso então proferido, PAULINO JOSÉ SOARES DE SOUZA refere-se a posição do governo brasileiro quanto à intenção de acabar de vez com o tráfico. Alertava ainda que..." Quando uma nação poderosa, como é a Grã-Bretnaha, prossegue com incansável tenacidade, pelo espaço de mais de 40 anos, o empenho de acabar o tráfico com uma perseverança nunca desmentida; quando ela resolve a despender 650 mil libras por ano sómente para manter os seus cruzeiros para reprimir o tráfico; quando ela obtém a aquiescência de todas as nações marítimas europeias e americanas; quando o tráfico está reduzido ao Brasil e Cuba, poderemos nós resistir a essa torrente que nos impele, uma vez que estamos colocados neste mundo ? Creio que não. Demais, senhores, se o tráfico não acabar por êsses meios, há de acabar algum dia"...

-- 1850 - JULHO - 20 - O deputado por PERNAMBUCO e ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros(1837),ANTÓNIO PEREGRINO MACIEL MONTEIRO,contrapunha as acusações de MELO FRANCO, declarando que a administração..."o que quer é reprimir o tráfico por todos os meios adequados e quer também conservar ilesa a nacionalidade e soberania do país, reservando-se o direito de empregar quaisquer medidas extraordinárias, ou seja como actos de represália, ou seja como expediente económico e financeiro".
-- 1850 - Desde 1700 entraram no BRASIL 1.500.000 escravos.

-- 1850 - SETEMBRO - 4 - A Lei nº 581, dita "LEI EUSÉBIO DE QUEIRÓS", tenta combater as resistências que haviam surgido contra a Abolição da Escravidão da parte dos grandes "senhores", incluindo governantes nacionais e estrangeiros. Exige a ABOLIÇÃO DEFINITIVA do Tráfico. A Casa Real portuguesa também entrava nessas manobras. A utilização da mão-de-obra escrava no BRASIL ultrapassara todos os restantes países "coloniais" e foi a mais longa !

-- 1850 - SETEMBRO - 18 - Publicação da "LEI DE TERRAS" no sentido de estimular e facilitar a colonização no interior brasileiro, fugindo-se aos malefícios e tentações da escravidão.

-- 1850 - NOVEMBRO - 14 - Decreto nº 731 que regula a "LEI EUZÉBIO" que provocava graves reacções aos descontentes, alguns em altos cargos !

-- 1850 - Só a partir desta data se acentua a proibição do tráfico de escravos e o surgimento ou desenvolvimento das plantações de café e da indústria manufactureira.
Uma das principais entidades que combatem a escravidão era o INSTITUTO DE ADVOGADOS DO RIO DE JANEIRO.

-- 1851 - População do BRASIL : - No Município da Corte : - 142.403 livres; - 13.461 libertos ; - 110.602 escravos. Na Província do RIO DE JANEIRO : - 262.526 livres ; - 293.554 escravos ; - 18.761 colonos.
-- 1852 - Constituição da "SOCIEDADE CONTRA O TRÁFICO DE AFRICANOS E PROMOTORA DA COLONIZAÇÃO E CIVILIZAÇÕES DOS INDÍGENAS".

-- 1852 - JULHO - 16 - Nos "Anais" então registados no RIO DE JANEIRO e dum discurso de PAULINO JOSÉ SOARES DE SOUZA, constava :..."Assim os escravos morriam, mas as dívidas ficavam, e com elas os terrenos hipotecados aos especuladores, que compravam os africanos aos traficantes para os vender aos lavradores.(Apoiados). Assim a nossa propriedade territorial ia passando das mãos dos agricultores para os especuladores e traficantes.(Apoiados). Esta experiência despertou os nossos lavradores, e fez-lhes conhecer que achavam sua ruína,onde proruravam a riqueza(apoiados), e ficou o tráfico desde êsse momento completamente condenado."...
PAULINO DE SOUSA declarava ainda :..."Sejamos francos; o tráfico no Brasil prendia-se a interêsses, ou para melhor dizer, a presumidos interêsses dos nossos agricultores; e em um país em que a agricultura tem tamanha força, era natural que a opinião pública se manifestasse em favor do tráfico, a opinião pública que tamanha influência tem, não só nos governos representativos, como até nas próprias monarquias absolutas"... - ..."Quando o Brasil importava anualmente 50 a 60.000 escravos, sendo a importação de escravos, como é sabido, exclusiva da importação de braços livres, devia necessàriamente acontecer que, ainda mesmo não conhecendo os quadros estatísticos dessa importação, os mesmos fazendeiros, os nossos homens políticos,os habitantes do Brasil enfim, a quem não podia escapar essa progressão ascendente do tráfico, fôssem feridos pela consideração do desiquilíbrio que ela ia produzindo entre as duas classes de livres e escravos, e pelo receio dos perigos gravíssimos a que êsse desiquilíbrio nos expunha"...

-- 1852 - A entrada de escravos africanos no BRASIL não excedia então os mil,tendo sido totalmente capturados, possibilitando outras actividades comerciais ou industriais com acentuada expansão.

-- 1852 - DEZEMBRO - Existiam no BRASIL : 3.250.000 escravos africanos. Nos últimos 40 anos saíram, de ANGOLA para o BRASIL, 5 milhões de escravos !
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-- 1856 - O chefe da Polícia da Corte, SINIMBU,em relato ao Ministro do Império, JOSÉ TOMÁS NABUCO DE ARAÚJO,confirmava a existência de diversas feitorias de escravos, situadas em : ..."No pôrto do Ambriz da costa da África (3)...No Rio Congo, existem duas feitorias...No Rio Quicombo há uma feitoria...Os pontos da nossa costa em que mais numerosos desembarques se têm efectuado são Rio das Ostras, Macaé, Cabo Frio, Ponta dos Búzios e Itapemirim "...................

--- 1858 ( ? ) - Publicação da Lei portuguesa que estabelece a liberdade dos escravos num prazo de 20 anos.
-- 1859 - GEORGE STEPHEM, fundador da "AGENCY COMMTTE, autor de "RECORDAÇÕES", esclarecia sobre o "registo de escravos" : ..."O objectivo do registo de escravos era a identificação de todos os escravos, por idade, sexo, estatuto,nacionalidade, marcas distintivas e todas as outras pecularidades individuais. Todas estas circunstâncias deviam ser registadas em livros públicos, sob o escrutínio e responsabilidade dos representantes públicos especialmente designados para o efeito. Do mesmo modo deveria registar-se os nascimentos e óbitos e assim construir-se um registo que seria indispensável como prova do direito (por assim dizer) de propriedade sobre um homem..."... É óbvio que tal sistema iria, em grande parte, pôr em causa a aquisição criminosa de escravos através do comércio de contrabando. Não conseguiria extingui-lo totalmente, pois, ao esconder-se as mortes de uma plantação, uma fraude não muito difícil, cada vaga poderia ser preenchida por novas importações, desde que os novos escravos pudessem corresponder, na generalidade, em sexo, idade e aparência aos que haviam morrido."...
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-- 1864 - No Ministério da Justiça do BRASIL exigia uma correspondência com a Polícia com duas listas com cerca de 400 pessoas implicadas no tráfico, sendo algumas delas "ilustres personagens, tais como : ..."o Comendador Joaquim José de Souza Breves,o Cónego António Correia de Carvalho, António de Menezes Vasconcelos de Drumond, barões nacionais e estrangeiros, como o de Gamboa, José Manuel Fernandes ou o de Itapemirim, o de Eylesh, Joaquim Pinto da Fonseca, os Cavalcanti Wanderley Lins ou Barros Wanderley LIns, os Cavalvanti de Albuquerque Maranhão, franceses, judeus, como Moisés Ludwig, italianos, espanhóis,e, em grande maioria, portugueses.Também aparecem nas listas listas moedeiros falsos quase emparelhados com os traficantes, num total de 323 e, na sua maioria, também portuguêses"... ( Documentos I J.480 e 56-472 do Arquivo Nacional - de 1841 a l864 - in "ÁFRICA E BRASIL" : outro horizonte" , de JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES - pgs. 184 - Editora Civilização Brasileira S.A.) --
-- 1865 - A Abolição da escravidão nos E.U.A. estimula outros países da zona e sua organizações, destacando-se a JUNTA FRANCESA DE EMANCIPAÇÃO.
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-- 1867 - Não obstante o termo "oficial" da escravatura, até esta data ainda se registou um imenso tráfico através do Atlântico.
-- 1868 - Um novo ministério brasileiro (conservador) contraria a Abolição e dá oportunidade ao surgimento dum partido liberal que a defendia, tanto mais que ainda existia uma população de escravos calculada em 10 a 12% do total da população, o que preocupava muitos resistentes.

-- 1868 - MAIO - 7 - Falecimento de EUZÉBIO DE QUEIROZ, ex-deputado e ministro, autor da chamada "LEI EUZÉBIO" (1854). Nascera em LUANDA (27/12/1812) e foi o grande lutador contra a escravidão.

-- 1869 - FEVEREIRO - 25 - Foi decidida a "ABOLIÇÃO TOTAL E IMEDIATA DA ESCRAVATURA", mas devendo os escravos (libertos) continuarem ao serviço dos mesmos patrões até 29 de Abril de 1878 ! Decreto que proíbe a venda de escravos em hasta pública.

-- 1871 - SETEMBRO - 28 - Votação da "LEI DO VENTRE LIVRE" que considerava livres todos os filhos de escravos nascidos a partir dessa data e segundo proposta da Princesa D. ISABEL, permanecendo sob tutela dos seus senhores até atingirem a maioridade.

-- 1872 - O primeiro Censo Nacional no BRASIL apresenta as seguintes posições, para um total de 9.930.478 habitantes : -- mulatos e mestiços - 4.188.733 ; brancos - 3.787.289. O total dos escravos eram analfabetos.

-- 1876 - A emigração de italianos para o BRASIL atinge 7.000 indivíduos, muitas vezes em precárias condições e situações, não muito diferentes das anteriores ! Eram explorados ainda antes da partida, encaminhados por difíceis e perigosos trajectos até serem "baldeados" nos porões e convés dos navios, não obstante as elevadas quantias que lhes eram cobradas ! Depois, já no seu sonhado "EL DOURADO", eram novamente explorados e mesmo mal instalados.

-- 1876 - ABRIL - 29 - Carta de Lei extingue a servidão em todo o território nacional.
-- 1876 - Morreu a última tasmaniana.

-- 1880 - Termina "oficial e definitivamente" a escravatura no BRASIL (quase 60 anos após a sua Independência !)...
As plantações de café passam a utilizar muitos trabalhadores livres, face à grande redução da entrada de escravos africanos, sobretudo depois de 1850, e o mesmo aconteceu com a exploração da borracha ("heveabrasiliensis"), havendo na zona a maior reserva mundial de seringueiras.

-- 1880 - Foi criada no RIO DE JANEIRO a "SOCIEDADE BRASILEIRA CONTRA A SERVIDÃO" e a "ASSOCIAÇÃO CENTRAL EMANCIONISTA", apoiadas pela ESCOLA MILITAR.

-- 1883 - Surge a "CONFEDERAÇÃO ABOLOCIONISTA",centralizando todos movimentos existentes e fazendo cair alguns ministérios.
- Foi publicado "O ABOLICIONISMO" por JOAQUIM NABUCO, em que, quanto à influência da escravatura sobre a população brasileira, declarava que foi o de ..."africanizá-la, saturá-la de sangue prêto, como o principal efeito de qualquer grande emprêsa de imigração da China seria mongolizá-la, saturá-la de sangue amarelo"... pelo que considerava ainda ser "...uma nódoa que a mãe pátria imprimiu na sua própria face, na sua língua, e na única obra nacional verdadeiramente duradoura que conseguiu fundar"... - afirmava ainda que essa obra..."fôra criar uma atmosfera que nos envolve e abafa a todos, e isso no mais rico e admirável dos domínios da terra"...

-- 1885 - MAIO - 6 - Foi aprovada a "LEI SARAIVA COTEGIPE", também chamada "LEI DOS SEXAGENÁRIOS", concedendo liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade.
-- 1885 - SETEMBRO - 28 - Alteração da "LEI SARAIVA- COTEGIPE" : - Concede a libertação dos escravos com mais de 65 anos de idade (poucos seriam os que atingissem essa idade e perante um governo que não se interessava em aplicá-la, sem temer consequências).)

-- 1886 - JANEIRO - 15 - Foi votada a "ABOLIÇÃO TOTAL" sendo Chefe do Governo o Barão COTEGIPE.

-- 1886/7 - Publicação por PERDIGÃO MALHEIROS de "A ESCRAVIDÃO NO BRASIL", em 3 volumes, sendo o último apenas sobre os africanos.
-- 1888 - MARÇO - Queda do partido governamental (escravocrata) no BRASIL, permitindo novas hipóteses para a efectiva Abolição.

-- 1888 - MAIO - 13 - Assinatura da "LEI AÚREA" pela Princesa D. ISABEL e decisão do Parlamento(na ausência do Imperador, em FRANÇA, talvez por motivos de saúde)e com o apoio do Papa LEÃO XIII : - Decreta a Abolição da escravatura no BRASIL. A Princesa D. ISABEL atendera as muitas solicitações que lhe eram apresentadas, o que causou grandes manifestações de apoio. Nessa altura 95% dos descendentes africanos já eram livres de acordo com a Constituição de 1824.
Essa decisão, total e oficial, imposta 66 anos após a Independência do BRASIL ("GRITO DO IPIRANGA") porém, não era ainda inteiramente cumprida !-- (Ver texto anterior) --
O projecto dessa Lei fora apresentado no dia 8, constando do seu artigo 1º : ..."É declarada extinta a escravidão no Brasil" e no artigo 2º : ..."Revogam-se as disposições em contrário".

A chamada "LIBERTAÇÃO GERAL DA ESCRAVATURA" beneficiou cerca de 500 mil residentes, mas uma grande maioria desses "libertos" fora lançada no abandono social, logo aproveitado pelos seus antigos "donos" !
Havia então três vezes mais negros livres do que escravos.
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-- 1890 - DEZEMBRO - 14 - O ministro da Fazenda, RUI BARBOSA, mandou queimar todos os Arquivos Públicos onde existissem documentos sobre a escravidão !

- 1900 - Durante o século XIX, mais de 3 milhões de escravos africanos foram levados para..."os Novos Mundos"..., em especial para o BRASIL e CUBA, onde passavam a ser a maioria da população !
-- 1890 - DEZEMBRO - O censo populacional apresentava os seguintes valores : Brancos - 6.302.198 ; Mestiços - 5.934.291 ; Negros - 2.097.426.

-- 1904 - Revolta do povo Herero instalado no campo de concentração de SHARK ISLAND (NAMAKA ou NAMAQUA)na zona da NAMÍBIA. Morreram cerca de 3 mil nativos. Eram utilizados nas construções de LUDERITZ

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......(  ??)..... Negreiros de Franceses, Ingleses, Espanhóis e Holandeses, que levam para a América o escravo e a música dos sertões, porque os negros vendidos nas terras baixas do mar vêm de todos os países. Música arrastada e dolente, que havia de embalar magoadas e rebeldes canções de escravos dos senhores brancos da roças, mais despóticos que os cruéis sobas das suas terras perdidas que só em saudades encontravam no ritmo da música da selva.
..."Foi uma época de aventuras e de pirataria, essa da caça ao negro, em que, a todos, o Francês levou vantagem, porque o seu escravo valia cinquenta moedas nos mercados das Antilhas, ..."preço com que nem os próprios ingleses podiam concorrer"....E já nesses anos tenebrosos no destino da raça negra,..."a Inglaterra, para quem parece pouca toda a extensão do Mundo",procurava assenhorar-se dos "pontos mais importantes,onde quer que os ache, para protecção e garantia do seu comércio"...Mas as bocas das peças dos navios negreiros franceses, a todos amedrontavam nos mares do Norte de Angola"....(pgs. 8/9) --
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----- Extraído de : A MARAVILHOSA VIAGEM" - de CASTRO SOROMENHO - 1961 ------

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---11) " 2. A tradição doutrinária e a conjuntura internacional" ---

..." 2 . As armas ideológicas com que, em meados do século XVIII, se iniciou na Inglaterra, em França e nas colónias britânicas da América a grande campanha anti-esclavagista, enraizavam na mesma fonte jusnaturalista. Invocava-se a liberdade natural dos homens, o contrato social e os direitos imprescristíveis (??) da humanidade. Uma abundante literatura punha em relevo que "o cativo africano, raptado à força e vendido, foi privado da liberdade natural que é de não conhecer nenhum poder soberano na Terra, e de não estar sujeito à autoridade legislativa de quem quer que seja. Que também não tinha sido respeitado na sua pessoa o contrato social, que define "a liberdade na sociedade...em estar sujeito a um poder legislativo estabelecido pelo consentimento da comunidade e não em estar sujeito à fantasia, à vontade inconstante,incerta e arbitrária de um único homem em particular"...(Pg.21)- ......................................................
..."Aos vastos interesses comerciais ingleses, que agora se identificavam com a abolição geral do tráfico e eventualmente com a libertação dos escravos, a rivalidade franco-britânica permitia justamente a internacionalização do problema, aconselhada pela supremacia marítima britânica, pela geral predominância inglesa no mundo e pela sua posição na coalização antinapoleónica. A nova orientação da diplomacia inglesa, que condicionou todo o tratamento do problema colonial no Congresso de Viena, fez-se sentir nos congressos de Aix-la-Chapelle (1818) e de Verona(1822), foi objecto de muitas diligências junto dos governos com interesses ultramarinos, assunto de numerosos tratados e marcou de modo geral a ideologia da actividade internacional relativa às questões extra-europeias durante todo o século XIX." - (Pgs. 23/24) --
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--- Em : "A QUESTÃO RACIAL - Introdução " - de ÓSCAR SOARES BARATA - 1964 - Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina --

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..."Explorar o pau-brasil e depois o ouro e tudo o mais que representasse valor, inclusive a escravização do índio, foram as primeiras preocupações dos portugueses na terra descoberta. Espoliar é o verbo mais conjugado pelos conquistadores desde o princípio do mundo. Espoliado vive este país desde que foi aqui plantada a cruz dos seus tormentos"... --- ..."Lutámos sempre, da Primeira Missa até hoje, mas continuámos martirizados, explorados, espoliados por todos os lados. Houve, é certo, o rompimento com o mando directo de Portugal,o que se chamou "independência", mas continuámos escravos até aos dias de hoje. Essa "Independência", feita por um príncipe estrangeiro para que o seu país não perdesse o domínio completo da colónia, cortou apenas os laços políticos que uniam a nossa Pátria à Coroa portuguesa e isso mesmo aparentemente. O domínio económico e, e, certos casos, político, continuou, exercido primeiro pelos portugueses, depois pelos ingleses e, por fim, pelos americanos do norte, todos nas suas respectivas fases de influência, procurando impedir o nosso progresso, anular os nossos esforços e explorar as nossas riquezas e energias"...(pgs.11) --
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---..."Reagem os Índios à Escravidão" ---
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..."A escravidão cabia aos portugueses. A primeira experiência fizeram-na quando do carregamento de água para abastecer as naus cabrálicas. Tomou corpo quando da chegada dos primeiros lusitanos, depois de Cabral. Aliás, não era gente nada recomendável essa que vinha para o Brasil. Para falar verdade, até à vinda de D. João VI, raríssimos homens de bem desembarcaram nesta terra. Sempre aqui chegava a escória social, o que havia de pior e mais nocivo na população lusitana. Ladrões, assassinos perversos, falsários, proxenetas, enfim indivíduos que, pelo péssimo modo de proceder, viviam à margem da sociedade, foram os de preferência escolhidos para "colonizar" e "civilizar" o Brasil. Dessa forma, muita gente ruim, de maus instintos e de indignas práticas de vida pisou estas terras na primeira etapa da ocupação lusitana"...(pgs.34) --
..."Com a chegada de novas e sucessivas levas lusitanas, aumentara a população alienígena. Já apareciam os primeiros arraiais, pegados à orla marítima. Caíra o tráfico de escravos, pois os índios reagiam com violência ao cativeiro e os que eram dominados empregavam todos os recursos de protesto...Cruzando os braços ou atrasando o serviço, os índios brasileiros foram considerados, na Europa, mercadoria sem valor. Os compradores retraíam-se, vendo na compra do nosso índio mau emprego de capital.Os lucros dos traficantes estavam diminuíndo. O índio brasileiro não ajudava. Morria com facilidade, até de nostalgia. Muitos nem atingiam o local de desembarque. A situação era grave para os traficantes. Dinheiro empregado com índio brasileiro era valor perdido. Os portugueses de lá reclamavam dos daqui. Escasseavam braços escravos. A maioria, fugindo do jugo lusitano, embrenhava-se nos matos e resistia como podia. Faltavam braços até para o trabalho local. A solução melhor seria desistir dos índios, matá-los, exterminar as tribos e aproveitar outros povos dominados, talvez mais dóceis"...(pgs. 36) --
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------------- " Entre a Cruz e a Espada" -------------

..."A importação dos pretos africanos, que tão relevantes serviços prestaram a este país, não significa que tivesse cessado de todo a escravização dos índios. Embora em menos escala quanto ao tráfico para o estrangeiro, a sujeição dos naturais continuou até à chegada da chamada Família Real, corrida de Portugal pelas tropas de Napoleão. O índio, acossado por todos os lados, cada vez mais se afastava do litoral, internando-se nos recôndidos da Pátria, na última e desesperada tentativa para sobreviver. Simultaneamente, as "bandeiras e as entradas"(*) avançavam, deixando no rastro uma enfiada de cadáveres. Os índios que logravam escapar com vida, recuavam para o interior. Algumas tribos fundiam-se, reuniam-se os que tinham a sorte de escapar à fúria arrazadora dos "bandeirantes" para melhor e mais eficientemente se defenderem. Empreendiam, através de matas, rios, serras e atoleiros, a grande marcha da sobrevivência."
..."Muitos, entretanto, não podendo assim proceder, contemporizavam com os invasores. Sobreviventes das terríveis caçadas, não tendo outro recurso, submetiam-se ao domínio como facto consumado e alguns passavam, então, a obedecer e prestar serviço aos conquistadores. Conhecedores profundos dos caminhos da Pátria, serviam muitas vezes de guias às próprias "bandeiras" e "entradas", travando, inclusive, lutas contra os próprios irmãos, à medida que iam perdendo a pureza original, em pro miscuidade com os "civilizados". Com aquela prodigiosa facilidade que tinha de aprender e imitar, em breve o índio estava mentindo, traindo, furtando e fingindo com a mesma capacidade dos mestres lusos"... (pgs. 36 ) ..."Com os primeiros êxitos das "bandeiras" e "entradas" e a decisiva ajuda dos jesuítas, escolhidos a dedo para o trabalho de sujeição do índio e da sua exploração económica, diversos grupo indígenas foram dominados.
Muitos chegaram a fazer causa comum com os invasores, como é o caso de Tibiriçá, chefe dos Guaianases, de Piratininga, o qual, seduzido pelas artes dos padres José de Anchieta e Leonardo unes, se converteu à religião católica (um dos raros casos de conversão de índio) e, ao baptizar-se, tomou o nome de Martim Afonso de Souza, dono do pedaço de terra brasileira que se chamou Capitania de S. Vicente. Tibiriçá passou a ser uma espécie de guarda-costas-chefe desse lusitano, colocando-se ao seu serviço com os índios que pôde arrebanhar. O velho e glorioso guerreiro Tibiriçá tornou-se um carola de marca maior. Foi graças a ele que os jesuítas puderam permanecer em Piratininga, instalando-se ali o povoado de Santo André da Borda do Campo(**)"...................................................

---(*) - ..."A diferença entre "entradas" e "bandeiras" estava no facto de que as primeiras eram de iniciativa oficial e as segundas organizadas e custeadas por particulares. Mas as finalidades eram idênticas"...
-- (**) - ..."Os jesuítas estabeleceram o seu colégio de São Paulo na colina de Piratininga. Na Borda do Campo estava a vila dos portugueses liderados por João Ramalho que, mais tarde, se abrigariam em Piratininga juntamente com os padres"...
-- (pgs. 37/38) --
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..."Em tempo algum se lembraram os portugueses de transmitir civilização ao povo da terra, aos naturais. Basta ver que os descendentes directos dos índios, remanescentes das antigas tribos brasileiras,estão, actualmente, em grau de civilização quase igual ao da população que aqui vivia, em Abril de 1500. Não é preciso ir muito longe. Basta chegar ao aldeamento mais próximo para se testemunhar essa verdade. No Brasil Central e na Amazónia, nem se fala. Os índios pouco ou nada progrediram e ainda há tribos que praticam a antropofagia, demonstrando,assim, nos dias actuais, o fracasso da catequese jesuítica nos tempos passados. Muitas ainda vivem como quando os portugueses as encontraram, no estado estacionário de "povo caçador", alimentando-se, especialmente, da caça e da pesca e praticando a mesma agricultura incipiente que os lusitanos viram naquela longínqua manhã de Abril. O que os portugueses fizeram foi estacionar o progresso da civilização indígena, que, naquela época, se encontrava em plena fase de transição evolutiva."...(pg.41) ---
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..."Mesmo depois da importação dos cativos da África, o aproveitamento do índio no trabalho escravo continuou com grande intensidade. A população lusitana crescia e os naturais eram caçados nas aldeias para cuidar das propriedades ocupadas pelos invasores. Homens, mulheres e crianças, sob regime de escravidão,cortavam e carregavam madeira, construíam habitações, lavravam a terra, cuidavam do gado e faziam os serviços domésticos das residências lusitanas. Um dos esclavagistas lusos, poderoso latinfundiário nas terras da Bahia e Sergipe -- João Garcia D' Ávila --, com medo da morte, quando ela se aproximava do seu leito de enfermo, talvez até comido pelo remorso de tantas misérias praticadas, alforriou, em documento datado de 1609, trezentos índios que explorava na condição de escravos, na propriedade "Tatuapara", em território baiano.
"A submissão dos índios ao cativeiro custou, também, muita vida aos portugueses". -- (pg.64)--.
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--- (em : "RESISTÊNCIA DO ÍNDIO À DOMINAÇÃO DO BRASIL" , de LUIZ LUNA --- 1965 ---
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..."Até ao fim do século XIV, a descoberta da África foi obra do Islão, senhor do Mediterrâneo meridional e do Oceano Índico, as duas artérias vitais do comércio marítimo.
Significa isto que os Europeus nunca tinham enfrentado o oceano Atlântico, objecto de tantos receios ? Desde a Antiguidade que a rota do norte em direcção ao estanho da Cornualha era conhecida e, embora no século XIII a Europa preferisse a vida interior que, ligando as cidades italianas às cidades flamengas através do vale do Rodão,fez a fortuna das feiras de Champagne ou de Leão, a navegação de cabotagem no Atlântico servia as cidades tecelãs da Flandres, centro do capitalismo nascente."
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..."O objectivo dos primeiros navegadores que se aventuraram no Atlântico não era tanto, aliás, descobrir a África, como contorná-la pelo sul para atingir o Oriente : mais do que o ouro do Sudão, eram as sedas, as pedras preciosas e as especiarias (elemento indispensável à alimentação e, sobretudo, à farmacopeia medicinal) da Índia e da China que despertavam as cobiças."...
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..." Mas então por que foi, na verdade, Portugal, com os seus meios limitados, a sua moeda detestável e a sua frota reduzida, que abriu caminho ?
..."É que esse pequeno Estado, geograficamente excêntrico, sentia, mais do que os outros, uma atracção pelo oceano; voltando de certa maneira as costas à Europa medieval, o seu povo de marinheiros e pescadores, cujas cidades eram todas portos de mar, escapara às querelas e às razias da Guerra dos Cem Anos; finalmente, o país terminara, muito antes da Espanha, a reconquista dos territórios muçulmanos, passando a dispor repentinamente dum pequeno exército de nobres mais ou menos arruinados,sequiosos de aventuras, mas reduzidos à inacção da paz interna : Portugal, no limiar do século XV, encontrava-se disponível.
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..."Invoca-se com frequência a responsabilidade científica do irmão do regente D. Pedro, o célebre Infante D. Henrique, o Navegador; ao criar, a partir de 1418, no seu castelo de Sagres, junto do promontório mais saliente e mais isolado do Sul de Portugal, uma espécie de instituto de geografia e de cartografia, verdadeiro laboratório onde se prepararam as grandes descobertas, ele teria sido o demiurgo da expansão portuguesa; de facto, o trabalho ali realizado não teve nem a continuidade nem o rigor que lhe foi atribuído pelos homens da Renascença, seduzidos talvez por esse retrato de erudito iluminado."... (Pgs. 61/64) ---
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..."Os mercadores de que atrás falámos não trazem nem outras bestas para levarem as mercadorias, que compram em maior preço a terça parte, e mais, do que valem nestes Reinos. E estes escravos são comprados pela nossa gente que o Sereníssimo Rei em seus navios manda duzentas léguas além deste castelo, em uns rios onde está uma muito grande cidade a que chamam Beni, e dali os trazem (*)"...

..."Acerca do ouro que afluía ao castelo de S. Jorge, sabia-se tanto como antes; a troca muda continuava a ser a regra seguida pelos negros que produziam ouro e pelas tribos intermediárias. Apenas há a assinalar uma diferença, sinal da modificação das correntes comerciais : às trocas orientadas para norte -- ouro por sal -- sucedera-se um comércio dirigido para sul -- ouro por escravos --; Duarte Pacheco Pereira descreve-o da seguinte maneira :

..." Duzentas léguas para além do Reino de Mandinga encontra-se uma terra onde há muito ouro; chama-se Toom e os habitantes desta província têm cabeça e presas de cão e cauda de cão; são negros e pouco faladores, pois recusam-se a ver outros homens; os habitantes de certos lugares, Beetun Habanbarranaa e Bahaa, vão a esse país de Toom comprar ouro em troca das mercadorias e dos escravos que eles trazem : o comércio faz-se da seguinte maneira : cada um dos que quer vender um escravo ou qualquer outra coisa vai a um sítio combinado, amarra o dito escravo a uma árvore e cava um buraco na terra da profundidade que lhe parece conveniente ; feito isto, afasta-se para longe e a Cabeça de Cão aproxima-se : se está contente, enche o buraco de ouro; caso contrário, tapa-o com terra e faz outro mais pequeno e afasta-se de novo; depois disto, o dono do escravo volta e vê o buraco que o Cabeça de Cão dez; se está satisfeito, retira-se segunda vez e o Cabeça de Cão volta e enche o buraco de oiro; é assim que se faz o comércio, tanto de escravos como doutras mercadorias. E os mercadores mandingas vão às feiras de Beetun e de Banbarrana e de Bahaa comprar o ouro e essas populações monstruosas."... (Pgs.85/86) --
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..."E também nos traziam mulheres e crianças para vender que nós comprámos e voltámos a vender no lugar onde pudemos fazê-lo e mãe e filho custaram-nos uma bacia de barbeiro e três ou quatro anéis de latão. E depois, quando estávamos na Mina de Ouro (a costa da Mina ou costa do Ouro) voltámos a vendê-los por doze ou catorze pesos de ouro, valendo cada peso três esterlinos de ouro, o que é um grande lucro (+). E depois de navegarmos durante muito tempo ao longo da referida costa, chegámos à Mina de Ouro no sábado 17 de Dezembro de 1479, uma semana antes do dia de Natal e deixámos a outra caravela na costa do referido grão do paraíso, pois eles ainda queriam mais, e também escravos para vender na dita Mina. E antes de partir um atrás do outro, tirámos à sorte qual de nós andaria mais seis léguas, pois há dois portos na Mina de Ouro, sendo o primeiro de nome Chama e o outro seis léguas mais adiante; e coube-me a mim ir seis léguas mais longe...(pgs. 99) -

-- (+) - "Pesando o esterlino 1,5 g isto representa 54 a 63 g de ouro."
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..."No nosso tempo, os limites da África estão muito dilatados graças ao grande número de terras novas descobertas pela diligência dos Portugueses. Esta nova África vem representada nos mapas de Mercator, Sanutus e outros semelhantes, de um modo bastante ingénuo, como a metade de um crescente, ou um arco muito esticado. Uma das pontas desse arco aponta para o sul, no cabo da Boa Esperança; e outra, um pouco menos nítida que a primeira, situar-se-á entre o sul e o poente, no extremo desse recife ou montanha tão famosa que fica situada na costa da Guiné e à qual foi dado o nome de Serra Leoa. A circunferência deste arco será o circuito da África, a começar pela Serra Leoa e dando a volta por fora, após ter contornado as margens do oceano Atlântico, do mar Mediterrâneo e do Oceano Índico, para acabar no Cabo da Boa Esperança. A corda será uma linha imaginária que vai da Serra Leoa até ao referido cabo da Boa Esperança. A flecha deste arco será a ilha de S.Tomé, situada directamente sob o Equador (*)...
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-- (*) - J.Armand conhecido por Mustapha, Voyages d'Afrique... 1629-1630, Paris, 1633, pp. 106-114 (extractos). -- (Pgs.108/9) --
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..."6. Em matéria de escravos, não deveis comprar senão aqueles que se encontram em estado de serem utilizados no comércio e dado que, de momento e por várias razões, não fixamos um limite aos preços, deveis arranjá-los tão baratos quanto possível, mas sem insistir a ponto de os preços serem tão baixos que os indígenas desistam de negociar convosco e esforçando-vos, ao mesmo tempo, para que os vossos concorrentes não adquiram vantagens sobre vós. Deveis lembrar-vos sempre que o preço pago pelos escravos deve ser separado do das dachas(*) e doutras despesas que surgirem na altura da compra; ou seja, o preço dos escravos deve ser especificado tal como o preço das mercadorias pagas,que têm de ser anexadas ao montante das despesas, vindo as dachas à parte. E deveis mencionar todas as transacções comerciais realizadas no vosso relatório quotidiano, lealmente e com regularidade, à medida que elas se processarem. E estais autorizado a retirar o vosso salário e despesas da vossa alimentação do ouro que obtiverdes nessas transacções comerciais (...)"
..." 9. Deveis também, sempre que tiverdes ocasião para isso, mandar-nos para aqui o ouro dos escravos e outros lucros dos produtos africanos que se encontrarem no forte"... (pgs.120/121) -- ---


---- "Os negros da costa compreenderam rapidamente que o comércio de escravos podia enriquecê-los à custa do interior"..."Os camponeses do interior não ousavam, a princípio, aproximar-se dos Portugueses para negociar, comportando-se para com eles de modo selvagem que lhes é natural, pois sentiam-se aterrorizados por verem homens brancos e vestidos (enquanto eles andavam nus e eram negros); nessa altura levavam o ouro que possuíam aos habitantes do litoral (onde os Portugueses faziam negócio) dizendo-lhes que mercadorias  desejavam ; nessa altura, estes iam aos castelos e compravam lá aquilo que eles pediam e o comerciante que lá os enviava pagava um peso de ouro a cada um; se os negócios que faziam eram muitos, arranjavam uma grande quantidade de pesos, o que constituía um bom salário, e assim iam ganhando a vida"(**)...(pg. 125) --
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..."O desenvolvimento do tráfico esteve ligado ao desenvolvimento da cana-de-açúcar, introduzida no século XVII nas Antilhas. Enquanto os Portugueses se abasteciam no Congo, a costa do Daomé em breve se tornou num dos centros desse triste comércio."

..."A gente de Juda (Uidá no Daomé) dedica-se de tal forma ao negócio de escravos que conseguem fornecer mil por mês (...). Quando os escravos chegam a Fida (Juda ou Uidá), metem-nos todos juntos numa prisão e, quando queremos comprá-los, levam-nos para uma grande praça onde, após os despirem sem distinção de sexo, eles são inspeccionados em pormenor pelos cirurgiões. Põem-se de lado os que estiverem em bom estado, e aqueles a quem falta qualquer coisa são colocados junto dos impotentes, que aqui se chamam macrons; como, por exemplo, os que têm mais de trinta e cinco anos, os que apresentam os braços ou as pernas estropiados, aqueles a quem falta um dente, os que têm cataratas nos olhos ou uma doença vergonhosa.
..." Entretanto, é colocado na fogueira um ferro com as armas da Companhia e aplica-se esse ferro quente no peito dos escolhidos. Não demoramos muito a negociar estes escravos, uma vez que o preço está regulamentado, valendo as mulheres menos um quarto ou um quinto que os homens.
..."Em seguida os escravos são novamente metidos na prisão onde vivem à nossa custa; pode alimentar-se um escravo duas vezes por dia, mas só a pão e água; assim, para evitar a despesa, envia-mo-los para os navios logo que podemos. Antes disso,os donos tiram-lhes tudo o que eles possuem e entram completamente nus nos navios e permanecem assim, a menos que os donos dos navios tenham a compaixão para lhes dar roupa para cobrirem aquilo que o pudor não permite que ande à mostra. Um navio chega a transportar seiscentos ou setecentos duma só vez."... (pgs.130 --
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..."Estalou uma revolta de negros num navio holandês ancorado na baía de Juda. Foi pelas seis horas da tarde; eles apoderaram-se de várias armas, espingardas, pistolas, sabres e barras de ferro e de madeira. Lançaram-se sobre os brancos que estavam naquele navio; houve dois mortos e vários feridos; a revolta prolongou-se por hora e meia; mas, finalmente, os brancos dominaram a situação.
..."No dia seguinte, de manhã, vários foram enforcados na ponta do mastro,onde permaneceram pendurados durante todo o dia, para servir de exemplo aos negros dos outros navios da baía. Para evitar acidentes semelhantes, pusemos a maior parte dos nossos negros a ferros, e fizemos o mesmo às mulheres que nos pareceram mais audaciosas e perigosas; entre outras,várias das esposas do falecido rei de Juda, a quem chamávamos as rainhas; embora, graças à sua beleza, elas fossem as preferidas dos oficiais e dos marinheiros, cada um dos quais escolhera uma à qual dera o seu nome, foram também postas a ferros. Algumas morreram de desespero e de raiva"...
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(pgs. 132/33 - (+) - da obra "Voyages aux Côtes de Guinée et en Amérique",(1719)--
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..."O comércio de escravos não encorajou o progresso dos conhecimentos acerca dos povos de África; as descrições dos mercadores, exclusivamente preocupados com a captura de cargas humanas, não deixam transparecer qualquer preocupação etnográfica; os negros, para eles, não passavam de uma mercadoria...ou de uma moeda"...(pgs.133)--

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--- (*) - chamavam dacha à comissão paga ao intermediário, para além do preço da mercadoria.
(**) - "Récit historial du Riche Royaume de Guinée" (1605) --
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..."Todos os anos morre da América a sétima parte dos negros trazidos da Guiné. Encontramos hoje nas colónias europeias um milhão e quatrocentos mil infelizes que constituem os pobres restos dos nove milhões de escravos que elas receberam...
..."Neste século em que tantos erros são corajosamente desmascarados, seria vergonhoso calar verdades importantes para a humanidade : demonstraremos, em primeiro lugar, que não há qualquer razão de Estado que possa justificar a escravatura. Não podemos deixar de acusar no tribunal da luz e da justiça eternas os governos que toleram esta crueldade e que não se envergonham em fazer dela a base da sua força."
..."É lícito dizer que aquele que quer transformar-se em escravo não é culpado, que ele se serve dos seus direitos ? Onde estão eles, esses direitos ? Quem lhes conferiu um carácter tão sagrado que possam anular os meus ? A natureza concedeu-me o direito de me defender : não te deu, pois, o de me atacar. Se te julgas autorizado a oprimir-me, só porque és mais forte e hábil que eu, não te queixes quando, vencido a meus pés, sem ajuda e sem forças, os meus braços vigorosos te rasgarem o peito e te ferirem o coração; não te queixes quando sentires a morte chegar com os alimentos que te der através das tuas entranhas dilaceradas. Sou mais forte e mais hábil que tu; expia agora o crime de ter tido mais força e destreza que eu, quando transformaste o teu irmão em escravo.
..."Pobres apologistas da escravatura não compreendem que estão a cobrir a terra de assassinos legítimos ? Que estão a minar os fundamentos da sociedade... que gritam aos homens : se desejais conservar a vossa vida, praticai obras de morte, pois anseio por vos tirar a vossa ?"...
..."O direito à escravatura é o direito de cometer toda a espécie de crimes; os que atacam a propriedade : não dais ao vosso escravo a da sua pessoa, dos seus pés e mãos que podeis em qualquer momento prender com ferros; os que destroem a segurança : podeis imolá-la aos vossos caprichos ; e os que atentam contra o pudor... O meu sangue revolta-se contra estas imagens horríveis ; odeio, fujo da espécie humana composta por vítimas e carrascos; e se ela não se tornar melhor, melhor fora que perecesse"...(Pgs. 163/4) --
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--- ( Transcrição parcial dum trecho da célebre obra "Historie philosophique...des Européens dans les deux Indes", - do Abade RAYNAL - 1770 -- inserta em "A DESCOBERTA DE ÁFRICA", de CATHERINE COQUERY-VIDROVITH --
--- ( Resumos de diversos relatos, textos e transcrição parcial das "Instruções" do "Presidente e do Conselho da Royal African Company de Inglaterra", para o "Agente principal em Commenda", referenciados em : "A DESCOBERTA DE ÁFRICA" - CATHERINE COQUERY-VIDROVITCH )-- (1965 ) --

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..."Expedida a notícia da Restauração, em todos os domínios portugueses onde se exercera uma acção de povoamento, manifesta-se o patriotismo dos colonos, aderindo prontamente ao acto e opondo ao estrangeiro a mais tenaz resistência. A pronta adesão
do Brasil e de Angola, especialmente, foi decisiva. Do Brasil íam, além do mais, os diamantes e o açúcar ; com estes produtos ricos, Portugal rápidamente encontra recursos com que acudir à sua indigência. De Angola iam, além da cera e do marfim, os escravos para o Brasil e era com os escravos de Angola que se trabalhavam as minas, se cultivava a cana e se fabricava o açúcar,etc."
Estes factos vieram mostrar à evidência, então, como Portugal independente não pode prescindir do seu império ultramarino, designadamente da suas províncias atlânticas"...
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..."Sem o concurso dos negros de Angola, o Brasil não teria podido sustentar o seu valimento económico, e foi por mercê dele que pôde resistir ao inimigo e depois expulsá-lo, sem deixar de auxiliar a Metrópole, com os seus inesgotáveis recursos. Foi ainda com o concurso dos negros de Angola que se alimentaram as lutas armadas, tendo nelas sido vertido muito sangue africano. Na revolta pernambucana, distingue-se brilhantemente o negro angolense Henrique Dias. Portugal, Brasil e Angola formam o triângulo em que se desenvolveu toda a acção restauracionista do esforço português e pode dizer-se que, entre si, tantos laços de parentesco e comunhão de ideias se estabeleceram, que não podem separar-se mais no futuro. Se a construção de Angola for acelerada e nela se infundir, como deve ser, maior contribuição de sangue português, temos seguro que, pelo paralelismo climático e económico dos dois países, se há-de aqui alongar a mesma raça que no cadinho do Brasil se formou e não é senão o mesmo português que habita o extremo ocidental da Europa."
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-- Em : "NÓTULAS HISTÓRICAS" , de ALBERTO DE LEMOS - 1969 - 1ª ed.-- pgs. 41 e 50/51-
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-- ..."Contratadores de mão-de-obra ao serviço dos fazendeiros,os "gatos",como são chamados, saem pelo país prometendo benefícios e bons salários..." -- ..."Muitas vezes,aqueles que reclamam das condicções ou tentam fugir, são vítimas de surras. Alguns perdem a vida"...
..."As acções demonstram quem escraviza não são os proprietários desinformados, escondidos em fazendas atrasadas e arcaicas. Pelo contrário, são latifundiários, muitos produzindo com alta tecnologia para o mercado consumidor interno ou para o mercado internacional"...

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..."Não fomos nós, os povos de língua portuguesa, que inventámos a escravatura.
..."Quando chegámos a África os escravos já lá estavam, prisioneiros de guerras tribais, remidos de crimes de roubo ou adultério, vendidos pelos sobas e traficantes, negociados pelos próprios pais ou pelos chefes de tribo, entregues até pelos juízes.
"Os primeiros negros para o Brasil vêm da Guiné, mas logo viriam de Angola e também de Moçambique. Chegaram a partir de 1532 para a cultura da cana em Pernambuco"(pg.28)
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- "Chegam afinal ao Brasil em cujas portas, diz João Ribeiro, descem e acampam no oitão dos trapiches, de tanga, seminus, esfarrapados, alguns agonizantes. Força é confessar, porém, que toda essa jornada de horrores, a escravidão no Brasil é, afinal, o epílogo desejado para os escravos. Daqui em diante a vida dos negros regulariza-se, a saúde refaz-se e com ela a alegria da vida e a gratidão pelos novos senhores que melhores eram que os da África e do mar."
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"Ao contrário dos negros que iam para a América do Norte, ou do que estabelecia o "código" negro dos ingleses e franceses no Brasil,o escravo tinha "padrinhos", "alforrias" no baptizado, a emancipação e a "procura de senhor", tinha até as suas famosas festas do "Rei do Congo", bem como toda a crescente série de abrandamentos e suavizações do seu estatuto.
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... "Desde 1580 a 10 de Dezembro de 1836, quando Bernardo de Sá Nogueira, Visconde de Sá da Bandeira, assinou o decreto proibindo o tráfico de escravos em todos os territórios portugueses, quatro milhões de africanos haviam sido embarcados, principalmente de Angola para o Brasil. Por isso, não estamos longe da verdade, ao dizer que o Brasil tem, etnologicamente, mais angolanos do que a própria Província de Angola." --
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..."Num fenómeno tão extraordinàriamente moderador da têmpera do povo do Brasil, como havia de ser este, iniciado no alvorecer do século XVI, não se pode esquecer uma verdade elementar : é que os escravos embarcados nos "navios negreiros" em Angola não eram todos de Angola. É olhar para os processos do seu recrutamento, e a conclusão acerca da sua origem heterogénea resulta cristalina. Tanto vinham do longínquo interior prisioneiros de guerras tribais, como de nações vizinhas que ainda mais ao interior tinham as suas dinastias.
..."Tanto eram comprados a sobas, juízes, ou aos próprios pais em Angola, como dissemos, como aos chefes de tribo que noutras paragens os guardavam como valioso despojo de guerra".
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..."O escravo que amorenou a pele do Brasil, após três séculos substanciais de emigração sistemática, está longe, portanto, de ter sido o selvagem "dos cafres", a que se refere Sá Oliveira, ou de pertencer a "ínfimas camadas". Entre os escravos que os navios negreiros aqui despejaram aos milhões havia de tudo : desde o aborígene Bochimane até ao mais evoluído, aristocrático e orientalizado."
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..."Por outro lado, sem o comércio com a África, as exportações brasileiras não eram suficientes. Era urgente, pois, reabrir o tráfego com a costa angolana. Quinze navios, sob o comando de Salvador Correia e Angola era libertada em 24 de Agosto de 1648. Pouco depois, os holandeses deixavam Benguela e abandonavam S.Tomé"...

--- (Em "ANGOLA E BRASIL - Duas Terras Lusíadas do Atlântico") - de JOÃO PEREIRA BASTOS - 1964 - (Conferência realizada no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro a convite do "Movimento de Luso-Brasilidade" - Julho de 1963) -- (pgs. 29 a 34) --
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---"Os jesuítas constituíram em Angola, mais uma vez, o centro de controvérsias, e isso porque, tal como na América do Sul, eles teimavam em desempenhar o papel de protectores dos indígenas, de cultores das suas artes, de discípulos das suas línguas, de imitadores de seus hábitos e ciências do empirismo tropical.
" A própria acusação de que os jesuítas se teriam dedicado ao comércio do escravo, o que tão chocante contraste estabelece com as conhecidas e já citadas expressões do Padre António Vieira, confirma um simples pecado venial, se visto à luz do tempo e do "local do crime"... Os fins nem sempre justificam os meios; mas o certo é que só desta forma teria sido possível à Companhia de Jesus cristianizar a Província e coibir abusos maiores"...- (pgs. 37 - da obra citada) -
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..."Levava-nos o Brasil os pretos e mandavam-nos milhares de pipas de aguardente, quase cinquenta por cento do valor total das "nossas importações"...- ..."Outros produtos veremos adiante vinham do Brasil como paga desses carregamentos constantes de ébano humano. Em troca dessa madeira com alma, vieram madeiras preciosas, incluindo o jacarandá que hoje se pode admirar nos altares e sacristias de tantas das igrejas ou nas residências barrocas de Luanda, Benguela ou Moçâmedes. Vieram produtos que o Brasil exportava exclusivamente para Angola e manufacturas que a Metrópole enviava em liquidações ou pagamentos triangulares, numa curiosa antecipação dos modernos sistemas de compensações de balança." - (pg. 88 - da obra citada)-
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...-" O escravo angolano foi sem dúvida na balança de comércio entre Angola e o Brasil o elemento preponderante da exportação para as Américas e o factor determinante do escoamento de matérias-primas e produtos que, sem esse pretexto, não encontrariam motivo para se encaminharem para as Áfricas"... - (pg. 89 - da obra citada)
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..."Num largo quadro de viagens de ida e retorno,durante quatrocentos anos,o luso-tropicalismo habituou-se a sulcar o Sul Atlântico. E deste fenómeno importante, quanto ao seu itinerário, que me proporia falar-vos hoje : o da influência etnológica angolana no Brasil.
"Dentro do corpo do escravo desembarcava aqui a alma da própria África, a ancestralidade dos seus hábitos profundos, o vigor de suas religiões, a profundidade de mensagens de todos os géneros, ainda hoje, tantas, à espera da devida interpretação.
"Vieram e ficaram. Não voltaram. A escassa emigração de famílias pernambucanas para Benguela, a intensidade da vida administrativa entre as duas terras cristianizadas por Portugal no trópico sul deste Oceano que foi nosso, a vinda de governadores-gerais brasileiros para Angola, ou de tropas e armadas que nos garantiam nos séculos a integridade que hoje usufruímos, tudo isso não chegou para reembolsar à África aquilo que etnológicamente o Brasil dela herdara.
"No campo da etnologia, escassos vestígios desse reembolso se podem descobrir.Um certo e amaciador abrasileiramento da língua, pelo menos no sector fonético, uma curiosa influência do Nordeste açucareiro na cultura "mbali", de São Nicolau a Moçâmedes, e alguns hábitos ali conservados porém sem grande convicção. Bagagem de retorno de libertos nascidos ainda escravos nestes engenhos e fazendas.
"Algo na Economia, muito na História, imenso na Literatura, o Brasil recebeu e deu. Na Etnologia (e veremos,noutra altura, no Folclore) o Brasil quase só recebeu Pouco ou nada deu em troca. Dádiva unilateral."... -( pgs. 110/111) -
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- ( Várias transcrições de : "ANGOLA E BRASIL - Duas Terras Lusíadas do Atlântico" - de JOÃO PEREIRA BASTOS - 1964 - (da Conferência realizada Instituto Geográfico e Histórico da Baía, a pedido do "Pen Club" de SALVADOR -- Julho de 1963)---

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..."A invasão africana ia ser total. Na linguagem, ela vinha arredondar e amaciar certas arestas da fala portuguesa. Em sua bagagem, o preto podia não trazer coisa nenhuma. Mas desembarcava com a riqueza das hoje brasileiras palavras que inundam o vosso vocabulário : o banguê, o batuque, a cachaça, o cafuné, o candomblé, o dengue, o fubá, o gúri, a iáiá, o inhame, o mocambo, o mocotó, o moleque, a muamba,a quitanda, o quitude, o samba, a sanzala, e tantos outros, cuja viagem sul-atlântica podemos admirar nos estudos de Jacques Raimundo ("O elemento afro-negro na língua portuguesa"), ou de Renato de Mendonça ("A Influência africana no português do Brasil").
Nas torna-viagens os vossos navios levavam, senão palavras para Angola, pelo menos o tom adocicado da sua pronúncia. Governadores, emigrantes, comerciantes, militares, que do Brasil foram para Angola, ali deixaram a música da maneira tão vossa de usar a nossa língua comum. Em Moçâmedes, Benguela ou Novo Redondo, nós escutamos em brancos ou pretos verdadeiros e açucarados hinos fonéticos a Pernambuco e à Baía."
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..."O trajo da mulher baiana ou angolana, os mesmos "panos de costa", torsos, batas e saias", seus balangandãs e colares, só o distingue quem saiba o segredo de como aqui se dobra o "torso", ou quem prevenidamente procure pequenas diferenças nos "babados" das blusas."...
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..."A dança e a música têm sido talvez os motivos mais divulgados do folclore de Angola que o Brasil importou e consagrou como mais seu."
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..."O negro que vinha para aqui trazia um subconsciente musical e plástico a que dava vazão nos momentos da sua euforia ou da sua êxtase de saudade transoceânica. Quando saltava para os terreiros e abandonava o seu corpo em ancestrais requebros de verdadeira liturgia, de retrospectivo tribal.
"O tambor é o único mestre no ritmo desta êxtase...
"A África veio pura nesta absorvente presença. A dança nunca foi erótica entre os angolanos. Não se buscam contactos, como nas modalidades etnològicamente abastardadas das danças da "civilização paulista" do café. As "congadas" ali transformaram-se porque os "congos" que as dançavam já não eram nascidos no Congo, naquele Congo cuja cristianização antecedeu a própria descoberta do Brasil.
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..."As religiões africanas entraram como que camufladas no Brasil. O negro escravo tinha receio de exteriorizar um culto de que, ele próprio, não tinha a menor bagagem de apologética... E no terreiro, o negro salta exuberante para levantar nuvens de pó americano ao som de batucadas africanas. O senhor consente, o senhor diverte-se. O pé do senhor, condescende mesmo; começa até a marcar o ritmo. Depois contagia-se e põe-se de pé. Por fim salta, inteiro, para o mesmo terreiro e ensaia, aquecido, os primeiros requebros. E logo se sente mais leve e mais quente. E torce e contorce o tronco e os membros, bamboleia a cabeça e flutua os braços, atira o olhar para longe de si, levanta mais pó de igual cor que o do preto. O negro cai em transe.o senhor cai em si... Assim começou a ser moreno o Brasil e morena a sua religião"...
..."O candomblé singra no Nordeste e "inicia suas "filhas", que recebem o "santo" e caem em êxtase ao som desse ritmo, receita de um secreto e esgotante crescendum...O culto dos candomblés e dos xangós não é incompatível com o próprio carnaval. A Baía é testemunha desta concessão... No Recife, o "maracatu", autêntica procissão de "xangôs". E não se esqueça que ambas as procissões começam pela coroação do "rei e da rainha", sempre com nomes de reis e rainhas do Congo"...
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..."Da profundidade filosófica de uma mitologia afinal tão nobre como a mediterrânica, à leveza do samba, e do "capoeira", tudo veio, senão de Angola, pelo menos por seu intermédio"..."o próprio escravo podia ser de outras regiões remotas do interior, mas era em Angola que embarcava, a caminho do Brasil".

---- ( Transcrições parciais de : "ANGOLA E BRASIL - DUAS TERRAS LUSÍADAS DO ATLÂNTICO" - de JOÃO PEREIRA BASTOS - 1964 - pgs. 142 a 147 )---
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..."Para o possuidor de ouvido profano e duro é difícil escrever sobre música cuanhama. Poder dizer-se que a simplificação é visível no carácter elementar dos instrumentos musicais, que, aliás, o Cuanhama raramente utiliza. Não faltam, porém, os tambores nas cerimónias da nubilidade das raparigas (efundula), tal como o oma-kola ("grande cabaça"), propriedade exclusiva de quimbandas, ou femininos ou pederastas, está sempre presente em determinadas cerimónias(*)...
..."Este último instrumento, consagrado a certas práticas mágicas, não é mostrado expontâneamente... Os Cuanhamas cantam os mais variados temas : os bois (engovela), a caça (oukongo), a guerra (osi-kuambi) ou, ainda, o género épico-heróico (okuli-tanga). As canções que suavisam o trabalho, os cânticos lúdicos, que acompanham as danças (ondano), os cânticos-preces (principalmente à chuva), são os que mais frequentemente se ouvem."
..."Divertem-se muito com cânticos satíricos ou laudatórios, que revelam uma análise psicológica intuitiva, mas aguda, dos homens. Todos os europeus (comerciantes, missionários ou funcionários) que vivam algum tempo na região ficam retratados, ou, melhor, caricaturados, numa canção encomiástica ou sarcástica"...Nesses cânticos apreciam as virtudes e defeitos de uma forma incisiva, contundente." (*) - instrumento de fricção : arco entalhado, armado sobre uma caixa de ressonância constituída por duas cabaças justapostas...)-- (Pg.92) --
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..."Conhecendo poucos divertimentos e jogos(1)-- produtos do requinte cultural --, a dança é o passatempo favorito dos jovens. Dançam à noite, sempre que a ocasião se apresenta, mas nunca com fins puramente estéticos. A dança tem um fim social utilitário de divertimento, competição e integração no grupo."
..."Não há danças individuais. São sempre colectivas. A coreografia é simples !...Reduz-se a alguns passos e movimentos de fraca amplitude da cabeça, tronco e braços, e ao bater dos pés. Palmas e canções servem de fundo."
..."O ritmo não é frenético e a exaltação, quase despossessão, só é atingida na cerimónia da nubilidade das raparigas (efundula). Na cerimónia da iniciação dos quimbandas, também "as danças são sempre muito vivas e, nos indivíduos em que os espíritos se revelam, muito convulsivas (2)"... O divertimento de dança mais vulgar (oudano) começa à noitinha e prolonga-se até altas horas. Tem lugar num terreiro. Os interessados formam um círculo ou dispõem-se em linha : de um lado os rapazes, do outro as raparigas. O tambor não é utilizado. Cantam e, para ajudar o ritmo, batem as palmas, enquanto, durante uns segundos, os sucessivos pares executam alguns passos. Estes formam-se quando um dos bailarinos avança até ao grupo, onde escolhe um parceiro que o segue até ao centro do terreiro; após uns breves passos, o primeiro é acompanhado até ao seu lugar, onde outro é convidado. E assim sucessivamente, numa repetição incessante dos mesmos gestos e dos mesmos sucessos. A agitação do tronco e dos membros é suave: os passos são ritmados e é duro o bater dos pés!... É uma forma de divertimento competitivo, que exige resistência física e ao qual se juntam expressões facciosas, irónicas, laudatórias e eróticas" --
---- (1) - "uela" - espécie de jogo de gamão, cujo tabuleiro é o chão e as pedras são caroços de gongó que andam de cova em cova.. Chegam arriscar os seus bois neste jogo"... (Pg. 93)--.
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---- (Transcrito de : "O BAIXO CUNENE - Subsídio para o seu desenvolvimento" - Nº 68 -- de : JOSÉ PEREIRA NETO - 1964 - Junta de Investigação do Ultramar --
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..."A grande trasformação social operou-se, aqui, em meados do século XIX. Enquanto na Europa Ocidental, e nomeadamente em Portugal durante o período das lutas pela implantação do liberalismo, uma sociedade antiquíssima, de prerrogativas arcaicas, cedia dramaticamente o lugar a outra, moderna,com novos poderes e protagonistas, em Luanda uma sociedade crioula que, desde o século XVI, prosperava com a exportação de escravos olhava sobriamente o futuro. Em 1836, data em que o setembrismo triunfa na cena política portuguesa, um decreto assinado pelo visconde de Sá da Bandeira, Vieira de Castro e Passos Manuel declarava proibido todo o tráfego de escravos nas colónias portuguesas ao sul do Equador. Sá da Bandeira, figura destacada da ala esquerda do nosso liberalismo, a quem Alexandre Herculano chamou "o português mais ilustre do seu século" (e a quem o povo deu o título menos garboso de "Sá Maneta"), propunha-se, a partir desse momento, iniciar um vasto plano de reformas coloniais, cujo objectivo último era construir "um Brasil em África".
..."Em Luanda, a promulgação desse decreto soou como que um toque a rebate para as elites cujo poderio político e económico se fundamentava sobre este negócio que o século XIX considerou indigno. Na décadas seguintes foi o adeus ao domínio de famílias havia muito radicadas ao território, na sua maioria mestiças, como as famílias Galiano, Pinto de Andrade, Necessidades Ribeiro, Castelbranco, Vieira Lopes, Françoni, Pinheiro Falcão, Nascimento da Mata e Maia Ferreira, a quem se tinham somado negociantes brasileiros como Francisco Flores, proprietário de minas e embarcações que estabeleciam a rota Lisboa-Luanda, ou o médico Saturnino de Sousa e Oliveira, cônsul do Brasil, estudioso aplicado das condições sanitárias da cidade e animador das récitas do Teatro Providência. Em breve, figuras como Ana Joaquina dos Santos faziam parte da lenda. De cor mestiça(ela simbolizou, afinal, o poder do mestiço na sociedade que tinha o tráfego negreiro por principal actividade), era conhecida em Luanda por baronesa do Bungo, já que o magnífico sobrado em que residiu se localizara no bairro com aquele nome. Esse título, atribuído pela voz popular, era por ela justificado com o domínio de um vasto poderio ardilosamente gerido. A uma intervenção poderosa no comércio externo, sobretudo com o Brasil, acrescentava a posse duma considerável frota e de vastos terrenos de exploração agrícola. Tudo isto assentava sobre uma considerável influência política, exercida quer junto de várias tribos do interior, quer junto das autoridades portuguesas."
..."Morta já muito idosa, em 1853, durante uma viagem a Portugal, D. Ana Joaquina dos Santos, deixou aos seus descendentes um vastíssimo legado. Se tivesse vivido mais vinte anos, talvez não lhe fosse possível desempenhar papel tão preponderante na sociedade luandense"...
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--- (Transcrição parcial do artigo de MARIA JOÃO MARTINS, na Revista "HISTÓRIA" - Ano XX (nova série ) - Número 01 -- Abril 1998 -- (Pgs. 22/23 ) --

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..."Os comerciantes portugueses que procuravam escravos em Luanda,porto principal de Angola, depois de 1770, enfrentaram grandes dificuldades ! Animados pelas importantes descobertas de ouro em Minas Gerais, esses mercadores viram nos escravos africanos uma oportunidade ideal de dispor de excedentes de bens e mercadorias no Rio de Janeiro, especialmente a cachaça brasileira, e a possibilidade do aumento do fornecimento de escravos para os distritos da mineração. Os comerciantes esperavam retorno na forma de metais preciosos, inflacionando os preços fora do Brasil e atraindo caçadores de fortuna dos arredores do Império português para o Sul do Brasil. Na tentativa de adquirir escravos em Luanda, contudo, seus planos esbarraram nos obstáculos criados por pessoas influentes no governo militar da colónia, frequentemente ligados à plantação de cana~de-açúcar, e outros ligados às famílias de comerciantes nascidos na colónia, que moravam na cidade e no campo. As disputas pelos benefícios da compra de escravos em Angola , e da sua venda aos mineradores no Brasil, animaram a política na colónia africana e atraíram a atenção de Lisboa sobre sua possessão na África Central Ocidental por meio século".
..."Os comerciantes portugueses controlaram os governadores de Angola e o tráfico de escravo em Luanda nas últimas décadas de tráfico legal, no início do século XIX, e antes do tratados internacionais e das patrulhas navais britânicas enfrentarem o comércio já legal, a partir de 1830".... (Pgs. 11 a 13) --
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..."As disputas contínuas entre as facções da península portuguesa, os colonos dos três maiores portos do Brasil (Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro) e os próprios angolanos divididos em facções localizadas em Luanda, no interior das colónias e numa pequena cidade ao sul de Angola (Benguela), revelam as divisões internas do Império português na África Central Ocidental e no Brasil no século XVIII. As estratégicas económicas que cada região lançou contra a outra também realçaram o aumento de tensões na relativa autonomia das colónias assentadas em Angola e no Brasil por meio de uma verdadeira economia atlântica, centrada em Portugal, mas cada vez mais integrada nos mercados e empréstimos britânicos. Ao longo do século XVIII o tráfico de escravos angolanos desenvolveu-se em várias etapas,de confrontos armados a trocas mercantis relativamente pacíficas entre fornecedores britânicos no Brasil, portugueses encarregados das mercadorias dos navios que saíam do Rio de Janeiro e Pernambuco e chegavam a Luanda, prósperos comerciantes angolanos, príncipes comerciantes africanos e caravanas de ávidos comerciantes pequenos burgueses africanos -- "Ambaquista", Ovimbundu, Imbangala, Soso, Zombo, Bobangi e outros. Todos vasculhavam as florestas da África Central em busca de escravos e de outras mercadorias que fossem vantajosas aos mercados da costa."... (Pgs.13/14) --
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..."Com Lisboa procurando meios de recuperar um Império e uma nação, declinantes em relação ao século anterior, a atenção se voltou para o Brasil e para a descoberta do ouro em Minas Gerais em 1695, e não para o comércio arriscado de escravos em Angola. Apesar da coroa ter valorizado Luanda como uma importante fonte de mão-de-obra escrava necessária para a extracção de metais preciosos na América, , o poder local e a influência política dos comerciantes estabelecidos na Bahia, e suas fontes de mão-de-obra escrava africana na Costa da Mina, tornaram Angola periférica na economia do Atlântico Sul".. (Pg.18) --
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..."Os ganhos militares enfraqueceram, a longo prazo, as estratégias militares luso-africanas. Os compradores brasileiros de escravos, no entanto, lucravam com o comércio em Angola diante da falta de significativa competição metropolitana.
Embora Lisboa tenha quase que abandonado Angola durante a década de 1770, a Coroa, na década seguinte, decidiu renovar estratégias e desafiar as vantagens comerciais quase perdidas para os brasileiros. Adoptando tácticas , e utilizando estrangeiros ao invés de súbditos do Brasil e de Angola, um esquadrão naval de Portugal chegou a Luanda em 1782 e lançou uma expedição para ocupar Cabinda, no norte do estuário do Zaire, como primeiro passo em direcção ao corte do acesso luso-africano às mercadorias estrangeiras. Apesar da França ter tentado retomar Cabinda após a Paz de Paris em 1783 e ter negociado a retirada das forças portuguesas capturadas para salvar as aparências, a expedição de facto fracassou porque os luso-africanos em Luanda se recusaram a fornecer comida de suas plantações do rio Bengo para Cabinda.":::(Pgs. 36/37) --,
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..."O tráfico angolano de escravos -- apesar de seu aparente isolamento das dinâmicas económicas francesas e inglesas no Caribe e do acelerado crescimento económico do norte da Europa -- foi marcado não só pelo intercâmbio comercial entre o Brasil e a África que não envolvia a participação directa da Europa, nem mesmo de Portugal, mas também pelo seu movimento nas mesmas direcções das largas correntes da economia atlântica do século XVIII. O tráfico angolano do século XVIII tinha em grande parte sido um negócio entre os cultivadores de cana brasileiros, ávidos por mão-de-obra, os caçadores de escravos militaristas da África --- luso-africanos e guerreiros -- que capturavam escravos com violência e foram abastecidos por comerciantes portugueses que ofereciam vinho da Madeira, lãs britânicas e têxteis asiáticos, mas que dificilmente foram capazes de controlar o volume ou a direcção do comércio. O século XVIII, no entanto, foi iniciado com as descobertas nas Minas Gerais, o que trouxe ameaça aos comerciantes asiáticos em Portugal, não apoiados pelos fornecedores britânicos, em busca de escravos angolanos para trocar pelo ouro disponível no Brasil. Eles tiveram força em Luanda de 1730 a 1750. Os comerciantes asiáticos em Portugal, na luta por mercados com os comerciantes asiáticos, deslocaram a aliança luso-africana com Pernambuco, no poder em Angola, empurraram os luso-africanos para o sul do Brasil e excluíram os compradores estrangeiros do círculo de favores do mercantilismo de Lisboa."...(Pgs.44/45) --
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(20) --- "CAPÍTULO II" ---"Vinho verso Cachaça -- A Luta Luso-Brasileira pelo Comércio do Álcool e de Escravos em Luanda, c. 1648-1703" -- (de JOSÉ C. CURTO) --

..."A importância da cachaça brasileira no tráfico de escravos de Luanda, a maior cidade na costa ocidental da África Central e centro fundamental na exportação de cativos das Américas,tem sido reconhecida há muito tempo. Do final de 1600 até à proibição do comércio de escravos ao sul do equador em 1830, a cachaça foi a mais importante bebida alcoólica importada pela capital colonial, permitindo aos comerciantes coloniais na terra de Vera Cruz adquirir, por meio dela, uma proporção significativa de cativos. Durante o século XVIII a cachaça foi o principal elemento das relações económicas brasileiras com Angola. Mas ela nem sempre desfrutou dessa posição privilegiada. A cachaça foi originalmente introduzida em Luanda por volta de 1650 pelos comerciantes coloniais brasileiros que procuravam uma entrada no comércio de escravos no Oeste da África Central. Mas ela se tornou, imediatamente, objecto de competição com o vinho, única bebida alcoólica estrangeira usada antes da primeira metade de 1600, pelos comerciantes capitalistas portugueses, para obter escravos nos portos. Desenvolveu-se, assim,uma intensa luta que associaria o vinho e os comerciantes capitalistas em Portugal contra a cachaça e os comerciantes coloniais no Brasil, pela importação do álcool dominante, que permitiria a obtenção de escravos em Luanda. Esse conflito,resolvido apenas no final do século XVII em favor da cachaça dos brasileiros, é o objecto do presente capítulo." ...(Pgs. 69/70) -- ............................................................
..."O aumento da importação da cachaça brasileira em Angola no final da década de 1660 e na primeira metade da década de 1670 bem como o aumento do seu uso na obtenção de cativos levou a cachaça, rapidamente,a objecto de ataque. Em 1678, o Governador Aires de Saldanha de Menezes e Souza escreveu para D. Pedro II informando-o de que, segundo seu ponto de vista, era essencial declarar ilegal a importação da cachaça da terra de Vera Cruz. Resumindo as várias razões que fizeram sua proibição imperativa, Menezes e Souza afirmou que a geritiba era uma bebida alcoólica de qualidade muito baixa e, portanto, extremamente prejudicial à saúde de seus consumidores. Ele enfatizou que o consumo exagerado da geritiba era o responsável directo pela morte de muitos soldados portugueses e escravos africanos em Luanda e em suas redondezas. Sem essa proibição, concluiu Menezes e Souza, os reforços militares regularmente enviados para Luanda, para a defesa e expansão da conquista, eram simplesmente inúteis, ao mesmo tempo em que a diminuição da força de trabalho africana escravizada colocaria em perigo o bem-estar económico das colónias portuguesas"... (Pgs. 78/79) --
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-------- "5. O Lugar das Diferenças : a Construção do Outro" --------

..."Nesses espaços urbanos compartilhados por cafres, gentios, caribocas e mulatos nomeados como tais por vontades cortantes de conquista e domínio, meta a atingir era a construção da imagem do civilizado, pelas roupas e calçados,estilos próprios daqueles que poderiam ser considerados cristãos.
..."Numa comparação entre a trajectória do mestiço e formação de uma estratificada camada intermediária, entre Rio e Luanda, teríamos resultados diferentes. Para Luanda a inserção dos mulatos no meio urbano significou que eles foram de certa maneira absorvidos e integrados nos postos burocráticos. Mesmo assim SOUSA COUTINHO deplorava o fato de que em muitos casos os mestiços, já integrados aos valores europeus, quando da morte do pai acompanhava a mãe e se embrenhava no mato impregnando-se do mundo africano.
..."Quanto às comparações entre o caso do mulato no Rio e Luanda, poderíamos dar voz a Silva Correa que nos informa de como nesta cidade eram tidos os mestiços, pardos,que por ser um país de "imensos negros, não ofuscam o brilhantismo das funções públicas". Quer seja pela ausência de uma mão-se-obra qualificada, fato tantas vezes apontado por Sousa Coutinho, ou pela ocasional oferta de mestiços naquela altura. Em Luanda os pardos "atravessavam as "Salas dos Dosséis", bastando para isso suas funções militares. Enquanto no Rio de Janeiro, Lavradio permitia aos pardos com cargos militares somente "chegarem à porta da Sala do Dossel e dali fazerem um por um o seu cumprimento" (Silva Correa, pg. 84, 1937) --
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..."A baixa demanda brasileira por trabalhadores escravos criou uma situação na qual qualquer um capaz de contrabandear a bebida proibida poderia conseguir altos lucros no tráfico. Em um ano ou mais depois da proibição da importação e da utilização da geritiba em Luanda e seu interior, um comércio ilícito altamente rentável emergiu para explorar as vantagens económicas oferecidas pela demanda local contínua e crescente por cachaça brasileira. Quase todos aqueles associados ao comércio de escravos estavam engajados no tráfico proibido, seja directamente pela importação da bebida alcoólica proibida, seja pela troca por cativos no interior, ou ainda pela combinação desses dois empreendimentos.
..."Os primeiros grupos comerciais que talvez tenham se envolvido nesse comércio ilegal foram as firmas comerciais brasileiras da Bahia e Pernambuco. De 1680 em diante, elas passaram a enviar, de forma activa, barcos carregados com cachaça para seus agentes comerciais em Luanda, em troca de escravos na costa norte e sul daquela cidade-porto."... - (Pgs. 84) --
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..."Sempre procurado por mais rentabilidade comercial nos empreendimentos e, especialmente, aspirando competir em pé de igualdade com os mercadores brasileiros de escravos, eles logo se envolveram no negócio que tinham declarado ilegal. Os prósperos traficantes portugueses de escravos recorriam a à importação da cachaça directamente dos agentes comerciais de Lisboa na Bahia e em Pernambuco. Como no caso dos seus competidores brasileiros, eles introduziram grande quantidade da cachaça proibida por meio de enclaves costeiros perto da capital colonial de Angola. Entretanto, muito era contrabandeado através da própria costa de Luanda. Assim, ao final de 1684, as cargas de cachaça de quatro barcos foram descarregadas e vendidas abertamente aos clientes na doca de Luanda. "...(Pgs.85/6) --
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... "Na administração portuguesa em Luanda são os mestiços que ascendem socialmente pelos cargos públicos, como no já citado exemplo de Correa. Um documento do final do século faz uma listagem detalhada dos oficiais civis (justiça, fazenda, economia pública e política), de seus ocupantes, salário, cor e carácter do cargo. Sobre as 36 profissões listadas referentes à cidade de Luanda, o documento fornece os seguintes dados : 12 pardos, 10 brancos e o restante sem discriminar a cor, demonstrando a influência dos mestiços nos serviços públicos e também nos pequenos negócios. Na vira do século XVIII para XIX, Luanda segue sendo uma cidade de mestiços"...(Pgs.120/121)-
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---- (Extraído parcialmente de "ANGOLA E BRASIL nas Rotas do Atlântico Sul" , de SELMA PANTOJA e JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA --- 1999 -- Ed. BERTRAND BRASIL --

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..." ORIGENS E DEFINIÇÕES -- A palavra candomblé é sinónimo de religião africana.
Sempre foi e ainda é usada neste sentido. Isto explica muitas coisas."
..." Vejamos.
... "O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objecto; de sua terra ele partiu livre, homem.
... "Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença -- o que se saiba -- exigia ser expresso.
"Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos. Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a resistência, a organização dos negros.
"A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite.
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... "Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá protector...
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..."A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por laôs recém saídos das camarinhas, dos roncós. A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a forma dos terreiros de candomblé (religião de negros yorubá como é definido no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante, desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal, certo e errado, branco e preto.
..."Antagonismos opressores, sem possibilidades alternativas. O negro resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito"...
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..."Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação de terreiros. Massificação, turismo, folclore".
..."Mas os grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana no Brasil, ainda existem"...
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..."O negro é livre. Veio da África, tem uma história, tem uma religião igual à qualquer outra e ainda, não é politeista, é monoteista : acima de todos os Orixás está Olorum"...
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..."Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de século com a corrosão das instituições religiosas tradicionais, com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como uma agência eficiente : resolve problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de alma branca", agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade, "ter enredo, história com o "Santo"....
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..."Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita. As lyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo (segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo canais de expressão para o ser humano".
---- Transcrição parcial de : "CANDOMBLÉ - mitos e lendas" -- pgs. 5 a 8 -- Ano 1 - nº 1 -- , da EDITORA MINUANO LTDA -- S. PAULO - BRASIL -- 2005 ---

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..."Fui ver um baile de negros. Os domingos são os únicos dias que estes pobres desgraçados têm para si, e normalmente encontram-se para se divertirem a dançar ao som de um banjo. Esse instrumento musical(se é que assim pode ser considerado) é feito com uma cabaça a imitar uma guitarra, mas apenas com quatro cordas, sendo tocado da mesma maneira com os dedos. Alguns cantam com o seu acompanhamento, fazendo, realmente, uma música muito divertida. Nas suas canções, eles contam de modo muito humorístico a forma como os seus senhores e senhoras os tratam. A sua poesia é como a música -- tosca e inculta. As suas danças são exercícios físicos bastante violentos, tão irregulares e grotescos que sou incapaz de os descrever. Nestes encontros parecem tão incrivelmente felizes que se diria estarem esquecidos ou indiferentes à sua desgraça"...--(opinião de NICHOLAS CRESSWELL, transcrita na obra "UMA HISTÓRIA DA ESCRAVATURA", de JAMES WALVIN,pg. 156 - 2008 --
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..."Muitas caravanas comerciais eram compostas por mais de mil pessoas, chegavam a atingir três mil e mais escravos. Os chefes de caravana sabiam que os assaltantes dificilmente tentariam atacar uma caravana tão numerosa e, por outro lado, se houvesse casos de deserção ou doença entre os carregadores, facilmente, se redistribuiria a carga. Outras caravanas menos numerosas se lhes juntavam, para sentirem o seu apoio. Entre estas pequenas comitivas apareciam antigos pombeiros que já se tinham aventurado a funar por conta própria. A viagem era sempre muito penosa. A condição física dos carregadores, a fome, as chuvas tropicais e as doenças grassavam, ao longo dos meses, entre os componentes das caravanas, não escolhendo a sua condição de ser carregador ou chefe de caravana; transpunham rios a vau, de muito difícil acesso, subidas e descidas onde os mais fracos sucumbiam, sendo deixados, por vezes, moribundos. Não raro, a escassez de alimentos a isso obrigava."...
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..."Estes chefes de caravana tinham também ao seu serviço um homem incrível, era quase um ilusionista da época, o Kambulador. Sublinhamos a sua enorme astúcia, hábil tocador de instrumentos musicais, seguia à frente da caravana, às vezes alguns quilómetros, quase sempre acompanhado pelos Nsôngodi nzila, pisteiros (termo kikongo) de que mais adiante daremos notícia e que, encurtando distâncias, liam pegadas e outros sinais, vestígios de grandes e pequenas caravanas, desviando-se delas atempadamente ou indo ao seu encontro (conforme as circunstâncias). Quando o kambulador, dono de astuciosa oratória, deparava com elas, tecia os maiores elogios ao seu chefe prometendo os melhores preços"...........
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--- (transcrição parcial de : "O COMERCIANTE DO MATO - O COMÉRCIO no INTERIOR de ANGOLA e CONGO" -- de : JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA - 2004 - pgs.54/55 -- (V. NET - no Resumo de "sítios" abaixo referenciados) : ---

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+++ Foto nº 15/ (ZAIRE/CUNENE) - Pg. 228 - Caravana de carregadores (Quibuca) --
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..."Na década de 1830, a armada inglesa cercou Ajudá, ostensivamente, Félix de Sousa tinha-se prevenido e a maioria dos seus barcos, embora com menor lucro, zarpava dos entrepostos dos seus genros e testas de ferro. Félix de Sousa cogitou dois truques para findar a marinha inglesa, fundou com Guezo um embarcadouro secreto a leste de Ajudá, Cotonou, e pôs duzentos escravos a abrir canais de passagem entre as lagunas, unindo por terra Ajudá a Cotonou; quando os ingleses, sabendo os depósitos cheios de centenas de escravos, vigiavam todas as enseadas de Ajudá, já os pretos zarpavam de Cotonou em rápidos veleiros a caminho do Brasil. Com os filhos do banqueiro Marinhas, combinou outro truque, enviava um navio comum, carregado de carga para troca com escravos, que aportava em Ajudá,e outro navio, mais veloz, que seguia directamente para Cotonou ou um dos desembarcadouros de Félix, carregando outros escravos e regressando directamente para a Bahia. O truque funcionara e cinco barcos tinham chegado a São Salvador carregados de escravos, entre quatrocentos a quinhentos cada navio..." (Pg. 378) --
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..."Francisco Félix de Sousa convenceu-se ter sido traído por Guezo e, de punhalinho de prata entre a mão direita, avivando a vingança, encetou a sua última viagem, transportado na cova de uma rede, de corpo mínimo, Pedra e Maria não o acompanhavam, incapazes de a pé vencerem tão longa jornada entre Ajudá e Abhomery, Félix exigiu viajar na qualidade de Chàchá, Vice-Rei de Ajudá, cinco guarda sóis revezavam-se para que o sol não tocasse uma ponta do corpo de Félix de Sousa, duas negras, uma de cada lado da rede, espanejavam-lhe a cara, afastando o mosquedo ou secando-lhe as barbas e o cabelo empastados de suor, vinte tamborileiros e dez corneteiros anunciavam a passagem de Félix de Sousa, vinte pretos armados de fusil e catana escoltavam-no, os três filhos, a pé, atrás da rede, organizavam o cortejo, cinquenta carregadores de trajes coloridos transportavam à cabeça volumosos fardos com presentes para os régulos e sacerdotes, que, vindos dos lugarejos, bordejavam a estrada real, beijavam-lhe a mão mirrada, ofereciam-lhe mulheres e filhos e convidavam-no a pernoitar nas suas palhotas, Félix de Sousa descansava breves horas e, mal floria a madrugada e a passarada gorgolejava, brandia o dedo mínimo para Isidoro e exigia prosseguir viagem, Guezo, avisado pelos meias-cabeças, veio receber o irmão de sangue à entrada de Abhmorey, reconheceu em Félix de Sousa a mesma determinação de sempre e, ainda que acérrimo, o corpo sumido, as carnes sugadas, o o peito encolhido, a barrega desaparecida, os lábios chupados, a viveza do seu olhar continuava rija e atemorizar, Guezo saudou Félix de Sousa com as duas mãos sobre o coração, Félix soerguendo-se na rede, o tronco não lhe obedecendo, desequilibrando-se, levantou a mão raquítica com o punhalínho de prata, Gueso afastou-se estupefacto, alçou o braço direito estacando as amazonas, que, desprevenidas, soerguiam já as azagaias e os arcos, Guezo percebera, Félix de Sousa prosseguia, agitando titeremente o punhal, inquieto na rede, incapaz de nela se sentar ou dela sair"...(Pg. 388) ---
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..."Félix arfava, o esforço de manter o corpo hirto era maior que as forças, a vontade superior à energia da carne, Guezo continuava, de há dez anos para cá a escassez de escravos atinge toda a costa, fui pressionado pelos régulos das aldeolas que bordejam os entrepostos, sem escravos as feitorias fechavam, os brancos fugiriam, acabava-se o comércio, tive de dividir os escravos que enviava para Ajudá com remessas para Porto Novo, Akre, Anexô, mas, ainda que prejudicado em mercadorias por troca e no valor de cada escravo, nunca deixei de enviar os que podia."(Pg.388)......
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..."Dois anos depois, em 1844, o comodoro inglês que comandava a armada que vigiava Ajudá ameaçou desembarcar trezentos marinheiros armados e destruir todos os depósitos sobejantes de escravos, pertencentes a antigos embarcadiços mulatos, aventureiros que tentavam enriquecer com uma ou duas cargas de escravos para a América, as firmas europeias que os suportavam mexeram os cordelinhos e, inesperadamente, uma escuna vinda de Plimouth trouxera ordem de substituição do comodoro"........."Ainda em 1844, Félix de Sousa perdeu o comando do Forte de São João Baptista, que durante quarenta anos conservara à sua custa, desfraldando nele, consoante as conveniências, depois de 1822, ora a bandeira portuguesa ora a brasileira. o General Sá da Bandeira decidira aplicar a lei da proibição do tráfico negreiro em terras e águas portuguesas em vigor desde 1838 e, cinquenta anos depois de Portugal, o ter abandonado, mandara ocupar e reivindicar para a coroa portuguesa o enclave de Ajudá"........." Desde 1845, Francisco Félix de Sousa raramente saía dos seus aposentos, de corpo imensamente mirrado, coberto por uma batina de algodão azul, pele sobre os ossos, escravos transportavam-no da cama para a poltrona e desta para a cama, ocupava o dia a sugar o cachimbinho de barro de fumo da Bahia, lendo ou ouvindo ler a Gazeta de Lisboa..."
..." Isidoro, Inácio, António e Francisca tinha-lhe dado trinta netos e, no dia do aniversário de Félix de Sousa,a molecada invadia-lhe os aposentos, puxando-lhe as guias do bigode e entrelançando as fiapas da barba do "Pai Branco", Félix de Sousa só os recebia se viessem calçados e vestidos à europeia, perguntava-lhes pelo pai-nosso e avé - maria e queria saber, um a um, quando partiriam para estudar em São Salvador, à mesa forçava-os a usarem talheres e só os deixava sentarem-se depois de vestido o paletó, ninguém aqui é preto, são todos brancos e bons católicos, dizia, rodando o anel da serpente, pena Pedra não estar vivo, ele é que vos educava com dois tabefes pelo raiar da manhã."
..."Em 8 de Maio de 1849, o mar trouxe tempestade para a terra, ondas bisonhas rangiam no litoral, provocando uma rebentação demoníaca os remados Kruz tinham deposto os remos e arrivado aos balcões de zinco das bodegas dos aguadás bahianos, bebericando cachaça e soprando folha de fumo, o mercado fechara, uma tromba de água medonha desabara sobre as quitandeiras, encharcando-lhes os víveres e lavando o terreiro, uma fragância acre de ar fresco atravessou o céu de Ajudá, foi o último dia de vida de Francisco Félix de Sousa, ainda perscrutou o derrame monumental da água,saboreou o cheiro molhado do ar. retemperando as narinas, os olhos piscaram lentos, a garganta esgotou-se de respirrar, o coração de bater, serenando lentamente o seu pulsar,os olhos folgaram uma derradeira vez na alegria de existirem e absorverem luz,"... (Pgs. 390/391) ---
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..."És um alucinado !, vociferou o banqueiro Marinhas para Francisco Félix de Sousa, atropelando-o com a notória barriga assanhada, os braços alongados, as mãos em riste, as unhas agigantadas, espetava-lhe caneladas com a biqueira lustrada dos sapatins, de canutilhos de ouro, és um alucinado !, repetia, escarrando na cara de Francisco Félix de Sousa, estragaste-me o dia, o Governador dignou-se iluminar a minha festa de fim de ano e tu vens para o portão exigir o dinheiro que só na tua cabeça te devo"...
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..."clamou colérico o banqueiro Marinhas, apontando com o dedo demonstrador para a camisa de cambraia,o banqueiro empinou a pele durácea da barriga sob a cinta de cetim azul, garrotou os ombros de Francisco Félix de Sousa com as mãos enganchadas e, calculando a força e o alvo, desferiu uma cabeçada entre os olhos de Francisco Félix de Sousa; este sentiu-se levantado no ar, os olhos raiaram-se-lhe de sangue negro, o céu azulíneo da abóbada do firmamento convertera-se numa cova escura, Francisco Féliz de Sousa esforçou-se por abrir os olhos, pulava-os, distendia as pálpebras descomunalmente, divisava um horizonte de trevas reticulado de fiapos roxos brilhantes, é o sangue a esteirar-se, pensou, cegado de sangue, Francisco Félix de Sousa deixou o corpo abater-se sentiu nas cruzes o vértice do primeiro degrau, logo outro abrindo-lhe a cabeça, o quente macio do sangue da testa adocicou-lhe as comissuras dos lábios, estou perdido, pensou, só vivi metade da vida e já morro, não é justo, meu Senhor dos Navegantes, o corpo de Francisco Félix de Sousa rabeava pela vasta escadaria de pedra de lioz da mansão da ladeira da Barra do banqueiro Mário Marinho Marinhas, tanto trabalho me deu esta escadaria e o vagabundo do Félix vai cagá-la de sangue, bramiu o banqueiro, incomodado com os gritos caprichosos de sua esposa d. Marinhas, que do interior exigia a sua presença"...
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..."cada uma propondo um exacto lugar para o oratório, nenhum satisfazendo o desejo de d. Marinhas, que, agastada, fechara o leque, virara-o ao contrário e desferira o cabo de nácar na cabeça do escravo que desenrolava um tapete, vai chamar o teu dono, depressa !, ganiu aflautinada a boca de d. Marinhas, mas não fora preciso,o banqueiro Marinhas irrompera pelo salão, acomodando o enovelado do lenço da gravata em torno do pescoço, fixando a meia bola preta da pérola no peitilhos, teria de lustrar os canutilhos dos sapatins, que aborrecimento, ordenara que os seus cães de fila dessem uma surra de pau a Francisco Félix de Sousa, se o matassem fizessem-no desaparecer, o melhor seria enterrarem-no na Mariquita, à embocadura do Rio Vermelho. Félix tinha razão, o banqueiro devia-lhe o custo de cinquenta escravos, mas a vida estava mal para todos, no último carregamento perdera cem pretos, atirados ao mar, a maioria vivos, dissera-lhe o mestre-negreiro, o corrimento sanguíneo nas fezes não enganara ninguém, ou atirávamos ao mar ou chegávamos todos mortos à Bahía, sugados pela disenteria, porventura o brigue perdido, clamara o mestre, desculpando-se pelo prejuízo; desde há dois anos que o banqueiro Marinhas negociava directamente com os fornecedores de escravos de Daomé, deixara de se socorrer de intermediários de São Salvador, como Francisco Félix de Sousa, que encareciam a "peça", interessava-lhe vender badanadas de escravos para as plantações de algodão e os engenhos de cana-do-açúcar do sertão, aqui o lucro via-se, quase trezentos por cento para além do preço por escravo no cais de S. Salvador, Francisco Félix de Sousa era contra, apostava na perfeição, traficava os escravos de corpos rijos e saudáveis, especializava-os em profissões, que exercitavam durante seis meses antes de serem vendidos no mercado, os pruridos de Félix encareciam o tráfico, importante era vender os escravos às carradas, os novos donos que os ensinassem e lhes cuidassem da saúde, quantos mais vendesse maior o proveito, isso era o que interessava"... (Pgs. 19/21) --
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-------------------- "LADEIRA DA BARRA - II" ....................
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..."O banqueiro Marinhas, activo corruptor de homens e instituições,defendendo-se, quebrou o silêncio entre os senhores, o que os digníssimos membros do Conselho Ultramarino, em Lisboa, chamam corrupção chama-mo-lo nós, na Bahia, troca amigável de favores entre chefes de distintas famílias, mantendo a colónia em funcionamento, são meras concessões, dávidas, obséquios, efeitos de cortesia entre iguais, ou, se mo permitem, em antigo português, mercês,e acrescentou, desde que abri a minha primeira loja, num beco da Rua do Comércio da Conceição da Praia, varejista de secos e molhados, sempre reservei para oferta um décimo das minhas mercadorias, quando não mais, por vezes, em certos tratos volumosos, um quarto dos artigos é para oferta, à cabeça, ainda sem a garantia de vender os restantes, e, meus senhores, vossa senhoria, senhor Governador, não sinto que esteja corrompendo ou sujando as mãos, são as regras da colónia, diferentes da regras de Lisboa, aqui quem quer vender vinho deve primeiro dá-lo a provar, se vende escravos deve oferecer um à experiência e se mercadeja com barricas de bacalhau não pode deixar de oferecer, para apreciação da sua qualidade uma dúzia de postas ao futuro comprador. Não por acaso, mas por astuta prevenção, o banqueiro Marinhas referia-se ao vinho, escravos e bacalhau, os três produtos de que gratuitamente abastecia o palácio do Governador, esperando, em troca, que este mandasse fechar os olhos a um outro navio negreiro clandestino que, fintando a alfândega, o banqueiro Marinhas mandava aportar directamente em praias do Recôncavo próximas aos engenhos de açúcar, destino da maioria dos escravos. Do mesmo modo, fornecia gratuitamente de escravos, víveres, carne e peixe as casas do Ouvidor-Mor, dos desembargadores Avelar e Barbedo e Costa Pinto e do escrivão do crime, João Luiz Abreu, cônscio de que assim se subtraía à fiscalização dos juros mensais elevados, muito acima da onzena habitual, que cobrava a comerciantes do cais e atravessadores de escravos sob garantia das suas lojas ou dos seus barcos "...(Pg.52) --- ..........................................................


..."Em Junho, o castelo das portas do Carmo estava derrubado, o intendente da Câmara gostava do trabalho de Francisco Félix de Sousa e convidou-o para executor das chibatadas no pelourinho, substituto de um preto marreco, de que se queixava ser excessivamente dócil, despedindo-o. Sentado na pedra branca, já o crepúsculo se ensombrara, separando-o da escuridão nocturna por uma fímbria cinzenta. Félix de Sousa consultou a sua estrela, que perdurava poisando sobre a mole atarracada da Câmara e, calculando o pagamento, contabilizando quanto dinheiro acumularia, aceitou, exigindo o dobro do que a Câmara pagava ao preto corcunda; Félix de Sousa tinha consciência de que, desde a sua meninice, nunca existira um carrasco branco no Pelourinho, o cargo, aliado à sua antiga condição de negreiro, torná-lo-ia o opróbio da cidade branca, um branco a fazer as vezes de um negro, que vergonha."...
..."Como os correços, os escravos castigados no tronco eram entregues pelos seus senhores à Câmara,que, consoante o grau de desobediência, determinava o número de chicotadas com que o escravo deveria ser punido, raramente menos de cinquenta. Os castigos menores eram aplicados nas nádegas, o preto era amarrado ao tronco por duas voltas de corda, uma nos joelhos, outra nas coxas, os calções despidos, os braços elevados, fincados por um baraço ao alto do tronco, e açoitado nas nádegas, rilhando-as e sangrando-as; os castigos maiores nas costas, o camiso era despido, o preto da mesma forma amarrado, e o chicote apontava para o dorso, deixando-o em carne viva. Francisco Félix de Sousa usava um chicote de fio entrançado de pele de porco dividido na ponta em cinco vergastas independentes, cada uma contendo uma bola de chumbo. Orientado por padres franciscanos, crescia um movimento entre as senhoras de São Salvador contra o açoitamento público dos escravos, as senhoras alegavam que seus maridos se assemelhavam a cabras-do-mato e aos cruéis brancos do sertão, que assim castigavam as infracções de seus escravos, e exigiam, humanas, que as penas dos escravos, mesmo as dos fujões, revertessem em trabalho público, como aos correços era feito, excluindo-se os escravos assassinos de seus amos, sumariamente executados."....A flagelação dos escravos iniciava-se na passagem entre as missas das nove e das dez horas, as mais frequentadas,ao domingo; a primeira missa era, não raro, perturbada pelos gritos de mulheres e filhos dos flagelados, trazidos da prisão em libambo; a segunda era sempre interrompida pelos gritos pungentes dos escravos chicoteados. Na missa, as senhoras, não suportando o contínuo silvo agudo do chicote, os choros lamentosos das mulheres negras e os urros dos condenados, identificavam o rogo das mães pretas com o calvário de Nossa Senhora da Piedade e o sofrimento dos escravos com a agonia do Senhor, o diabo tentava-as, arengava o padre na homilia, parecia que Cristo se tornara preto, sofrendo pelos pecados dos brancos. Incapazes de se concentrarem nos actos litúrgicos, dirigidas por d.Francisco Aragão, que entre a igreja e a sua casa toda a manhã se sensibilizava com os gritos dolorosos dos supliciados, prosseguidos durante a tarde quando as velhas negras lavavam as feridas dos filhos com vinagre e pimenta preta, desinfectando-as e cauterizando-as, secando-as e cobrindo-as com palha de alho, as senhoras vinham exigindo da Câmara que se retirasse o tronco do Terreiro de Jesus e se aproveitasse o derrube das muralhas das portas do torreão do Carmo, transferindo o tronco para o novo terreiro criado"... -
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..."D. Francisquinha proibira Simão e Manuel Faustino dos Santos Lira de trazerem Félix de Sousa para os seus aposentos, estes tinham dado de ombros, ele nem connosco fala, disseram, e, no último domingo de Junho, d. Francisquinha mandara-lhe pela catarininha um rosário de sementes de pau-brasil e, da varanda, alto, mostrando a sua reprovação, um frade franciscano a seu lado, recomendara-lhe que orasse o terço todas as noites para que libertasse a sua alma das escarras negras do pecado, Francisco Félix de Sousa, atrapalhado, resignado,aceitou o rosário,e sem saber o que dele fazer -- embaraçava-lhe as mãos -- dependurou-o no alto do tronco; da varanda, o frade reclamou blasfémia, d. Franscisquinha apresentou queixa à Câmara, exigindo que expulsassem Francisco Félix de Sousa, um branco a fazer serviço de preto, convocando as senhoras de São Salvador para a reza de uma novena a Santo António Polifemo contra o demónio do Félix de Sousa, clamando que brancos como ele não eram dignos dos pretos que os serviam"....(Pgs. 169 a 171) --......................................

---( Transcrição parcial da obra "O ÚLTIMO NEGREIRO", de MIGUEL REAL - 1ª edição --Nov.º 2006-- QUIDNOVI -- QN - Edição e Conteúdos, S.A. ) ---

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..."Tanto os cristãos como os muçulmanos invadiam o território inimigo para obter escravos,mas a fonte mais profícua de escravatura era África. Por volta de 1240, os mercadores catalães compravam escravos no Norte de África, e Barcelona rivalizava com Maiorca como importante mercado de escravos, com o principal porto mediterrânico espanhol repleto de navios carregados de bens -- incluindo escravos vindos de todas as partes do Mediterrâneo. Os escravos ,inevitavelmente, eram orientados pela sociedade ibérica para os trabalhos domésticos, urbanos e rurais. E a posse de escravos era generalizada : artesãos, monarcas, representantes da Igreja, todos tinham escravos. Por exemplo, sabemos de escravos na Catalunha, em 1431, que pertenciam a carpinteiros, lavadores, ferreiros, tecelões, marinheiros, alfaiates, notários, talhantes e médicos. Os escravos eram também remadores nos navios reais, no final do século XIV, enquanto os escravos das Baleares eram, na sua maioria, trabalhadores agrários."...
"Entre os séculos XIII e XIV, o mercado mediterrânico de escravos foi próspero,com os servos (muçulmanos e "pagãos")a chegarem a Espanha vindos de todas as partes do Mediterrâneo e do Mar Negro."...
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..."Um dos produtos que os colonos europeus e os seus escravos africanos cultivavam nas ilhas era a cana-de-açúcar. Há muito que os europeus conheciam o produto,mas, devido às Cruzadas, a sua popularidade estava limitada à zona oriental do Mediterrâneo. Com o seu cultivo nas ilhas atlânticas, a cana-de-açúcar voltou a entrar na dieta europeia, acrescentando-se à grande variedade de importações exóticas destinadas a satisfazer o gosto das elites europeias. Por isso, o cultivo da cana-de-açúcar disseminou-se, aparecendo plantações na Terra Santa e, mais tarde, noutras localizações propícias do Mediterrâneo (como o Chipre, Creta, o Norte de África, a Sicília e o Sul de Espanha). No entanto, nessas zonas a mão-de-obra era livre e não escrava."
..." Enquanto progrediam atabalhoadamente pelo Atlântico, os europeus iam descobrindo novas rotas comerciais, fundando novas colónias e desenvolvendo novas formas de produção e cultivos locais. As novas terras,ilhas, feitorias e colónias tinham de trazer riqueza material à potência colonizadora e aos mercadores. Por exemplo, a Madeira revelou-se um bom local para a plantação de cana-de-açúcar (depois de experimentadas outras produções), especialmente se se socorresse ao auxílio de escravos trazidos de África. Também se plantou cana-de-açúcar nos Açores(sem sucesso), nas Canárias e em Cabo Verde, pois os mercados europeus clamavam por quantidades crescentes do produto : o apetite europeu por comidas e bebidas doces era insaciável !
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..." A utilização de trabalho escravo africano foi uma mudança-chave nesta nova forma de cultivo tropical -- e uma mudança que viria a transformar os trópicos americanos. Ao contrário das primeiras plantações, mediterrânicas, as novas colónias do Atlântico não recorreram a África para obter mão-de-obra, mas sim para obter mão-de-obra escrava. A fórmula foi rapidamente estabelecida : o açúcar era igual a plantações, que eram iguais a escravatura africana; esta fórmula mostraria o seu impacto em S. Tomé e Príncipe, duas ilhas junto à costa africana, onde as novas plantações de açúcar se encheram de escravos, tendo estas ilhas passado a funcionar como entreposto comercial dos escravos africanos a caminho de outras ilhas, de Portugal e, mais tarde, das Américas."
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..."Sempre que encontravam obstáculos, os europeus iam comprar escravos a outras zonas (como,por exemplo, Angola). Foi este o padrão que caracterizou o comércio europeu de escravos na África Ocidental : uma zona costeira de crescente comércio de escravos, destinados a alimentar o apetite por trabalho escravo nas ilhas do Atlântico e até mesmo em Portugal. Os portugueses controlavam sistemas comerciais vastos, lucrativos e bem consolidados,que iam de Marrocos a Angola, mas que eram fortemente dependentes do trabalho escravo.
Tudo isto era porém, insignificante, quando comparado com o que viria a acontecer depois, do outro lado do Atlântico."
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..."As estatísticas do comércio transatlântico de escravos são-nos agora familiares, ainda que não sejam menos impressionantes por isso. Dos 12 milhões de africanos carregados nos barcos, dez milhões e meio conseguiram sobreviver até ao desembarque nas Américas. São conhecidas 27 mil viagens de escravos das quais 12 mil foram de iniciativa britânica ou das suas colónias, em especial das colónias norte-americanas. Cerca de cinco mil viagens de escravos começaram em Liverpool. A maioria dos cativos africanos era do sexo masculino, embora as proporções de sexos se tenham alterado ao longo do tempo. No final da época de comércio de escravos, em meados do século XIX, quando os últimos navios negreiros já ilegais se dirigiam para o Brasil e para Cuba, tentando evitar as patrulhas anti-escravatura de ingleses e americanos, as cargas humanas que transportavam eram na sua maioria de homens africanos muito jovens"...
..."O comércio de escravos era um negócio duro, do qual todas as pessoas esperavam obter um lucro considerável pelo investimento arriscado. O objectivo dos traficantes de escravos era levar a carga humana através do Atlântico, para os mercados de escravos americanos, sem sofrer perdas ou baixas pesadas, pois os escravos mortos ou doentes constituíam uma perda económica, pelo qual, por brutal que possa parecer,o facto fundamental e indisputável era que os comerciantes de escravos "apesar da violência do seu método" estavam ansiosos por desembarcar o maior número possível de africanos, nas melhores condições físicas que pudessem"..................."A bordo dos navios negreiros, os africanos escravizados eram amontoados nos porões, normalmente separados por sexo,com as crianças a partilharem a zona das mulheres. Tinham, portanto, menos espaço do que a maioria dos viajantes marítimos (incluindo tropas),mas este grau de promiscuidade parece não ter afectado os níveis de mortalidade a bordo"...
..."Não sabemos quantos africanos morreram em cativeiro antes de entrarem nos navios. Mas temos uma ideia relactivamente precisa dos níveis de mortalidade. No total, cerca de um milhão e meio de africanos morreram a bordo, sendo os seus corpos lançados ao mar e os seus números (nunca os nomes) riscados do registo dos navios, como acontecia à restante carga. As taxas de mortalidade baixaram cerca de 20 por cento no início do século XVII e para metade desse número um século depois.
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..."Os escravos estavam acorrentados nos porões, normalmente em pequenos grupos, onde comiam de virtualhas comuns e de onde se arrastavam, sempre acorrentados,até às selhas de necessidades. Mas, quando ficavam doentes, aliviavam-se onde estivessem, deixando as próprias fezes sujá-los e contaminá-los, a si próprios e aos seus vizinhos"...
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..."Alguns escravos partiam por iniciativa própria, sem permissão, e tinham de ser procurados e devolvidos ao dono. Mas havia muitos outros que tinham autorização para viajar, sendo-lhes dada permissão para visitarem a família e os amigos, normalmente em dias de festa e feriados ou durante crises familiares, e que voltavam dentro do prazo estipulado.
..."No entanto, havia ainda o outro lado, mais negro e sinistro, da mobilidade dos escravos. Estes também eram levados, por vezes através de grandes distâncias, contra a sua vontade. Havia africanos que,depois de terem suportado viagens forçadas em África e no Atlântico, ainda se viam obrigados a percorrer enormes distâncias antes de chegarem ao seu local de trabalho definitivo. Mesmo os escravos já nascidos em cativeiro, e que não conheciam outro mundo senão aquele em que haviam nascido, não tinham qualquer garantia de que a sua vida seria estável, permanente e inalterável. De um momento para o outro podiam fazê-los abandonar as suas casas, o que muitas vezes acontecia, e enviavam-nos para novas terras, consoante o interesse do seu dono ou novas circunstâncias económicas. É nestes casos que deparamos com as comoventes cenas de separação das famílias de escravos, as quais povoam a história e o imaginário da vida dos negros durante a era da escravatura."...
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....(em : "UMA HISTÓRIA DA ESCRAVATURA" - de JAMES WALVIN - (Tinta-da-China - Fevº 2008) - pgs. 32 - 50 - 51 - 52 - 84 - 86 - 88 - 147 --) ---
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==== Outros "sítios" a consultar :



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..."Na noite de 17 para 18 de Julho de 1697,d. Contumácia Garcia escutara o crocitar de corvos sobre o telhado de trapeira do galpão das traseiras, temos peste ruim, exclamara, d. Patrocínia Barrica extranhara o encardido colorido da lua, circundando uma mancha escura inconstante, central, batera os ossos dos dedos três vezes nas portadas de sapoberma da janela de tabuinhas, queira Deus que me engane, dissera, os olhos mexerosos, a mão na boca, a outra no peito;"...(Pg.15)--
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..."das portadas das casas, escravos remelentos apagavam com o dedo molhado de saliva a fosforescência luminosa do cordame da lamparina embebido em óleo de peixe, as senhoras assomavam às janelas, de chinelas de cerda de porco, camisão de dormir, abriam as portadas de terliça e ouviam, sem surpresa, as velhas bruxas anunciar a morte do padre Vieira, o mais velho morador da Bahia, só ultrapassado em idade pela preta calundeira e mandingueira Sefina. Os reinóis da Ladeira da Preguiça, amantizados com pretas escravas, quitandeiras de bolinhos de tapioca e enrolados de presunto, ou pretas alforriadas, com venda de pão de queijo e bolo de acarajé, progenitores de um mulato por ano, doado à Misericórdia para venda aos senhores de engenho, patrões do açúcar, abriram as portas dos seus casinhotos de caniço e bambú e lamentaram a morte do padre Vieira, o único sacerdote que, criticando-lhes o estado de mancebia, forçando-os a casar-se com as escravas, alforriando-as e legitimando os filhos de ambos, não se cansava de os ajudar, encomendando-lhes pequenas obras na Igreja de Jesus e na casa de recolhimento dos padres inicianos da Quinta do Tanque, a meia légua do centro de São Salvador;"...
..."O padre António Vieira repousava sereno na sua cela do Colégio, Mundé e o padre José Soares tinham-no elevado sobre almofadões para que do poial da janela vislumbrasse o samba-de-roda dos negros no terreiro, bailado ao som do berimbau, do bandolim, da harmónica, do atabaque e do agogô, era o coração ridente do povo negro, inocente e alegre, explorado e escravisado, entoando cântigos aos vodus, orixás e santos protectores e a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, sua mãe no martírio e na esperança, um povo feliz em circunstâncias infelizes, pensara Vieira. O padre António Vieira sentia-se o português mais fracassado de todos os tempos, nada que sonhara se cumprira, todas as suas profecias se tinham frustrado, todos os seus planos políticos se tinham gorado, apreciado apenas como orador, pouco se satisfazia com os encómios de D. João IV e da rainha Cristina da Suécia sobre a sua lábia de orador, sacrificara as suas ideias nacionalistas para escrever a Clavis Prophetarum e não acabara, não a acabaria, oferecendo-a àquele jesuíta italiano de Olinda, para que a terminasse e publicasse em nome próprio, mas ele recusara, não era obra sua, o padre Vieira sabia que não era obra do jesuíta italiano, era obra sua, a mais sábia, a mais lúcida, para a editar dispunha-se a ocultar o seu nome, importante era que o mundo soubesse que o tempo do Reino de Cristo Consumado se aproximava. Fora a última imagem que o padre Vieira tivera da Bahia, uma sambambaia de pretos dançando festivos, sassaricando as arcas fartas e os peitos fofos, Mundé, exclamou de súbito que o padre Vieira, o Quinto Império será mulato, um cruzamento de todas as raças unidas em Cristo, no futuro os mulatos dominarão a terra, atrigueirarão as faces de Cristo, enegrecendo-as, e encresparão o seu cabelo louro ondulado, que virará preto, a Bahia é a antecâmara do Quinto Império,..." --- (Pgs. 18/20) ---
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..."O funeral obedecera a ordem do padre António Vieira, o seu corpo seria velado e levado à sepultura no esquife de madeira de pinho português que carregava os corpos mortos dos pretos para o campo santo da Igreja da Misericórdia; para a derradeira despedida de São Salvador sairia pelo portão de argelim verde do Colégio, as duas portadas abertas,por onde, fugido dos pais, António Vieira, o Antoninho, entrara para os jesuítas havia setenta e quatro anos, circundaria o Terreiro de Jesus numa carriola nua, puxada, não por cavalos nem por escravos, ostentados pelos poderosos do mundo na sua morte, mas por dois noviços da Companhia, os mais inteligentes e mais prestativos, que tivessem jurado dedicar-se à missionação."... (Pg.22) ---
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..."António Vieita está sentado à sua mesa no Colégio, dispõe de tinteiro de areeiro, pena e papel, um papel grosso e sujo, raspado por Mundé para servir de novo. O Visitador-Mor do Santo Ofício chegara a São Salvador para tomar providências sobre a brancura dos costumes, o padre Fernão Cardim advertira Vieira e Mundé, começam as delacções, buscas, devassas, denúncias, acusações, invejas, ódios, malquerenças, anima -diversões, intrigas, bisbilhotices, segredos, concubinagens, toda a pequena velhacaria e minudência que São Salvador esconde nos fundos dos quintais virão ao de cima, exposto publicamente, os dominicanos são assim, obram pela calada destruindo os difíceis pequenos equilíbrios que sustentam a vida humana."...(Pgs. 96/97) --
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..."Nos portais das igrejas, ao lado do monitório da Inquisição, brancos diligentes pregavam com espigões enferrujados anúncios de compra e venda de escravos : nêgo velho, chamado Serapião, para botar sentido em fruteiras e afugentar passarinhos. Quirina, preta crioula, trinta anos, ainda com o leite da última cria, boa para os trabalhos de casa, Sabina, dezoito anos, mulata escura, uma cicatriz no rosto, outra no braço, muito atinada, sabendo ler e bordar, Maria do Rosário, cinquenta e quatro anos, cega de um olho, boa para fazer companhia a doentes, boa para engomar horas e horas, Francisco, de trinta e seis anos, cafuz, fala abaianada, quebrado das virilhas, pintor de parede, bom tocador de rabeca, pode entreter a criançada à noite. Honorata, doze anos, cor fula, ventas levantadas, geniosa mas temente ao chicote, Chico Bento, quarenta e cinco anos, santeiro de mão-cheia, bom carpinteiro, Justino, velho regateiro, já curado de bexigas e puxando de uma perna, bom para pequenos trabalhos de quintal, horta e pomar, Luz e Luzia, casal de guinéus, cinquenta anos cada um, vende-se pelo preço de um, escanzelados, vindos de fazenda em Itapagibe, sem crias, bons para o trabalho de terra, Cosme,preto musculoso, vinte anos, nação angola, cicatriz na barriga e argola no nariz, troca-se por três crias de negra, macho ou fêmea, por cavalo selado ou por dois bodes cobridores." -- (Pg. 102) --
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(27) ------ "O BRASIL E A ESCRAVATURA COMO ROSÁRIO DE PORTUGAL" ------

..."O padre António Vieira glosara os Mistérios do Rosário, aplicando-os a Portugal, ao Brasil e aos seus povos brancos, negros e índios, chamando àqueles o Rosário de Portugal, quinze são os mistérios..." --(Pg.127) --
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..."--- aqui começam os Mistérios da Dor, conhecidos em carne viva pelos pretos. O primeiro a Agonia do Horto, correspondente ao domínio e exterminação dos índios, dois milhões de tupis exterminados, conspurcados pelo mal da bicha; agonizámos os índios julgando civilizá-los, e agonizámo-nos a nós próprios, raça maldita, que para o Brasil só vêm degredados, corrécios, devassados, excomungados, deserdados, fosse isto uma outra Índia, tivesse pimenta e canela, seda do Reino Chinol, tapete do reino Persol, faiança de Siol, chá de Ceiol, cravinho de Malacol, sândalo de Timol, piri-piri de Gool, Prata de Ormuzol, sempre haveria companhias comerciais, fidalgos, vice-reis, condes e marqueses, música suave ao fim da tarde, cravo pela manhã, flauta à noite, algo de civilizado, um pintor, um escultor, um literato, talvez uma marquesa e uma condessa, que ensinariam as regras da cortesia; o segundo Mistério da Dor, a Flagelação do Senhor, pior do que o primeiro, corresponde à vinda dos escravos de Benguela, São Tomé, da vasta Guiné, do Congo, de Angola, de São Jorge da Mina, os índios tinham sido extintos, os restantes fugidos para o sertão, não havia mão-de-obra para planar e cortar a cana, despontaram os negreiros, era mais a procura do que a oferta, os pretos vendidos por dez reais, o preço de um homem, expropriado da sua mulher, dos seus filhos, das suas roças, dos seus ritos,da sua terra, trazido à força para duas mil léguas de distância, posto a apanhar cana, a cortar cana,a desbastar cana, a abrir cana, a queimar cana, a destilar cana, a limpar o açúcar e comer apenas uma cuia de farinha de mandioca com molho de dendêm . Não são os pretos flagelados como Nosso Senhor o foi ? O Terceiro Mistério da Dor, a Coroação de Espinhos, corresponde à vida dos pretos, um espinho na rosa que é o Brasil, sem roupa, sem comida decente, sem abrigo, a sanzala pior do que a mata, cheia de pragas de carrapatos e infestações de ratos morrendo de moléstias, cadáveres ambulantes que à vida não têm direito, em permanente concubinagem, e, mortos, atirados para uma vala sem cruz. O quarto Mistério da Dor, Cristo com a Cruz às Costas, corresponde ao inferno doce do engenho, abrasante, caldeirante, exreminante,quentura superior à quentura do tempo, rodízio eternamente a girar, pilão gigante eternamente a amassar, alambique eternamente a torturar, cada máquina do engenho uma via sacra para o negro, pior que burro, pior que cão, pior que gato, pior que rato, pior que formiga esmagada aos pés do senhor de engenho, a quem só interessa , por campanha, o número e a qualidade dos caixotes de açúcar, e quanto mais suor transpirado e mais sangue derramado, mais saboroso o composto de açúcar, mais o Marquês de Tirolirolá o saboreia,o Donatário de Tirolirolé o degusteia, o Reverendíssimo de Tiroliroli o lambuzeia, o General-em-Chefe de Tiroliroló o gosteia e o Embaixador de Irolirolu o proveia. O quinto Mistério do Rosário da Dor, Cristo Cricificado e Morto, corresponde na História de Portugal, ao extermínio do índio e ao extermínio do negro, juntos numa irmandade de óbito colectivo, perdidos como povos, e, com eles, ao extermínio da Cristandade, que obrou tal obra sem vergonha nem outro intuito que o proveito, o lucro"...-- (Pgs. 129/130) --
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(27) -- "O SANGUE E O SUOR DOS ÍNDIOS SÃO O OURO E A PRATA DO RIO AMAZONAS" --

..."Se a alegria de entrar no céu tem comparação, é este nosso regresso ao Brasil,Mundé,confessava o padre António Vieira, Mundé, também estava feliz, esta já é a minha terra , dizia, e baixava-se beijando o solo, terra vermelha, terra linda; agora, Mundé, sou de novo religioso, esqueçamos os europeus e as suas guerras, outras são as ordens da Companhia, salvar os índios das garras dos colonos. Registara o padre Vieira em carta para Lisboa o júbilo por ter retornado à sua vocação de noviço, ser missionário : ando vestido de um pano grosseiro cá da terra,mais pardo do que preto; trabalho de manhã até à noite; gasto parte dela em me encomendar a Deus; não trato com mínima criatura; não saio fora senão a remédio de alguma alma; choro meus pecados; faço que os outros chorem os seus; e o tempo que sobeja destas ocupações levam-no os livros de madre Teresa e outros de semelhante leitura...."(Pg.202)--
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..."O padre António Vieira integrara-se na terceira missão pela Companhia ao vastíssimo território do rio das Amazonas, as duas primeiras, esforçadas,tinham fracassado, a de Vieira não podia fracassar, Vieira não o admitia,mas realizá-la com sucesso seria revolucionar o Estado, persuadir os colonos brancos a aceitarem que os índios eram homens iguais a eles. A primeira missão fora enviada pelo Colégio da Companhia em Olinda, no Pernambuco, contara o padre Vieira a Mindé, os padres Fernando Pinto e Luís Figueira tinham vindo a pé, com cerca de meia centena de índios, ao fim de um mês de caminhada arraiaram na fralda da serra Ibiapaba, foram assaltados de noite pelos tabuajaras, que mataram o padre Fernando Luís à paulada, com golpes de ibirissanges, uns paus largos e rijos, o padre Luís Figueira fugiu trocando o hábito com um índio, que se ofereceu ao martírio, a missão fracassara e o padre Luís Figueira regressou ao Pernambuco, diligenciando uma nova missão, a segunda, Luís Figueira veio por barco, desembarcou em São Luís certificando-se, como hoje o padre António Vieira e Mundé,da miséria económica e da indignidade religiosa em que brancos e índios viviam, em geral a concubinagem entre brancos e índias, era total a escravatura de índios e era absoluta a pobreza da terra, os matutos açorianos metidos nas suas pobres possessões, sobrevivendo de troca directa, e os moradores das cidades, menos de mil casas, a viver sem grande proveito do trabalho dos índios,, os brancos não se confessavam e só comungavam pelo Natal e pela Páscoa..." ... "O padre Luiz Figueira lançou as primeiras missões no interior, os seus companheiros subiram a Nossa Senhora de Belém e ao Forte do Presépio -- a "Feliz Lusitânia", recentemente fundada pelo capitão Caldeira Castelo Branco--, a que se juntou o padre Luís Figueira, construíram o primeiro Colégio da Companhia, educando meninos índios lado a lado com os meninos brancos,e apelaram à reconversão total dos costumes dos brancos, inquirindo, de casa em casa, do rigor da aplicação da moral cristã, recolhendo índias usadas sexualmente pelos brancos e combatendo a escravidão dos índios. Os moradores revoltaram-se quando o padre Luiz Figueira proibiu a escravatura de índios baptizados, a missão jesuíta foi expulsa. O padre Luiz Figueira viajou para Madrid e requereu do rei português e espanhol nova missão. De Lisboa partiram para o Maranhão e Grão-Pará quinze jesuítas, de novo dirigidos pelo padre Luiz Figueira, o navio naufragou à entrada do rio Amazonas, na ilha de Joanes (Marajó), o padre Luiz Figueira e treze companheiros, presos a tabuões,deram à costa entre os baixios de Tijioca e foram feitos prisioneiros pelos índios aruans, que os mataram um a um , noite após noite, os cozinharam e comeram, d. Josefina Olinto lembrava-se do padre Luiz Figueira, era um fradinho jeitosinho, pena ser jesuíta, d. Justina Leôncia corrobava, sim, tinha aquela mania de que os índios são iguais a nós,d. Jovelina Miguéis sentia pena, logo catorze religiosos assados e comidos, terão sido esquartejados antes ?, perguntava D. Miquelina Rangel sabia que os índios não comiam a cabeça, só as velhas tapuias, d. Zulmira Silvano estava má essa noite, bem feito, para não dizerem que os selvagens são iguais a nós, d. Joselina Eustáquio perdoava aos jesuítas, desaforados, não mereciam morrer assim, d. Bennedita Chocalho concluía, tanto se juntam aos índios que morrem como eles, comidos."... (Pg. 204/205) -- ..............................................................
--- (Transcrição parcial de "O SAL DA TERRA" - de MIGUEL REAL - QUIDNOVI -- QN - Edição e Conteúdos,S.A. -- 1ª edição - Novembro de 2008 ---

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--- 28) --- A)- EM ÁFRICA -- B)- NO BRASIL --

--------------------(Em actualização permanente) ------------------
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----- I) -- O Comércio no Interior e "KUAMATO" :



----- II) -- Diversos (geral) --


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----- VIII) -- OURO PRETO(VILA RICA) :



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